quinta-feira, 16 de junho de 2016

Angola. UM ERRO LONGO DEMAIS



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Cumpre-se este mês, no próximo dia vinte, um ano que os jovens democratas foram detidos. Dentro e fora de Angola preparam-se inúmeras iniciativas de solidariedade para com os presos políticos. Ainda quero acreditar que até lá tenhamos todos uma boa surpresa. Não posso deixar de recordar aqui o caso de José Marcos Mavungo, detido a 3 de Março de 2015, condenado a seis anos de prisão, e libertado recentemente, por decisão do Tribunal Supremo. Onde um juiz viu provas inequívocas de gravíssimo crime de rebelião, outros (que lhe são superiores) não encontraram rigorosamente nada.

Já o disse antes: a insistência no erro não o corrige. Antes o aprofunda. Um pedaço de madeira não se transforma em crocodilo apenas por passar muito tempo mergulhado nas águas de um rio.

A libertação dos jovens esvaziaria alguma da contestação internacional ao regime do Presidente José Eduardo dos Santos. Internamente, aliviaria a enorme pressão social, sinalizando a emergência de um tempo um pouco mais inclinado ao diálogo.

Daqui a um ano teremos eleições. Ou não teremos. Se a intenção de quem detém todo o poder é realizar eleições na data prevista conviria começar desde já a erguer pontes. Se a intenção é adiar as eleições isso ainda me parece mais importante. Adiar as eleições, nesta altura, qualquer que fosse o pretexto, seria uma inequívoca admissão de derrota e de fraqueza. Um regime que mostra medo e fraqueza e, ao mesmo tempo, insiste em políticas de afrontamento social está a dar um tiro – já não nos pés – mas na própria cabeça.

Há um ano, recebi, com natural inquietação, a notícia da prisão de Luaty e dos seus companheiros. Nunca me ocorreu, contudo, que a mesma se pudesse prolongar por tanto tempo. Julguei que os jovens iriam ser soltos em poucos dias. A prisão do grupo teve, aliás, escassa repercussão internacional. Nessa semana apenas o diário português Público a noticiou, sugerindo, em editorial, que o regime angolano resvalara para o fascismo. Caso os jovens tivessem sido libertados na semana seguinte o Presidente José Eduardo dos Santos teria sido poupado a um desgaste do qual, agora, dificilmente recuperará.

A longa prisão dos jovens democratas confirma, afinal, embora da forma mais cruel, todas as suas teses: a de que vivemos em ditadura e que em ditadura o povo tem o dever de se rebelar. Os jovens escolheram a via do combate pacifista. Com isso marcam a diferença, num pais, como o nosso, em que mesmo os ideais mais generosos acabaram quase sempre aviltados pela violência.

Inclino-me, mais uma vez, diante do sacrifício destes jovens. Companheiros, vocês não estão sozinhos. Também a coragem é contagiosa. Também a generosidade é contagiosa. A vossa gargalhada livre é um clarão de esperança num tempo tão escuro.

Estamos juntos!

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