Grupo
parlamentar da UNITA, maior partido da oposição angolana, diz que números
apresentados pelo Governo sobre mortes por febres hemorrágicas não correspondem
à realidade. UNITA visitou hospitais, morgues e cemitérios.
De
acordo com as autoridades sanitárias angolanas, que levam a cabo desde
fevereiro uma campanha de vacinação para combater a epidemia da febre-amarela
que Angola registra desde dezembro de 2015, a doença causou 230 mortes, num
total de 1.645 casos.
Em
visitas realizadas a diversos hospitais, morgues e cemitérios de Luanda, o
grupo parlamentar da UNITA constatou um total de 4.570 mortes registradas nos
livros de diversos hospitais, em março. Apenas em quatro cemitérios "foram
8.339 óbitos", registrados durante o mês passado.
A
este respeito, a DW África entrevistou o parlamentar Alcides Sakala, porta-voz
e secretário para as relações internacionais da UNITA.
DW
África: Quais são as conclusões do seu partido após as visitas efetuadas?
Alcides
Sakala (AS): Há de fato uma crise no sistema de saúde. Entendemos que
faliu o sistema de saúde, que não tem estado à altura de responder às grandes
dificuldades que ocorrem no país, relativamente à febre-amarela e do próprio
paludismo que hoje é praticamente um problema nacional. Tomamos esta posição de
anunciar estes números como forma também de chamar a atenção da opinião pública
nacional e internacional para um problema que carece de solução imediata.
DW
África: É possível garantir que todas essas 4.570 mortes constatadas pelo grupo
parlamentar da UNITA foram causadas por febres hemorrágicas?
(AS): Isto
é a medir pelo número exponencial que se verifica. Há um aumento considerável
[do número de mortes] que coincide com o início deste surto de febre-amarela.
Temos vindo a acompanhar o movimento nos cemitérios, por exemplo, que é enorme
desde quando se anunciou o surto da febre-amarela. Ao levantarmos esse problema
é apenas para procurar ajudar na procura de soluções definitivas.
DW
África: O que levou a uma discrepância tão grande entre os números anunciados
pelo Governo e aquilo que a UNITA constatou no terreno?
(AS): Isto
decorre efetivamente talvez de deficiências no próprio serviço de catalogação.
Mas, a medir pelos nossos dados, há de fato esta grande contradição. Com os
números que apresentamos, que refletem a situação atual, há toda uma
necessidade de se redobrarem os esforços por parte das instituições do Estado
para uma solução cabal destes problemas.
DW
África: Como a UNITA avalia o volume de recursos destinados pelo Governo para a
Saúde, que recebeu 136 milhões de dólares em 2016, contra 221 milhões de
dólares destinados ao setor no ano passado?
(AS): A
UNITA tem insistido imenso de que é preciso dar mais atenção orçamental para as
áreas sociais. Não tem sido feito, agora estão as consequências. Portanto, o
Governo não tem capacidade de responder a surtos como o que está agora a
ocorrer no país, porque do ponto de vista orçamental não se deu a atenção que
se deveria ter dado.
DW
África: Além do surto de febre-amarela, há também uma epidemia de malária que
já terá afetado cerca de 500 mil pessoas em Luanda nas últimas semanas, sendo a
doença a principal causa de morte em Angola. Não foram divulgados os números de
mortes por malária em Angola. Que soluções a UNITA aponta?
(AS): É
preciso que se dê soluções a todas essas questões que dizem respeito à limpeza
das cidades, ao saneamento básico, ao tratamento de lixo, o que é uma questão
deficitária ainda no nosso país e, sobretudo, em Luanda neste momento.
DW
África: De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Angola vive ainda o pior
surto de febre-amarela dos últimos 30 anos. O ministro da Saúde, Luís Gomes
Sambo, declarou recentemente a intenção de vacinar toda a população. Mas segundo
a OMS, faltam vacinas contra a febre-amarela no mercado. Qual a posição da
UNITA neste sentido?
(AS): O
que tem havido também é má gestão dos recursos financeiros, sobretudo. Isto
reflete, exatamente, a falta de políticas claras de prevenção. Portanto, houve
desleixo nesta área e agora estão as consequências que falam por si. Portanto,
é preciso modificar o modelo de gestão do próprio sistema de saúde.
DW
África: Poderia relatar quais têm sido as consequências práticas das epidemias
de febre-amarela e de malária para a população?
(AS): O
que se conta e o que se vê é dramático, sobretudo o tratamento dos corpos nas
morgues da cidade de Luanda que não têm capacidade para fazer face a este
número elevado de óbitos que se verifica. É também assim nos cemitérios. De
fato, há um quadro dramático que se verifica no país.
Cristiane
Vieira Teixeira – Deutsche Welle
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