José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Cumpre-se
este mês, no próximo dia vinte, um ano que os jovens democratas foram detidos.
Dentro e fora de Angola preparam-se inúmeras iniciativas de solidariedade para
com os presos políticos. Ainda quero acreditar que até lá tenhamos todos uma
boa surpresa. Não posso deixar de recordar aqui o caso de José Marcos Mavungo,
detido a 3 de Março de 2015, condenado a seis anos de prisão, e libertado
recentemente, por decisão do Tribunal Supremo. Onde um juiz viu provas
inequívocas de gravíssimo crime de rebelião, outros (que lhe são superiores)
não encontraram rigorosamente nada.
Já
o disse antes: a insistência no erro não o corrige. Antes o aprofunda. Um
pedaço de madeira não se transforma em crocodilo apenas por passar muito tempo
mergulhado nas águas de um rio.
A
libertação dos jovens esvaziaria alguma da contestação internacional ao regime
do Presidente José Eduardo dos Santos. Internamente, aliviaria a enorme pressão
social, sinalizando a emergência de um tempo um pouco mais inclinado ao
diálogo.
Daqui
a um ano teremos eleições. Ou não teremos. Se a intenção de quem detém todo o
poder é realizar eleições na data prevista conviria começar desde já a erguer
pontes. Se a intenção é adiar as eleições isso ainda me parece mais importante.
Adiar as eleições, nesta altura, qualquer que fosse o pretexto, seria uma
inequívoca admissão de derrota e de fraqueza. Um regime que mostra medo e
fraqueza e, ao mesmo tempo, insiste em políticas de afrontamento social está a
dar um tiro – já não nos pés – mas na própria cabeça.
Há
um ano, recebi, com natural inquietação, a notícia da prisão de Luaty e dos
seus companheiros. Nunca me ocorreu, contudo, que a mesma se pudesse prolongar
por tanto tempo. Julguei que os jovens iriam ser soltos em poucos dias. A
prisão do grupo teve, aliás, escassa repercussão internacional. Nessa semana
apenas o diário português Público a noticiou, sugerindo, em
editorial, que o regime angolano resvalara para o fascismo. Caso os jovens
tivessem sido libertados na semana seguinte o Presidente José Eduardo dos
Santos teria sido poupado a um desgaste do qual, agora, dificilmente recuperará.
A
longa prisão dos jovens democratas confirma, afinal, embora da forma mais
cruel, todas as suas teses: a de que vivemos em ditadura e que em ditadura o
povo tem o dever de se rebelar. Os jovens escolheram a via do combate
pacifista. Com isso marcam a diferença, num pais, como o nosso, em que mesmo os
ideais mais generosos acabaram quase sempre aviltados pela violência.
Inclino-me,
mais uma vez, diante do sacrifício destes jovens. Companheiros, vocês não estão
sozinhos. Também a coragem é contagiosa. Também a generosidade é contagiosa. A
vossa gargalhada livre é um clarão de esperança num tempo tão escuro.
Estamos
juntos!
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