sexta-feira, 9 de junho de 2017

TRUMPALHADAS | Obstrução à Justiça



Ana Alexandra Gonçalves*

James Comey, ex-director do FBI, que acabou despedido por Donald Trump, enviou um documento ao Comité dos Serviços de Inteligência que deixam a pior das imagens do Presidente americano. De resto, torna-se impossível não se falar em obstrução à justiça.

Por mais do que uma vez Trump fez pressão sobre o director do FBI para deixar cair as suspeições que envolviam a si à Rússia e sobre Mike Flynn, seu conselheiro. Trump começava por falar em lealdade para se dirigir directamente a Comey para que este deixasse cair a investigação que incidia sobre Mike Flynn. Nunca o ex-director do FBI tinha falado tantas vezes com um Presidente americano.

Posteriormente, Comey prestou declarações mais detalhadas no Comité dos Serviços de Inteligência do Senado, onde não só afirmou que tomou notas do encontro com Trump por acreditar que o Presidente pudesse mentir, como o acusou, de facto, de difamação, a si como ao FBI. As declarações de Comey são demolidoras para Donald Trump.

Depois do que agora se sabe e depois ainda do afastamento apressado e atabalhoado do director do FBI, será difícil para o Presidente americano fugir a acusações de obstrução à justiça, o que por si só é particularmente grave.

As relações desta Administração americana com a Rússia é suficiente questionar se não haverá mesmo ingerência russa nos assuntos americanos, ingerência ou tentativa de ingerência que vai para além da campanha que redundou na eleição de Trump e que o próprio Comey afirmou não haver dúvidas do papel da Rússia nas eleições de Novembro. Agora as afirmações do ex-director do FBI apontam no sentido de pressões directas do Presidente americano, de mentiras e até de difamação.

A megalomania de Trump misturada com doses inauditas de mediocridade não poderiam dar outro resultado que não fosse um conjunto de tentativas de exercer pressão sobre quem estava à frente da investigação para que esta simplesmente morresse antes de começar verdadeiramente. Não há subtilezas, matizes, discrição ou discernimento. Existe simplesmente um homem medíocre e cheio de si próprio que surpreendentemente (ou talvez nem tanto) chegou à presidência dos EUA. É tão mau que as comparações com Nixon são profusas. Nixon demitiu-se antes da destituição. E Trump?

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

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