Este
devia ser o Expresso Curto matinal no formato rigoroso do habitual, mas não. Já
não são horas disso. Estamos quase na hora do lanche. Se bem que para muitos
parasitas seja agora hora do pequeno-almoço. Isso é outro assunto, contudo não
será agora que pegamos no spray antiparasitas. Adiante. Pois.
Ricardo
Marques, do burgo do tio Balsemão Bilderberg, conhecido por Expresso e sei lá
que mais, foi quem serviu o Curto que nos dá a possibilidade de estar para aqui
a teclar. Boa tarde.
Ricardo
traz novamente os fogos à baila, depois de uma citação em inglês para quem
perceba. Pois. Até dá ganas de também preencher esta prosa com uma citação em tétum…
Só para Ricardo ficar às aranhas, como tantos e imensos portugueses ficarão com
o inglês ricardoide. Adiante, come back son, you're forgiven. Pois.
Por
aqui, no PG, não estamos nessa de dar mais relevo a políticos badalhocos. Daqueles
que fazem política sobre os cadáveres de 64 vítimas dos fogos e que até
inventam suicídios. Passos Coelho é mesmo um grande porcalhão mental e político,
um manipulador dotado de uma deslealdade e falta de respeito e decência para
com todos que não são ele e talvez mais uns quantos amigalhaços. Adiante.
E
então não é que agora (ou já há tempos?) se instalou em Portugal um circo a que
vulgarmente chamam tropa e que é uma bandalheira? Bonito serviço… As chefias
militares endoidaram e rasgaram o RDM? E também todos os preceitos
escarrapachados para cumprir à risca a doutrina nem que lhe passe um mangalho
pela boca? Desculpem este palavreado caserneiro mas é para ver se os tropas
entendem alguma coisa do que aqui é escrito. É em português, não é noutras línguas.
Certo?
Todo
este minidesaforo porque ontem diziam que tinham roubado de uma unidade em
Tancos cerca de 100 granadas e algumas munições de 9 milímetros (de guerra
buracona). Afinal tudo foi atualizado. Para pior.
Citação
(dos jornais em português): “Quarenta e quatro lança-granadas e quatro engenhos
explosivos "prontos a detonar" foram roubados das instalações
militares dos Paióis Nacionais de Tancos na quarta-feira, foram ainda roubadas
120 granadas ofensivas e 1500 munições de calibre 9mm (apenas autorizado a
forças de segurança e militares) e 20 granadas de gás lacrimogéneo.”
Carago,
é obra!
Foi
declarado que as câmaras da segurança de videovigilância estão avariadas há um
ano. Não há verba para as reparar ou a todo o sistema (não sabemos realmente
qual a abrangência da avaria). Bandalheira. Chefias da treta. Generais pum-pum.
E outros que tais.
Até
apetece perguntar: se assim é porque não existe guarda permanente aos paióis? Agora
já não se usa devido às novas tecnologias? E também não existem rondas in loco
porque fazem as rondas por vídeo? Ai tão finos que os Maria Alice estão!
Claro
que houve fugas da unidade sobre o estado da falta de vigilância, de controle,
dos paióis. E claro que o material de guerra roubado só serve a grandes
organizações do crime organizado e a terroristas, o que é praticamente a mesma
coisa.
Claro
que as chefias militares têm toda a responsabilidade pelo que aconteceu,
começando pelas altas patentes e terminando nas intermédias-baixas. Uma
bandalheira!
Não
é a desculpa da falta de verbas para reparar o sistema de videovigilância que
serve de justificação porque, assim sendo, existem militares, soldados, que
podem fazer os turnos de guarda aos paióis em permanência, além das rondas que
garantam a operacionalidade. Ou será que já não existem militares, soldados,
cabos e sargentos, pelo menos, nas unidades militares?
Sabem
que mais? O RDM e afins (Regulamento de Disciplina Militar), é impossível de
cumprir. A essa conclusão chegou o tipinho que o escreveu… Que depois se
suicidou porque afinal não tinha pedido autorização ao seu superior hierárquico
para o escrever – é o que dizem. Mesmo sendo impossível de cumprir na
totalidade existem procedimentos militares que praticamente nem precisariam de
regulamentação porque qualquer pessoa sabe que material de guerra deve ser
permanentemente guardado. Até um miúdo sabe que tem de tomar cuidadosamente
conta da sua fisga, quanto mais militares profissionais!
Desculpem
lá… Aqui há gato. Pois.
Sigam
para o Expresso Curto. À vontade, porque esta tropa demonstra que está toda uma
grande bandalheira… Até é provável que ande a fornecer material de guerra ao
dito Estado Islâmico. Não? Ora, desde que se viu porcos a andar de bicicleta e
homens com a cabeça na lua, mesmo lá na lua, juntamente com o resto do corpo, tudo
é possível.
Mancebos, do general ao básico, mostrem que sabem andar na tropa.
Depois
de escrito, soma e segue:
A
lista negra do material de guerra “roubado” aumenta a conta-gotas… Ainda há
mais? E porque não referem exatamente as quantidades, senhores generais
pum-pum?
O
Exército revelou que foi roubado mais material de guerra do que inicialmente se
supunha. Entre o material roubado na quarta-feira dos Paióis Nacionais de
Tancos estão "granadas foguete anticarro", granadas de gás
lacrimogénio e explosivos, mas não divulgou quantidades.
MM
| PG
Sem
culpa nem desculpa
Ricardo
Marques | Expresso
"Trees,
we exclaim, trees, there, and there, can’t you see them, and we point straight
ahead and behind us, where there are probably trees that the child probably
sees. Or aren’t there any trees?”
"The
parable of the blind", Gert Hofmann
A
pessoa tenta, juro que tenta, mas é difícil. Não é esquecer, porque isso é
impossível, mas é só não pensar tanto. Talvez pensar noutra coisa, mas é
difícil.Amanhã faz duas semanas que aquilo aconteceu e, por mais que a pessoa
tente, amanhã faz duas semanas que andamos a discutir aquilo. E o que assusta
mais é que estamos exatamente na mesma. Ou pior.
Esta
manhã dei por mim a desejar duas coisas em que sempre evitei pensar. A
primeira é estar enganado, desejar que, daqui a um mês ou um ano, a
realidade prove que tudo o que vou escrever a seguir seja mentira, que não
passe de um enorme erro.
Ontem,
depois de um ensaio morno na véspera, começámos a assistir a uma nova
versão de uma peça antiga, que todos já conhecemos de cor. Estreou no Parlamento e fora dele, com uma guerra em curso entre a Proteção Civil e a Secretaria
Geral do Ministério da Administração Interna. A coisa é mais ou menos
assim: vai para lá, vem para cá, salta para ali e depois para acolá. A culpa é
dele, a culpa é daquele, e do outro e de mais um ou dois. Devia ter sido assim,
não devia ter sido como foi. Falam demasiado, agora estão calados.
É
inadmissível, incompreensível, impossível e, a pouco e pouco, a discussão
em Lisboa vai ficando mais longe daquelas aldeias, daquelas estradas, daquelas
pessoas.
Com
uma diferença em relação ao passado: antes havia três partidos
comprometidos com todos os governos desde 1974. Hoje ninguém na Assembleia da
República pode dizer seja o que for. O que aconteceu há duas semanas até
poderá não ter culpados. O tempo o dirá. Mas nem essa possível ausência de
culpa irá alguma vez apagar algo que não tem desculpa.
Em
breve vai começar a trabalhar a comissão (12 técnicos especialistas:
seis indicados pelo presidente da Assembleia da República e outros seis pelo
Conselho de Reitores) encarregue de “proceder a uma avaliação independente
em relação aos incêndios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião,
Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra,
Oleiros e Sertã”.
Um
conselho para este concílio de sábios que vai investigar o indesculpável: não
se limitem a ler relatórios e análises, a mergulhar no passado a ver quem fez o
quê, a marcar reuniões em Lisboa com os autarcas e as “forças vivas” das terras
mortas. Metam-se no carro, sujem os pés de cinza, vão depressa para ainda
sentirem o cheiro a queimado. Falem com quem não morreu. Falem com os
sobreviventes. Andem mais uns quilómetros por esse país tão distante da cidade
e vejam o que não ardeu.
Têm
60 dias, mais trinta se for preciso - até depoisdas eleições autárquicas, quando o outono já tiver
chegado - para perceber e explicar a tragédia de uma só noite. O Governo
fez ontem um novo balanço dessa noite indesculpável.
E
a ministra da Administração Interna anunciou que vai mandar 750 operacionais para o terreno, de modo a
garantir a vigilância das zonas mais críticas. Eis algo que, há uns anos, nos
teria deixado descansados. Hoje? Não. Não há um número capaz de nos
tranquilizar depois de 64 pessoas terem morrido numa noite.
E
é por isso que esta manhã também dei por mim a pensar, pela primeira vez
na vida, que só quero que o verão passe depressa.
OUTRAS
NOTÍCIAS
O
incêndio de 17 de junho deve voltar a ser o assunto mais discutido
durante o dia de hoje, mas não será o único. Segue-se a habitual lista de temas
a que convém prestar atenção nesta sexta-feira - dia em que não só se
assinalam 150 anos da lei que aboliu a pena de morte para crimes civis em
Portugal, como também se ‘celebra’ o Dia do Asteróide (que serve para sensibilizar a
humanidade, e quem passar por Serralves, para o perigo desses monstros espaciais
errantes).
Na
Terra, nesta nossa terra, desapareceu material de guerra de uma base do
Exército. O Diário de Noticias traz a lista na capa: 44 lança-granadas,
quatro engenhos explosivos “prontos a detonar”, 120 granadas ofensivas e 1500
munições de 9mm.
A
história está contada aqui, neste artigo do Expresso, que mostra também como é
fascinante a Internet, essa coisa diabólica que nos permite contemplar através
do Google Maps as instalações militares. Com um pouco mais de zoom quem
sabe se não conseguiríamos ver os tais buracos na rede por onde
entraram os assaltantes que foram aos paióis de Tancos.
O
ministro da Defesa diz que o assunto é grave. Nem de propósito, saiu há semanas na revista E um artigo sobre estas estranhas ocorrências.
Apesar
do tempo fresco, a temperatura sindical parece estar a aumentar. Os juízes
estão reunidos hoje e amanhã, em Sintra, para discutir o novo estatuto.
Isto depois de ontem a Associação Sindical de Juízester admitido a possibilidade de uma greve em agosto.
Na
Saúde, o ministro Adalberto Campos Ferreira subiu o tom na discussão com o
Sindicato dos Enfermeiros e pediu ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral
da República um parecer urgente sobre o protesto de zelo dos enfermeiros, que
ameaça paralisar as unidades de saúde materna e obstetrícia. Ou seja, é
capaz de ficar um bocadinho mais difícil nascer. O ministro alega que não
pode "admitir ficar refém de atitudes e posições irregulares e
desadequadas”. A Vera Lúcia Arreigoso explica.
Justiça,
Saúde… Educação, e a polémica do dia, que já vem de ontem, andará à
volta dos manuais escolares e sua reutilização. Ou não. Aproveite para ver
um vídeo que explica o que está a acontecer.
Hoje termina
o prazo para os trabalhadores precários do Estado pedirem a avaliação das
respetivas situações contratuais de modo a conseguirem entrar nos quadros.
O que os espera, disse o ministro Vieira da Silva, é menos dinheiro mas
mais segurança.
No
Brasil, é dia de greve geral, ainda que no Rio de Janeiro haja menos umas
dezenas de policias a garantir a segurança - porque foram presos numa mega-operação de combate à corrupção. 62
até agora.
Ali
perto, está a prova de que o maior problema de nada mudar é que nos
habituamos depressa. Isto vem a propósito de algo que seria grave em qualquer
país do mundo, mas que na Venezuela é apenas só mais um episódio - e nem sequer
dos mais graves. O aparelho do presidente Nicolas Maduro virou-se contra a Procuradora Geral.
Nas
últimas 24 horas, depois de andar um helicóptero a lançar granadas sobre o Supremo
Tribunal , morreram mais 5 pessoas. São 83 vítimas desde 1
de abril, um cruel dia das mentiras.
Na
mesma linha de incómoda habituação, temos o caso de Donald Trump,
presidente dos Estados Unidos do Twitte..., perdão, da América. Ontem atirou-se aos apresentadores de um programa de
televisão, gabou-se de já ter deportado metade de todos os
membros do gang salvadorenho MS-13 (exagerou, claro) e congratulou-se com a entrada em vigor de parte da
lei que limita a entrada nos EUA a cidadãos oriundos de seis países.
Trump,
já se sabe, tem um cantinho especial nestes Expressos Curtos, e hoje não podia
ser exceção. Afinal, na terça-feira assinala-se o primeiro 4 de Julho da
América a caminho de tornar “great again”. Na “Economist”, há um editorial sobre tão festiva data: “Trump não é
apenas um sintoma das divisões na América, é também uma das suas causas”. Uns
dias depois, na sexta-feira, Donald vai estar em Hamburgo, na Alemanha,
para a reunião do G20 e a grande notícia é o encontro com Vladimir Putin (já
vamos à Russia...).
Os
alemães votam hoje a legalização do casamento homossexual (ai, Donald, onde te
vais meter...). A chanceler Merkel deu liberdade de voto aos seus deputados e a
oposição vai votar a favor.
O
Iraque declarou o fim do Estado Islâmico no território, com a
conquista da grande Mesquita de al-Nuri, ou das suas ruínas.
O
caso do cardeal australiano acusado de abusos sexuais será também um dos temas
de hoje. George Pell anunciou que vai regressar à Austrália para se
defender. Garante estar inocente e ser vítima de uma campanha. Pode ler a
história em inglês e no Expresso.
Por outro lado, há pessoas que não podem sair de onde estão, como acontece ao deposto príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Está proibido de deixar o reino e foi substituído no lugar mais apetecível da linha de sucessão pelo filho preferido do rei.
A guerra cibernética, algo que ainda há poucos anos andava nos livros de ficção científica, está mesmo entre nós. Primeiro o Reino Unido, agora a Ucrânia. Em comum, o arsenal da NSA.
Três
notas rápidas sobre histórias para ler mais ao fim da tarde, quando já cheirar
a sábado. Uma sobre mosquitos, diz que é altura deles; a segunda é sobre um
polémico memorial na Noruega, na ilha onde Anders Breivik matou
77 pessoas em 2011; e mais um sobre a super-realizadora do filme da
Super-Mulher.
Portugal
joga com o México domingo, em Moscovo, a final dos tristes. Sem Ronaldo, que
foi para Madrid ver os filhos e, segundo a Marca, tranquilizar os dirigentes do Real Madrid. E sem o lesionado Raphael Guerreiro, de volta ao Borussia
Dortmund, na Alemanha, seleção que joga com o Chile, em São Petersburgo, a
verdadeira final da Taça das Confederações.
Sendo
assim, é útil saber o que vai acontecendo na capital russa. Valha-nos o “Moscow
Times” para nos contar sobre os cinco homens envolvidos no
homicídio de um oposicionista do Kremlin, há dois anos, numa das principais
ruas de Moscovo. Segundo o artigo, terão recebido15 milhões de rublos (240 mil
dólares) para assassinar Boris Nemtsov, a mando de um responsável dos serviços
de segurança da Tchetchénia.
No
mesmo jornal, um tipo qualquer entrou pela janela de um escritório do
Banco Central da Russia e desapareceu com 11 milhões de rublos. Um verdadeiro
número de magia.
Anda
por aí uma discussão sobre bruxos e jogos de futebol. Não me vou alongar muito
porque, francamente… Mas não me perdoaria se omitisse as sábias palavras que
ontem ouvi ao Jorge Araújo, e que aqui reproduzo com a devida
autorização:
"Se
a macumba ganhasse jogos, a Guiné Bissau era sempre campeã do mundo".
MANCHETES
Correio
da Manhã: "Ministra com carro assaltado na noite da tragédia"
Diário
de Notícias: "Lança-granadas e engenhos explosivos roubados em
Tancos"
Jornal
de Notícias:"Metade do país aceita corrupção autárquica"
Público: "Renegociações do SIRESP foram feitas à custa do corte de meios"
i: "Drones: um desastre à beira de acontecer"
O QUE ANDO A LER
Há
dias, ao procurar gastar tempo até uma consulta, entrei numa livraria e saí de
lá com os “Contos Maravilhoso”, de Hermann Hesse. É o livro ideal para
esperar, feito de pequenas histórias onde cabe tudo.
Não
resisti e atirei-me à última, “Os dois irmãos”, que começa assim: “Era uma
vez um pai que tinha dois filhos. Um deles era belo e forte; o outro pequeno e
aleijado, pelo que o grande desprezava o pequenito”.
Isso
mesmo. O mais novo ajudou a transportar o tesouro dos anões para uma
montanha de vidro e o mais velho, que foi para a guerra e ficou ferido no braço
direito, acabou a mendigar na rua. Um dia encontraram-se, junto à
montanha, e, entre lágrimas, o mendigo falou ao homem que o olhava. O conto
acaba com estas linhas, que começam com o mais velho a falar:
“É
bem certo que em tempos tive um irmão, pequeno e deformado, assim como o
senhor, mas tão bondoso e amável que decerto me ajudaria, só que eu,
insensível, escorracei-o, e já há muito que dele nada sei.” Disse então o
pequenito: “Sou eu mesmo o teu pequenito, fica comigo e não irás passar
necessidades”.
É
bonito, mas mais bonito é saber que Hesse tinha 10 anos quando escreveu
este conto.
Já
agora, se tiver tempo, leia este artigo da New Yorker. Foi de lá que, qual assalto
ao paiol de Tantos, roubei a frase que abre este Expresso Curto. Começa tudo
com um quadro de Bruegel, “A Parábola dos Cegos”, de 1568, e salta para um
livro de 1985 que imagina a história na origem da pintura.
Cegos
a guiar cegos por um caminho que ninguém conhece.
Tenha
uma boa sexta-feira. Há informação a qualquer hora no site do Expresso, as melhores notícias do dia às seis da tarde,
no Diário, e a melhor informação da semana, amanhã, nas bancas e em formato digital.
Bom
fim de semana.
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