O
líder (certamente também emérito e por mérito próprio) da CASA-CE, o segundo
maior partido da oposição angolana, Abel Chivukuvuku, defende a proposta de lei
do MPLA que visa dar regalias e o título de emérito ao presidente cessante,
nunca nominalmente eleito e nos poder há 38 anos, José Eduardo dos Santos. A
esmagadora maioria dos angolanos, onde se incluem os 20 milhões de pobres, está
contra. Mas isso é um pormenor sem interesse…
Orlando
Castro* | Folha 8
A proposta
de um estatuto especial, nesta circunstância, para um Presidente que, entre
muitas outras mais-valias igualmente eméritas, conseguiu colocar Angola no
“ranking” dos países mais corruptos do mundo, conseguiu pôr o país a liderar o
índice da mortalidade infantil no… mundo e, num país com perto de 26 milhões de
habitantes, teve o engenho e arte de criar 20 milhões de pobres, deve ser
unanimemente apoiada por todos.
E,
assim sendo, Abel Chivukuvuku está apenas a assumir e transmitir o pensamento
de um povo sofredor cuja figura mais emblemática é Isabel dos Santos, a
multimilionária Presidente do Conselho de Administração da Isangol,
ex-Sonangol. Reconheça-se, em abono da tese do emérito líder da CASA-CE, que
esta posição é digna de um rasgado elogio e de um diploma de mérito por parte
do MPLA.
Na
defesa da tese do MPLA, o presidente da CASA-CE diz que; “É algo necessário e
normal em todas as sociedades democráticas para que haja serenidade,
transmita-se confiança e segurança para aqueles que tiveram um determinado
papel em determinado tempo e que quando saem precisam que o estado lhes garanta
segurança, tranquilidade mas sobretudo dignidade”. Abel Chivukuvuku vai, aliás,
mais longe ao dizer que a questão das regalias previstas “é o menos importante”.
Ora
aí está. O líder da CASA-CE está reconhecido – só lhe fica bem, diga-se – ao
seu actual patrono (José Eduardo dos Santos) e esqueceu-se (o que é fácil) de
quem dele fez um homem: Jonas Malheiro Savimbi. Aliás, trata-se de um
agradecimento a quem o pôs a comer lagosta e o socorreu quando foi ferido.
Que
importa, afinal, que o MPLA tenha liderado o massacre de Luanda que visou o
aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil
angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula
Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na
CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda,
Eliseu Sapitango Chimbili?
Que
importa, afinal, que o MPLA tenha liderado o massacre do Pica-Pau em que, no
dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos,
foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em
Luanda?
Que
importa, afinal, que aviação do MPLA, em Junho de 1994, tenha bombardeado e
destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de
150 crianças e professores, e que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994,
tenha bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica
do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis?
Nada
disso importa. “O mais importante é – segundo Abel Chivukuvuku – transmitir
confiança, segurança e sobretudo dignidade para aqueles que desempenharam
determinadas funções”, e com isso “transmitir confiança ao país”.
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que, recentemente, afirmou que
em caso de vitória nas eleições de 2017, iria construir uma cadeia exclusiva
para gestores públicos do actual Governo, no quadro de um plano anticorrupção?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que, em Benguela, perante
centenas de militantes da CASA-CE e representantes da sociedade civil,
responsabilizou o Governo do MPLA, chefiado por José Eduardo dos Santos, pelos
20 milhões de pobres?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que considerava que existe um
fio condutor capaz de ligar a corrupção aos actuais níveis de pobreza,
referindo não ser sensato que se castigue o agente da polícia que pede uma
«gasosa» ao automobilista, enquanto o ministro se mantém impune?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que afirmou: “Vamos criar uma
polícia especial contra a corrupção como os sul-africanos tinham chamada
Scorpions, mas com ordens para começar a apanhar de cima, e vamos construir no Sumbe
uma cadeia especial para os mais velhos”?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que falava do colonialismo
doméstico e tecia duras críticas ao Governo devido ao que chamava de falta de
projecto de Nação?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que disse: “Agora são José
Eduardo dos Santos, Manuel Vicente, Kopelipa, colonialismo doméstico, e a
partir daí entrámos no tal ciclo de reprodução da pobreza: uns começaram a ter,
e são os novos colonos domésticos, e outros deixaram de ter porque são os
excluídos”?
Será
este Abel Chivukuvuku o mesmo Abel Chivukuvuku que dizia que “o mais grave das
nossas sociedades é o espírito de resignação voluntária do cidadão e ausência
do espírito de reivindicação?
*Diretor-adjunto
do Folha 8
1 comentário:
Bom dia ilustre. li atenciosamente no que esta publicado. agradeço por ter força de vontade em mostrar em publico no que tange no pais.
Eu ainda acredito que a CASA-CE é um dos afilhados do MPLA.
Tudo que o Abel falava e mostrava já não é o que se diz já não é o que se mostra, portanto precisamos de um verdadeiro dirigente para transformar angola em um verdadeiro pais mais não em um canteiro de obra a mais de 30 anos.
Por minha opinião José Eduardo dos Santos não merece regaria nenhuma. se assim for é para tranquilizar ou legalizar feito por eles e os seus elenco junto da sua família. se essa lei for aprovada estamos a legalizar o Roubo.
Por natureza não podemos desejar morte para ninguém. mais ele merece e quanto mais cedo for melhor para o povo angolano que tanto sofreu e obedeceu da sua própria morte.
Terrenos recebidos, casas destruídas desnecessariamente, crianças morrendo por militares do MPLA, é complicado. Mais o pais precisa de mudança.
TODILSON BRAVO
LUANDA-CACUACO
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