sexta-feira, 3 de junho de 2016

Angola. É PRECISO SALVAR A REPÚBLICA E SAIR À RUA



Do leito, onde me recupero, no exterior, de duas cirurgias, só posso dizer: Porra! Porra é demais! O Presidente da República do MPLA, não respeita os angolanos, não respeita a lei, tão pouco a sua própria constituição.

William Tonet*

Ele é a lei e depois de “domesticar” o seu partido, estende agora a mesma táctica aos demais partidos políticos da oposição e país, porque ninguém tem a coragem de se indignar e dizer: BASTA!

O país é de todos angolanos. É da maioria dos povos e não pode ficar refém de um homem, de uma etnia e família.

O que falta mais estar concentrado, neste clã? O que falta mais Dos Santos fazer com a maior das impunidades e perante a apatia, ou conivência, não só dos angolanos com responsabilidades como da comunidade internacional, a começar pelo Fundo Monetário Internacional que, por sinal, se encontra em Luanda?

Por este andar, só falta ao Rei comprar uma bomba de hidrogénio e matar-nos a todos… Se calhar até é algo que já lhe passou pela cabeça.

Ou será que todo este processo de fuga para a frente revela que José Eduardo dos Santos está cada vez mais só e isolado e, por isso, apenas e por enquanto só confia na família?

É o meu triste e distante comentário. Nada mais falta para se decretar o fim da República e nada me repugna, ante estas “sarrabulhadas” ideológicas, que ele, institucionalize a monarquia Dos Santos.

A nomeação de Isabel dos Santos para PCA da Sonangol é ilegal e inconstitucional, pois não existe justificativa, para a nomeação de uma empresária privada, feita bilionária com o dinheiro do petróleo, por nepotismo, pelo simples facto de ser filha do Presidente da República.

O que me indigna, ainda é este mutismo dos dirigentes e militantes do MPLA, que se calam, encolhem-se ante todas estas arbitrariedades, que definitivamente, mancham a sua imagem e comprometem o futuro. Ainda que o MPLA governe mais 100 anos, quando sair do poder poderá ter a certeza, que o seu caminho será a extinção e nunca mais lá voltará pelo mal que está a fazer ao país, comprometendo o seu futuro.

Como entender que uma empresária, com interesses em muitas empresas no país e no mundo, tenha necessidade de ser nomeada PCA de uma companhia estatal? Uma ou duas razões; a primeira é de antes do FMI tomar as rédeas do resgate financeiro, conseguir esconder todos os desvios que alimentaram e alimentam a corrupção institucional e, segundo, conseguir desviar barris de petróleo, desde já, para garantir o amealhar dos milhões de dólares, visando a campanha eleitoral do MPLA em 2017, sem que as instituições financeiras se apercebam desta trama.

Afinal, diante de todas estas arbitrariedades, abusos, ofensas e violações, onde andam os líderes dos partidos políticos? Será que só existem 15+2 jovens que reclamam e se manifestam em defesa de Angola e dos angolanos? Definitivamente esta nomeação é uma afronta, uma provocação e se Samakuva, Chivukuvuku, Kuangana, Ngonda, Kabangu, Sidiangani, Justino Pinto de Andrade, se calarem, estarão a assinar a sua certidão de cumplicidade com a ditadura monárquica Dos Santos e, amanhã, também serão julgados, pelo silêncio de hoje, que hipoteca as futuras gerações.

É preciso dar um basta a todo este regabofe.

Folha 8, em Aqui Falo Eu, opinião

*Diretor do Folha 8

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Eurodeputada Ana Gomes considera "chocante" nomeação de Isabel dos Santos para a Sonangol



A nomeação da empresária angolana Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, para a administração da Sonangol "é absolutamente chocante" e constitui "um esquema" para manter o branqueamento de capitais, disse hoje a eurodeputada portuguesa Ana Gomes.

Contactada telefonicamente pela agência Lusa, a dirigente socialista disse a partir de Munique (Alemanha) que a decisão de José Eduardo dos Santos nomear a filha como administradora não executiva da Sonangol "não é inocente" e, acima de tudo, "não é desligado do que se passa em Portugal".

"Havia muita gente a dizer que isto estava a ser preparado, que estava na calha, e que era espectável. Mas, mesmo assim, não deixa de ser absolutamente chocante. Esta medida, da parte do presidente, mostra que, em Angola, não há mais nenhuma pretensão de democracia", sublinhou a eurodeputada socialista.

"A filha (Isabel dos Santos) controla a Sonangol e o filho (José Filomeno dos Santos) controla o Fundo Soberano e obviamente que isto não é inocente e não é desligado do que se passa em Portugal. Dá à senhora Isabel dos Santos um controlo, não apenas sobre a Sonangol, mas sobre as participações da Sonangol no exterior, e designadamente em Portugal, no BCP. É um esquema para manter os esquemas de branqueamento de capitais", acrescentou.

Ana Gomes indicou que vários países europeus recusam que Isabel dos Santos abra uma conta bancária, defendendo que o mesmo deveria acontecer em Portugal.

"Estamos a falar de uma óbvia 'pepe', pessoa politicamente exposta, nos termos das diretivas do branqueamento de capitais, e devia haver um dever diligente por parte das autoridades bancárias e de supervisão portuguesas, como do Banco de Portugal e da CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), que até aqui não houve, porque senão não seria hoje acionista de principais bancos nacionais", referiu.

Para Ana Gomes, os riscos para Portugal "estão à vista", lembrando que a Sonangol pode condicionar empresas em que é acionista, como o Millennium BCP ou a Galp.

"É sabido que a Sonangol tem 18% do BCP. Sem ser diretamente, através da Sonangol, ela (Isabel dos Santos) pode controlar e é evidente que isso é instrumentado pelos esquemas de branqueamento de capitais", sustentou.

"Suponho que se está, infelizmente, a assistir a um estertor do atual regime político em Angola, do atual poder, porque é isso que isto demonstra. Só espero que isso não tenha consequências mais devastadoras e violentas para o povo angolano, que está a sofrer tanto, e por todos aqueles que estão em Angola, inclusivamente os portugueses", concluiu.

JSD // PJA – Lusa

Juristas angolanos estudam impugnação à nomeação de Isabel dos Santos na Sonangol



Um grupo de juristas angolanos reúne-se sábado, em Luanda, para analisar a possibilidade de impugnar judicialmente a nomeação da empresária Isabel dos Santos para presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol.

"Vamos reunir e analisar a possibilidade de impugnar a nomeação da filha do Presidente para administradora da Sonangol, por improbidade pública. Tendo em que a lei fixa regras sobre nomeações, achamos que viola a lei o Presidente nomear a filha", disse hoje à Lusa o advogado David Mendes, da associação cívica Mãos Livres.

Em causa está a Lei da Probidade Pública, de 2010, sobre o exercício de funções públicas e para travar o enriquecimento ilícito, e a análise será feita na sede daquela associação, em Luanda, a partir das 12:00 de sábado.

"A reunião está aberta a juristas de todas as tendências. Vamos refletir e decidir se impugnamos ou não a decisão do Presidente. Se for o caso, avançamos", afirmou o advogado angolano.

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, nomeou sexta-feira a empresária Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado, para as funções de presidente do conselho de administração e administradora não executiva da petrolífera estatal Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), informou à Lusa a Casa Civil da Presidência.

A administração liderada desde 2012 por Francisco de Lemos José Maria (presidente do conselho de administração) foi também na sexta-feira exonerada de funções, passando a empresa a ser responsável apenas pela "gestão e monitorização dos contratos petrolíferos".

A designação de Isabel dos Santos surge no âmbito da reestruturação da empresa estatal e do setor petrolífero angolano, processo em que já tinha participado, conforme confirmou a 22 de janeiro, em comunicado, o comité que tratou o processo, alegando a sua experiência de 15 anos como empresária.

Para presidente da comissão executiva - novo órgão entretanto criado pelo Governo angolano para a petrolífera estatal -, e administrador executivo, foi nomeado, segundo a mesma informação da Casa Civil da Presidência, Paulino Fernando de Carvalho Gerónimo, que transita do conselho de administração anterior.

A nova equipa da Sonangol é composta ainda pelos administradores executivos César Paxi Manuel João Pedro, Eunice Paula Figueiredo Carvalho, Edson de Brito Rodrigues dos Santos, Manuel Luís Carvalho de Lemos, João Pedro de Freitas Saraiva dos Santos e Jorge de Abreu.

Conta ainda com os administradores não executivos José Gime, André Lelo e Sarju Raikundalia.

A Lusa noticiou a 27 de maio que a Sonangol, enquanto concessionária estatal angolana do petróleo, vai passar a ter apenas a função de "gestão e monitorização dos contratos petrolíferos" e os direitos sobre as empresas suas participadas vão transitar para um outro órgão estatal.

A informação consta do modelo de reajustamento da organização do setor dos petróleos, aprovado por decreto presidencial.

"A Sonangol EP [Empresa Pública] mantém-se como a concessionária nacional exclusiva do setor [petróleos], apartando-se de todas as demais atividades presentemente exercidas, nestas se incluindo as de pesquisa, produção e operação de blocos petrolíferos. Enquanto concessionária é responsável pela gestão e monitorização dos contratos petrolíferos", define o novo quadro orgânico do setor petrolífero angolano.

A nova comissão executiva da Sonangol, órgão criado por decreto presidencial de 26 de maio, vai passar a assumir a gestão corrente da petrolífera estatal angolana, incluindo propostas de contração de empréstimos ou planos de investimento.

A medida insere-se na reestruturação em curso na petrolífera e surge plasmada naquele decreto presidencial, a que a Lusa teve acesso, que altera o estatuto orgânico do funcionamento da empresa estatal.
PVJ // APN - Lusa

Trabalhadores dos transportes coletivos de Luanda ameaçam paralisação devido a salários em atraso



Trabalhadores da empresa de Transportes Coletivos e Urbanos de Luanda (TCUL) estão a ameaçar com uma paralisação, em protesto contra quatro meses de salários em atraso, uma decisão que deverá ser tomada a 14 de junho.

O secretário-geral adjunto da comissão sindical dos trabalhadores da TCUL, Domingos Epalanga, disse hoje à Lusa que depois de regularizados os nove meses de salários em atraso que originaram uma greve de cerca de um mês, a entidade patronal voltou a falhar o pagamento.

Segundo Domingos Epalanga, a comissão sindical reuniu-se na quinta-feira com o Conselho de Administração da empresa, tendo ficado agendada para o dia 14 a realização de uma assembleia-geral de trabalhadores.

"Nesta assembleia teremos a nossa intervenção para explicarmos os passos que temos dado em torno dessa situação, enquanto sindicalistas, e o Conselho de Administração, na qualidade de patronato, também terá a oportunidade de nessa assembleia explicar os esforços que têm feito com vista a pôr cobro a esta triste situação que estamos a atravessar", disse o sindicalista.

Domingos Epalanga adiantou que por agora a comissão sindical tenta gerir a situação, "acalmando os ânimos internamente".

NME // JMR – Lusa

FLEC/FAC decreta cessar-fogo de três meses e pede retoma do diálogo com Luanda



A direção interina da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) decretou hoje unilateralmente um cessar-fogo de três meses, após a morte, de madrugada, do líder e cofundador do movimento Nzita Tiago.

"A luta continuará e nós decretamos um cessar-fogo por três meses", disse à agência Lusa por Jean-Claude Nzita, porta-voz do movimento independentista que luta pela secessão do enclave cabindês desde 1963, primeiro contra o regime colonial português (até 1975) e, depois, contra Luanda.

Jean-Claude Nzita disse, por outro lado, que a FLEC/FAC enviou, também hoje, um pedido às autoridades de Luanda para que aceite reabrir o processo de negociações, após quase uma década de ausência de diálogo.

Durante as tréguas unilaterais, acrescentou, a FLEC/FAC vai suspender todas as atividades militares em Cabinda - "os nossos combatentes já foram informados da decisão" -, e convocar uma reunião da direção do movimento, de forma a eleger novo presidente.

"África perdeu um grande combatente", afirmou Jean-Claude Nzita.

Nzita Tiago, 88 anos, nasceu a 14 de julho de 1927 em Mboma Lubinda, Cabinda, e morreu hoje de madrugada em Draveil, arredores de Paris, por razões que só a autópsia, a fazer em breve, determinará.

O funeral, indicou Jean Claude Nzita à Lusa, vai decorrer em breve em Paris, não estando previsto que, a menos que o regime do presidente angolano José Eduardo dos Santos aceite às pretensões da FLEC/FAC, o corpo do presidente do movimento seja trasladado para Cabinda.

"Em princípio, o funeral será em Paris. Não sei se poderá vir a ser trasladado para Cabinda (enclave angolano limitado a norte pela República do Congo e a leste e a sul pela República Democrática do Congo)", referiu.

"Cabinda está sob ocupação (angolana). Se libertarem Cabinda, então irá pensar-se nisso. Mas nunca sob ocupação angolana, pois (Nzita Tiago) passou toda a vida a combatê-la e nem sequer tem passaporte angolano. É cidadão gabonês", acrescentou, lembrando que o líder nunca aceitou o estatuto de refugiado angolano.

JSD // PJA - Lusa

MORREU NZITA TIAGO, LIDER DA RESISTÊNCIA DE CABINDA. FUNERAL É EM PARIS



O presidente e cofundador da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), morreu hoje de madrugada em Draveil, arredores de Paris, indicaram fontes familiares citadas no portal noticiosa e-Global.

Nzita Tiago, 88 anos, nasceu a 14 de julho de 1927 em Mboma Lubinda, Cabinda.

Depois de um longo período de atividade política no antigo Zaire (atual República Democrática do Congo), juntamente com Patrice Lumumba, participou em 1963 na criação da FLEC em Ponta Negra, República do Congo.

Na véspera da independência de Angola, vendo que Cabinda não entraria no quadro da descolonização portuguesa, Nzita Tiago inicia uma guerra de guerrilha contra as forças angolanas no enclave, apoiadas por tropas cubanas.

JSD // APN – Lusa

Funeral de Nzita Tiago (FLEC/FAC) será em Paris e não em Cabinda, diz família

O funeral de Nzita Tiago, líder histórico da luta pela independência de Cabinda que faleceu hoje de madrugada num hospital nos arredores de Paris será realizado num cemitério da capital francesa, disse hoje à agência Lusa fonte familiar.

Contactado telefonicamente pela Lusa desde Lisboa, Jean-Claude Nzita disse a partir de Paris que o corpo do presidente e cofundador da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) vai ser ainda autopsiado para determinar as causas da morte de Nzita Tiago, que contava 88 anos.

"Em princípio, o funeral será em Paris. Não sei se poderá vir a ser trasladado para Cabinda (enclave angolano limitado a norte pela República do Congo e a leste e a sul pela República Democrática do Congo)", referiu.

Lusa

CPLP pede diálogo construtivo na Guiné-Bissau e saúda serenidade de forças de segurança



A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) afirmou-se hoje preocupada com a crise política na Guiné-Bissau e defendeu um "diálogo construtivo" entre os diferentes atores políticos, saudando a serenidade das forças de defesa e segurança.

Em comunicado, a organização lusófona afirma-se "preocupada com os recentes desenvolvimentos da situação política na Guiné-Bissau" e "reitera o apelo à calma de todos os intervenientes e ao respeito pela Constituição e as demais leis da República, no quadro do normal funcionamento do Estado de Direito".

A CPLP defende que "só através do diálogo construtivo entre todos os atores guineenses e do respeito pela Constituição da República será possível uma solução, pondo termo ao cenário de indefinição política".

O bloco lusófono saúda ainda "a serenidade que os órgãos de defesa e segurança têm sabido manter".

A organização afirma que continua empenhada "na prossecução de um consenso político durável na Guiné-Bissau que assegure a estabilidade e o desenvolvimento económico e social, tão almejados pelo povo guineense", uma posição que partilha com os demais parceiros internacionais, nomeadamente as Nações Unidas, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e a União Europeia.

No comunicado, a CPLP sublinha ainda o seu "compromisso de solidariedade com o povo guineense, conforme os princípios consagrados na sua declaração constitutiva".

No dia 12 de maio, o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, demitiu o Governo liderado pelo veterano Carlos Correia e nomeou, na semana passada, Baciro Djá, deputado dissidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), como primeiro-ministro.

O partido não aceitou esta decisão e membros do Governo demitido pelo chefe de Estado ocuparam o palácio do executivo.

O novo Governo tomou posse na quinta-feira e é formado essencialmente por dirigentes do Partido da Renovação Social (PRS), oposição e dissidentes do PAIGC em rota de colisão com a direção do partido liderado por Domingos Simões Pereira.

O novo primeiro-ministro, Baciro Dja, disse que com a entrada em funções do seu Governo a crise política que a Guiné-Bissau vive há mais de três meses chegou ao fim.

José Mário Vaz justificou a demissão do anterior Governo por não ter "apoio maioritário" no parlamento e acrescentou "não haver condições financeiras e ser desaconselhado" avançar para eleições.

JH // JMR - Lusa

Fotos premiadas vão mostrar às famílias guineenses filhos transformados em escravos



As fotografias que denunciam a escravatura em escolas corânicas vão ser mostradas na Guiné-Bissau aos pais que nelas inscrevem os filhos, sem saber o que os espera.

"Agora que há provas, temos que as saber usar", referiu o fotojornalista Mário Cruz, da Agência Lusa, premiado este ano pelo World Press Photo e pela Estação Imagem com uma reportagem sobre crianças "talibés" no Senegal, publicada em vários meios de comunicação internacionais.

"Até agora não existiam provas e percebi que essa ausência tinha contribuído para a subversão desta realidade", sublinhou, numa altura em que as autoridades senegalesas continuam sem saber quantas escolas de ensino do Corão (livro sagrado islâmico) maltratam crianças.

Uma exposição de 15 das fotografias foi inaugurada na quinta-feira em Bissau e vai ficar em permanência na Casa dos Direitos, enquanto uma réplica em formato itinerante vai percorrer o território guineense para denunciar a realidade em que muitos pais ainda não acreditam.

"O Mário conseguiu penetrar no fundo destas situações e trazer à luz do dia esta realidade nua e crua que afeta muitas crianças africanas", referiu Laudolino Medina, presidente da Associação dos Amigos da Criança (AMIC) da Guiné-Bissau.

Levantamentos recentes revelaram que "cerca de 30 por cento de 6700 crianças 'talibés' que mendigam em Dacar, capital senegalesa, são guineenses e isto deve requerer a nossa intervenção", sublinhou.

As imagens "foram amplamente divulgadas" no mundo depois de receberem o primeiro prémio na categoria de assuntos contemporâneos do World Press Photo, mas a população diretamente implicada "não teria outra forma de as ver" se não fosse pela exposição, realçou Mário Cruz.

É por isso que o fotojornalista se junta ao presidente da AMIC para na terça-feira levarem a exposição itinerante para Gabu, primeira paragem num esforço de sensibilizar a população.

É na principal cidade do leste da Guiné-Bissau, onde prevalece a tradição muçulmana de enviar os filhos para as escolas corânicas, que as fotografias vão servir para demonstrar que as famílias estão a ser enganadas.

"As organizações guineenses que trabalham neste domínio têm aqui um ótimo instrumento", referiu Fátima Proença, presidente da Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP), que também colaborou na iniciativa.

As fotos podem encorajar as famílias a enfrentar os angariadores a soldo de "marabus" (mestres corânicos), que vivem do dinheiro e géneros que milhares de crianças pedem nas ruas, e que "fazem promessas face a situações de fragilidade".

Prometem felicidade para os filhos de quem só conhece pobreza, mas Mário Cruz fotografou as correntes e chicotes que encontram, dos cinco aos 15 anos, em prisões de onde só saem para mendigar.

LFO // APN - Lusa

TUNÍSIA: A CONVERSÃO DO ENNAHDA



O partido político dos Irmãos Muçulmanos na Tunísia, Ennahda (o movimento da Renascença), decidiu aquando do seu Xº Congresso Nacional, a 22 de Maio de 2016, separar as suas actividades religiosas da sua política, a fim de se tornar um «partido civilista».

Além disso, esta reforma será destinada a impedir a acumulação de um cargo electivo com a responsabilidade da pregação. O Partido definir-se-á sempre como «islâmico», ele não abandona as suas actividades religiosas e continuará a seguir a interpretação da religião feita pelos Irmãos. Em nenhum caso o Partido se tornará secular, ou seja, nada no fundo mudará.

Para julgar a sinceridade desta reforma lembraremos, simplesmente, que o actual Presidente do partido, Rached Ghannouchi, participou na tentativa de golpe Estado islâmico de 1987, e pregou ao lado de Osama bin Laden no Sudão, em 1990. E que ele de nada se arrepende.

As relações públicas do Congresso (incluindo o convite, com todas as despesas pagas a mais de cem jornalistas estrangeiros) foram asseguradas pelo MI6 britânico; o que prova que se os Estados Unidos se distanciaram da Irmandade Muçulmana, Londres continua a trabalhar com eles.

O Presidente da República, Beji Caid Essebsi (ex-Destouriano), veio saudar a «reforma» da imagem do Partido, aí pronunciando um discurso que incluiu numerosas referências religiosas; sinal, pois, que os Irmãos detêm agora os principais poderes na Tunísia.

Voltaire.net - Tradução Alva

Sahara Ocidental. POLISÁRIO: FALECIMENTO DE MOHAMED ABDELAZIZ



É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento do Presidente da República Árabe Saharaui Democrática e Secretário Geral da Frente Polisario,  Mohamed Abdelaziz em 31 de maio de 2016.

É um dia muito triste para o Povo Saharaui. Mohamed Abdelaziz, foi um homem de Paz, amante da sua Pátria e lutador incansável pela  Justiça, a Paz e Liberdade do seu Povo.

Lamentamos que a injusta morte tenha impedido o nosso irmão Presidente, ver realizados os seus sonhos e objectivos da sua intensa e tenaz luta pela libertação do Sahara Ocidental.

Erguemos a bandeira da esperança neste dia triste, e agradecemos todas as mensagens de solidariedade, carinho e amizade que  desde o primeiro minuto do seu falecimento estamos a receber nesta delegação.

Esta perda aumenta a nossa luta e determinação no caminho da esperança pela vitória do povo saharaui. 

O Secretariado Geral da Frente Polisario emitiu um comunicado em que anuncia que o sucessor do Presidente Mohamed Abdelaziz será eleito em congresso extraordinário a ter lugar num prazo de 40 dias, de acordo com a constituição da República Árabe Saharaui Democrática.

Ahamed Fal - Delegado da Frente Polisario em Portugal

Pravda.ru

EUA E ALIADOS NA NATO ESTÃO A CAMINHO DA GUERRA CONTRA A RÚSSIA




Linha vermelha, infringida; na alça de mira; dedo no gatilho - À espera da 'Surpresa de Outubro' 

Primeiro, foi o anúncio da linha vermelha infringida. Na 6ª-feira passada em Atenas, a coisa foi sobre alça/área de mira. Em outubro, um mês antes das eleições nos EUA, será dedo no gatilho.

EUA e aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, estão a caminho de guerra contra a Rússia, acelerando a inevitabilidade de a Rússia atacar em procedimento de autodefesa. Isso precisamente é o que dizem os dois avisos que o presidente Vladimir Putin já deu. Para a fase dedo no gatilho, não haverá novo aviso.

Na conferência de imprensa em Atenas, na 6ª-feira, Putin avisou que a instalação de uma base do sistema Aegis antimísseis na Romênia, que será operacional esse mês, e a correria para fazer o mesmo na Polônia, são atos hostis, muito próximos de casus belli - causa de guerra.

Para ser bem claro, Putin usou frase muito expressiva - быть под прицелом [lit. "(estar) em (área/alça de) mira"]. Refere-se a alvo/mira para arma de artilharia, canhão montado em avião ou para torpedos navais.

Na tradução da Agência Reuters, a frase de Putin resultou em: " 'Se ontem naquelas áreas da Romênia as pessoas simplesmente não sabiam o que significa estar na mira, hoje já seremos forçados a tomar certas medidas para garantir nossa segurança' - disse Putin em conferência conjunta de imprensa em Atenas, ao lado do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. - 'Será o mesmo caso com a Polônia' - disse ele." A matéria da Reuters pode ser lida na íntegra (ing.) [e em português].

Putin falava sobre a base romena em Deveselu, 180 km ao sul de Bucareste, capital romena; e de Reszikowo, 460 km ao norte de Varsóvia, capital da Polônia. Diagrama publicado pelaBBC, mostra de onde essas bases de mísseis norte-americanos (lado direito do diagrama) responderiam a um ataque inicial de míssil russo (esquerda do diagrama).

A BBC também repete argumento da OTAN de que as bases romena e polonesa são muito apartadas para terem suficiente alcance e poder de fogo a ponto de serem ameaça de primeiro ataque contra a Rússia.

A verdade é que, de fato, como Putin anunciou na 6ª-feira, as baterias romena e polonesa têm capacidade, sim, para disparar primeiro, com alcance de 2.400 quilômetros, contra mísseis-alvos russos antes de serem lançados; e podem alcançar a linha entre os centros de Plesetsk e Tyuratam de comando de mísseis.

O alcance do sistema Aegis, operando de oeste para leste e de leste para oeste, já foi mapeado pela Federation of American Scientists (FAS) num artigo de setembro de 2011.

"Em todos os casos acima", os cientistas da FAS Yousaf Butt e Theodore Postol concluíam, "a capacidade defensiva teórica [EUA, OTAN] seria degradada, contra Mísseis Cruzadores Balísticos Intercontinentais [ing. ICBMs] russos armados comdecoys e outras contramedidas."

Não significava que o lado russo pudesse (devesse) subestimar a intenção ou a capacidade dos EUA para atacar primeiro, em ataque bem-sucedido, ou superestimar a capacidade dos russos para fazerem o mesmo. A estratégia tem de se basear em defender-se contra o pior caso, Butt e Postol explicavam. "Por mais que seja verdade que os russos podem derrotar os interceptadores SM-3 usando desviadores e outras contramedidas, também é verdade que os estrategistas russos teriam poucas alternativas além de considerar a possibilidade, embora remota, de um cenário de 'pior-caso', no qual os mísseis de defesa interceptadores dos EUA conseguissem ser mais efetivos do que o esperado; ou as contramedidas russas, menos efetivas. Em outras palavras, a ameaça potencial contra as forças russas de contenção nuclear a ser gerada pelo sistema de mísseis de defesa dos EUA será presumivelmente avaliada pela habilidade dos interceptadores para alcançar e destruir ogivas russas - não por se cada engajamento resulta, ou não, em ogiva destruída."

A chave é o alcance ou campo de alcance.

O relatório da FAS recomendava como melhor meio para confirmar a veracidade do que dizem EUA e OTAN quanto à intenção limitada do sistema Aegis é restringir o alcance do sistema. Sem essa concessão às considerações da segurança russa (e também da chinesa), o relatório concluía que todo o sistema "ameaça provocar a saída da Rússia do Novo Tratado para Redução de Armas Estratégicas [ing. New START, Strategic Arms Reduction Treaty], além da possibilidade de reiniciar uma corrida armamentista nuclear - sem possibilidade de EUA e OTAN conseguirem construir qualquer argumento futuro aceitável se quiserem protestar contra a hospedagem de mísseis iranianos ou norte-coreanos. Rússia e China provavelmente ampliarão os respectivos arsenais, porão fim a futuras conversações com os EUA para redução de armas e reduzirão a assistência aos esforços mundiais contra a proliferação de armas atômicas. Esse resultado reduziria a segurança nacional dos EUA - e a segurança global - e conflitaria com a visão do presidente Obama de um mundo livre de armas atômicas."

Esse relatório foi publicado em setembro de 2011. Desde então, em vez de restringir o alcance e negociar garantias recíprocas contra primeiro-ataque, os EUA só fizeram empurrar suas capacidades em terra e mar para cada vez mais perto da fronteira russa, e aumentaram o alcance potencial e a precisão de seu poder de fogo.

Para saber mais sobre os alertas que os russos já distribuíram contra a aproximação de naves militares armadas da Marinha dos EUA, como o USS Donald Cook, no Mar Negro e no Mar Báltico, leiam aqui, de abril de 2014; e aqui, de abril de 2016. Para saber mais sobre o aviso dado por Putin, quando falou da linha vermelha, leiam aqui.

6ª-feira passada, quando Putin falou de "área de mira" no aviso que deu, a matéria que Reuters publicou foi tradução acurada da transcrição da fala do presidente, em russo, que o Kremlin distribuiu.

Na tradução ao inglês feita pelo Kremlin, o impacto do aviso sobre os EUA terem entrado na "área de mira" foi levemente suavizado. A tradução ao inglês dizia "if yesterday some areas in Romania did not know what it is like to be a target, today we will have to take action to ensure our security." [Se ontem algumas áreas da Romênia não sabiam o que é estar na área/alça de mira, hoje teremos de agir para garantir nossa segurança.]

Para soldados e estrategistas dos dois lados, não se pode dizer que seja exatamente novidade. Como a Federation of Atomic Scientists, vários think-tanks russos, funcionários do governo e oficiais militares vêm fazendo declarações desse tipo, pedindo atenção ao problema, há muitos anos. A única novidade é a precisão da fala de Putin e o encurtamento do lapso de tempo [ontem... hoje].

Leiam aqui a íntegra da declaração de Putin quanto a isso:

"Qual o impacto das questões relativas à segurança sobre a cooperação econômica, em particular, da instalação da área de antimísseis de defesa dos EUA na Romênia? Qual o impacto? O impacto é negativo, e não poderia ser diferente. Porque há algum tempo, os EUA retiraram-se unilateralmente do Tratado dos Antimísseis de Defesa [ing. Anti-Missile Defence Treaty] e iniciaram movimento que tem o efeito de minar os fundamentos da segurança internacional. Agora, foi mais um passo.

"Desde o início dos anos 2000s, vimos repetindo persistentemente a mesma coisa, como mantra: teremos de responder de um modo, ou de outro. Ninguém ouve o que dizemos, ninguém quer conversar conosco, os russos só ouvimos platitudes, e platitudes que se resumem quase completamente a repetirem que nada ali é dirigido contra a Rússia e não ameaça a segurança da Rússia.

"Permitam-me lembrá-los de que inicialmente falava-se sobre fazer frente a uma ameaça que viria do Irã, só se falava do programa nuclear iraniano. Onde está hoje o programa nuclear iraniano? Não existe mais. Os próprios EUA iniciaram a assinatura do tratado com o Irã. A ameaça nuclear iraniana não existe. Mas está sendo criada aquela área para os antimísseis dos EUA, a ser instalada na Romênia.

"O que é isso? São plataformas de lançamento e estações de radar. Hoje, estão sendo instalados mísseis Iskander em terra, com alcance de 500 quilômetros; em poucos anos, serão mísseis com alcance de 1.000 quilômetros. Já sabemos até a data aproximada de quando esses mísseis serão instalados. Como poderia isso não ser ameaça lançada contra os russos? É clara ameaça contra nossas forças nucleares.

"Contudo, há mais, e é ainda pior: essas plataformas compactas de lançamento pode acomodar mísseis de assalto com alcance de 2.400 quilômetros, e trocar os mísseis uns pelos outros é facílimo, basta trocar osoftware, ninguém perceberá, nem os romenos. E isso? Não é ameaça contra os russos? Com certeza é.

"Essa é a razão pela qual temos de responder agora, e, se ontem algumas áreas da Romênia não sabiam o que é estar na área/alça de mira, hoje teremos de agir para garantir nossa segurança. Permitam-me que repita: são medidas de resposta, são exclusivamente resposta. Não fomos os primeiros a dar esses passos.

"O mesmo será feito em relação à Polônia. Esperaremos que algumas medidas sejam tomadas na Polônia. Nada faremos até que vejamos mísseis no território vizinho. E temos os meios necessários para isso. Vocês viram, todo o mundo viu nossas capacidades em termos de mísseis de médio alcance, disparados do mar e do ar. Não estamos violando coisa alguma, mas os sistemas Iskander disparados de terra têm histórico brilhante.

"Vale a pena anotar que o fato de estarem sendo instaladas plataformas de lançamento que podem disparar também mísseis de médio alcance é claríssima erosão do tratado para mísseis de médio e curto alcance, cometida por nossos parceiros norte-americanos. Entendo que é tema óbvio, que exige atenção a mais cuidadosa e, sem dúvida, que todas as partes implicadas mobilizem-se para conversações detalhadas e substanciais sobre esses pontos."

Ambiguidades, praticamente zero. Como quando Putin disse, no discurso da linha vermelha, em março de 2014, depois que o putsch em Kiev disparou o plebiscito na Crimeia, que decidiu pela reintegração à Federação Russa, que "Tudo tem limite. E com a Ucrânia, nossos parceiros ocidentais cruzaram a linha" (18/3/2014). Para uma análise de algumas conotações dessa nova estratégia russa de guerra, vejam "O Manual do Marechal Georgy Zhukov para surpreender e derrotar o inimigo da Rússia" (11/5/2016, John Helmer, Dance with Bears, Moscou).

Dois anos depois, Putin está dizendo, não do Kremlin, mas da entrada do Megaro Maximou [Mansão Maximos], que a Romênia cruzou a linha vermelha e está agora na área de mira. O local de onde Putin falou também é significativo. É a sede oficial onde trabalha o primeiro-ministro grego desde que a esquerda grega chegou ao poder em 1982. Foi também quartel-general de dois dos estados que ocuparam a Grécia por força militar - a Alemanha, entre 1941 e 1944; e os EUA, até 1952.

Putin está obrigando Romênia e Polônia a relembrar que são estados ocupados, e que desistam, se estão contando com bases de mísseis e Artigo 5º do tratado da OTAN. Nada disso será escudo confiável, que proteja as respectivas capitais, quando soprem ventos radiativos. Para a Romênia, já é tarde demais. Para a Polônia, ainda há tempo para acordos de segurança mútua e recíproca, talvez na linha do que a Federation of Atomic Scientists recomenda; talvez, como disse Putin, mediante "atenção a mais cuidadosa e, sem dúvida, que todas as partes implicadas mobilizem-se para conversações detalhadas e substanciais sobre esses pontos."

Dito desse modo, da capital de um país hoje esmagado pela ocupação das forças da União Europeia, o convite que Putin oferece aos poloneses é que se salvem enquanto podem, antes que, outra vez, esgote-se o tempo da Polônia.

O tratado original para a base de mísseis Redzikowo foiassinado em 2010, por Radoslav Sikorski (foto, esquerda) e Hillary Clinton (direita). Sikorski era então ministro de Relações Exteriores da Polônia. Hoje, cassado de todas as funções oficiais é objeto de investigação criminal em Varsóvia, e vive como exilado nos EUA, dependendo, para viver, do salário que sua mulher recebe como agente de operações do governo dos EUA. Clinton também está sob investigação criminal em Washington, e numa dura disputa na eleição presidencial prevista para o dia 8 de novembro.

Passaram-se dois anos de escalada na guerra entre Washington e Moscou, antes do aviso sobre a área de mira. Quanto tempo demorará para alcançar-se o ponto de dedo no gatilho? Para que lado o gatilho será apontado e como será disparado?

O momento mais provável, segundo avaliações russas, é o mês de outubro. Todos conhecem a história da "Surpresa de Outubro", quando candidatos desesperados à presidência dos EUA conseguem virar o jogo com um 'golpe midiático' e são eleitos no último segundo. A última vez que uma operação militar esteve diretamente conectada a uma eleição presidencial foi a tentativa fracassada, do presidente Jimmy Carter, para resgatar os reféns na Embaixada dos EUA em Teerã em abril de 1980, e, na sequência, a manipulação das negociações com o governo do Irã para libertá-los. A mais recente guerra dos EUA para dar jeito em eleição presidencial foi a guerra do presidente Dustin Hoffman com a Albânia, no filme "Mera Coincidência" (orig. Wag the Dog, 1997).

Em outubro, o fraco presidente retirante Barack Obama será espicaçado pela fraca, em vias de ser derrotada candidata do Partido Democrata Hillary Clinton, na luta para salvar suas chances e arregimentar eleitores norte-americanos relutantes, contra o candidato Republicano Donald Trump. Em 2016, na avaliação dos russos, a Surpresa de Outubro será violenta. Como entidade sob mira, a Albânia não serve. E Clinton não pode comprometer-se em alguma neoaventura na Líbia.

Victoria Nuland (foto, à esq.), Samantha Power (centro), Michele Flournoy (dir.) - as mulheres que cercam Clinton, que perderão holofotes e poder se Clinton perder para Trump - já tentaram de tudo e fracassaram, na Ucrânia, Síria, Iraque e Turquia. Pode-se dizer que a Romênia quase se qualifica.

Mas e os russos podem ajudar e será que ajudarão Trump no contragolpe - com uma surpresa de outubro à moda Reagan em Teerã?

Gennady Nechaev (foto, esq.), importante analista militar no [instituto] Versiya & Vzglyad em Moscou, diz que o alvo prioritário na estratégia russa continua a ser "infraesetrutura militar chave: áreas de mísseis em bases aéreas, portos e bases navais; acampamentos e locais que sirvam de base a forças terrestres. Em primeiro lugar e sobretudo, nos países da 'velha OTAN', onde tudo está estabelecido há décadas. Por essa seleção de alvos, o dano máximo recairia sobre Alemanha e Reino Unido, seguidos de França e Turquia; e o sul da Itália e o litoral da Europa do Norte."

Os militares russos contemplam algum novo ponto dedo no gatilho, e em breve? "Não me parece que seja possível" - responde Nechaev. - "Durante toda a existência do sistema de bloco [Pacto de Varsóvia-OTAN], você conta nos dedos os incidentes desse tipo. E a intensidade das operações de aviação nas fronteiras era várias vezes maior que hoje. Há possibilidade de um encontro no ar, por erro dos pilotos ou tiros acidentais. Já aconteceu antes. Não se pode excluir completamente."

Para Yevgeny Krutikov (foto, dir.), também analista militar importante em Moscou, e que já trabalhou no Bálcãs, "Qualquer estado da OTAN, que aceite tarefas para desestabilizar a situação geral pode ser alvo. É coisa que as circunstâncias militares determinam. Se, como a Romênia, você hospeda um sistema antimísseis, significa automaticamente que o sistema é alvo possível, e pode ser atacado por mísseis de médio alcance como o Iskander, mísseis balísticos, ou coisa pior. É difícil apontar alguém como alvo certo. Qualquer estado da OTAN, que modifique o equilíbrio, será automaticamente tomado como alvo e entrará na área de mira. As pessoas têm de entender que sofrerão, se algo acontecer. Não sei dizer se alguém será especialmente selecionado. De fato, todos eles já estão sob mira."

Na avaliação de Krutikov, alvos militares nos estados do Báltico são hoje "menos relevantes. O que está acontecendo lá acontece no nível do pânico étnico. Não têm forças externas [OTAN], e lá só há um punhado de tanques, que são pouco além de caricatura. No Ártico, sim, há problema, mas é área grande demais, e tem de ser dividida em vários teatros de guerra. Perigo especial, nesse momento, é a situação em torno do Mar Barents, porque ali já houve confrontos entre Rússia e OTAN, e ali repetidamente se realizam manobras, principalmente pelos EUA. A mais recente dessas manobras foi encerrada há apenas um mês. Estiveram envolvidos não só a OTAN, mas também finlandeses e suecos, que não são membros da OTAN. Mas o Ártico não pode ser a principal área problema, porque - por estranho que pareça - nenhum dos países da OTAN tem frota de navios quebra-gelo."

"No Mar do Japão/Mar do Leste/Jonghae, sim, ali há concentração de forças armadas russas que aumenta rapidamente nas Ilhas Kurile; essa concentração, sem efetivo apoio de infraestrutura, é novidade. Correspondentemente, o interesse dos norte-americanos está aumentando por ali. Pela minha avaliação, já houve pelo menos duas tentativas de os EUA penetrarem com aviação de reconhecimento, e, claro, os russos revidaram."

Nas próximas semanas, segundo Krutikov, os pontos de dedo no gatilho não correspondem àqueles onde estejam os maiores interesses estratégicos, mas onde seja menor o espaço de manobra entre forças russas e seus inimigos. Esses pontos são o Mar Báltico e o Mar Negro. Nos pontos de largura máxima, leste-oeste, a distância no Báltico é de 193 kms; no Mar Negro, 1.175 kms. Nos pontos mais estreitos, entre o porto romeno de Constanta e o quartel-general naval russo em Sevastopol, a distância não passa de 392 kms.

Krutikov: "O Báltico é muito pequeno. Entrando e saindo da região de Kaliningrado, os aviões russos têm de partir de distritos no noroeste e áreas próximas, onde há grande número de aeroportos militares e onde voos em direção a Kaliningrad têm de respeitar certa ordem. Há reação de extremo nervosismo dos estados do Báltico, que não têm aviação própria. Por isso, têm havido patrulha em turnos, nos quais holandeses e portugueses revezam-se. Quando há aviação russa voando nos espaços certos, acontece de aqueles infelizes portugueses seguirem os aviões russos e observá-los. É problema, porque as pessoas estão nervosas. Quando a situação é assim tão tensa como agora, tudo pode acontecer. É a situação mais perigosa de todas, exatamente porque ali não há espaço para escape. O espaço é muito pequeno."

"O espaço também é muito pequeno no Mar Negro. Há uma semana e meia, forças da OTAN iniciaram manobras no Mar Negro, na parte norte-oriental da área em torno de Odessa. De repente, há concentração imensa de navios estrangeiros -romenos, búlgaros, turcos, norte-americanos. Deus nos valha, maldito Donald Cook. Também há pouco espaço. O Mar Báltico é minúsculo, uma poça. O Mar Negro também, talvez um pouco maior que a poça báltica; mesmo assim não há espaço para dar meia volta. Claro que tanta histeria pode, sim, provocar problemas."

NOTA SOBRE A SÍNDROME DE BENCKEND-ANULISMO: Cabe à inteligência russa avaliar as capacidades do inimigo. Meter-se a aferir intenções do inimigo é típico da Síndrome de Benckend-anulismo - a velha distorção causada por políticos russos que se metem na cabeça que só eles compreendem os britânicos, alemães, turcos ou os norte-americanos, mais e melhor que todos os demais, só porque falam a língua, amam a cultura, ou têm dinheiro, patrimônio ou filhos guardados em cofres naqueles países.

A síndrome recebeu nome inspirado no Conde Alexander Benckendorff (abaixo, esq.), embaixador russo anglófilo que viveu em Londres de 1903 a 1917. Foi comandante-em-chefe e especialista na estratégia russa de entregar a vantagem aos britânicos - a mesma estratégia prestigiada também pelo czar e por vários ministros de Relações Exteriores da Rússia -, nos anos que precederam a 1ª Guerra Mundial em 1914. Também com marcada tendência para anular [por isso, 'anulismo'] os interesses russos, mas nesse caso a favor dos germânicos, tivemos o Barão Roman Rosen (dir.).

Na política anglo-norte-americana, a síndrome é chamada "Em Roma, como os romanos" [ing. Going Native]. Putin padeceu também dessa síndrome suposta 'cosmopolita', mas seus inimigos, não os amigos, o curaram. Para mais detalhes do Benckend-anulismo, leiam Dominic LIEVEN, Towards the Flame, Empire, War and the End of Tsarist Rússia, publicado ano passado.

John Helmer, Dance with Bears (Moscou) – Pravda.ru - Título PG extraído do texto.

Brasil. LUZ NO TABULEIRO DA CRISE



Entre o céu e a terra e perante a Nação brasileira e o mundo a trama golpista é desnudada, desmascarada, passando por verdadeira autópsia a conspiração montada pelo consórcio conservador, formado pela direita, mídia grande e o “mercado”

Renato Rabelo, de Brasília – Correio do Brasil, opinião

Os fatos recentes atropelaram a tentativa de farsa montada pelo impeachment, na qual os golpistas apareciam como vestais clamando contra a corrupção do PT e a “corrupção nunca vista nos governos” Lula e Dilma. Neste presente torna-se patente que somente a volta da presidenta Dilma pode restaurar a democracia. Essa é a fresta de luz que permite iluminar o tabuleiro da crise infindável.

O fator Sergio Machado revela a trama golpista.

O bando de conspiradores não conseguiu esconder sua patranha por mais tempo, porquanto entre eles o que existe é uma verdadeira pocilga, num vale tudo para se salvar quem puder. É assim que Sergio Machado (operador financeiro do alto escalão do PMDB), ex-tucano, ex-presidente da Transpetro, na tentativa desesperada de se safar, gravou conversas reveladoras com a cúpula do PMDB em seu acordo de delação premiada. Toda borra sai do recôndito. E comenta-se que mais ainda estará por vir.

As bombásticas revelações das conversas grampeadas trazem à luz do dia o que muitas vozes empenhadas na luta legalista percebiam e denunciavam. E mesmo a imprensa internacional que assinalava a trajetória da conspiração. Só que os acontecimentos são ainda mais eloquentes – escancara a prova real do golpe. Em suma revelam que o processo de impeachment, talhado para esconder o golpe de Estado, apeando do poder a presidenta da República Dilma Rousseff, tinha que seguir essa via pela necessidade de sua emergência – didaticamente exposta por Romero Jucá a Aécio Neves.

Primeiro por causa da essencialidade das reformas constitucionais que eles impunham. Estas não poderiam ser explicitadas e defendidas numa eleição direta, por seu alto teor impopular. Sendo assim a única viabilidade para aplicação de tais reformas seria pelo caminho da exceção, um impeachment arranjado como se sucedeu, comprometido com uma causa fraudada – sem crime de responsabilidade – e viciado na sua origem. Portanto tiveram que contar numa aliança fundamental com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, enredado em delitos de corrupção e réu no STF. Foi o meio de o golpe ser disparado.

Segundo e mais emergencial, era preciso conter a “sangria”, essa “porra”, segundo Romero Jucá, se referindo a operação Lava Jato. E exprimindo entre eles, sem nuances, seus temores a respeito dessa operação, considerando que o “novo” governo de Temer, tendo tomado o poder poderia conter as investigações e deste modo protegê-los através de algum acordo. Eles deixam transparecer suas boas relações e aquiescência com “alguns” ministros do STF e setores do poder de Estado, ou mais especificamente se vangloriam em contar com um tipo de pacto político-jurídico para sustentar o poder golpista.

Terceiro não escapa também suas previsões pessimistas acerca da eleição presidencial de 2018, denotando não contar com candidatos e meios programáticos viáveis para vencer esse pleito, podendo ser uma saída por meio do governo Temer, acordando “certas condições”, sendo uma forma de “transição” de como resolver seus enroscados dilemas eleitorais em 2018.

Governo interino reverte o programa aprovado nas urnas.

A esta altura dos insólitos acontecimentos em que vive nossa pátria amada Brasil, apesar da mídia grande, sobretudo as organizações Globo, comprometida até as entranhas com o golpe, não pode abafar as assombrosas revelações. Entretanto, jogam tudo para enviesar e truncar a informação, tentando salvar a conquista do poder golpista, para isto operando para preservar prioritariamente o presidente interino. No entanto não adianta diversionar e confundir, o momento é muito grave e singular, a realidade se impõe mais nítida: o impasse político se complicou e se exacerbou.

Por conseguinte essa nova situação de mais agravado impasse político começa com o trágico 17 de abril e vem desde o afastamento da presidenta Dilma Rousseff e vigência do governo interino de Michel Temer. A crescente desmoralização do governo interino, diante dos fatos recentes revelados entre eles, evidencia mais a sua grande vulnerabilidade política e jurídica. Sem ou com a interferência do STF, é cada vez maior a perda de legitimidade desse governo. Não é claro do ponto de vista constitucional que um governo interino, com afastamento temporário da presidenta eleita, se torne já como um poder definitivo, iniciando seu próprio mandato, desmontando toda estrutura governamental e definindo um programa que leva até à mudança da Constituição, no pacto social estabelecido, em reverso ao programa da presidenta eleita por mais de 54 milhões de votos.

Ele já estabelece novo pacto numa viragem do acordo político anterior consagrado nas urnas. Em verdade passa a prevalecer a vontade do Congresso, então, se constituindo numa efetiva eleição indireta, um golpe parlamentar e não a vontade originária direta do povo, contrária ao Estado democrático de direito. Uma excrescência na qual a justiça suprema ainda está omissa.

Tudo isso é a prova do apetite usurpador do poder do balaio golpista na sua ânsia em dividir os frutos da rapinagem em proveito próprio, desprezando o próprio cuidado de legitimar o governo intruso – é a prova de gente desse quilate.

O governo Temer se prenuncia aceleradamente em desmontar o que encontra de conquistas democráticas, desenvolvimento social e avanço da soberania nacional; passa longe dos avanços culturais e das conquistas de gênero. Prepara-se para forte arrocho nas conquistas sociais básicas e, insensatamente, anuncia o congelamento dos gastos em saúde e educação a partir do mais baixo patamar dos últimos dez anos. Esta é uma involução para além de décadas, que se vinga este governo vai consistir no maior retrocesso civilizacional na história moderna do Brasil. O PSDB que chega ao poder por esse atalho golpista, depois de derrotado nas quatro sucessivas eleições presidenciais, é o artífice do pacote de mudança do marco regulatório de exploração do pré-sal, rapidez das privatizações e do realinhamento às potências capitalistas-imperialistas. Como em todo golpe de Estado no Brasil, este segue o caminho clássico: a cabeça e a mão da Secretária de Estado dos Estados Unidos estão presentes. Como sempre o seu feito aparece gradativamente.

Somente a volta da presidenta Dilma pode restaurar a democracia.

A tendência progressiva de recuperação política da presidenta Dilma já é indicada nas primeiras pesquisas de opinião. Assinala o que os acontecimentos da luta de resistência vêm demonstrando a cada dia: ampliação da frente anti-Temer e seus acólitos, que atua de modo multiforme, ocupando vários cenários, em ações dirigidas ou espontâneas permanentes por todo país e no exterior. A presidenta Dilma assumiu a liderança da resistência em defesa de seu mandato legítimo e ocupou um papel de grande relevo para o destino da democracia em nosso país.

Os golpistas apesar do manejo espúrio de esconder, recuar matreiramente ou se pronunciarem com subterfúgios sobre o perverso programa antipopular que pretendem não convencem, a desilusão cresce e parcelas mais extensas do povo dá-se conta do verdadeiro desiderato do “novo” governo.

A luta trouxe a compreensão em ondas mais largas de que o curso do impeachment não significa apenas a injusta destituição da presidenta da República, mas, o que está em jogo é a ameaça maior à democracia e ao destino da Nação. Por isso a presidenta Dilma passa a encarnar um símbolo forte da luta pela democracia. E torna-se evidente que a garantia de alcançar os 2/3 de votos na fase atual de julgamento no Senado não está resolvida.

A volta da presidenta Dilma seria um fato de grande significação, não sendo apenas um retorno de continuidade, representaria a premissa para restaurar a democracia e salvar o Estado Democrático de Direito. Abre assim uma nova situação em que a presidenta eleita sustentada pelo programa que a elegeu, revalidado pelas lições atuais, em contraste com a agenda regressiva imposta pelo governo interino, na aplicação de sua autoridade vivificada pode propor a REAFIRMAÇÃO dos fundamentos programáticos: pelo avanço da democracia, consolidação das conquistas sociais, sustentação da soberania nacional, integração de interesse mutuo com os vizinhos e a mobilização da Nação pela retomada do desenvolvimento; e o COMPROMISSO candente de remeter à decisão do desfecho democrático à soberania popular através de um PLEBISCITO, instrumento constitucional no qual os eleitores se pronunciariam pelo SIM ou NÃO a respeito da antecipação já da eleição presidencial. Essa tendência pode vingar e prevalecer em função desses vários vetores atuais em desdobramentos.

Brasil. Mulher é covardemente agredida pela PM durante protesto contra Temer




Mulher é agredida pela PM de São Paulo em ato contra os cortes do programa Minha Casa, Minha Vida. Covardia foi registrada em vídeo

A Polícia Militar do Estado de São Paulo agiu com truculência na tarde desta quarta-feira (1) ao desocupar a Secretaria da Presidência da República, na avenida Paulista, que era alvo de protesto contra o governo Temer.

Um vídeo publicado pelo BuzzFeed Brasil (assista abaixo) mostra um policial enforcando uma mulher que já estava caída.

Em nota, o MTST repudiou a violência policial e informou que ao todo 6 pessoas foram detidas e encaminhadas ao 78º DP, localizado na Rua Estados Unidos, nos Jardins.

NOTA DO MTST

“A todos que a apoiam a luta popular,

Como é de conhecimento de todos (as) a polícia militar reprimiu fortemente agora a pouco os manifestantes do MTST e da Frente Povo Sem Medo na Av. Paulista.

Até o momento são 6 companheiros presos que encontram-se na 78ª DP e vários companheiros feridos em virtude da violência e da covardia da Polícia Militar de Geraldo Alckmin.

A ocupação do escritório regional da presidência de São Paulo permanece ocupada, tanto dentro como do lado de fora do prédio.

Solicitamos todo apoio possível, divulgação nas redes sociais, presença em apoio a ocupação, assim como companheiros do direito que possam dar assistência aos nossos presos no 78ª DP.”

NOTA DA SSP

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirma que a intervenção policial foi necessária para impedir a ação dos manifestantes, e que um policial militar foi ferido no confronto. “Foram detidas seis pessoas por dano, desacato e periclitação da vida [colocar a vida de alguém em risco]”, de acordo com a SSP.

Portal Fórum, em Pragmatismo Político

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