O
analista político cabo-verdiano João de Deus Carvalho disse hoje que o PAICV
perdeu as eleições legislativas em Cabo Verde porque "deu vários tiros no
pé", considerando que o partido deve fazer uma profunda reflexão interna.
"O
PAICV tem de fazer uma profunda reflexão interna porque desde 2011 que há um
grande desnorte no partido", disse à Lusa João de Deus Carvalho,
referindo-se à divisão no Partido Africano da Independência de Cabo Verde
(PAICV), que declarou apoio a Manuel Inocêncio Sousa (que viria a perder para o
atual Presidente, Jorge Carlos Fonseca, na segunda volta), com Aristides Lima e
David Hopffer Almada a ficarem para trás no Conselho Nacional.
Depois
de três maiorias absolutas, sob a liderança do ainda primeiro-ministro, José
Maria Neves, o PAICV, liderado por Janira Hopffer Almada, perdeu no domingo as
eleições legislativas para o principal rival, o Movimento para a Democracia
(MpD), que obteve maioria absoluta.
A
líder do partido disse que nas próximas semanas vai convocar o Conselho
Nacional para analisar os resultados saídos das eleições, que vai preparar o
partido para as próximas eleições autárquicas e fazer uma "oposição
construtiva e positiva".
Segundo
João de Deus, se o PAICV quiser ser uma boa oposição "tem que unir
fileiras". "Neste momento, o PAICV é uma manta de retalhos, são
várias sensibilidades que só se unem para lutar contra o MpD. Isto não pode ser
assim. O partido deve ser um todo", sustentou.
Reforçando
que o PAICV perdeu, em parte, "por culpa própria", o analista
político entende que o partido deve ter sensibilidades diferentes e aparecer
"como um todo", o que não tem acontecido desde 2011.
"As
presidenciais de 2011 ainda deixaram marcas muito profundas no PAICV que o
partido não soube ultrapassar. Esta questão teve impacto muito direto nestas
legislativas porque a forma como a presidente do PAICV foi eleita, com
Felisberto Vieira a dizer que perdeu por causa de fraude, ainda não foi
solucionado pelo partido e enquanto não resolver esse problema não terá pernas
para competir com outros partidos, nomeadamente com o MpD", analisou.
João
de Deus Carvalho tem "a certeza" que os resultados das legislativas
vão ter impacto também nas próximas eleições presidenciais, que deverão
acontecer no último semestre do ano.
"Se
o PAICV já tinha enormes dificuldades para encarar as autárquicas, que o MpD é
tradicionalmente o partido maioritário, agora vai ter dificuldades redobradas.
Idem, aspas para as presidenciais", disse.
"Sabe-se
que em Cabo Verde, tal como em Portugal, um mandato presidencial é praticamente
de 10 anos, qualquer Presidente que não faça asneiras grossas consegue ser
eleito. Se a situação era difícil, tornou-se agora quase impossível, de modo
que muito provavelmente vamos ter um plebiscito presidencial, Jorge Carlos
Fonseca vai concorrer sozinho porque eu não acredito que apareçam candidatos
credíveis", perspetivou.
O
analista político não acredita também que José Maria Neves avance na corrida.
"O José Maria Neves nunca seria candidato presidencial porque eu sempre
disse que é mais um executivo. Ele não se sente motivado para as funções
presidenciais. Aquilo foi mais um tabu que ele quis manter para não prejudicar
os resultados das legislativas", reforçou.
"Vai
ser muito difícil o partido arranjar candidato. Não vejo alguém a meter nessa
aventura. Se aparecer um ou outro candidato é para marcar terreno para 2021,
não é para ganhar", referiu, considerando que Jorge Carlos Fonseca fez um
"mandato excelente".
"Jorge
Carlos Fonseca elevou grandemente a fasquia presidencial. Tirá-lo dali é quase
uma impossibilidade. Sondagens indicam que José Maria Neves está com uma
desvantagem de praticamente 20% e agora, com os resultados das legislativas,
esses valores vão disparar para 25 a 30%", concluiu.
RYPE
// VM – Lusa
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