Manuel
Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião
Uma
análise rigorosa às políticas públicas de emprego, a observação atenta sobre o
estado frágil da estrutura produtiva e sobre as constantes pressões a que está
sujeita a Administração Pública mostram-nos que existe um enorme bloqueio
estrutural ao emprego, que urge destrancar. Entretanto, à boleia da discussão
do designado Pilar europeu dos direitos sociais, outras trancas podem estar a
ser fabricadas.
Amanhã
será divulgado o conteúdo de um interessante trabalho intitulado "O
labirinto das políticas de emprego", em particular as adotadas entre 2010
e 2015, da autoria de Pedro Hespanha e Jorge Caleiras* , que nos confirma ter
havido toda uma proliferação de medidas muitas vezes repetidas, debaixo de
designações diferentes, e desenhadas com configurações distantes das realidades
regionais e locais. Mas as desarticulações e erros nas políticas públicas
constituem apenas uma parte dos grandes problemas do emprego.
É
possível e os portugueses e o país precisam de mais e melhor emprego. Esse
desafio exige: i) políticas estratégicas de reforma e revitalização da
estrutura produtiva nas suas diversas expressões; ii) aposta na requalificação
e reforço da Administração Pública para prestação de serviços; iii) valorização
profissional e salarial que travem a perda de população e permitam a utilização
das qualificações dos portugueses, em particular dos jovens; iv) políticas
públicas de emprego coerentes e ajustadas a estas prioridades, simplificadas no
seu desenho e mecanismos de acesso.
Quanto
ao Pilar europeu de direitos sociais, cuja discussão foi colocada no contexto
europeu, importará ter presente o objetivo bondoso de alguns dos seus
promotores - pretendem uma espécie de rede de proteção (harmonizada no plano
europeu) em socorro de quem, no plano social e no trabalho, se encontra em
grande fragilidade ou em situação de indigência - mas, acima de tudo,
assumir-se que as grandes transformações e políticas económicas, monetárias e
financeiras adotadas pela UE têm arrasado o social e desvalorizado o trabalho.
Por vezes, isso foi feito com ingerências inadmissíveis nos países, como foi o
caso de Portugal, destruindo emprego e empobrecendo os portugueses.
Já
aquando do Tratado de Amesterdão ou da aprovação da Estratégia de Lisboa, se
apresentaram normas de proteção social que acabaram condenadas à irrelevância
face ao quadro estrutural da integração europeia e ao rumo seguido. Este pilar
pode transformar-se, pois, no "eterno retorno". As preocupações com
os trabalhadores e as suas condições de vida têm sido temas marginais. Algumas
campanhas a afirmarem a sua importância não têm passado de migalhas oferecidas
aos perdedores, como forma de credibilizar a injusta e insustentável ordem
económica europeia instituída.
O
conteúdo do "Pilar" é manifestamente insuficiente face aos atuais
desafios resultantes do desemprego de massas e da exclusão social. Tem
significado positivo as medidas de ataque às formas atípicas de trabalho, mas
isso não basta. Precisamos de estratégias macroeconómicas de fôlego que
combatam o desemprego e criem emprego. Precisamos de regulação laboral que
valorize instrumentos de promoção do emprego de qualidade já provados, como,
por exemplo, a negociação coletiva.
Não
podemos permitir que este "Pilar" se transforme num verdadeiro
"Cavalo de Troia" neoliberal na política social. Através da definição
de regras europeias no âmbito laboral, com consequente perda de soberania
nacional neste campo, as regras mínimas arriscam-se a ser regras universais
cheias de armadilhas. Veja-se o caso do salário mínimo nacional (SMN). Definido
este como "se possível 60% do salário mediano" em cada país, Portugal
arrisca-se a já ter um SMN acima desta percentagem.
Não
será difícil imaginar a Comissão Europeia a servir-se destas regras para
pressionar o Governo no seu compromisso de aumento real do SMN, quando sabemos
que há milhares e milhares de portugueses a auferi-lo e a não conseguirem sair
da pobreza, e quanto tem sido contínua a queda da parte do rendimento do
trabalho face ao rendimento do capital.
*
A partir de 13 de março disponível em http://www.ces.uc.pt/observatorios/crisalt/
** Investigador e professor universitário
1 comentário:
Podem escrever o que quiserem e arranjar argumentos tapa buracos, mas sem uma mudança radical na politica socio-económica não altera nada continuam a tapar o sol com a peneira para perpetuar a exploração do homem pelo homem e enquanto assim for uns são senhores e outros escravos.
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