Humberto
Cardoso – Expresso das Ilhas, opinião
Confirma-se
que a presidente do PAICV Janira Hopffer Almada vai assumir o cargo de líder
parlamentar. Compreende-se que JHA queira com a sua liderança da bancada da
oposição ganhar estatura política aos olhos do seu partido e do país que lhe
permite perspectivar a possibilidade de vir a estar à frente do seu partido nas
próximas eleições legislativas. O problema é se, tendo em conta os resultados e
a forma como o combate eleitoral foi conduzido, há razões par acreditar que se
verificará o crescimento desejado. Afinal nem toda a gente está talhada para
ser líder e para ganhar. Na sequência da reunião da direcção nacional do PAICV
Janira em declarações à imprensa culpou a abstenção e culpou algumas coisas
menos bem conseguidas da agenda de transformação e também o desgaste dos quinze
anos. De facto, todos os elementos referidos poderão ter sido factores da
derrota, mas esqueceu-se de elucidar sobre o papel que ela própria teve nesse
desfecho. É evidente, por exemplo, o impacto negativo das divisões internas na eficácia
do partido durante o embate eleitoral. Também é visível que a líder não
convenceu nas suas tentativas de potenciar a sua condição de mulher e jovem.
Pior ainda, não ganhou estatura política e intelectual suficiente para deixar
de ser vista como alguém que decora matérias, mas não é imaginativa nem
criativa nos debates. As falhas aqui identificadas dificilmente serão
superáveis no futuro. Realmente vê-se, por exemplo, que depois de mais de sete
anos como ministra de várias pastas não conseguiu ser vista num outro patamar,
nem pelos seus colegas do governo. Só um ou dois de entre eles a apoiaram nas
suas pretensões de líder do partido. Ganhou mas, mesmo exercendo o cargo durante
um ano, não conseguiu crescer no cargo de forma a criar uma unidade de vontade
e de identificação na sua pessoa que permitisse ao partido ultrapassar as suas
clivagens internas e ser mais eficaz no combate eleitoral. Por outro lado, as
armas de natureza clientelar utilizadas nas lutas internas e denunciadas em
várias ocasiões por Felisberto Vieira e outros deixaram mágoas que não foram
totalmente ultrapassadas durante o ano de seu mandato como presidente do
partido. A competência já revelada na gestão de influências na máquina
partidária não se revelou particularmente útil em construir pontes entre
sensibilidades e personalidades, em ultrapassar conflitos e em fortalecer
confiança. E quem já demonstrou não ter essas qualidades dificilmente as
conseguirá no futuro. O tempo dirá da sua justiça.
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