Afonso
Camões – Jornal de Notícias, opinião
A
conversa não cozinha o arroz, dizem os chineses. Mas a novela da TAP e, por
dentro dela, o anunciado abandono das suas rotas internacionais a partir do
Porto está apenas a começar. Porque é do país, de estratégia e das escolhas de
Governo que se trata.
Fez
bem Rui Moreira em encabeçar a denúncia e dar a cara. O que se espera de um
autarca é que defenda os interesses em nome dos quais foi eleito. A ele, nesta
causa, juntam-se agora o Conselho Regional do Norte, municípios, universidades,
associações empresariais. À volta do Aeroporto Sá Carneiro há toda uma região
que é a mais exportadora, a mais povoada, a mais jovem, a que cria mais
empresas e emprego. No Norte, as exportações cobrem 140% das importações. E
desde 2008, o saldo positivo da balança de transações comerciais, ou seja, a
relação entre o que exporta e o que importa tem vindo a aumentar mil milhões de
euros a cada ano. Assim fosse por todo o país!...
Ora,
se nenhuma destas razões estruturais justifica a intervenção do Governo na
definição da estratégia da companhia aérea privatizada à pressa em vésperas de
eleições, nenhum português compreenderá que tenhamos de gastar mais um saco de
milhões na recompra de metade do capital da TAP e respetivos riscos. António
Costa ainda nos deve essa explicação. E fazer escolhas.
Mais
fácil é explicar a entrada de uma das maiores companhias aéreas chinesas no
capital da TAP e, no mesmo passo, a abertura de uma ambicionada ligação direta
entre Portugal e a China.
Dali,
a segunda economia mundial, que já controla alguns dos ativos estratégicos
portugueses, vai gerar, até 2020, mais de 100 milhões de turistas chineses à
procura de mundo para visitar ou investir.
O
turismo, que vale 10% do produto interno bruto e oito por cento de emprego, é
hoje um dos pilares da nossa economia. Portugal já atrai anualmente 14 milhões
de turistas, afirmando-se como 25.º destino mais procurado do Mundo.
Os
chineses, que já investiram 4,1 mil milhões a comprar empresas portuguesas,
ainda só representam 14% do nosso turismo. Mas são já, de longe, os que mais
gastam (mais do dobro dos angolanos) quando nos visitam, um valor médio de 614
euros por cada compra, nas contas da Global Blue, a empresa que gere o
reembolso de IVA para turistas.
Eis
boas razões para que António Costa nem precise de explicar que entre Pequim e
Nova Iorque, a rota mais próxima e mais barata sobrevoa Portugal. E que faz
todo o sentido uma escala portuguesa, em Lisboa - ou no Porto. Aqui chegados,
recorda o chinês que "enquanto se briga por um quarto de porco, pode perder-se
um rebanho de carneiros".
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Diretor
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