Paula
Santos – Expresso, opinião
Nesta
segunda-feira, no dia a seguir às eleições presidenciais, o país tomou
conhecimento dos vetos do Presidente da República quanto aos diplomas aprovados
na Assembleia da República, o primeiro que possibilita a adoção por casais do
mesmo sexo e o segundo que repõe o quadro legal da interrupção voluntária da
gravidez (IVG).
O
Presidente da República, Cavaco Silva, propositadamente aguardou pelo fim das
eleições presidenciais para divulgar a sua decisão em relação aos referidos
diplomas.
A
decisão de Cavaco Silva é seguramente uma opção política e ideológica, de quem
nunca aceitou, por exemplo a consagração em lei, dos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres, nos quais se enquadra a despenalização da
interrupção voluntária da gravidez.
Não
podemos esquecer a luta de milhares de mulheres em defesa dos direitos sexuais
e reprodutivos e pelo direito à livre opção, assim como não podemos esquecer as
muitas e muitas mulheres vítimas do flagelo social que foi o aborto
clandestino, sujeitando-se a condições indignas e humilhantes, e que nalguns
casos custou a sua própria vida.
Mas
esta decisão de Cavaco Silva é também revanchista perante a nova correlação de
forças da Assembleia da República que permitiu a formação de um governo
contrário à sua vontade.
O
novo quadro político da Assembleia da República já permitiu avanços neste
início de legislatura: por um lado, a adoção por casais do mesmo sexo e a
defesa do superior interesse das crianças, permitiu que estas crianças possam
ser adotadas por famílias que as amem e que as protejam, assegurando o seu
adequado desenvolvimento, por outro lado repôs o quadro legal da IVG, alterado
à pressa no final da anterior legislatura, por PSD e CDS, pondo fim à coação
sobre a mulher e aos condicionalismos inaceitáveis que impunha, para
condicionar e limitar a livre opção da mulher.
A
poucas semanas do fim do seu mandato como Presidente da República, a sua
decisão de não promulgação destes dois diplomas, revelam bem as conceções
retrógradas presentes na análise destas questões; tentando impor retrocessos sociais
que rejeitamos liminarmente.
A
Assembleia da República deve, assim que possível, confirmar os decretos já
aprovados quanto à adoção pelos casais do mesmo sexo e à reposição do quadro
legal relativo à IVG. Estes diplomas devem, sem nenhuma dúvida ser leis.
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