Orlando
Mascarenhas – jornal i, opinião
Os
centros financeiros offshore continuam a servir de refúgio ao capital
proveniente de toda uma criminalidade que produz elevadíssimos lucros, de
capital desviado da venda de recursos naturais por governantes ditatoriais e,
de entre outros, de capitais provindos de zonas com impostos elevados.
Nas
últimas décadas, o mundo tornou-se mais pequeno, ligado por redes de
telecomunicações, tecnologia de informação, negócios de multinacionais e
legislação financeira coordenada. Os rápidos fluxos de capital privado, ideias,
tecnologia, bens e serviços, envolve, a todos os níveis, a utilização de
empresas ou uma outra forma de corporativismo com fins negociais. Apesar de
estas entidades possuírem um papel fundamental no sistema económico global, em
certas circunstâncias, podem ser utilizadas para propósitos ilícitos, onde se
incluem o branqueamento de capitais, o suborno, a corrupção, a fraude fiscal, o
financiamento do terrorismo, o esconder e diversificar ativos, e muitas outras
formas de comportamentos criminais.
Os
fluxos financeiros de proveniência da criminalidade que possui como fim a
obtenção de um lucro, atravessam os mercados financeiros, tanto nacionais como
internacionais e, na maioria das vezes, esses movimentos ocorrem através de
toda essa variedade de corporativismo com fins negociais, onde se incluem as
empresas, as fundações, as “trusts” e as parcerias com características de
responsabilidade limitada.
Quando
se fala de fluxos financeiros de proveniência ilícita, atendendo aos excessivos
níveis de segredo e anonimato que determinadas jurisdições providenciam a estas
entidades corporativas, criando um ambiente favorável para uma utilização com
propósitos criminais, temos, obrigatoriamente, de centrar a nossa atenção sobre
aquilo que vulgarmente é chamado de centro financeiro offshore.
Os
centros financeiros offshore continuam a servir de refúgio ao capital
proveniente de toda uma criminalidade que produz elevadíssimos lucros, de
capital desviado da venda de recursos naturais por governantes ditatoriais e,
de entre outros, de capitais provindos de zonas com impostos elevados.
Os
criminosos encontram-se vulneráveis em dois pontos: primeiro, quando cometem o
facto criminoso e, segundo, quando tentam esconder os proventos do mesmo.
Aqueles
que praticam as atividades delituosas com uma componente económico-financeira,
são mais vulneráveis neste segundo ponto. Esconder grandes somas de dinheiro
“sujo” não é fácil. Tirar proveito desse dinheiro, ou de outros proventos,
requer a colocação, através de uma transformação, no mercado lícito. É aqui que
a vulnerabilidade se manifesta, pois nestas instâncias, o rasto dos proventos
deixa as suas marcas e permite a sua identificação, deteção e apreensão.
Qualquer
jurisdição que providencie mecanismos que permitam, com sucesso, que os
indivíduos ocultem ou escondam a sua identidade atrás de uma entidade
corporativa, usando instrumentos que obscurem os verdadeiros beneficiários,
onde são exemplo as ações ao portador, cláusulas fugidias, cartas de intenções
e “diretores” nomeados, e em simultâneo, de forma excessiva, constranja a
capacidade de as autoridades obterem e partilharem informação sobre os
verdadeiros beneficiários quando existam suspeitas de atividades ilícitas, essa
mesma jurisdição é com toda a certeza o paraíso desses mesmo criminosos.
Diversas
entidades a nível mundial, com particular relevo aquelas que se debruçam sobre
as problemáticas da corrupção e da fraude, apontam o segredo e o anonimato dos
centros financeiros offshore como uma das principais causas da deterioração da
lei e ordem, forçando a maioria dos cidadãos a realizarem pagamentos mais
elevado de impostos para compensar o rendimento que se dissipa pelos centros
financeiros offshore.
Estima-se,
através de diversos estudos realizados, que os fluxos financeiros resultantes
dos proventos da criminalidade com uma componente económico-financeira que
atravessam fronteiras são de cerca de 2 milhões de biliões de euros, por ano.
O
anonimato dos centros financeiros offshore torna extremamente difícil traçar os
fluxos do dinheiro, existindo estimativas que apontam para a existência de 32
milhões de biliões de euros em riqueza individual desviada para paraísos
fiscais, o que equivale, aproximadamente ao tamanho da economia dos E.U.A. e do
Japão juntas.
Intermediários,
advogados, contabilistas, são alguns dos intervenientes que, a troco de um
pagamento, guardam os segredos dos clientes em centros financeiros offshore,
não desenvolvendo as devidas diligências de verificação de identidade e de
antecedentes desses clientes, e permitindo a criação dessas entidades
corporativas, com recurso a ações ao portador e “diretores nomeados, com o
intuito de camuflar a verdadeira identidade dos beneficiários. A título de
curiosidade, em trabalhos desenvolvidos, foram já identificados um conjunto de
cerca de 30 “diretores fraudulentos” utilizados como representativos, entre
eles, em mais de 21.000 empresas e, individualmente cerca de 4.000 empresas
cada um.
Para
prevenir e combater estes fenómenos é essencial que todas as jurisdições
estabeleçam mecanismos que permitam às autoridades, em tempo útil, obter
informação sobre os verdadeiros beneficiários, no âmbito de investigações sobre
atividades ilícitas.
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