quinta-feira, 2 de junho de 2016

Angola. MENOS ESTADO, MELHOR ESTADO



O Estado angolano vai vender a privados, até Agosto, 53 unidades industriais instaladas na Zona Económica Especial Luanda-Bengo (ZEELB) para – afirma – poupar nos custos de manutenção e optimizar a geração de postos de trabalho.

Amedida consta de um despacho presidencial de 26 de Maio que autoriza a “transferência da totalidade das quotas representativas do capital social” destas unidades industriais para “entidades empresariais privadas detentoras de capital, “know how” e tecnologia suficiente” para as “alavancar”.

Estas vendas, cujo preço será determinado “com base na avaliação patrimonial actualizada” e com “critérios técnicos”, são justificadas com a necessidade de “garantir” a exploração por parte do sector privado, “de optimizar sobremaneira a eficiência nos aspectos produtivo, financeiro e comercial” e de postos de trabalho, assim como garantir maior receita fiscal e “cessando o custo de manutenção levado a cabo pelo Estado angolano”.

Localizada a 30 quilómetros do centro de Luanda, a ZEELB, um projecto até agora gerido pelo Estado, envolveu um investimento público de quase 80 milhões de dólares para instalar 73 fábricas e compreende sete reservas industriais, seis reservas agrícolas e oito reservas mineiras, numa área total de 8.300 hectares entre os municípios de Viana, Cacuaco, Icolo e Bengo (Luanda), Dande e Ambriz (Bengo).

No despacho assinado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, recorda-se que o Estado “investiu na montagem, operacionalização e financiamento da actividade de exploração” destas unidades e que o país possui actualmente uma economia de mercado “assente na livre iniciativa dos vários agentes económicos”.

“Com intervenção e participação mínima do Estado nas actividades económicas produtivas, nomeadamente nos sectores da Indústria, Comércio e Serviços”, lê-se no mesmo documento, que reconhece a “necessidade de estimular a intervenção da iniciativa privada no segmento industrial nacional”, para “fazer crescer os investimentos originalmente feitos pelo Estado e fomentar a cultura industrial em Angola”.

O processo de alienação deste capital aos privados será conduzido, determina o mesmo despacho, pelos ministérios da Economia, Indústria e Finanças e o processo de transferência “deve ficar concluído no prazo máximo de 3 meses”.

Criada em 2009 pelo Decreto Nº 57/09, de 13 de Outubro, com o objectivo de fomentar o emprego e criar competitividade entre as indústrias nacionais, a ZEELB já garantiu cinco mil postos de trabalho directos com o funcionamento de 22 unidades industriais.

Desde 2010, a Sonangol participa no projecto ZEELB, através da Sonangol Investimentos Industriais (SIIND), sua subsidiária, por orientação do Presidente da República, tanto na definição de estratégias sobre a implementação e na cedência de recursos humanos qualificados, como no apoio técnico, material e financeiro.

Na ZEELB funcionam unidades fabris ligadas à metalomecânica, embalagens metálicas, torneiras, sacos de plástico, galvanização e pavilhões metálicos, fabrico de mobiliários, colchões, etc.

Apesar do actual contexto económico e financeiro do país, a ZEELB continua a receber novos investimentos. Recentemente foram aprovados novos projectos de investimento para aquela unidade industrial.

Por exemplo, o CITIC Construction (Angola), o maior conglomerado empresarial chinês, vai investir 40 milhões de dólares na instalação de uma fábrica de alumínio, destinada a reduzir as importações, contribuindo desta forma para a melhoria da balança comercial, respondendo às necessidades internas e garantindo a exportação.

Do montante total, 10.800 milhões de dólares serão provenientes de fundos próprios, subscritos pela CITIC Construction (Angola), ascendendo o investimento externo a 29.200 milhões.

A ZEE Luanda-Bengo, caracteriza-se por ter uma gestão integrada, um desenvolvimento faseado, segundo orientações do Executivo Angolano, uma oferta alargada de infra-estruturas, equipamentos e serviços.

É ainda propósito da Zona Económica Especial Luanda-Bengo que os investidores não encontrem dificuldades de instalação e problemas no arranque da actividade, fazendo da ZEE Luanda-Bengo um local de referência do acolhimento da iniciativa empresarial.

Com a implementação da ZEE Luanda-Bengo as empresas da ZEE podem optar por uma localização que representa, muito mais do que o espaço físico das suas instalações, a aposta numa lógica empreendedora em que os factores Qualidade e Inovação está bem presente, visando criar condições que permitam melhorar a competitividade das Empresas da ZEE Luanda-Bengo.

A Zona Económica Especial Luanda-Bengo, conta já com diversos utentes no seu espaço, dentre os quais se destacam:

• SIIND – Sonangol investimentos Industriais, para quem foram transmitidas pelo Estado, 53 unidades Industriais;
• CSG AUTOMÓVEIS – Unidade de montagem, reparação e venda de acessórios de viaturas da marca Nissan ZZT, Oting;
• Auto Star – Unidade de manutenção, venda, reparação e venda de acessórios de automóveis da marca Mercedes;
• CITIC – Empresa de montagem de produtos de caixilharia e alumínios;
• CIF – Fábrica de blocos;
• Viana Hotel;
• C.L.A. – Centro Logístico e Distribuição, e unidade industrial de panificação;
• Priority Indústria – Fábrica de Gelados e Iogurtes;
• Pumangol – Bombas de combustível;
• Sonangol – Bombas de combustível.

Folha 8

Organização da África Ocidental recomenda respeito pela constituição da Guiné-Bissau



Uma missão de mediação da crise política na Guiné-Bissau, composta por deputados de alguns países da Africa Ocidental, apelou hoje aos atores guineenses no sentido de respeitarem a constituição do país e ainda promoverem "um diálogo inclusivo franco".

A missão do comité interparlamentar para a paz do conselho de prevenção de riscos de crise na Africa Ocidental terminou uma visita de quatro dias a Bissau onde se encontrou, com o Presidente guineense, José Mário Vaz, com a direção do Parlamento, do Supremo Tribunal de Justiça entre outros responsáveis políticos.

Lancine Dasso, chefe da missão, afirmou que vieram a Bissau, a mando do comité interparlamentar da UEMOA (União Económica e Monetária da Africa Ocidental) para auscultarem as autoridades e avaliar os motivos do impasse político.

"Há um grande défice de comunicação entre os atores políticos na Guiné-Bissau, mesmo entre o Presidente da República, com o primeiro-ministro, entre os dirigentes das instituições e de partidos", observou Lancine Dasso, que vê no respeito da constituição e das leis como formula para ultrapassar a crise.

Lancine Dasso entende que uma cimeira de alto nível entre os principais atores políticos poderia ajudar a resolver "o impasse e o bloqueio", desde que seja de forma "franca, inclusiva e patriótica", disse.

"Há uma radicalização de posição. Cada parte pensa que tem a razão do seu lado", sublinhou Dasso, para quem a situação na Guiné-Bissau "é grave".

MB // APN - Lusa

Baciro Djá. PM da Guiné-Bissau convida partido que não o reconhece para formar governo



O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Baciro Djá, convidou o presidente do PAIGC, partido que não reconhece a sua nomeação para o cargo, para formar governo, disse hoje à Lusa fonte próxima de Djá.

"Havendo a necessidade de alargar a base parlamentar de sustentabilidade do governo, vimos convidar o partido que dirige a manifestar a disponibilidade de encetar conversação", refere a carta de Baciro Djá dirigida a Domingos Simões Pereira.

O convite surge duas semanas depois de o Partido da Renovação Social (PRS), que propôs Djá para liderar o próximo governo, ter recusado o convite do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) para formar um governo inclusivo.

O PRS preferiu juntar-se a 15 deputados dissidentes do PAIGC (entre os quais Baciro Djá) para formar uma nova maioria, a qual o Presidente da República, José Mário Vaz, escolheu para vir a formar governo, com Djá como primeiro-ministro.

A formação de Simões Pereira diz que Vaz violou a Constituição, segundo a qual cabe ao partido que venceu as últimas eleições (PAIGC) escolher o governo.

LFO/MB // APN - Lusa

Cabo Verde. Governo fixa tecto máximo para salários de gestores públicos



Alguns vencimentos caem para metade

O Governo anunciou hoje o valor salarial máximo para os gestores públicos. A decisão, que saiu do último Conselho de Ministros, poderá levar a uma redução de cerca de 50 por cento dos salários actuais. A informação foi avançada pelo ministro da Presidência, Fernando Elísio Freire, que disse que a remuneração fixa máxima ficou definida em 300 mil escudos.

Segundo o governante, actualmente, há gestores com vencimentos na ordem 680 mil escudos.

“Fizemos uma profunda análise daquilo que é o salário dos gestores públicos e o Governo resolveu definir um tecto máximo à volta dos 300 contos, porque consideramos que é o mais justo e mais adequado, tendo em conta o nível de produtividade das nossas empresas”, afirmou o porta voz do Conselho de Ministros.

De acordo com Elísio Freire, a remuneração pode variar, tendo em conta a produtividade.
Com esta medida, o Governo espera poupar, anualmente, cerca de 32 milhões escudos.


Cabo Verde. Ministério da Defesa já tem relatório sobre massacre de Monte Tchota



Forças armadas já entregaram relatório do ‘caso Monte Tchota’ ao ministro da defesa.

A garantia foi dada hoje, em conferência de imprensa, pelo Comandante da Guarda Nacional, Coronel Jorge Andrade.

“O Entany está na prisão, com todas as condições de segurança”, esclareceu Jorge Andrade que, de seguida explicou que o processo está em fase de diligência e que o suspeito “está a ser seguido por um psicólogo”.

Relativamente ao inquérito, que permite apurar se houve falhas no funcionamento do destacamento de Monte Tchota, este “já está elaborado e já foi entregue” no Ministério da Defesa. “As conclusões, não lhe posso dizer”, revelou, ainda, aquele responsável. 

Entany Ribeiro, de 22 anos, é o autor confesso da morte de oito militares e três civis no destacamento militar de Monte Tchota, São Domingos. Carlos Monteiro, comandante da terceira região militar, revelou, durante a investigação, à Agência Lusa, que o crime terá sido premeditado.


ÁFRICA E AS NAÇÕES UNIDAS



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Um assunto que começa a ganhar dimensão a nível das preocupações do continente é o que se prende com a representatividade africana no seio da Organização das Nações Unidas (ONU), mais concretamente no seu órgão máximo: o Conselho de Segurança.

Vai crescendo cada vez mais o número dos países que defendem que África já merece ter um estatuto diferenciado ao nível das Nações Unidas, avançando com a necessidade de ter dois lugares permanentes no seio do Conselho de Segurança, de forma a melhor expressar e defender aquilo que são os sentimentos e as estratégias do conjunto de nações que fazem parte do continente.

Os países que defendem a existência de dois assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU argumentam com a necessidade de África ser uma potência em constante crescimento e de, por isso mesmo, ter necessidade de melhor poder expressar e defender aquilo que é a sua estratégia em relação aos grandes temas de importância intercontinental.

Muito recentemente, o ministro argelino Abdelkader Messahel, responsável pela importante pasta que trata dos Assuntos Magrebinos, da União Africana e da Liga dos Estados Árabes, deu a cara por esta ideia que começa a ganhar cada vez mais contornos e está a preocupar, como seria de esperar, as grandes potências ocidentais pouco preparadas em dividir o seu actual quase absoluto poder.

Trata-se de uma voz autorizada e alargadamente reconhecida como incontornável quando estão em questão os problemas que afectam o continente africano, uma espécie de “porta-voz autorizado” dos países do norte de África, onde estão países como o Egipto, Marrocos, Tunísia, Líbia e, claro, Argélia, entre outros.

Este responsável da Argélia, sempre que pode, não perde a oportunidade de apontar o dedo à União Africana acusando esta organização de ser a grande responsável pelo facto de o continente ainda não ter um estatuto diferenciado e estar devidamente representado no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Conselho de Segurança

Numa altura em que se fala com maior insistência na necessidade do início de um processo de introdução de profundas reformas ao nível da Organização das Nações Unidas, começa a ganhar forma a possibilidade de África ter dois representantes permanentes no Conselho de Segurança, o que lhe daria a possibilidade de deixar de lado a necessidade de andar a mendigar favores junto das grandes potências ocidentais a troco de concessões políticas que, muitas das vezes, colocam em causa a sua própria soberania e são contrárias aos seus verdadeiros interesses.

A estratégia do ministro argelino visa transformar a União Africana num órgão que defenda verdadeiramente os interesses do continente e isso passa por colocar na sua presidência uma personalidade mais descomprometida com as estratégias regionais e mais empenhada na defesa mais abrangente de África.

Numa altura em que todos se preparam para o início do debate em volta da substituição da actual presidente da Comissão da União Africana, a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma, seria importante que esta questão fosse tida na devida linha de conta porque ela representa um passo extremamente importante para a dignificação e emancipação do continente.

Um outro factor que pode ajudar a relevar a importância do tema é o que se prende com o actual processo de pré-campanha para a eleição do futuro secretário-geral das Nações Unidas. 

Todos os pré-candidatos para o cargo dizem estar empenhados e convencidos da inevitabilidade da introdução de reformas, mais ou menos profundas, no sistema de funcionamento e no próprio estatuto da Organização das Nações Unidas, podendo isso ser uma oportunidade a não perder para a intensificação do debate em torno do número de lugares que o continente africano pode passar a ter no seio do grupo de membros permanentes do Conselho de Segurança.

Isso passa pelo reforço das estratégias diplomáticas dos diferentes países do continente, de modo a que sejam capazes de ultrapassar a habitual inércia da União Africana para se afirmarem como parceiros incontornáveis na discussão e na busca de soluções para os problemas que afectam o mundo.

Cada vez de forma mais vincada, muitos têm sido os países ocidentais a reconhecer a importância do papel de África nos esforços para a solução de conflitos, dentro e fora do continente, o que sublinha a ideia da sua determinante influência para a busca de soluções pacíficas.

Continente diferente

África é hoje um continente muito diferente daquele que era quando foram fixados o número e quais os modos de representatividade dos membros permanentes no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

Essa diferença tem que estar expressa de forma clara no equilíbrio de forças no seio da organização internacional, de modo a que sejam cada vez mais os países e os continentes a sentirem-se legitimamente representados naquele que é considerado o mais importante órgão de decisão política do mundo.

Para que isso seja possível, mais uma vez é importante que os países africanos tenham a consciência de que nada lhes será dado de borla, que terão que trabalhar e muito para encontrar uma plataforma comum de entendimento que permita a preparação de uma estratégia conjunta que os possa motivar para travar e vencer mais esta batalha diplomática pela sua afirmação política.

Trata-se de um desafio para o qual o continente africano tem que estar preparado, na certeza de que tem todas as condições para o vencer, caso mais uma vez saiba colocar a importância dos objectivos comuns à frente de eventuais caprichos individuais de países que se percam na tentação de se julgarem mais importantes do que os outros.

Com ou sem a União Africana, é esta a hora do continente lutar pela sua emancipação junto de quem está, estranhamente, habituado a decidir sobre o seu futuro à luz daquilo que lhe é mais conveniente tendo em conta as suas estratégias individuais.

PORTUGAL, OLÉ!



Cristina Azevedo – Jornal de Notícias, opinião

Vem aí o Europeu de futebol e eu gosto. É que sempre teremos uns dias em que poderemos gritar o nosso amor, o nosso entusiasmo por este país, sem ter de dar explicações.

Não sei se a Seleção é suficientemente boa, se há motivos para pensar que temos condições de competir com os melhores, de chegar ao fim. Mas confesso que me sabe fantasticamente bem poder torcer pelo meu país de forma emotiva e até irracional. Confortada pelo coro dos meus concidadãos, alegremente e sempre com aquela ponta de esperança de avançar de jogo em jogo, um pouco por sorte e outro pouco (às vezes mesmo poucochinho) por trabalho e empenho.

E este ano vai ser um alívio. Ainda por cima porque a Seleção é chefiada por um homem normal, que desdramatiza, que é sereno, o verdadeiro anti-herói que mostra que afinal é possível unir em vez de dividir.

Bendito Europeu! Vai saber-nos bem. É que na vida real, todos nos esforçamos muitíssimo mas começamos a época balnear sem sossego, com a sensação de que temos uma boia ao pescoço que a qualquer momento pode furar.

E, nesta matéria, não ajuda este suspense a que a Europa nos sujeita, o susto reprimido que os britânicos nos impõem ou o pavor declarado da imparável ascensão de Trump.

Temos de nos concentrar e perceber que a margem de manobra é estreita e os passos em falso muito caros. Temos de fazer como nos ensina Fernando Santos. Dar tudo sem perder a noção de que a vida continua, respeitar os adversários sem lhes dar mais importância do que a que merecem, conviver com as manifestações (prós e contra) sem as deixar condicionar as decisões, conhecer o recursos e otimizá-los sem esquecer que são limitados e têm uma história.

Não é isto que encontramos na nossa vida pública e na análise que sobre a mesma produzimos. Tudo são sequestros ideológicos, suicídios políticos, condicionamentos partidários. Tudo carece de reforma, estrutural e fraturante. Tudo tem de começar do princípio, mesmo que o princípio já o tenha sido vezes sem conta.

Pode ser que a serenidade do nosso selecionador nos contagie e que para lá do resultado que conseguirmos nos ensine que o processo de conquista não é milagroso nem repentino mas antes incremental e realista, muito dependente das outras equipas e sujeito a erros de arbitragem mas, ainda assim, essencialmente assente no nosso trabalho miudinho, diário e, quase sempre, pouco espetacular. Só que é assim que, muitas vezes, também se fazem os campeões. Portugal, olé!

União Europeia. PS quer unanimidade no repúdio de sanções "injustas" para Portugal



O porta-voz do PS considerou hoje importante para o país uma posição unânime que condene a eventual aplicação de sanções a Portugal pelo seu caráter injusto no quadro europeu e contraproducente para a economia nacional.

Tal como agência Lusa noticiou na terça-feira, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, foi pioneiro no lançamento desta ideia, tendo aproveitado a sua intervenção no Fórum de Políticas Públicas, organizado pelo ISCTE, para apelar aos diferentes partidos para que concertem posições em torno de interesses estratégicos nacionais, designadamente no "repúdio" face à eventual aplicação de sanções a Portugal pelas instituições europeias.

João Galamba, porta-voz do PS, afirmou à agência Lusa que as últimas semanas "parecem ter revelado um certo consenso em relação à questão das sanções, no sentido de que seriam injustas face ao panorama europeu e, sobretudo, contraproducentes para Portugal".

"Uma resolução da Assembleia da República permitiria confirmar esse aparente consenso, verificando se existe mesmo e se há ou não uma unanimidade perante a eventualidade de aplicação de sanções a Portugal. Havendo uma unidade de todos os partidos na rejeição das sanções, bem como na argumentação contra a eventual aplicação dessas mesmas sanções, penso que tal seria muito importante para a posição do país" perante as instituições europeias, sustentou.

O texto da resolução que será apresentado pelo PS ainda vai ser negociado com as restantes bancadas parlamentares, razão pela qual só deverá ser objeto de votação em plenário na próxima semana.

Na sequência de uma recente visita às instituições europeias, a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, disse ter ficado com a convicção de que a eventual aplicação de sanções a Portugal dependerá sobretudo dos resultados económico-financeiros agora registados e que já são da responsabilidade do atual Governo socialista.

O porta-voz do PS, porém, demarcou-se desta tese, contrapondo que a aplicação de sanções se prende com uma avaliação do que aconteceu no passado, designadamente até ao final de 2015.

Por isso, segundo João Galamba, essa afirmação de Assunção Cristas, "torna-se pouco inteligível".

"Compreendo que a líder do CDS faça essa afirmação, porque tem interesse em fazê-la, mas parece-me que isso não está em discussão. O mais importante é que o país se mostre unido na possibilidade de rejeição de sanções e, sobretudo, no que respeita à dimensão totalmente contraproducente que a aplicação desse tipo de penalizações teria em relação à situação económica e até quanto à capacidade de Portugal honrar os seus compromissos em matéria de finanças públicas", alegou.

Já sobre as diligências externas feitas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nomeadamente na Alemanha, contra a aplicação de sanções a Portugal, o membro do Secretariado Nacional do PS classificou-as como "naturais".

"Quanto mais o país se mostrar unido e preocupado com essa possibilidade [de sanções], dando alguma tranquilidade ao atual Governo para cumprir os compromissos que assumiu e executar o seu Orçamento, considero que é positivo. Mostra que o país e os seus principais agentes políticos, pelo menos alguns, estão alinhados e têm interesses partilhados", acrescentou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

UE. FRANÇA ESCAPOU A SANÇÕES “PORQUE É A FRANÇA”, DIZ JUNCKER



No momento em que Bruxelas ameaça com sanções a Portugal, o presidente da Comissão Europeia admitiu que há países mais iguais que outros no que toca à aplicação das regras orçamentais na União Europeia.

A França já ultrapassou o teto dos 3% de défice mais de dez vezes desde que existe o euro. Mas apesar disso escapou sempre às sanções previstas nos pactos orçamentais europeus. A explicação para isso foi dada esta terça-feira pelo presidente da Comissão Europeia numa entrevista à televisão do Senado francês: as sanções não foram aplicadas “porque é a França”, afirmou Jean Claude Juncker.

“Conheço bem a França, os seus reflexos, as reações internas, as suas múltiplas facetas”, explicou Juncker, citado pela Reuters, acrescentando que as regras orçamentais não podem ser aplicadas “cegamente”.

As declarações de Juncker surgem no contexto das repetidas ameaças de responsáveis europeus de aplicar sanções a Portugal por não ter cumprido os limites do défice em 2015. E reabrem a discussão aberta pelo ex-presidente da Comissão Europeia Romano Prodi, quando afirmou em 2002 que o pacto de estabilidade “é estúpido”.

Esquerda.net

ESTRATÉGIA DO GOLPE GLOBAL



Manlio Dinucci*

Que ligação existe entre entre sociedades geográfica, histórica e culturalmente distantes, do Kosovo à Líbia e a Síria, do Iraque ao Afeganistão, da Ucrânia ao Brasil e a Venezuela?

O traço comum é serem sociedades arrastadas à estratégia global dos Estados Unidos, exemplificada pela “geografia” do Pentágono. O mundo inteiro se encontra dividido em “áreas de responsabilidade”, cada uma confiada a um dos seis “comandos combatentes unificados” dos Estados Unidos: o Comando Norte cobre a América do Norte, o Comando Sul a América do Sul, o Comando Europeu a região que compreende a Europa e a Rússia, o Comando África o continente africano, o Comando Central Oriente Médio e Ásia, e o Comando Pacífico a região da Ásia/Pacífico.

Aos seis comandos geográficos se somam três operando em escala mundial: o Comando estratégico (responsável pelas forças nucleares), o Comando para as operações especiais e o Comando para o transporte.

À frente do Comando Europeu se encontra um general ou um almirante nomeado pelo presidente dos Estados Unidos, que assume automaticamente o encargo de Comandante supremo aliado na Europa.

A Otan é assim inserida na cadeia de comando do Pentágono, ou seja, opera fundamentalmente em função da estratégia estadunidense. Esta consiste na eliminação de todo Estado ou movimento político-social que ameace os interesses políticos, econômicos e militares dos Estados Unidos que, embora sendo ainda a primeira potência mundial, estão perdendo terreno em face da emergência de novos sujeitos estatais e sociais.

Os instrumentos dessa estratégia são múltiplos: da guerra aberta – ver os ataques aéreos e terrestres na Iugoslávia, no Afeganistão, Iraque e Líbia – às operações secretas conduzidas nesses como em outros países, ultimamente a Síria e a Ucrânia.

Para essas operações o Pentágono dispõe de forças especiais, cerca de 70 mil especialistas que “cada dia operam em mais de 80 países em escala mundial”. O Pentágono dispõe também de um exército na sombra de contratados (mercenários): no Afeganistão, segundo documenta a revistaForeign Policy [1], os mercenários do Pentágono são cerca de 29 mil, ou seja, três para cada soldado estadunidense; no Iraque, cerca de oito mil, dois em cada soldado estadunidense.

Aos mercenários do Pentágono se acrescentam aqueles que fazem parte da tentacular Comunidade de inteligência (informação) compreendendo, além da CIA, 15 outras agências federais. Os mercenários são duplamente úteis: eles podem assassinar e torturar, sem que isso seja atribuído aos EUA, e quando eles são assassinados, seus nomes não aparecem na lista dos mortos. Além disso, o Pentágono e os serviços secretos dispõem de grupos que eles armam e treinam, como os grupos islamitas utilizados para atacar de dentro da Líbia e da Síria, e os grupos neonazistas utilizados para o golpe de Estado na Ucrânia.

Outro instrumento da mesma estrategia são as “organizações não-governamentais” que, dotadas de enormes meios, são utilizadas pela CIA e pelo Departamento de Estado para ações de desestabilização interna e em nome da “defesa dos direitos dos cidadãos”.

No mesmo quadro entram a ação do grupo de Bilderberg [2] – que o magistrado Ferdinando Imposimato denuncia como “um dos responsáveis da estratégia da tensão e dos massacres” na Itália [3], e a da Open Society do “investidor e filantropo George Soros” [4], artesão das “revoluções coloridas”.

No campo de visão da estratégia golpista de Washington encontram-se hoje o Brasil, para minar por dentro os Brics, e a Venezuela, para minar a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba). Para desestabilizar a Venezuela – indica o Comando Sul em um documeno descoberto recentemente [5] – é necessário provocar “um cenário de tensão que permita combinar ações de rua com o emprego dosado da violência armada”.

*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ;Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

Voltaire.net - Tradução José Reinaldo Carvalho - Editor do site Resistência - Fonte Il Manifesto (Itália)

Notas:
[1] “Mercenaries Are the Silent Majority of Obama’s Military”, Micah Zenko, Foreign Policy, May 18th, 2016.
[2] “Aquilo que você não sabe sobre o Grupo Bilderberg”, Thierry Meyssan, Tradução David Lopes, Komsomolskaïa Pravda (Rússia) , Rede Voltaire, 29 de Abril de 2011.
[3] “Terrorismo: o juiz italiano Imposimato acusa o Grupo de Bilderberg”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 30 de Janeiro de 2013.
[4] « George Soros, spéculateur et philanthrope », Réseau Voltaire, 15 janvier 2004.
[5] «Operación Venezuela Freedom-2», Red Voltaire , 22 de mayo de 2016.


FRANÇA: A LUTA SOCIAL PEGA FOGO



Às vésperas da Copa Europeia, greves em defesa dos direitos trabalhistas paralisam país. População apoia. Mas insanidade do governo “socialista” pode abrir espaço para direita

Pepe Escobar – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

Paris está em chamas, enquanto o presidente François Hollande trapaceia. Esta é síntese dos protestos por toda a França contra a proposta da “reforma” trabalhista, enquanto o presidente posa no G-7, no Japão, como se fosse um dos Senhores do Universo.

A França está semiparalizada – dos trabalhadores nas docas do porto Le Havre (um hub-chave de comércio) a operários das refinarias, depósitos de petróleo, estações de energia nuclear (que respondem por 75% do fornecimento nacional de energia), aeroportos, e o sistema de transportes sobre trilhos metropolitano de Paris. Isso converteu-se em pânico numa miríade de postos de gasolina – com a paralisação de grande parte do sistema de transportes francês.

Tudo isso porque o governo Hollande, supostamente “socialista” e catastroficamente impopular, introduziu um projeto de lei que modifica de forma drástica as leis trabalhistas francesas e adota o essencialmente neoliberal “contrata e demite” (“hire and fire”) anglo-saxão, num país profundamente regulado e cheio de regras, onde a proteção e os direitos dos trabalhadores são levados extremamente a sério. Hollande e seu incrivelmente medíocre primeiro ministro Manuel Valls defendem o projeto como a melhor maneira de combater o desemprego crônico.

Acabe com o projeto para desbloquear o país

O maio de 2016 na França certamente não é um remix do maio de 1968. Há um vórtice de fatores complicadores, tais como a psicose “terra terra terra” (Paris vive num estado de sítio semidisfarçado); o movimento Noites Despertas em curso na Praça da República – a versão francesa do Occupy Wall Street; e a polícia com os nervos à flor da pele reclamando, e até mesmo fazendo manifestações porque julgam não receber, da população, todo o amor de que necessitam…

Maio de 2016 surge essencialmente como uma batalha entre o governo socialista e os sindicatos franceses. Vai tornar-se mais quente. Dados da polícia sugerem que havia 153 mil grevistas/manifestantes na quinta-feira passada – um dia de enorme mobilização que atingiu os serviços públicos e transportes aéreos. Os sindicatos contaram quase 300 mil. O executivo está começando a usar a força para desbloquear refinarias chave. Postos de gasolina vazios e motoristas em pânico estão se tornando a norma.

A dupla Hollande-Valls jogou pesado; o projeto de “reforma” trabalhista precisa ser aprovado, do contrário será o fim do governo. O sinal vermelho de Valls é: se o projeto de lei cair, ele também vai. No entanto, já foi (ligeiramente) forçado a recuar; agora está permitindo “mudanças” e “melhorias” na proposta.

Portanto, é essencialmente uma batalha da esquerda francesa – um ramo radical, da classe trabalhadora, contra outro no poder, denominado social-democrata, mas na verdade neoliberal. É também um diálogo de surdos. O primeiro ministro não é propriamente um participante do diálogo social. Para ele, as duas esquerdas são irreconciliáveis. Não é preciso ser um leitor de Barther ou Deleuze para inferir que a França está correndo o risco de chegar ao grau zero de democracia social.

Depois do oitavo dia de manifestações, Philippe Martinez, secretário geral da CGT, a poderosa confederação sindical CGT, reivindica agora ser recebido pelo presidente e somente o presidente – na prática, jogando Valls no lixo.

É possível que a dupla Hollande-Valls esteja tão disconectada do pulso das ruas que não foi capaz de percer que seu projeto de lei seria encarado com tanta hostilidade. Deveriam ter pensado mais amplamente – e investido em muito diálogo prévio, para não dizer sutilezas semânticas, com os sindicatos.

E o que os franceses pensam sobre essa trapalhada? Três quartos da população são contrários ao projeto. Não é possível “modernizar” a França sem os franceses. Nesse país, nuances sutis importam. Segundo uma das últimas pesquisas, 69% são favoráveis a mudanças no projeto de lei, para impedir que a nação se mantenha paralisada. Outra pesquisa mostra que 62% consideram “justificadas” as greves, a despeito da paralisação de parte do país. Um cruzamento desses estudos revela que os movimentos sociais são legítimos, mesmo que a maioria das pessoas não queira ver a nação paralisada.

Num estilo mais leve, a conversa agora nos cafés de Paris é que seria melhor o Partido Socialista nem tentar disputar a nova campanha presidencial; os fatos provam que a classe trabalhadora tem hoje por ele um ódio visceral. O atual estado de emergência – versão francesa da Lei Patriótica (Patriot Act) dos EUA – mais o viés neoliberal dado pelo Partido Socialista (PS) leva-o a perder o voto de artistas e intelectuais, assim como o dos “bo-bos” (boêmios burgueses), que costumavam ser o principal esteio de sua base eleitoral. E tudo isso enquanto os executivos-chefes, tão cortejados pelo PS, continuarão a votar com a direita.

Hora de ser um “indignado” com causa

E agora? Busca-se alguma forma de conciliação; o texto do projeto será emendado pelo Senado no mês que vem, antes de voltar à Assembleia. Isso significa que ela será “retocada” – como até mesmo o governo está agora admite; e isso significará uma vitória dos movimentos sociais. Aconteça o que acontecer, a guerra das esquerdas não terá terminada. E o resultado final pode até mesmo resultar numa forma de suicídio coletivo – em benefício da direita.

O crescimento econômico da França permanece muito fraco. A Copa Europeia de Seleções 2016 começa em apenas duas semanas, em 10 de junho. A França espera receber 1,5 milhão de turistas estrangeiros e lucrar algo em torno de 1,3 bilhão de euros. A área de fãs que está sendo construída em frente a Torre Eiffel atrai ao menos 100 mil pessoas diariamente.

Se não houver uma solução nos próximos dias, a dupla Hollande-Valls terá de recuar. O sistema de segurança francês não terá capacidade de dar conta, simultaneamente, de um alerta máximo contra terrorismo e uma miríade de manifestações (um enorme protesto já está marcado para 14 de junho). Há muito em questão para o sucesso do campeonato de futebol, além dos lucros. O futebol, nesse caso, está longe de ser neutro politicamente; se o show for um grande sucesso, quem colherá os benefícios será Hollande.

Os socialistas franceses, enquanto isso, poderiam fazer mais do que dar uma olhada na vizinha Espanha. Na Espanha de Franco, comunistas e socialistas estavam na vanguarda da resistência democrática, incorporando em sua luta aqueles que criaram as Comissões de Trabalhadores e alguns dos melhores intelectuais de seu tempo.

Então, veio deriva neoliberal dos partidos socialistas europeus – que os levou a perder sua hegemonia histórica. Eles não foram capazes, ao mesmo tempo, de defender sua base social – e o Estado de bem-estar social – e satisfazer os duros requisitos do cassino que é o sistema financeiro e a política econômica de “austeridade” fiscal imposta pela Comissão Europeia, e exigida pela Alemenha.

No período de Franco e durante a Guerra Fria, era comum usar “comunista” e “socialista” como forma de desqualificar qualquer argumento político. Reinava a política do medo. A França, por sua parte, era muito mais sofisticada politicamente (e, ao contrário da Espanha não estava sob um regime fascista.)

O que resta para a esquerda na Europa é prestar muita atenção ao caminho emergente aberto pelos movimentos sociais, compreender a necessidade de reconstruir um Estado de bem-estar social e criar formas de emprego com valor; tudo isso tem sido negado pelo fundamentalismo de mercado e o modo de pensar da austeridade TINA (There Is No Alternative, Não Há Alternativa).

Entre os “indignados” espanhóis encontram-se anarquistas, comunistas, socialistas – um microcosmo da história moderna da Espanha enraizada na indignação contra a ditadura e a injustiça social, todos tentando reinventar-se enquanto o neoliberalismo afunda. Quem dera os esquerdistas franceses pudessem ao menos lançar um olhar para lá.

A DESCOLONIZAÇÃO DA MENTE



Rui Peralta, Luanda 

Os sistemas africanos de fé são, geralmente e por diversos motivos, associados á “obscuridade”, á “violência”, aos “sacrifícios humanos e/ou animais” e ao “atraso cultural e socioeconómico”. Desde o início do período colonial até hoje difunde-se falsa informação sobre as espiritualidades africanas e estas são sistematicamente descontextualizadas. África é mal interpretada e ignorada.             O colonialismo religioso, expressão do colonialismo cultural, é um dos efeitos menos debatidos do todo colonial, sendo a razão principal dos sistemas africanos de fé serem vistos como “magia negra”, ou simples superstições. É necessário entender os processos de colonização cultural para compreender o domínio do cristianismo e do Islão.

No início do século XX os sistemas espirituais africanos ainda dominavam uma vasta região do continente. Passaram de “primitivos e incivilizados”, a um “sistema inferior de religião”. Os extremos dos missionários fizeram-se sentir em muitas ocasiões. Noutras foram mais discretas e “moderadas”. É bom não esquecer que os missionários cristãos acreditavam piamente que tinham de libertar o continente da “opressão do mal” e da “ignorância” (esta crença dos missionários-agentes coloniais foi absorvida pelos actuais missionários pós-coloniais). Quanto ao Islão o panorama não foi muito diferente.

Em muitas escolas fundadas por missionários cristãos foi ensinada (e é) a cristandade mas, também a superioridade da cultura e língua do colonizador ou ex-potência colonial. Foi dessa forma que se formaram muitos agentes “indígenas” ou “autóctones” da autoridade colonial (é verdade que também, em muitos e muitos casos, sucedeu o contrário, um despertar para a luta de libertação nacional. Já com o Islão, a relação com a libertação do continente era muito mais próxima). O colonialismo dominou através do medo, da insegurança, da suspeita generalizada e da tortura do corpo e da alma.

Para a África actual as tradições ancestrais degeneraram, em muitos casos, em práticas criminais. São frequentes os casos de perseguição e assassinato de albinos para adquirir partes dos seus corpos (com especial incidência na Tanzânia) para criar amuletos e fetiches que trazem riqueza, ou rituais ligados a aberturas de túmulos e profanação de cadáveres (no Benim) ou, ainda, assassinato de crianças, etc. Por trás de tudo isto está a mercantilização desses rituais.

Os processos de aculturação inerentes ao desenvolvimento não se socializaram, em virtude da característica do próprio desenvolvimento. As políticas actuais de desenvolvimento aplicadas no continente são políticas descaracterizadas que cavam enormes fossos de desigualdade social. São políticas de concentração de capital e não de socialização da produção. São políticas de concentração da riqueza, não geradoras de processos de democracia económica. Num mundo em que o objectivo é riqueza e Poder as espiritualidades africanas corrompem-se, afastam-se dos seus contextos rurais, para mais quando o desenvolvimento urbano é caótico e assenta num modelo neocolonial, alienígena.

As culturas e costumes africanos pertencem a este mundo. Os que mantêm as tradições ancestrais reclamam credibilidade, apesar dos múltiplos desafios que enfrentam. África tem um passado e, nesses mesmo passado, valores culturais, mas esse passado – independentemente de toda a sua glória – foi, também, o da sua derrota perante a invasão europeia. A luta de libertação nacional foi uma ruptura com a própria tradição, embora a tivesse absorvido, representou uma transformação na qual a tradição se inseria, participava e esse foi um momento de aculturação real.

O desenvolvimento cultural em África é fundamental para edificar um poderio material que garanta a soberania e o Poder de decisão no domínio político, económico, social e cultural. Este poderio material não é apenas crescimento do PIB, é também crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (que por sua vez não é apenas educação e licenciaturas a eito, é também qualidade de ensino, educação como direito e não como negócio, qualidade de vida, de ambiente, saúde como direito e não como negócio, etc.). E não se chega lá através da concentração de riqueza, mas pela justa distribuição da mesma, nem através da especulação mas, sim, através da produção.

África necessita pôr-se corajosamente em causa. Tem de quebrar os ídolos e adquirir conhecimento científico e tecnológico. Tem de olhar para si e para o mundo, não para o próprio umbigo. Não bastam algumas fábricas, investimento privado, respeitar tradição, resgatar valores…Aqui o único valor a resgatar é o futuro.

África necessita de uma lógica de ruptura com o capitalismo…

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