quinta-feira, 7 de abril de 2016

A DISPUTA CERRADA PELA LIDERANÇA DA UNIÃO AFRICANA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Desenha-se, num horizonte muito próximo, uma apertada corrida para o importante cargo de presidente da Comissão da União Africana, depois de a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma anunciar publicamente a decisão de não se recandidatar a um segundo mandato.

Deste modo, daqui até à próxima cimeira da União Africana, em Julho no Ruanda, iremos assistir a uma possível procissão de candidatos e promotores de candidatos que se tentarão melhor posicionar para ascender àquele importante posto de direcção da principal organização do continente.

A senhora Nkosazana Zuma tem sido ultimamente apontada como estando interessada e excelentemente posiconada para substituir o seu antigo marido como presidente da África do Sul. É uma ambição perfeitamente legítima e que pode ser a melhor solução para que o Congresso Nacional Africano (ANC) não perca o poder em resultado de uma série de situações mal explicadas e que envolvem directamente o presidente Jacob Zuma.

Mas, no que toca à futura liderança da União Africana, a verdade é que a não recandidatura da actual presidente da Comisão constitui, por si só, um problema, já que ela vinha desenvolvendo um trabalho que estava a reunir um apoio alargado a nível das diferentes regiões do continente.

Entre os potenciais candidatos para a sua sucessão está perfilado o actual ministro dos Negócios Estrangeiros da Argélia e antigo comissário da União Africana para a Paz e Segurança, Ramtane Lamamra.

Um outro candidato, que tem o apoio dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), é Pelonomi Venson-Moiti, actual ministro dos Negócios Estrangeiros do Botswana.

Não é ainda claro se outros nomes foram apresentados para disputar a liderança da organização, uma vez que apenas em meados deste mês serão oficialmente divulgadas as condidaturas que reuniram os requisitos necessários para irem a votos, mas o futuro residente da Comissão da União Africana sairá certamente dos dois já referidos.

Tratam-se de dois políticos com uma larga experiência governativa e perfeitos conhecedores dos corredores da organização, representando blocos regionais diferenciados e que a partir de agora entrarão numa forte disputa para impôr o seu candidato. 

A senhora Zuma, com 67 anos de idade, manteve uma liderança baseada na busca de consensos e assente numa equipa de comissários que estava a efectuar um trabalho reconhecido como bastanto positivo por parte da grande maioria dos países africanos.

Recentemente, a União Africana estava a dar passos muito importantes na coordenação da luta contra o terrorismo no continente, sendo essa mesmo uma das suas grandes prioridades programáticas.

As tentativas para conciliar os interesses dos diferentes blocos regionais é outra das bandeiras da actual equipa dirigente da União Africana e uma forma de tentar catapultar o continente para um superior patamar de desenvolvimento e de reforço do protagonismo para consolidar a sua afirmação a nível mundial.

Aliás, temas relacionados com o desenvolvimento e a sustentabilidade foram os que mais motivaram a equipa da senhora Zuma e levaram por diversas vezes até Addis Abeba personalidades dos diversos continentes.

Este diálogo possibilitou que a União Africana se afirmasse como interlocutora incontornável para o debate e solução dos grandes temas internacionais e, também, para reforçar uma salutar troca de experiências. Embora ainda não se conheçam os programas que enquadram as duas candidaturas já anunciadas, eles terão que ter na devida linha de conta todo o trabalho que estava ser desenvolvido, de modo a dar-lhe continuidade e, eventualmente, a imprimir um cunho mais pessoal e próximo das ideias de quem os irá apresentar.

Quase tão importante como eleger o futuro presidente da Comissão é optar pelos nomes dos diferentes comissários que vão der corpo à nova equipa de trabalho da União Africana.

Cada candidato, a partir de agora, será sujeito a uma forte pressão por parte dos países que os apoiam no sentido de lhes imporem nomes de pessoas supostamente capazes de ter um bom desempenho.

O que se espera é que os candidatos tenham a força suficiente para resistirem a essas pressões, de modo a que possam optar por pessoas verdadeiramente capazes de ter um desempenho que honre a organização e seja capaz de contribuir para a resolução de alguns dos seus problemas mais urgentes.

Será na escolha dos comissários que poderá residir o êxito de uma ou outra das candidaturas, num jogo político travado em bastidores nem sempre muito “arejados” e que, muitas das vezes, são mesmo obstáculos que deitam por terra as melhores das intenções políticas.

O que também se deseja é que daqui até Julho a actual equipa dirigente da União Africana continue no pleno desempenho das suas funções, de modo a que dê andamento ao excelente trabalho que já fez e para que a passagem de testemumho seja feita com a dignidade que o continente exige.

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