Leston
Bandeira*
A
entrega da presidência da Sonangol a Isabel dos Santos terá sido o passo mais
arriscado na substituição dinástica que José Eduardo dos Santos está a desenhar
em Angola. O objetivo é que “D. Isabel I” venha a ser proposta como sua
substituta na Presidência da República, em 2018, data anunciada para o final do
seu consulado. E os generais terão de alinhar.
A
sociedade civil não terá entendido completamente a estratégia de Santos, mas a
elite percebeu e aprovou. É esta aprovação que vai ter que ser evidenciada nos
próximos tempos, para o passo seguinte de Santos: depois da sua recondução na
liderança do MPLA, fazer eleger Isabel dos Santos pelo partido, como
vice-presidente.
Porque
enriqueceram graças ao favorecimento de “Zedú”, os generais mais velhos vão ter
que demonstrar o seu apoio público à presidência de Isabel. Esse apoio tem que
arrastar os generais mais novos, formados em academias ocidentais - que estão à
espera da sua vez para substituir os veteranos que fizeram as diversas guerras
que atravessaram os últimos 40 anos da História de Angola.
Com
o apoio explícito das Forças Armadas, Eduardo dos Santos vai poder alterar
aspectos importantes da lei da nacionalidade, ainda há bem pouco tempo blindada
contra “estrangeiros”. É que, no fundo, esse é o caso de Isabel, cuja
maternidade russa a inibe de se candidatar à Presidência, reservada aos
“autênticos” angolanos – seja lá o que isso quer dizer.
Entretanto,
Isabel dos Santos vai procurar revelar-se uma gestora com capacidade para
resolver os sérios problemas económicos do país. Para isso, além de ter que
negociar com os chineses e com os operadores petrolíferos, vai interferir,
seguramente, no plano de diversificação da economia, por forma a evidenciar uma
capacidade de que os angolanos estão à espera para voltarem a imaginar-se a
viver num país rico.
Os
já anunciados colaboradores da nova presidente também vão ter um papel
importante nessas tarefas. A propaganda que habitualmente tem como objectivo a
glorificação do presidente, vai sofrer alterações, quer no método, quer nos
conteúdos e terá como objectivo anunciar que “D. Isabel I” merece o trono.
De
lá, ela protegerá a família – a grande preocupação do pai – e os generais,
ricos, transformados em caciques das respectivas regiões natais e em defensores
da nova cúpula da elite a que pertencem. Nem que para isso tenham que
contribuir com algum do dinheiro que têm no exterior e que, muitos deles, não
sabem como gerir. Uns protegerão os outros. Não haverá forma de colocar uns
contra os outros, generais e família dos Santos.
À
medida que este plano for sendo desenrolado, o Mundo vai ficando admirado, mas
a alteração das leis e os acordos que, entretanto, pai e filha vão assinando
por forma a beneficiarem algumas das comunidades mais reticentes à aceitação de
um “golpe” deste tipo farão com que a contestação exterior não tenha reflexos
internos.
Internamente,
haverá comunidades mais difíceis de contentar, mas também para esses haverá
medidas especiais e, dentro de três a quatro anos, teremos a família dos Santos
tranquila, a dominar, já com alguma inteligência e cuidado, um país dos mais
ricos do Mundo. Para isso, todas as alianças vão valer.
*África
Monitor, opinião
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