M. Azancot de Menezes, Díli | opinião
Há
um acontecimento recente relacionado com Timor-Leste e com Portugal que
suscitou a minha atenção. Objectivamente, refiro-me à visita que o ministro do
Planeamento e Investimento Estratégico realizou a Portugal, integrado numa
delegação de países do G7+, bem como, o encontro que se seguiu, no dia 6 de
Abril, com o presidente da República Portuguesa.
A
viagem de sucesso que o líder histórico da resistência timorense realizou à
antiga colónia portuguesa, integrado numa delegação dos países do grupo G7+,
demonstrou, por um lado, o permanente protagonismo internacional de Kay Rala
Xanana Gusmão, visto pela comunidade internacional como o homem forte de
Timor-Leste. Por outro, revela a agressividade diplomática que Portugal parece
estar a recuperar, e assumir, depois da eleição de Marcelo Rebelo de Sousa, na
procura conjunta de soluções para a resolução de alguns dossiês considerados
complexos e delicados.
G7+
O
G7+ é uma organização criada em 2010, que reúne 20 Estados-membros, entre os
quais, Timor-Leste, países considerados frágeis e em situações de conflito ou
pós-conflito.
O
encontro que envolveu Xanana Gusmão e Marcelo Rebelo de Sousa, em conjunto com
representantes de países desta organização internacional, assim como as
reuniões realizadas com os presidentes da Assembleia da República e da Câmara
Municipal de Lisboa tiveram um resultado concreto, muito positivo, a promessa
do G7+ passar a ter uma sede em Lisboa, com todas as vantagens daí inerentes.
O
grupo de países que compõem o G7+, na prática, ainda não conseguiram alcançar
os Objectivos do Milénio, principalmente em relação à redução das taxas de
mortalidade infantil, à melhoria do acesso à educação e saúde, bem como, à
garantia do fim dos conflitos existentes em alguns dos países membros e à
promoção da melhoria das condições de vida das populações.
Apesar
dos Objectivos do Milénio não terem sido alcançados na sua plenitude, o
espírito da «Declaração de Díli» e da «Declaração do G7+», e do acordo
implementado em 2011 conducente a esforços para aumentar o envolvimento
internacional de países mais desenvolvidos e interessados em apoiar projectos
nos países do G7+, na minha opinião, com este encontro em Lisboa, foi dado mais
um passo digno de relevo.
Com
os resultados alcançados depois desta visita do G7+ a Portugal, temos que
reconhecer, Kay Rala Xanana Gusmão, com a habilidade diplomática que o
caracteriza, soube aproveitar as aberturas e os sinais que Marcelo Rebelo de
Sousa ultimamente tem enviado à diplomacia do nosso país.
A
visibilidade do G7+ é de extrema relevância para a materialização da
independência económica e política dos países que deste grupo fazem parte, pelo
que, resta esperar que a anunciada abertura da sede do G7+ na capital
portuguesa, prometida pela Câmara Municipal de Lisboa, venha a concretizar-se
com brevidade, e o futuro secretariado, obedecendo a linhas estratégicas de
actuação correctas, funcione com eficácia e eficiência para se levar a bom
termo a grande finalidade deste grupo de países que devem evitar a todo o custo
que a regulação transnacional interfira e prejudique as suas soberanias apenas
porque se encontram em situação de fragilidade e dependência temporária.
As
regulações nacionais dos países que integram o G7+, esta é a verdade que não se
pode escamotear, têm sido condicionadas pela regulação transnacional produzida
por países doadores e por estruturas supra-nacionais que apesar de oficial e
formalmente não terem poder de decisão em matéria de políticas nacionais,
interferem e controlam as decisões dos nossos países, mais frágeis e
vulneráveis, a maior parte das vezes, pressionados com a imposição de regras de
financiamento e dos sistemas de financiamento.
É
imprescindível que os países do G7+ rejeitem esse tipo de intromissões do
exterior, regra geral, mediante programas de cooperação, apoio, desenvolvimento
de toda a ordem, oriundos de várias agências internacionais, que reúnem
especialistas de todas as formas e feitios, e que nos visitam com uma espécie
de “pronto a vestir”, imagine-se, até com diagnósticos e soluções realizadas, mesmo
antes de chegarem aos países que precisam de apoio internacional.
No
caso concreto de Timor-Leste, através de uma breve análise, nem precisa de ser
com lentes pedagógicas, basta um simples olhar patriótico, é visível a tal
intromissão, em vários sectores do país, nomeadamente no sector da educação,
perceptível através dos persistentes obstáculos existentes no âmbito do
desenvolvimento da língua portuguesa, havendo uma clara cedência aos interesses
de determinados países, porque não fomos capazes de traçar linhas mestras
estratégicas de actuação suficientemente robustas, em defesa da nossa
soberania, para responder com eficácia às necessidades reais do país.
*
Professor Universitário e Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST)
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