Hong
Kong, China, 31 mai (Lusa) -- Os residentes de Hong Kong e do interior da China
"estão ligados pelo sangue" e os primeiros devem preocupar-se com os
"grandes incidentes" ocorridos no país, disse hoje o líder de Hong
Kong, respondendo a uma questão sobre Tiananmen.
"Hong
Kong é parte do país. Os residentes de Hong Kong e de todo o país estão ligados
pelo sangue", disse o chefe do Executivo, CY Leung, quando questionado
pelos jornalistas sobre se os cidadãos locais devem assinalar o aniversário do
massacre de Tiananmen, na principal praça de Pequim, há 27 anos.
"Os
residentes de Hong Kong devem preocupar-se com os grandes incidentes que
ocorreram no interior da China", acrescentou CY Leung, sem responder
diretamente à questão dos jornalistas.
As
declarações de CY Leung, prestadas antes da reunião semanal do Conselho
Executivo, surgem dias depois de os estudantes terem anunciado o boicote à
vigília anual pelas vítimas de Tiananmen, no Parque Vitória, por discordarem
dos objetivos da organização - a Aliança de Hong Kong de Apoio dos Movimentos
Democráticos Patrióticos da China.
A
polémica entre a organização da vigília e os líderes estudantis subiu de tom
depois de um artigo publicado no fim de semana pelo líder do conselho editorial
da associação de estudantes da Universidade Shue Yan de Hong Kong, Ng
Kwai-lung, que compara os organizadores a "proxenetas e alcoviteiras num
bordel", segundo a imprensa local.
As
observações feitas no artigo refletem uma crescente sensação de distanciamento
da política na China continental entre a geração mais jovem.
Um
crescente número de jovens e grupos 'localists' - que defendem a proteção da
identidade local por oposição a Pequim - têm apelado, nos últimos anos, ao
boicote da vigília no Parque Vitória, incentivando a participação em eventos
alternativos. Alguns argumentam que o desenvolvimento democrático da China é
algo que não lhes diz respeito, enquanto outros se manifestam insatisfeitos com
o ritual da vigília.
Os
líderes estudantis da Universidade de Hong Kong vão, este ano, organizar um
evento em separado no seu próprio campus para assinalar o massacre, enquanto
membros de mais de dez outras instituições de ensino superior da cidade vão
reunir-se na Universidade Chinesa na noite de 04 de junho para abordar o futuro
de Hong Kong depois de 2047, quando expira o princípio "Um país, dois
sistemas".
Este
ano, a organização da vigília no Parque Vitória estima a participação de
100.000 pessoas, disse na segunda-feira Lee Cheuk-yan, secretário da Aliança, à
Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.
O
número foi avançado depois de, no domingo, a manifestação anual na antiga
colónia britânica para assinalar a repressão de Pequim aos protestos
pró-democracia ter registado a adesão mais baixa dos últimos anos, com a organização
a estimar 1.500 pessoas, e a polícia a referir 780 manifestantes, segundo o
jornal South China Morning Post.
Considerado
pelo governo como "uma rebelião contrarrevolucionaria", o movimento
iniciado por estudantes das universidades de Pequim foi esmagado pelo exército
no dia 04 de junho de 1989.
Os
manifestantes, que estavam concentrados há várias semanas na praça Tiananmen,
pediam mais liberdade política e de expressão e o fim da corrupção no país,
entre outras reivindicações. Várias organizações não-governamentais referem a
morte de milhares de pessoas.
A
região administrativa especial de Hong Kong é o palco mais importante das ações
destinadas a lembrar o massacre, e foi refúgio e ponto de passagem de numerosos
dissidentes de Tiananmen.
No
interior da China, a data é tabu e todas as iniciativas para a relembrar são
puníveis com prisão.
FV
(ISG/DM/AC) // APN
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