Ana
Alexandra Gonçalves*
O
sol deixou de brilhar lá para os lados da Rua de S. Caetano. O líder do PSD
parece-nos hoje ainda mais cinzento e apagado do que no tempo em que
desempenhava as funções de primeiro-ministro. As boas notícias do país são o
princípio do fim de uma liderança que fez da austeridade o seu leitmotiv.
Troika, culpabilização e austeridade foram a santíssima trindade, tudo muito
bem regado com doses incomensuráveis de intransigência e mediocridade. O
resultado está à vista: uma liderança que só existe por falta de interessados.
Agora
é o forte crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre a tirar
novamente o tapete a Passos Coelho. Ainda assim os seus apaniguados reclamam
créditos, ignorando, convenientemente, que o aumento da confiança que passa
pela devolução de rendimentos e que a mudança para um discurso positivo são
centrais à fundamentação dos bons resultados. Paralelamente, o crescimento do
emprego e, importa não esquecer, o fim do processo de culpabilização e da
incerteza do dia-a-dia que atormentou boa parte do país (cortes em rendimentos
do trabalho, cortes nas pensões a torto e a direito, aumentos de impostos sobre
os rendimentos do trabalho, etc) têm que ser levados em conta. Passos Coelho e
seus acólitos nada têm a reclamar.
De
resto, ninguém ignora que a conjuntura económica internacional tem dado um
forte contributo à recuperação da economia portuguesa; assim como ninguém
esquece que a baixa das taxas de juro e a desvalorização do euro face ao dólar
estão também metidas nesta recuperação; ou até que o turismo tem dado uma
ajuda; assim como o enfraquecimento, por parte das instituições europeias, da
tara com a austeridade ajuda a justificar o crescimento da economia portuguesa.
Ninguém ignora, excepto o PSD que considera ser o responsável por mais estas
boas notícias - mesmo quando, em funções, liquidou o consumo interno, matando a
actividade económica desprovida de investimento, aumentando o desemprego,
enquanto se dizia que a culpa era nossa porque havíamos vivido acima das nossas
possibilidades.
É
todo o razão de ser de Passos Coelho que soçobra perante as evidências,
procurando o antigo primeiro-ministro, desesperadamente, reclamar o que lhe é
indevido, caindo invariavelmente no paradoxo de defender uma coisa e reclamar o
seu contrário.
Cada
vez parece mais evidente que Outubro é o mês em que as trevas se abaterão sobre
esta liderança desgastada e vazia de discurso que deixou de contar com
quaisquer adeptos, exceptuando Schäuble. Depois das autárquicas será um milagre
Passos Coelho manter-se na liderança do partido. Ou isso ou ninguém está
disposto a enfrentar uma geringonça que, contra todas as opiniões iniciais, não
só funciona como até faz escola.
*
Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão
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