sábado, 18 de junho de 2016

Nepotismo e corrupção em Angola permitem manutenção da detenção dos ativistas -- Ana Gomes


A eurodeputada portuguesa Ana Gomes defendeu hoje que o nepotismo e a corrupção têm mantido o silêncio dos ativistas detidos há um ano em Angola, bem como o regime de José Eduardo dos Santos no poder.

Em declarações à agência Lusa, Ana Gomes, eurodeputada do Partido Socialista (PS), disse ter pouca esperança de que as autoridades angolanas possam vir a libertar os 17 ativistas detidos a 20 de junho do ano passado e entretanto condenados a penas de prisão até oito anos e meio por rebelião e associação de malfeitores.

Nessa data, uma operação do Serviço de Investigação Criminal (SIC) fazia em Luanda as primeiras detenções deste processo, que mais tarde ficaria conhecido como "15+2", em alusão aos 15 ativistas que ficaram meio ano em prisão preventiva e duas jovens que aguardaram o julgamento em liberdade, constituídas arguidas em setembro.

"Acho que é um ano em que vimos Angola descer a um fosso que nenhum de nós esperaria e quereria e que tem obviamente a ver com a má governação e com a injustiça de uns, da elite cleptocrata, estarem a enriquecer escandalosamente, enquanto a maioria do povo empobrece, está na miséria e à mercê da doença e da fome", afirmou Ana Gomes.

Para a eurodeputada portuguesa, era "exatamente isso" que os "revus", tal como ficaram conhecidos os ativistas detidos e condenados, que se consideravam como "revolucionários", "expressavam em críticas, justas e legítimas", que constituem "o sentir do conjunto da população angolana".

"Foi por isso que foram presos. Esperar-se-ia que tivesse havido alguma lucidez do regime em não agravar e de corrigir os erros de uma prisão que se sabia o que significava, mas não. Houve um escavar mais o buraco, não só com a situação dos próprios «revus», com um julgamento que foi uma farsa (...) e com o agravar das condições de vida e de má governação (...) sendo sinais perfeitamente ostensivos do desgoverno, nepotismo e corrupção", sustentou Ana Gomes.

A antiga diplomata disse referir-se concretamente a dois filhos do Presidente angolano, Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, a primeira foi nomeada para a presidência da Sonangol e o segundo responsável pelo Fundo Soberano de Angola, "com todos os tremendos ressentimentos que tal implica na sociedade angolana e no próprio Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

"Não quero de maneira nenhuma ver a situação piorar, mas temo que iremos ver a situação piorar antes de melhorar. Se houvesse uma réstia de lucidez e de bom senso (...), mas, de facto, não houve a coragem de ir por diante em reconhecer o tremendo erro da prisão dos «revus» e descomprimir as próprias tensões na sociedade angolana", sublinhou.

"Temo que hoje estejamos num ponto sem retorno por parte do regime angolano.

Somos todos capazes de ver a situação piorar muito antes de começar a melhorar. E isso está nas mãos do povo angolano", concluiu.

JSD // VM - Lusa

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