Como
se combate o terrorismo quando se cometem erros crassos?
Ana
Alexandra Gonçalves*
Depois
de cada atentado multiplicam-se os votos de pesar, a promessas de união e os
juramentos em torno de luta cerrada contra o terrorismo. Mas como combatê-lo
quando se cometem erros crassos? E escusado será chamar à colação erros
passados, como os que criaram vazios de poder no Iraque e na Líbia e até certo
ponto na Síria, vazio esse ocupado por grupos terroristas como o Daesh. Esses
são sobejamente conhecidos.
Donald
Trump deslocou-se, na sua primeira viagem oficial, à Arábia Saudita, com o
objectivo claro de vender armamento - aparentemente sem paralelo, no que diz
respeito à quantidade. Trump deslocou-se ao berço ideológico do jihadismo para
vendeu uma quantidade absurda de armas. O que é que isso faz pela luta contra o
terrorismo? O Presidente americano faz negócios em nome do povo que será sempre
a vítima da ideologia que esse país desenvolve e promove.
Insatisfeito,
Trump decidiu reverter a aproximação que Obama havia encetado relativamente ao
Irão. O novo Presidente americano prefere hostilizá-lo. Recorde-se que Daesh e
Al-Qaeda, cujo filho de Osama Bin Laden, Hamza Bin Laden, procura recuperar,
são sunitas, em oposição ao xiismo iraniano. Pensar-se numa guerra contra Daesh
e Al-Qaeda sem o envolvimento do Irão é simplesmente absurdo - mas é no absurdo
que Trump vive.
Por
fim, a ausência de críticas ao regime de Erdogan - o mesmo que procura destruir
o legado secular de Ataturk. Uma combinação explosiva.
Continuaremos
a passar ao lado do essencial, cometendo erros atrás de erros, tudo em nome do
sacrossanto dinheiro e dos negócios que lhe subjazem.
Insistiremos
na manifestação de um conjunto de intenções para combater o terrorismo, com o
agravamento do estado securitário dos países afectados. No que toca às questões
ideológicas ignoramos inclusivamente o essencial: a transversalidade do Islão e
as suas implicações, designadamente a sua abrangência religiosa, política,
económica, cultural e de identidade - facultando uma resposta - presume-se - às
inquietações da vida e da morte. Tudo levado ao expoente máximo no contexto
jihadista o que torna o seu combate manifestamente difícil. E é no plano
ideológico que mais falhamos, não tanto no plano policial.
É
evidente que se, paralelamente, continuarmos a cometer erros crassos como o
apoio a Estados que fomentam, de forma mais ou menos tácita, o jihadismo,
enquanto ostracizamos quem pode efectivamente ajudar no seu combate, pouco mais
haverá a fazer do que esperar por mais um qualquer atentado na Europa ou nos
EUA.
*Ana
Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão
- Título PG
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