domingo, 6 de março de 2016

Elites portuguesas "cuidam mais da educação dos seus filhos do que da educação da população"



O antigo primeiro-ministro António Guterres defendeu na sexta-feira, em Braga, que Portugal só vencerá o "atraso estrutural" se der "prioridade absoluta" à educação, à ciência e à cultura.

"O investimento no ‘software' das sociedades deve manter-se sempre uma prioridade, mesmo quando os países atravessam dificuldades", afirmou.

Falando numa conferência sobre educação promovida pela Arquidiocese de Braga, Guterres criticou a "tendência" que considera existir em Portugal de "estar sempre a mudar" as políticas no sector à medida que também mudam os governos.

"Em vez de apontarmos para uma estratégia comum, pensamos num sobe e desce, sobe e desce", referiu.

António Guterres manifestou-se favorável a uma "cultura de exigência e de responsabilidade" na educação, mas alertou para os perigos da "cultura de competição".

"Gerar uma cultura de competição na Educação é extremamente perigoso, só somos eficazes como sociedade quando cooperarmos uns com os outros", sublinhou.

Para o antigo primeiro-ministro, que teve como um dos seus principais 'slogans' eleitorais "paixão pela educação", o investimento neste setor deve ter especial ênfase no pré-escolar.

Guterres defendeu que se deve dar uma "componente educativa" ao pré-escolar, para ajudar na socialização das crianças.

"Deve-se investir o mais que se puder no pré-escolar", vincou.

O ex-alto comissário da ONU para os refugiados apontou os exemplos de países como a Coreia do Sul, Singapura ou Irlanda para afirmar que só com uma aposta "maciça" na Educação é que se consegue ter êxito numa economia do conhecimento.

Uma aposta que diz que não tem vindo a ser feita pelas "elites portuguesas", que "cuidam mais da educação dos seus filhos do que da educação da população em geral".

Candidato a secretário-geral das Nações Unidas, Guterres disse que, se ganhar a corrida, a educação será uma das suas apostas, lutando para que todos tenham acesso ao ensino básico e secundário.

"Mas estou consciente de que não há uma solução global, é uma solução que terá de ser país a país, cada país deve assumir a educação como prioridade, como desígnio nacional", disse ainda.

Lusa, em Jornal de Negócios

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