sábado, 17 de setembro de 2016

GUINÉ-BISSAU PODERÁ ESTAR PERTO DE UM GOVERNO DE INCLUSÃO



Guiné-Bissau está prestes a ter o seu quinto Governo em dois anos. Até aqui, 4 primeiros-ministros foram empossados e demitidos pelo atual Presidente da República, José Mário Vaz.

No sábado (10.09), no âmbito da visita dos presidentes da Guiné-Conacri, Alpha Condé, e da Libéria, Ernest Koroma, enviados da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) foi assinado um princípio de acordo político para a formação de um novo Governo. A questão central que divide a classe política guineense é quem vai liderar esse Governo.

O documento assinado pelo PAIGC, pelos seus deputados dissidentes e restantes formações políticas representadas no Parlamento (PRS,UM, PND e PCD) não foi divulgado, apenas o comunicado final que aponta para o diálogo e formação de um novo Governo Inclusivo e de Consenso para proceder a várias reformas, entre elas a revisão da Constituição.

Esta foi parte do resultado da visita de uma delegação dos dois chefes de Estado membros da CEDEAO que estiveram em Bissau para mediar a crise. Alpha Condé, da Guiné-Conacri e Ernest Bai Koroma da Serra-Leoa.

O que está em jogo?

Com assinatura do documento, há varias questões pertinentes que os analistas estão a colocar: com a formação desse novo Governo o grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC serão admitidos no Parlamento pelo partido vencedor das eleições legislativas? O Parlamento será desbloqueado e o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que ordena a reintegração dos quinze deputados expulsos ao plenário, será respeitado?

O presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, deixa entender que o partido não aceitará participar em nenhum Governo que não vai liderar enquanto partido vencedor das eleições legislativas com maioria absoluta. "Nós aceitamos o princípio de Inclusividade a partir do momento em que se reconhece ao PAIGC o direito de governar enquanto força vencedora das eleições legislativas com maioria absoluta atribuída pelo povo".

Busca de consensos

A segunda força política mais votada (Partido da Renovação Social-PRS) e que suporta no Parlamento o atual Governo de Baciro Djá, prefere um profundo diálogo em busca de consensos políticos. Florentino Mendes Pereira, secretário nacional do PRS, pactua com propostas da CEDEAO, mas avisa que o novo Governo não é solução. "Para nós a formação de um novo Governo não é solução para a crise na Guiné-Bissau. O país precisa de um diálogo profundo entre as partes. E nós sempre defendemos esse caminho do diálogo desde as eleições".

Pelo mesmo diapasão alinhou também o primeiro-ministro Baciro Djá, que incentivou um diálogo sério e franco para acabar com a crise. "Qualquer que seja a solução que permita os filhos da Guiné reecontrarem-se nós estamos disponíveis para colaborar. Sempre participamos no processo do diálogo para a estabilização da Guiné-Bissau".

Negociações marcarão os próximos dias

Nos próximos dias as partes desavindas deverão iniciar uma série de negociações com vista a acabar com a crise e, sobretudo, discutir o processo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC.

O presidente da comissão da CEDEAO, Marcel de Souza, irá liderar as negociações entre as partes, no sentido de ser encontrado o mecanismo para entrada em função do novo Governo.

Será no âmbito dessas negociações entre os partidos representados no Parlamento, o grupo dos 15 dissidentes do PAIGC, a sociedade civil, líderes religiosos e tradicionais, que será encontrada a figura que irá liderar o novo executivo.

Braima Darame (Bissau) – Deutsche Welle

Guiné Equatorial. JORNALISTA DETIDO POR FAZER ECO DE QUE OBIANG É CANIBAL



Jornalista detido por sugerir canibalismo de líder africano

O diretor de um jornal liberiano foi esta quinta-feira detido durante várias horas depois de ter republicado um artigo do site do diário britânico "Daily Mail" que alega que o Presidente da Guiné Equatorial é canibal.

O tabloide britânico publicou no domingo um artigo sobre o Presidente "vitalício" da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, no qual se afirma que o chefe de Estado escalpou opositores vivos e lhes comeu os testículos, cérebros e fígados.

O jornal liberiano "New Democrat" reproduziu alguns elementos da peça do jornalista Thomas Burrows na sua primeira página de quarta-feira, o que desencadeou a ira do ministro da Informação.

Festus Poquie, diretor do New Democrat, foi detido por polícias à paisana e fechado numa cela durante várias horas antes de ser libertado hoje à tarde.

"A Polícia Nacional da Libéria pode confirmar que a sua Divisão de Crime está a ter uma conversa com o diretor do New Democrat, Festus Poquie", lê-se numa nota da polícia citada pela agência de notícias francesa, AFP.

O ministro da Informação da Libéria, Eugene Nagbe, já tinha contactado o sindicato da imprensa do país para se queixar do artigo e exigir que fossem tomadas medidas contra o New Democrat.

"Considerando que a conduta do diretor do New Democrat ostenta um perigoso afastamento dos princípios do jornalismo profissional, exigimos e insistimos que o jornal seja penalizado", escreveu o ministro numa carta.

O Sindicato da Imprensa liberiano descreveu a detenção do jornalista como "um ato de intimidação contra a liberdade de imprensa na Libéria", num momento de elevada tensão entre os 'media' e o Governo.

No princípio deste mês, a jornalista Jallah Grayfield apresentou uma queixa à polícia dizendo ter recebido mensagens intimidatórias de um ministro.

Este verão, o Governo encerrou duas estações de rádio conhecidas pelas suas posições críticas sobre a Presidente, Ellen Johnson Sirleaf.

A organização Repórteres Sem Fronteiras sustentou que o público tem "o direito de ouvir todas as opiniões, mesmo aquelas que são críticas e irritam o atual Governo", na sequência do caso do ministro.

Obiang, que preside ao terceiro maior produtor de petróleo da África subsaariana, é o dirigente há mais tempo em exercício no continente, depois de ter tomado o poder na sequência de um golpe de Estado em 1979.

A Guiné Equatorial é regularmente apontada como um dos Estados mais corruptos e autoritários de África.

Jornal de Notícias – Foto: Thomas Mukoya/REUTERS – Título PG

“ACEITÁMOS A GUINÉ EQUATORIAL NA CPLP E TEMOS DE O ASSUMIR”



O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe marcou presença esta noite na RTP. No 360, o governante considerou que é necessário assumir que a Guiné Equatorial faz parte da CPLP e defendeu que é preciso reformar a ONU. Uma organização que Patrice Trovoada espera ser liderada por António Guterres no futuro.

A Guiné Equatorial já é membro efetivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa desde 2014, mas a pertença continua a ser polémica. Questionado na RTP3 sobre o assunto, o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe considera que essa mesma pergunta prova que o assunto ainda deve ser discutido internamente.

Patrice Trovoada afirma que não é por “falta de vontade” que o ensino do português não avança na Guiné Equatorial, pedindo que “se deixem os clichés” e que se vá “ao fundo da questão”.

“Nós aceitámos a Guiné Equatorial como membro pleno e temos de o assumir. Creio que é preciso falarmos para dar um rumo à CPLP”, pretende. O Governo de São Tomé quer uma CPLP “económica, mais proactiva”. Patrice Trovoada considera que é preciso mais cooperação entre estados e aproveitar melhor as potencialidades de cada um.

“Muitas vezes reagimos em relação a uma questão da CPLP mas por razões internas de cada um dos nossos países. E não pensamos suficientemente na comunidade e nas vantagens que pode trazer para resolver esses mesmos problemas internos”, defende.

Guterres e a ONU

O governante, que vai participar na assembleia-geral das Nações Unidas, defende que o Conselho de Segurança deve ser reformado, considerando que a sua não reforma tem consequências que já são vividas atualmente.

Patrice Trovoada menciona a incapacidade de acabar com o conflito sírio, as decisões tomadas em relação à Líbia e aos refugiados.

“É preciso que as Nações Unidas olhem para esses problemas de uma outra maneira. Nós, os países africanos, pensamos que é o momento de avançar com a reforma do Conselho de Segurança, fazer entrar outros países e discutir a questão do veto”, explica.

Patrice Trovoada mantém o apoio à candidatura de António Guterres a secretário-geral. “É uma pessoa excecional” e aquela que “o momento requer” para liderar as Nações Unidas. 

Cooperação Portugal – São Tomé

Portugal e São Tomé assinaram na semana passada um novo acordo de cooperação avaliado em 57,5 milhões de euros. Os setores da saúde e da educação são as principais áreas de intervenção.

O primeiro-ministro explicou na RTP que São Tomé e Príncipe beneficia há muitos anos do apoio de Portugal, tentando-se agora ir mais longe. O país pretende ainda, com a ajuda de Portugal, fazer reformas institucionais consideradas necessárias, nomeadamente para reduzir a burocracia.

O chefe do governo local explicou ainda que os dois pilares do desenvolvimento do país são o desenvolvimento do novo porto e do aeroporto, bem como a simplificação dos procedimentos administrativos, de forma a reduzir custos e combater melhor a corrupção.

“Estamos a trabalhar para criar condições para que também as empresas portuguesas possam intervir em São Tomé e Príncipe”, assevera o governante.

Patrice Trovoada mantém a aposta no turismo, querendo também aproveitar a posição geográfica favorável em relação ao Golfo da Guiné.

RTP

Angola. DESCULPAS DE MAUS PERDEDORES



Victor de Carvalho – Jornal de Angola, opinião

Ainda o registo eleitoral não havia arrancado e já o país assistia, surpreendido, à tomada de posições por parte de alguns partidos e dirigentes políticos que deixavam perceber a sua intenção de tudo fazer para beliscar todo o processo que irá conduzir à realização de eleições em 2017.

Primeiro foi a multiplicação de declarações a darem conta da existência de uma cabala urdida entre o governo e o partido maioritário, com a “cumplicidade” sempre oportuna dos órgãos que regem a preparação do pleito, para que as eleições não se viessem a realizar no prazo previsto.

Qualquer oportunidade foi boa para que alguns responsáveis políticos, muitos deles até com lugar no Parlamento, viessem a público passar a ideia de que as eleições não seriam realizadas em 2017, esgrimindo para isso os mais desencontrados e coloridos argumentos.

A fase seguinte dos desvarios surgiu quando a Assembleia Nacional recebeu e discutiu a série de diplomas que conformam a lei pela qual se está já a reger todo o processo de preparação das eleições.

Sem força legal para darem sustentação aos seus argumentos, esses mesmos partidos políticos decidiram a determinada altura virar mesmo as costas à democracia, abandonando o hemiciclo numa altura em que, sintomaticamente, estava em discussão uma proposta de alteração a esse pacote legislativo que eles mesmos haviam decidido apresentar.

Quando se aperceberam que 2017 continuava a ser o ponto de referência para a ida às urnas, entraram na fase do ataque à Comissão Nacional Eleitoral. Umas vezes pelo que ela fez, outras pelo que, no seu entender, deveria ter feito e não fez.

Durante este período assistiu-se a um verdadeiro ataque ao carácter e à honra de alguns dos membros da Comissão Nacional Eleitoral, naquilo que constituiu uma demonstração de falta de decoro própria de quem não sabe o que diz e muito menos o que fazer para manter de pé um objectivo cada vez mais difícil.

Neste momento, o alvo que essas mesmas forças querem travar é o processo de registo eleitoral, que ao fim de suas semanas tem uma adesão popular que já ultrapassou as perspectivas mais optimistas.

Nesta fase, curiosamente, começa já a perceber-se algum desnorte nas fileiras desses partidos políticos, havendo elementos que teimam em considerar que está tudo mal e ferido de legalidade e outros que, perante a evidência dos factos, já se renderam e elogiam os métodos usados no registo eleitoral, considerando-os mesmo acima de qualquer suspeita.

Qualquer situação de desnorte, como esta, é propícia a que quem por ele seja possuído à tomada de algumas atitudes que uns consideram menos elaboradas, ou felizes, mas que outros preferem interpretar como reveladoras daquilo que na verdade são capazes.

Neste âmbito, a semana que agora acaba revelou dois episódios que demonstram a confusão que se apossou de alguns intérpretes e formações políticas na sua ânsia de desafiar a lei e a urbanidade para encontrar aí argumento de fuga às suas responsabilidades para com as eleições.

Primeiro foi o deputado da UNITA, Pedro Katchiungo, a aproveitar a sua presença num debate organizado pela Rádio Nacional de Angola para evidenciar o seu sentimento democrático ao mandar calar os seus atónitos colegas de programa quando estes apresentavam argumentos que ele não sabia como contrariar.

Depois é a rábula em redor do surgimento de um novo partido político do seio daquilo que ainda é uma coligação eleitoral com pretensões a entrar no eixo da governação.

Dando de barato a peregrina ideia democrática de eleger o presidente de um partido antes mesmo deste estar constituído, existem factos constitucionais que deixam perceber estar a CASA-CE a jogar uma cartada perigosa, uma vez que perante a lei ficará difícil explicar como, mesmo depois de extinta, pode manter deputados no Parlamento a defenderem uma formação que não foi sufragada nas anteriores eleições.

Não querendo acreditar em coincidências, que em política são meras balelas, estamos mais em crer que todo este folclore tem apenas como único objectivo conspurcar todo o processo de preparação das eleições, tentando que estas não se realizem em 2017, seja porque para elas não estão preparados ou simplesmente para que depois possam acusar o Executivo de se querer manter no poder a todo o custo.

No caso da UNITA, através de sucessivos ataques à democracia perpetrados pelos seus líderes mais destacados, seja na imprensa ou nos órgãos do Estado onde estão integrados. No que toca à CASA-CE, com esta rábula do partido, a ideia que fica é a de que está a tentar criar uma situação política que a possa colocar à margem das eleições.

Se mesmo assim não conseguirem criar factos suficientes que justifiquem a sua auto-exclusão do processo eleitoral, resta-lhes ainda a possibilidade de jogarem uma última cartada, pedindo, em uníssono, a impugnação do processo de registo eleitoral, fazendo com que tudo volte à estaca zero.

Aliás, este é um cenário entreaberto já por alguns responsáveis políticos menos familiarizados com processos democráticos e temerosos daquela que irá mais uma vez ser a manifestação clara e livre da soberana vontade do povo.

Quem assim procede não acredita nas suas potencialidades políticas nem respeita as regras da democracia. São aqueles que, nos rescaldos de anteriores pleitos, foram férteis em apresentar desculpas de maus perdedores.

Angola. BRANQUEAR A HISTÓRIA NÃO ALTERA A VERDADE



Conta a Lusa que o ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, João Lourenço, denunciou hoje tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano e fundador do partido, na passagem do 94.º aniversário do seu nascimento.

Óscar Cabinda*

O governante discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemorações do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamente ao nascimento do primeiro Presidente de angolano.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalidade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmente porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou.

João Lourenço, continuamos a citar a Lusa, nunca se referiu ao caso na sua intervenção, mas o bureau político do MPLA criticou em Julho, duramente, o lançamento em Portugal de um livro sobre aquele partido e o primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, queixando-se então de uma nova “campanha de desinformação”.

Em causa está o livro “Agostinho Neto – O Perfil de um Ditador – A História do MPLA em Carne Viva”, do historiador luso-angolano Carlos Pacheco, lançado em Lisboa a 5 de Julho, visado no comunicado daquele órgão do Comité Central do partido no poder em Angola desde 1975.

Carlos Pacheco disse – conta a Lusa – que a obra resulta de uma década de investigação histórica e que “desmistifica” a “glória” atribuída ao homem que conduziu os destinos do movimento que lutou pela libertação do jugo colonial português em Angola (1961/74). Contudo o livro tem sido fortemente criticado em Luanda, por parte de dirigentes e elementos afectos ao MPLA e da fundação com o seu nome.

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, lê-se no comunicado de Julho do bureau político.

Na intervenção de hoje, prossegue a Lusa, João Lourenço, que falava em representação do chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciadas de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitamente, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou o ministro da Defesa.

“Em contrapartida”, disse ainda o governante, os “seus detractores não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhados nos seus recalcamentos e frustrações, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”.

“Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmente ignorá-los, concentremos por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço, que desde Agosto é também o novo vice-presidente do MPLA.

Como em 1977, pensar mete medo aos donos do poder

Sabendo o que diz mas não dizendo o que sabe, João Lourenço alinha na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não com a barriga… vazia.

Terá João Lourenço alguma coisa a dizer aos angolanos sobre os acontecimentos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando dezenas de milhar de angolanos foram assassinados por ordem de Agostinho Neto?

Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeito pela Constituição que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa. Fê-lo ao declarar, perante as câmaras da televisão, que não iriam perder tempo com julgamentos. Tal procedimento nem era uma novidade, pois, na história do MPLA tornara-se usual mandar matar os que se apontavam como «fraccionistas. O que terá a dizer sobre isto o general João Lourenço?

Agostinho Neto deixou a Angola (mesmo que João Lourenço utilize toda a lixívia do mundo) o legado da máxima centralização de um poder incapaz de dialogar e de construir consensos, assim como de uma corrupção endémica. E os portugueses que nasceram e viveram em Angola, ainda hoje recordam o papel que teve na sua expulsão do país. Antes da independência declarava que os brancos que viviam em Angola há três gerações eram os «inimigos mais perigosos». Em 1974, duvidava que os portugueses pudessem continuar em Angola. Em vésperas da independência convidava-os a sair do país. E já depois da independência, por altura da morte a tiro do embaixador de um país de Leste, cuja viatura não parara quando se procedia ao hastear da bandeira de Angola, dirigiu-se, pela televisão, aos camaradas, para lhes dizer que era preciso cuidado, pois nem todos os brancos eram portugueses.

Um dos maiores genocidas

Em Maio de 1977, não houve pioneirismo, pelo contrário, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrático do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreavam incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção.

Esta demonstração de força, serviu para demonstrar, que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teriam pejo de sacrificar com a própria vida todos quantos intelectualmente o afrontassem. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmente, como bem sabe João Lourenço.

Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés.

É a sua natureza perversa demonstrando não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

Não é em vão que temos dois exércitos: as FAA e o exército privado a UGP (Unidade de Guarda Presidencial), mais a partidarização da Polícia Nacional; da Segurança de Estado; do SIC (Serviços de Investigação Criminal); do sistema de Justiça e dos Tribunais e a maioria dos juízes, tudo previamente montado, para contrariar a vontade popular.

Em todos os meses do ano nunca devemos esquecer, por força do sofrimento de milhares e dos assassinatos de igual número, das prisões arbitrárias, da Comissão de Lágrimas, da Comissão de Inquérito, dos fuzilamentos indiscriminados, etc.

Muitos acreditaram, em 1979, com a ascensão de Eduardo dos Santos ao poder, num eventual reencontro com a verdade e a reconciliação interna, sobre a alegada intentona, que ele próprio sabe nunca ter existido. Infelizmente, não se conseguiu despir da cobardia e cumplicidade, ostentada desde o tempo de Agostinho Neto e sua clique: Lúcio Lara, Onambwé, Iko Carreira, Costa Andrade “Ndunduma”, Artur Pestana “Pepetela”, entre outros.

Dos Santos mostrou ser um homem que, pelo poder, é capaz de tudo: viola a Constituição, as leis, humilha, desonra e assassina, todos quantos não o bajulam. Exemplos para quê, eles estão à mão de semear… nas cadeias, no exílio, nos cemitérios, no estômago dos jacarés.

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira–baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalismo angolano e da independência nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade.

Esta posição da lei da força, marcaria para todo o sempre o sistema judicial, judiciário e de investigação policial em Angola, onde a presunção e a defesa de uma ideologia diferente da do partido no poder, são causa bastante para acusação, julgamento, prisão e até mesmo assassinato político, ainda que a pena de morte, não esteja consagrada na Constituição.

Sempre que o regime diz o que agora repete João Lourenço, todos devemos fazer uma viagem de regresso a 1977 para ver como estão as cicatrizes daquele período de barbárie, que levou, muitos de nós, às fedorentas masmorras da polícia política de Agostinho Neto, ou mesmo aos assassinatos atrozes, como nunca antes o próprio colono português havia praticado contra muitos intelectuais pretos, sendo o próprio Neto disso um exemplo.

Há 39 anos que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimidade de retractação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconciliação, muito também, por não haver um líder em Angola.

*Folha 8

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Angola. A VELHA CASA-CE TERÁ PARIDO UMA CASA-CE NOVA! SERÁ MESMO?



Raul Diniz, opinião

Os caminhos que levam a liberdade tendem em ser intransigentes, e sinuosamente obscuros.

Angola parece um barco inavegável, que segue desorientado por águas turvas, inseguro, e sem comando inteligentemente hábil para leve-lo a bom porto.

A CASA-CE de Abel Chivukuvuku realiza o seu congresso com objetivo singular de componentizar a base de sustentação politica da sua coligação com a simples finalidade de transforma-la em partido político.

Como diz o ditado, não se comem horticulturas quando não as cultivamos.

Porém, a criação de um partido politico não se conforma apenas com pormenores lúdicos indecifráveis a olho nu. Não se constituem nos tempos de hoje, partidos com sinais politicamente inidentificáveis, como também não se faz omeletes sem ovos.

Não é conveniente construir um partido fundamentando-se em variedades de condicionalismos de correntes politico-ideológicos.

Por outro lado, também não se pode continuar a proliferar o país com o surgimento de partidos políticos com aparências presunçosos na sua orientação ideológica, sobretudo quando neles se encontram sinais de domesticidade politica preponderante na sua base de criação.

Até o momento em que findou o congresso não foram conhecidas nem esclarecidas, e/ou foi mencionado publicamente qual será o segmento de linhagem politica a seguir por esse novo partido. O novo partido será de esquerda, de direita ou do centro?

A situação política em Angola esta demasiada inflacionada com as assimetrias politicas para comportar mais um partido aventureiro qualquer, aliás, espera-se que esse partido venha a somar para uma incrementável democracia viável como os angolanos esperam.

A nova CASA-CE de Chivuku, Miau e Tonet terão de demarcar-se do modo envelhecido de fazer politica de patrulhamento controlado antipopular. Espera-se que a vontade de defender o povo contras as atrocidades infligidas pelo MPLA prevaleça no interior da nova CASA-CE, e acima de tudo proceda de maneira diferente a do MPLA partido antipopular.

O Presidente do MPLA e da republica é de facto velho e enferrujado, faz-se necessário joga-lo urgentemente para o ferro velho.

Além disso, o partido MPLA possui um discurso apesar de violento não passa de um discurso desgastado, descabido, cujas bases não se identificam neles, pois essa ação discursiva a muito ecoa vazia por o mesmo ser de difícil decifração. Em suma, o atual MPLA é um partido totalitarista, e funciona como macaco manco desavergonhado.

Aguarda-se do novo partido, um novo tempo, de um novo momento que permita trazer novos proventos menos promiscui para impulsionar o surgimento de estágios de alta politica em Angola.

Espera-se igualmente que a nova casa não se mantenha de cócoras nem em incomoda dependência permanente da vontade explicita do ditador.  Acredita-se no empenho da direção da nova CASA-CE para distanciar-se da face inebriante da antiga CASA-CE, e não limite o seu espaço politico passeando-se garbosamente pelos corredores da casa da opressão (leia-se assembleia nacional).

Esperamos todos angolanos de bem, que o novo partido nascido do congresso da CASA-CE não comporte negativamente, como se fosse um simples affaire politico entre o MPLA e a casa novinha em folha.

Por outro lado, aguarda-se que a CASA-CE enquanto partido não caminha atrelada as jogadas dúbias do partido da situação, nem ceda espaço ao medo de erigir argumentos em defesa do povo participando ativamente em manifestações de rua apertados ao coração sofrido do povo.

A mediocridade governativa é clara, e está explicitamente comprometido com o redundante pensamento estridente de José Eduardo dos Santos, o mentor da condicionante concupiscência compulsiva nepotista insustentável, e da corrupção institucionalizada.

A casa enquanto partido politico, terá que romper frontalmente com o atual sistema político iníquo, e não deixar confundir a sua mensagem com a do partido no poder, mas principalmente para não fazer e trazer mais do mesmo para o xadrez politico nacional.

A CASA-CE no meu entender precisa de perceber a urgente liceidade pretendida da elevação do discurso político-partidário, só assim se compreenderá a sua transformação em partido politico. Visto de outro prisma, a CASA-CE como partido terá que possuir um excelente jogo de cintura, que lhe permita trazer uma florescente mensagem inovadora de combate politico frontal contra as forças retrogradas que defendem o nepotismo, corrupção, roubo, fome, e miséria.

Sobretudo terá de impor-se contra tudo e todos, que de uma maneira ou de outra tentam a todo custo inviabilizar o direito do povo de exercitar a sua cidadania, e reivindicar o direito das liberdades constitucionalmente defendidas.

O partido CASA-CE terá que trazer uma mensagem diferenciada, sem ruídos disformes.

Não existirá uma CASA-CE forte como partido politico caso não rompa frontalmente com o sistema político-social iníquo, que prevalece em Angola. Também terá que se modernizar para libertar-se do ostracismo em que se remeterá no passado recente.

Caso o partido novo de Chivukuvuku não se demarque rapidamente do aparelhado sistema governativo atual, o contencioso que tem com a sociedade irá envenenar grandemente as eventuais possíveis relações entre esse partido e a sociedade civil inteligente, e sem dúvidas acarretará grande transtornos ao novo partido.

EM POLITICA AS COISAS NÃO DEVEM APENAS SER ELAS TERÃO IGUALMENTE QUE PARECER. SOMENTE DESSE MODO AJUDARIA A DESANUVIAR A PENDENCIA JUSTIFICÁVEL OU NÃO DE UMA EVENTUAL, REAL E/OU VERDADEIRA DEPENDÊNCIA DE CHIVUKUVUKU EM RELAÇÃO AO PRESIDENTE DO MPLA JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. ESSA QUESTÃO TEM SIDO COLOCADA E PÕE EM CAUSA A IDONEIDADE POLÍTICA CREDÍVEL DO NOVO PRESIDENTE DA NOVA CASA-CE.

Repito, em politica as coisas não podem apenas ser elas têm que parecer também o que realmente são.

O aparecimento da CASA-CE como partido não pode parecer-se como uma iminente peça de ilusão a lá David Copperfield. Abel Chivukuvuku não pode aparecer no teatro das operações politicas como um incipiente fazedor de magicas de realização politica conjugação medieval.

A CASA-CE para ser levada a sério terá que em primeiro lugar romper abruptamente com o seu insólito passado de paralisia e dar fim ao período do fragmentado estado de inercia politica abjugativa.

É licito receber de braços semiabertos o novo partido e também agraciar a nova CASA-CE com o beneficio da dúvida. O cidadão deve sim dar as boas vindas ao mais recente agremiação politica, mesmo que por enquanto seja um partido decidido politicamente em congresso.

Apesar de até o momento não se saber qual será a base e orientação politico-ideológico e/ou também qual será a sua exponente mensagem, ainda assim, espera-se que o surgimento da CASA nova, não seja tão envelhecido quanto é ou foi à antiga CASA-CE.

ESPERA-SE QUE A NOVA CASA DE CHIVUKUVUKU, TONET E MIAU NÃO SEJA MAIS UM PARTIDO APENAS. MAS SEJA UM PARTIDO QUE CHEGOU PARA MARCAR A DIFERENÇA, NÃO SE ESPERA QUE VENHA DE SOMENTE PARA ENGROSSAR O ARCO DA GOVERNAÇÃO ANTIPOPULAR DE JES. NEM SEJA APENAS PARA REFORÇO DA ALIANÇA CORPORATIVA GERENCIADA PELO INCONSEQUENTE LÍDER DO MPLA.

VOTAR, EM ANGOLA? – Fernando Vumby



EU NUNCA VOTARIA NUM PAÍS COMO ANGOLA, ONDE TODAS AS SUAS INSTITUIÇÕES SÃO UMA AUTÊNTICA FARSA QUE NÃO ME MERECEM CREDIBILIDADE!

Fernando Vumby, opinião

Onde nunca se tem o mínimo de garantia de que o meu voto, não será manipulado ou misturado com os votos ate de pessoas mortas para facilitar quem organiza, controla e fiscaliza todo um processo que nunca mereceu a minha credibilidade e nem de uma grande parcela de angolanos dentro e fora do país.

Assim não daria a possibilidade aos manipuladores crónicos de sempre e habituais em transformar o meu voto em seu, sem o meu consentimento e mesmo assim não votando estaria á usufruir o meu legitimo direito como cidadão angolano.

E ao contrário do que alguns pensam o voto nulo não é nenhum retrocesso aos meus direitos adquiridos como cidadão angolano, não é não.

Pois se o que está em causa é o direito que tenho em escolher alguém que me represente ou um Partido, de igual modo tenho o mesmo direito em não votar em ninguém e para tal ninguém me pode obrigar a fazê-lo.

Não votar também é uma forma de protesto e resposta ao sistema atual assassino e corrupto que tudo vai fazer para continuar no poder e não existindo outra possibilidade senão mesmo só a manipulação dos votos, tenho o meu legitimo direito em não contribuir com o meu voto para a próxima batota eleitoral que tenho como única certeza vai acontecer.

Há dados que provam que mesmo se estando á um ano das mesmas os planos e truques neste momento ate já estão em fase avançada faltando apenas dar os últimos retoques com a contratação e aluguer de uma frota de motoqueiros que vão simular transportar os fiscais, quando o verdadeiro compromisso jurado, assinado á preto e branco com direito imediato ao cartão de militante estará muito longe de ser daquilo que vão vender á uma plateia nacional tomada por idiotas que não vão conta, pensam eles.

Pois se isto é um direito ninguém deve ser obrigado a votar, e além disso há pessoas que não se revejam em nenhum dos programas apresentados pelos candidato e Partidos alguns dos quais ainda não convenceram e se desconfia funcionarem como simulados pontas de lanças da linha recuada de um partido no poder sem legitimação nacional nem por isso tão matreiro como só eles mesmos acreditam.

Até por uma questão de orgulho pessoal e não se viver o resto da vida com um certo peso de consciência por não se ter a certeza para onde foi o seu voto, eu aconselho aos que não se reveja nesta palhaçada e farsa porque a história já nos provou que nunca uma ditadura organiza , controla e fiscaliza eleições para o derrotar , a melhor opção ainda e apesar dos pesares é mesmo o não votar.

Tenho a certeza absoluta que muita gente não vai votar porque sabe que o que está em causa não é o voto concretamente, pois este, desde há muitos anos que se tornou mercadoria e perdeu o seu real valor, mais sim a legitimação da batota mais uma vez e nas belas calmas sem kigila se aceitar tudo em nome da já tradicional (paz) dos santos....

Fórum Livre Opinião & Justiça - Fernando Vumby

QUEM É UMA TAL MARTINA “QUALQUER COISA” DE ANGOLA?




Quem é um(a) tal “Martina” (muda de apelido mais depressa que nós de calças) que anda a oferecer empregos a angolanos no exterior, nomeadamente nos States, em nome de uma tal Exxon-Angola e, pasme-se, via Gmail?

Além de um "portimbundo" horrível, essa personalidade – na realidade não se sabe bem se é homem, mulher, or else – parece que não foi suficientemente instruída pelo seu eventual “controlador”, dado que a ExxonMobil tem um servidor próprio na Internet, a partir do qual contacta com potenciais colaboradores ou clientes!

E, note-se, usa endereços electrónicos que, supostamente, seriam restritos dos contactados, pelo que não deixa de ser estranho o seu uso!

Antigamente era usual recebermos, em péssimo português - nem o Tradutor do google consegue ser tão péssimo nas traduções - propostas de emprego ou de "generosas ofertas de kumbu" de pessoas que se diziam serem originais da Nigéria, África do Sul, Camarões e do Gana (falo dos que já recebi). Naturalmente que o destino é(ra) sempre o mesmo: Spam e já nem abrir; felizmente cada vez são raríssimos...

Mas que agora até, supostamente, venham de Angola, de uma suposta Martina "qualquer coisa" - conforme os dias - quase diária e sistematicamente oferecer empregos numa suposta empresa subsidiária de um multinacional norte-americana, é, no mínimo, muito, mas muito, estranho!

Talvez não fosse despiciente os visados apresentarem queixa às autoridades locais e, simultaneamente, aos respectivo consulados e às Embaixadas nacionais! 

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

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