Ana
Alexandra Gonçalves*
James
Comey, ex-director do FBI, que acabou despedido por Donald Trump, enviou um
documento ao Comité dos Serviços de Inteligência que deixam a pior das imagens
do Presidente americano. De resto, torna-se impossível não se falar em
obstrução à justiça.
Por
mais do que uma vez Trump fez pressão sobre o director do FBI para deixar cair
as suspeições que envolviam a si à Rússia e sobre Mike Flynn, seu conselheiro.
Trump começava por falar em lealdade para se dirigir directamente a Comey para
que este deixasse cair a investigação que incidia sobre Mike Flynn. Nunca o
ex-director do FBI tinha falado tantas vezes com um Presidente americano.
Posteriormente,
Comey prestou declarações mais detalhadas no Comité dos Serviços de
Inteligência do Senado, onde não só afirmou que tomou notas do encontro com
Trump por acreditar que o Presidente pudesse mentir, como o acusou, de facto,
de difamação, a si como ao FBI. As declarações de Comey são demolidoras para
Donald Trump.
Depois
do que agora se sabe e depois ainda do afastamento apressado e atabalhoado do
director do FBI, será difícil para o Presidente americano fugir a acusações de
obstrução à justiça, o que por si só é particularmente grave.
As
relações desta Administração americana com a Rússia é suficiente questionar se
não haverá mesmo ingerência russa nos assuntos americanos, ingerência ou
tentativa de ingerência que vai para além da campanha que redundou na eleição
de Trump e que o próprio Comey afirmou não haver dúvidas do papel da Rússia nas
eleições de Novembro. Agora as afirmações do ex-director do FBI apontam no
sentido de pressões directas do Presidente americano, de mentiras e até de
difamação.
A
megalomania de Trump misturada com doses inauditas de mediocridade não poderiam
dar outro resultado que não fosse um conjunto de tentativas de exercer pressão
sobre quem estava à frente da investigação para que esta simplesmente morresse
antes de começar verdadeiramente. Não há subtilezas, matizes, discrição ou
discernimento. Existe simplesmente um homem medíocre e cheio de si próprio que
surpreendentemente (ou talvez nem tanto) chegou à presidência dos EUA. É tão
mau que as comparações com Nixon são profusas. Nixon demitiu-se antes da
destituição. E Trump?
*Ana
Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão
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