quarta-feira, 13 de abril de 2016

Angola. 4.570 MORTES EM UM MÊS NOS HOSPITAIS DE LUANDA, CONSTATOU A UNITA




Grupo parlamentar da UNITA, maior partido da oposição angolana, diz que números apresentados pelo Governo sobre mortes por febres hemorrágicas não correspondem à realidade. UNITA visitou hospitais, morgues e cemitérios.

De acordo com as autoridades sanitárias angolanas, que levam a cabo desde fevereiro uma campanha de vacinação para combater a epidemia da febre-amarela que Angola registra desde dezembro de 2015, a doença causou 230 mortes, num total de 1.645 casos.
Em visitas realizadas a diversos hospitais, morgues e cemitérios de Luanda, o grupo parlamentar da UNITA constatou um total de 4.570 mortes registradas nos livros de diversos hospitais, em março. Apenas em quatro cemitérios "foram 8.339 óbitos", registrados durante o mês passado.

A este respeito, a DW África entrevistou o parlamentar Alcides Sakala, porta-voz e secretário para as relações internacionais da UNITA.

DW África: Quais são as conclusões do seu partido após as visitas efetuadas?

Alcides Sakala (AS): Há de fato uma crise no sistema de saúde. Entendemos que faliu o sistema de saúde, que não tem estado à altura de responder às grandes dificuldades que ocorrem no país, relativamente à febre-amarela e do próprio paludismo que hoje é praticamente um problema nacional. Tomamos esta posição de anunciar estes números como forma também de chamar a atenção da opinião pública nacional e internacional para um problema que carece de solução imediata.

DW África: É possível garantir que todas essas 4.570 mortes constatadas pelo grupo parlamentar da UNITA foram causadas por febres hemorrágicas?

(AS): Isto é a medir pelo número exponencial que se verifica. Há um aumento considerável [do número de mortes] que coincide com o início deste surto de febre-amarela. Temos vindo a acompanhar o movimento nos cemitérios, por exemplo, que é enorme desde quando se anunciou o surto da febre-amarela. Ao levantarmos esse problema é apenas para procurar ajudar na procura de soluções definitivas.

DW África: O que levou a uma discrepância tão grande entre os números anunciados pelo Governo e aquilo que a UNITA constatou no terreno?

(AS): Isto decorre efetivamente talvez de deficiências no próprio serviço de catalogação. Mas, a medir pelos nossos dados, há de fato esta grande contradição. Com os números que apresentamos, que refletem a situação atual, há toda uma necessidade de se redobrarem os esforços por parte das instituições do Estado para uma solução cabal destes problemas.

DW África: Como a UNITA avalia o volume de recursos destinados pelo Governo para a Saúde, que recebeu 136 milhões de dólares em 2016, contra 221 milhões de dólares destinados ao setor no ano passado?

(AS): A UNITA tem insistido imenso de que é preciso dar mais atenção orçamental para as áreas sociais. Não tem sido feito, agora estão as consequências. Portanto, o Governo não tem capacidade de responder a surtos como o que está agora a ocorrer no país, porque do ponto de vista orçamental não se deu a atenção que se deveria ter dado.

DW África: Além do surto de febre-amarela, há também uma epidemia de malária que já terá afetado cerca de 500 mil pessoas em Luanda nas últimas semanas, sendo a doença a principal causa de morte em Angola. Não foram divulgados os números de mortes por malária em Angola. Que soluções a UNITA aponta?

(AS): É preciso que se dê soluções a todas essas questões que dizem respeito à limpeza das cidades, ao saneamento básico, ao tratamento de lixo, o que é uma questão deficitária ainda no nosso país e, sobretudo, em Luanda neste momento.

DW África: De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Angola vive ainda o pior surto de febre-amarela dos últimos 30 anos. O ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, declarou recentemente a intenção de vacinar toda a população. Mas segundo a OMS, faltam vacinas contra a febre-amarela no mercado. Qual a posição da UNITA neste sentido?

(AS): O que tem havido também é má gestão dos recursos financeiros, sobretudo. Isto reflete, exatamente, a falta de políticas claras de prevenção. Portanto, houve desleixo nesta área e agora estão as consequências que falam por si. Portanto, é preciso modificar o modelo de gestão do próprio sistema de saúde.

DW África: Poderia relatar quais têm sido as consequências práticas das epidemias de febre-amarela e de malária para a população?

(AS): O que se conta e o que se vê é dramático, sobretudo o tratamento dos corpos nas morgues da cidade de Luanda que não têm capacidade para fazer face a este número elevado de óbitos que se verifica. É também assim nos cemitérios. De fato, há um quadro dramático que se verifica no país.

Cristiane Vieira Teixeira – Deutsche Welle

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