Martinho Júnior | Luanda
1 A Organização de Cooperação de Xangai (OCX), teve sua reunião anual em Astana,
capital do Cazaquistão, dando seguimento aos projectos anteriores, que visam a
integração económica de todos os seus componentes, privilegiando as
possibilidades de “ganha-ganha” e colocando num“puzzle” só
possível no século XXI, o cimento indispensável com vista à consolidação.
De
entre os projectos, realça-se a admissão formal da Índia e do Paquistão, assim
como a evolução no sentido da admissão do Irão (que é com a Mongólia e o
Afeganistão, um estado observador), uma das peças-chave para a consolidação do
conjunto de geoestratégias no âmbito daquela organização, que têm tido até
agora a China e a Rússia como seus principais impulsionadores.
Neste
momento a OCX integra 8 estados que possuem a maior área e a maior quantidade
de população entre as organizações existentes à escala global, sendo 4 dos seus
membros potências nucleares (China, Rússia, Índia e Paquistão).
A
entrada da Índia e do Paquistão reforçam o flanco sul da OCX, mas também
contribuem para isolar cada vez mais os focos de desestabilização disseminados
por todo o Médio Oriente, do Iémen à Síria, do Iraque ao Afeganistão e
Paquistão.
2 As políticas de caos, terrorismo e desagregação, de que a coligação de
interesses avassalados aos Estados Unidos se tem empenhado de modo a que seja
Israel a tirar o melhor proveito na região, sendo políticas de geometria
variável e alimentando no seu interior uma multiplicidade de contradições,
possuem cada vez mais fragilidades internas e nem o poderio militar está a
demonstrar estar à altura das iniciativas da OCX, que além do mais fazem fluir
projectos como o das rotas da estrada da seda, ou o da utilização da moeda
chinesa para os negócios energéticos, ou ainda a concentração das
potencialidades de investimento em Bancos como o Banco Asiático de
Investimento em Infraestrutura, (BAII), o Novo Banco de Desenvolvimento, (NBD)
e o Fundo Chinês da Rota da Seda.
O
fim do Estados Islâmico e dos grupos ligados à Al Qaeda na Síria e no Iraque
avizinha-se, mas os investimentos que os suportam e suportam as suas conexões
de inteligência, estão apostados em fazer revitalizar seus projectos de caos,
terrorismo e desagregação utilizando a plataforma do Afeganistão, para onde
começam a trasladar parte dos seus efectivos e meios.
Os
Estados Unidos e seus vassalos vão manter sintomaticamente suas forças
militares no Afeganistão, alimentando as mesmas linhas contraditórias que advêm
da administração republicana de George W. Bush.
Tacitamente
onde há caos, terrorismo e desagregação, regista-se a presença militar dos
estados que compõem a coligação liderada pelos Estados Unidos.
O
impulso à presença do Estado Islâmico e de grupos da Al Qaeda no Afeganistão,
entra em consideração pouco a pouco com os talibãs, o eu vai fazer mecher as
peças no cmplexo xadrez euroasiático, aproximando os talibãs dos interesses
geoestratégicos da OCX.
Do
lado do campo do caos, terrorismo e desagregação liderado pelos Estados Unidos,
o incremento da presença do Estado Islâmico e da Al Qaeda no Afeganistão, abre
novas linhas de ruptura em direcção ao Cáucaso (Rússia), países da Ásia Central
(Casaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tadjiquistão), assim como ao ocidente
da China e Paquistão, na espectativa que isso também venha a neutralizar (ou no
mínimo retardar) os projectos de integração do âmbito da OCX.
3 A longa batalha pelo domínio do continente euroasiático está em curso e ganha
novos contornos que obrigam a novas reavaliações, todavia é a emergência
multipolar que está a avançar, reforçando-se e a hegemonia unipolar que está em
decadência, obrigando-se a consumir em guerras de carácter, intensidade e
geometria variáveis, sem melhores alternativas.
Uma
parte substancial das 800 bases dos Estados Unidos espalhadas pelo mundo estão
no continente Euroasiático, ou à sua volta, mas o crescimento da OCX é uma
contrariedade por que inibe as capacidades militares de cerco em relação à
Rússia e à China, cada vez menos isoladas e cada vez mais adequadas a projectos
comuns em termos energéticos.
A “plataforma” que
se oferece ao incremento da presença do caos, do terrorismo e da desagregação no
Afeganistão vai no sentido duma nova escalada de acções por parte da hegemonia
unipolar que se assemelha a mais uma desesperada tentativa de reverter a
evolução da situação a seu favor.
A
IIIª Guerra Mundial vai portanto em breve ter novos contornos e acontecimentos
bruscos, entre eles a possibilidade do “blietzkrieg” da Arábia
Saudita contra o Qatar, onde estão além do mais em jogo os acessos a um dos
maiores campos de gaz do globo e o domínio sobre eles.
Na
Síria, a confrontação contra a coligação por parte do estado sírio pode também
vir a acontecer, pois se os Estados Unidos e seus vassalos falharam na
disseminação do caos e do terrorismo naquele país, ainda não perderam o pé em
relação à sua possível desagregação.
O
poder assimétrico e errático da actual administração republicana de Donald
Trump nos Estados Unidos é por si uma autêntica “caixinha de surpresas”,
pois nunca se sabe de onde partirão as iniciativas (se do Presidente, se do
Departamento de Estado, se do Pentágono, se dos múltiplos braços dos serviços
de inteligência onde pontifica a CIA)…
Se
há dificuldades na percepção das linhas tácticas operacionais que se distendem
a partir dessa administração, a sua geoestratégia no enorme continente
Euroasiático está cada vez mais evidente à frente da parte bárbara do “front”,
em conformidade com a “civilização judaico-cristã ocidental”e unindo por
vezes da forma mais contraditória as peças fundamentalistas que vão desde as
tendências nazis (na Ucrânia, na Polónia, e nos países do leste da União
Europeia), até à implicação tácita do Califado e de organizações como a Al
Qaeda, sem os quais não haveria justificação para a sua presença no “ultramar”.
A
possível entrada do Irão na OCX, que está no horizonte, poderá ser mais um
factor de reforço à emergência multipolar e, se tal acontecer, mais um sinal de
que a hegemonia unipolar está sem recursos (para além dos militares) no grande
jogo Euroasiático.
A
consultar de Martinho Júnior:
IIIª
Guerra Mundial: no fulcro dum quotidiano de caos na aldeia global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/12/iii-guerra-mundial-no-fulcro-dum.html
Um
exercício clarividente e coerente – http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/02/um-exercicio-clarividente-e-coerente.html
A
única geoestratégia ao nível do século XXI – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/a-unica-geoestrategia-ao-nivel-do.html
Outras
consultas:
Shangai
surpirse –https://www.theguardian.com/commentisfree/2006/jun/16/shanghaisurprise
New
Giants in SCO Alliance – http://infoshos.ru/en/?idn=16750
The
Shanghai Cooperation Organization: Prospects For A Multipolar World – http://www.globalresearch.ca/the-shanghai-cooperation-organization-prospects-for-a-multipolar-world/13707
Ocidente
não sabe nem do cheiro do que a Eurásia está cozinhando – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/geral/47383/ocidente+nao+sabe+nem+do+cheiro+do+que+a+eurasia+esta+cozinhando.shtml
La
mayor concentración de terroristas del mundo": así es Afganistán tras 16
años de guerra – https://actualidad.rt.com/actualidad/241832-mayor-concentracion-terroristas-mundo-afganistan-2017
Rusia
alerta de la nueva estrategia del Estado Islámico – https://actualidad.rt.com/actualidad/242267-rusia-alertar-nueva-estrategia-estado-islamico
Imagens:
Símbolo da SCO; Mapa da Ásia Central; Os chefes de estado dos 8 países membros,
na reunião de Astana; A moderna Astana.
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