terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

ARTISTA PLÁSTICO TIBETANO PROIBIDO DE ENTRAR EM MACAU


O artista plástico Tashi Norbu deslocou-se a Macau para participar na iniciativa ontem promovida pela Galeria Iao Hin no Largo do Lilau, mas acabou por ver a sua entrada na RAEM  proibida pelas autoridades locais. A ocorrência foi divulgada pela galeria através de um comunicado onde se lê que o artista “reconhece que pode ser considerado um pintor controverso em Pequim.” O PONTO FINAL contactou a Polícia de Segurança Pública (PSP), que não confirmou, nem desmentiu a recusa da entrada de Norbu no território.

A entrada em Macau do artista de ascendência tibetana Tashi Norbu foi esta fim-de-semana recusada pelas autoridades do território. Depois de ter exposto há um ano na Galeria Iao Hin, o pintor preparava-se para regressar a Macau para tomar parte na iniciativa ontem promovida pelos responsáveis da Iao Hon numa mansão situada no Largo do Lilau e para ministrar posteriormente um workshop de pintura para crianças.

Ao artista plástico não foi dada qualquer explicação para a recusa da sua entrada no território. Norbu reconhece porém, e de  acordo com um comunicado, “que pode ser considerado um pintor controverso em Pequim.”

O pintor, de nacionalidade belga, era um dos convidados de honra da cerimónia de inauguração da Galeria Amber Iao Hin, que decorreu ao início da noite de ontem: “O meu plano era mostrar a minha arte, a minha linguagem e o meio que estudei durante toda a minha vida”, explicou o artista, no sábado, depois de lhe ter sido recusada a entrada no território. “É triste que tenha sido proibido de estar presente e mostrar a minha arte e as minhas capacidades em Macau”, sublinhou.


Em 2016, Tashu Norbu apresentou os seus trabalhos no âmbito da exposição “Tibete Revelado” e a sua entrada no território já na altura se revelou conturbada, revelou a galeria Iao Hin em comunicado. Na altura, Norbu terá sido interrogado pelas autoridades tanto aquando da sua entrada, quanto da sua saída de Macau. Contudo, o artista tibetano considerou que a sua exposição – que esteve patenta ao público também na Galeria Iao Hin – teve “muito sucesso.”

“Pensámos que poderia ser uma óptima oportunidade para mostrar o trabalho deste artista talentoso ao público de Macau”, referiu o curador da Galeria Iao Hin, Simon Lam, em comunicado. “Pessoalmente, estou muito desapontado com a atitude das autoridades [de Macau] perante as artes, vendo-as como ameaça e banindo aquilo que é nada mais do que performance de arte pura. Não é isto que Macau deveria estar a fazer. A censura é, simplesmente, errada e, neste caso, esta situação não pode ser justificada uma vez que a entrada de Tashi em Hong Kong, na semana passada, foi permitida sem problemas”, acrescentou Lam.

No trabalho artístico de Norbu cruzam-se influências ocidentais e orientais. A pintura tradicional tibetana, associada ao budismo, marcou o início da sua educação artística,  que complementou com um curso de Artes Visuais na Saint Lucas Academy of Visual Arts, na Bélgica. Nas suas obras, o artista independente veicula os fundamentos das suas origens – o Tibete e o budismo – combinando-os com as técnicas que adquiriu na Europa.

“Nenhuma razão específica foi dada para a recusa da entrada em Macau, mas Norbu reconheceu que pode ser considerado um pintor controverso em Pequim. Os quadros do artista baseado na Holanda podem ser banidos na China [Continental] por apresentarem monges tibetanos em chamas, cenas espirituais com Dalai Lama e tibetanos exilados”, lê-se na nota de imprensa enviada às redacções pela Galeria Iao Hin.

O PONTO FINAL tentou obter esclarecimentos junto da Polícia de Segurança Pública (PSP) sobre a alegada proibição da entrada do artista plástico em Macau. Um porta-voz do organismo disse apenas que “a PSP não confirma a recusa da entrada” no território. J.F.

Ponto Final - Fotografia: Cláudia Aranda

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