OS
PORTUGUESES PRECISAM DE SABER O QUE LHES ESTÁ A DESTRUIR A VIDA!
A
rede da maior fraude fiscal e de branqueamento de capitais detetada em Portugal
tinha Duarte Lima como cliente e serviu para lavar fortunas de governantes,
autarcas, banqueiros, empresários e atletas. Os tentáculos da rede encabeçado
pelo suíço Michel Canals chegam a Angola e podem arrastar agora uma
advogada e empresária portuguesa de sucesso: quem é Ana Oliveira Bruno e o que
é que o Ministério Público sabe sobre ela?
Há
uma face delicada, sofisticada e simpática na teia que o suíço
Michel Canals teceu desde Genebra para promover uma gigantesca fraude
fiscal e lavagem de fortunas que atingirá, numa dimensão sem precedentes, a
política, a banca, as empresas e o desporto nacionais. É uma face bonita, de
cabelos loiros e olhos azuis, ao mesmo tempo distante e intimista, que esconde
uma capacidade de trabalho invulgar e uma dedicação sem fissuras ao clã
familiar e profissional. Residente em Cascais, Ana Oliveira Bruno, 49 anos,
casada, três filhos, tem o marido a seu lado nos negócios e lidera a sociedade
de advogados que leva o seu nome, a partir de um luxuoso andar nas Amoreiras,
em Lisboa. Ali gere, apenas com a sua assinatura, uma porção das dezenas de
empresas das mais variadas áreas em que dá a cara, com destaque para o
imobiliário. (ver lista no final deste texto)
Para
uns, ela é a portuguesa em que os angolanos ricos e poderosos mais confiam para
administrar os seus investimentos. ara outros, é apenas a patroa do Sol, o
semanário que destapou o escândalo do “polvo” suíço. O jornal é detido pela
Newshold e a sociedade O Sol é Essencial, onde ela gere e representa, entre
outros, os interesses de ilustres e influentes senhores de Luanda, nem sempre
detetáveis à vista desarmada.
Os
investigadores que coordenam a Operação Monte Branco e desmantelaram, há dias,
a rede de Michel Canals têm, no entanto, outros motivos para seguir
os passos desta gestora. Quando puxaram o fio à meada terão descoberto, por
exemplo, que a advogada era cliente do antigo gestor de fortunas da União de
Bancos Suíços (UBS), em representação de investidores angolanos. Encontraram
também rasto de uma transferência de dinheiro para uma familiar de Ana Bruno,
depois de alegadamente branqueado no estrangeiro através dos esquemas
fraudulentos de Canals.
Outra
ligação da portuguesa ao antigo banqueiro suíço é mais recente e pode agora ser
encontrada entre Zurique e Berlim: desde março, Ana Bruno é presidente do
conselho de administração da sociedade imobiliária Acron Berlin Brandeburg
Internacional Airport que, como o próprio nome sugere, vai gerir, com o
parceiro Michel Canals, o hotel integrado no novo e moderno aeroporto da
capital alemã. A inauguração está prevista para a primavera do próximo ano. A
chairwoman foi eleita pelos acionistas, na assembleia geral extraordinária de
março, do grupo suíço Acron, especializado em investimentos imobiliários.
Principal
administrador e sócio de Ana neste empreendimento é precisamente o cabecilha
helvético da Akoya Asset Management. Através do seu porta-voz Jan Gregor, a
Acron confirmou à VISÃO estas informações, garantindo, porém, que o gestor
suíço e a advogada portuguesa não desempenham quaisquer cargos no grupo, além
dos já referidos. Gregor assegura, ainda, que a empresa não está “de forma
alguma ” envolvida nos acontecimentos que vieram a público, sobre os quais,
assinala, desconhece a profundidade.
SUÍÇA
LAVA MAIS BRANCO
Deixemos,
por agora, Ana Bruno ausente do País na última terça, 22, dia de fecho da
VISÃO, altura em que os nossos insistentes contactos e e-mails se revelaram
infrutíferos e recuemos uns dias para concentrarmos atenções em
Michel Canals. Na noite de quinta, 17, este cinquentão discreto estaria a
pensar em momentos descontraídos quando se instalou no luxuoso Sheraton, na
zona da Boavista, no Porto. Ao contrário da banda pop Coldplay, que também
escolhera o mesmo hotel na cidade antes do concerto no Estádio do Dragão, ele
não era um hóspede conhecido. Nem queria.
Refinara-se
na gestão de fortunas, ao longo de mais de três décadas, na poderosa UBS e
aprendera que os bons negócios são como pirilampos: brilham no escuro. Até esse
dia, ele e os seus sócios tinham, pois, razões para cantar “we live in a
beautiful world, yeah we do, yeah we do”, imitando o vocalista Chris Martin.
Mas baixinho. Sem fama nem holofotes a cegar os passos.
Canals,
Nicolas Figueiredo e José Pinto, os gestores da Akoya, todos homens com
currículo na UBS, de onde saíram em 2009, haviam, pois, reservado a
sexta-feira, 18, para um torneio no centenário Oporto Golf Club, em Espinho,
presidido pelo empresário Manuel Violas e onde Michel se inscrevera três anos
antes. O suíço, fluente em português, submetera-se, então, às regras apertadas
da casa: esteve quatro meses à experiência e passou pelo filtro de uma comissão
de admissão constituída pela direção e sócios mais antigos.
Foi
aceite. Mas entre o golfe e o golpe vai uma distância. Na verdade, o jeito do
trio para jogadas mirabolantes na gestão da riqueza alheia não era extensível
ao green: todos são federados, é certo, mas só Nicolas tinha um handicap de
nível respeitável.
Michel
estava a melhorar e Pinto não passava de um amador. Há uns anos, Canals já
levara a UBS a patrocinar um dia de tacadas, no campo de Paramos, reunindo
alguns ilustres da sociedade nortenha, com destaque para gestores, advogados e
diplomatas. Todavia, no último almoço de Natal do clube, Michel, em nome da
Akoya, ofereceu-se para patrocinar um torneio. Na sexta era o dia.
Havia
mais de 80 inscritos, entre os quais ex-governantes do cavaquismo, empresários
prestigiados, médicos de excelência e outros afortunados na vida. Nada, porém,
que levantasse suspeita: poderia a Akoya querer agradar a alguns amigos, mas o
método para angariar clientes funcionava na base do “boca a boca” e em sítios
mais reservados. O patrocínio, pouco mais de 3 mil euros, era também irrisório.
Deu-se,
contudo, “uma afortunada coincidência”, no dizer de quem conhece as escutas e
investigações em curso no Ministério Público sobre os gestores da Akoya:
seguidos há meses, os três estavam finalmente no mesmo sítio, à mesma hora, à
mão de semear. Canals, Figueiredo e Pinto foram, pois, detidos no hotel, na
véspera do torneio. Francisco Canas, o “Zé das Medalhas”, intermediário da
Akoya, referenciado na lista negra do Banco de Portugal por atividades ilícitas
em esquemas cambiais, foi detido em Lisboa quando se preparava para abrir a sua
loja de taças, troféus e… medalhas, precisamente.
A
operação foi desencadeada pelo Departamento Central de Investigação e Ação
Penal (DCIAP), em colaboração com a GNR e a inspeção tributária do Porto e
Braga. No Oporto Golf, na manhã seguinte, ainda havia quem desconhecesse as
buscas ao próprio clube sem sombra de pecado, ao que se sabe e estranhasse o
silêncio dos homens da empresa patrocinadora que, no final, deveriam entregar
os troféus. A sala de refeições, onde já estava tudo preparado para o almoço,
não tinha qualquer referência à Akoya.
BPN
AO BARULHO
Nessa
altura, já Canals e os seus cúmplices eram suspeitos de, a partir da
Suíça, encabeçarem uma rede de dimensão nunca vista em matéria de fraude fiscal
e branqueamento de capitais, que poderão rondar os 800 e os mil milhões de
euros. O quarteto seria uma verdadeira orquestra a “lavar” o dinheiro dos
clientes através de empresas fictícias, paraísos fiscais e diversas contas
bancárias. Parte dele terá passado pelo BPN IFI de Cabo Verde e transferido
para contas no Millennium BCP.
Nos
últimos dias, decorreram operações policiais em bancos e escritórios, sobretudo
entre Lisboa e Sintra. Vieram a público nomes conhecidos, supostamente
beneficiários dos esquemas da rede: Dias Loureiro, Oliveira e Costa e Álvaro
Sobrinho.
Os
dois primeiros na mira da Justiça, na sequência de investigações sobre o BPN.
O
terceiro contesta a suspeita de ilícitos criminais em esquemas de branqueamento
no caso BES/Angola. Paulo Fernandes, líder do grupo Cofina, também viria a ser
citado no esquema pelo jornal i, mas desmentiu.
Morais
Pires, quadro do BES, foi igualmente falado, mas um porta-voz do
banco lembrou, na imprensa, que nem todas as atividades relacionadas com
gestão de fortunas são ilícitas.
De
qualquer forma, estaremos ainda a lidar com uma pequena amostra do que poderá
ser o portfólio de clientes de Canals.
Na
lista, segundo referiram fontes ligadas à investigação, encontram-se atuais
governantes e autarcas, empresários de topo, atletas, altos-quadros do BES e
figuras relevantes do poder político e económico angolano. Centenas de nomes.
LIMA
NA ENGRENAGEM
A
detenção dos homens que operavam estes tentáculos a partir da Suíça a quem o
juiz de instrução Carlos Alexandre decretou prisão preventiva, com exceção de
José Pinto (caução de 200 mil euros) só foi possível porque a Operação Furacão,
visando uma megafraude fiscal com origem em engenharias financeiras entre
bancos, consultorias e advogados para poupar impostos a grandes empresários
portugueses, permitiu identificar os angariadores de clientes da rede.
O
avanço decisivo nas operações contou, depois, com a colaboração de um homem que
decidiu ser providencial por sua conta e risco, abrindo páginas secretas do seu
livro de contas e aproveitando para sossegar um pouco a própria pele: Duarte
Lima. Detido preventivamente no âmbito de um processo relacionado com o BPN, no
qual é suspeito de desviar 48 milhões de euros do fundo Homeland, participado
pelo próprio banco, para um projeto inexistente, o advogado terá ilibado o
filho de atos criminosos no caso e revelado ao MP aspetos desconhecidos das
suas relações com os líderes da rede da Akoya, desde os tempos em que aqueles
geriam fortunas portuguesas na UBS.
Embora
permaneçam por esclarecer os papéis representados por Lima na rede (angariação
de investidores, testa-de-ferro das aplicações e beneficiário dos esquemas da
teia de Canals, entre Hong Kong, Singapura e outras geografias
confortáveis), o ex-dirigente do PSD era um dos clientes da Akoya com direito a
telemóvel registado na Suíça para iludir as autoridades portuguesas e combinar
operações seguras. Terá sido esse mesmo aparelho a denunciá-lo, nas
investigações da polícia brasileira sobre o homicídio de Rosalina Ribeiro, a
secretária do milionário Tomé Feteira. Acusado do crime, Duarte Lima saberá, na
próxima semana, se vai a julgamento.
A
cumplicidade de Canals com o antigo deputado do PSD virá, entretanto,
do tempo em que ambos lidavam de perto com o industrial de Vieira de Leiria.
Segundo uma biografia disponível numa página financeira da internet, Michel
terá entrado na UBS em agosto de 1975, tendo, durante décadas, gerido várias
fortunas portuguesas.
Desde
os anos 90, pelo menos, que Canals controlava as aplicações e contas
suíças de Feteira e de Rosalina na UBS. Duarte Lima era outro “bom amigo ” que
o empresário apresentou, um dia, à sua secretária íntima, rogando-lhe que
confiasse no advogado, pois estaria “em boas mãos”. Canals e Lima
estreitaram a relação com Rosalina após a morte de Feteira, em 2000. O suíço
vinha com frequência a Portugal e Lima era tratado como um Deus pela
companheira do industrial falecido. Só por uma vez, o santo terá caído do
altar. “Duarte Lima, ou alguém por ele, obrigou a Dona Lina a assinar uma
procuração. Ameaçaram-na mesmo. Tanto que ela ficou sem falar durante uns dias
e caiu doente. Quando recuperou, contou: tinham-lhe dito que, se não assinasse
o documento, o Duarte Lima deixava de tratar das coisas dela.
Com
medo, assinou”, recorda quem, na vizinhança, acompanhou de perto os
sobressaltos desses dias, no 2º B da Rua Luciano Cordeiro, em Lisboa, onde
Rosalina viveu.
AS
EXIGÊNCIAS DE OLÍMPIA FETEIRA
Olímpia
Feteira, filha de Lúcio e cabeça-de-casal da herança, sabia que o pai mantinha
contas na Suíça desde os anos 40. Após a morte deste, e desconfiada de desvios
vultosos de dinheiro por parte de Rosalina, insistiu junto da UBS e de
Michel Canals no sentido de aceder aos saldos das contas.
Segundo
ela, o gestor recusou-se a entregar os extratos desde o primeiro momento em que
foram reclamados, em 2001, durante uma reunião na UBS em Zurique.
Só
dois anos depois, e após falharem todas as tentativas de protelar a sua
divulgação que incluíram alegadas pressões junto de funcionários da UBS em
Portugal, Canals acedeu às pretensões dos herdeiros de Feteira. O
saldo ascendia a quase 9 milhões de euros. Hoje, somados juros, ultrapassa, de
largo, os 11 milhões. Olímpia contesta, há vários anos, nos tribunais, os
termos de abertura de uma conta solidária entre Feteira e Rosalina, alegando
que a mesma terá sido aberta com a falsificação da assinatura do seu pai. O
Expresso falou do caso e o pretexto seria o desvio de verbas avultadas para
contas de Duarte Lima, Rosalina Ribeiro e outras figuras ainda não
identificadas. No esquema estará incluída a célebre transferência de quase 5
milhões da secretária de Feteira para o advogado e que estariam na motivação do
crime de Saquarema, no Brasil, cuja autoria é atribuída a Lima. O
desmantelamento da rede de Canals pode dar um impulso significativo
para a descoberta desta história e de outras recheadas com dinheiro de Feteira.
Além disso, talvez se faça luz sobre obscuros relatos de malas de dinheiro vivo
que Michel viria amiúde buscar a Portugal.
Enquanto
isso, Duarte Lima pode dormir mais confortável, embora atrelado à pulseira
eletrónica com que foi mandado para casa, na última sexta-feira, com evidente
desconforto do juiz Carlos Alexandre, que terá considerado a medida
precipitada.
Nem
Rogério Alves, advogado de Lima, nem Rosário Teixeira, o procurador do MP,
assumem a troca de favores. Se as informações de Lima sobre os responsáveis da
Akoya tiveram como contrapartida o regresso condicionado ao “lar doce lar”,
isso ficará por desvendar. Já a rapidez com que tal foi decidido fugirá às
práticas habituais. “Sempre que possível”, alega Luís Couto, subdiretor-geral
da Direção-Geral de Reinserção Social, aquela entidade “responde de imediato às
solicitações dos tribunais.
Este
é um desses casos.” No entanto, fontes ligadas ao processo estranham que o
relatório técnico solicitado pelo tribunal para fundamentar a execução da
pulseira eletrónica tenha sido enviado em menos de 24 horas quando a média é de
cinco ou sete dias, no caso de presos menos mediáticos. Quase mudo e em passada
rápida, Lima ignorou os jornalistas à porta do prédio da Visconde Valmor e nem
olhou para trás: aproveitou para iniciar a prisão domiciliária no seu
requintado apartamento, para cuja aquisição contraiu empréstimos junto do BPN e
da Caixa Geral de Depósitos. A mensalidade da hipoteca será de 12 mil euros por
mês, mas Lima estará em falta com os pagamentos desde janeiro, sem que qualquer
dos bancos o tenha acionado judicialmente por incumprimento, executando a
dívida.
O
PRINCÍPIO DO FIM?
A
queda de Canals e a descoberta dos esquemas da Akoya talvez não
fossem possíveis sem o empurrão de Lima. Mas Michel e os seus companheiros
aguentaram-se bem e com proveito neste trapézio financeiro.
E
sem dar nas vistas. Gestor e empresário experimentado, com passagens pela
Nestlé e grupos de media suíços, Canals acumulara poder e influência
sem se olhar muito ao espelho. Liderou programas universitários na Universidade
de St. Gallen e foi membro de um grupo de pressão política mundial, o Global
Leadership Foundation, que também embeleza o currículo do Presidente da
República, Cavaco Silva. Na UBS, o gigante bancário que chegou a ter 8 milhões
de clientes em 52 países antes de se estatelar ao comprido no “casino” de Wall
Street,Canals chegou a diretor executivo.
Em
2003, em declarações à Swissinfo, desmontava o mito das “contas anónimas” na
Suíça, explicando que havia sempre lugar à identificação do cliente, mesmo nas
mais sigilosas. “Quando o possuidor de uma conta especial numerada chega ao
banco, é recebido pelo gestor, que é o único a saber a sua identidade.
Atendemos essa pessoa em salas especiais e atendemos os seus desejos”,
explicava.
Terão
sido procedimentos idênticos que Canals importaria para a Akoya e
teria dispensado aos clientes portugueses que conhecera na UBS. Por ora, não se
sabe se terá usado o mesmo charme com Ana Bruno quando, alegadamente, a incluiu
nas engenharias da sua empresa gestora de fortunas em representação de clientes
angolanos. Num País tamanhinho como Portugal, e frequentando Michel e Ana os
gabinetes e corredores do poder político e financeiro, é possível que, alguma
vez, os universos se tenham tocado e encontrado.
Mas
se os clientes de Canals surgem ainda a conta-gotas, o percurso de
Ana Bruno é relativamente escrutinável quanto às afinidades, negócios e
cumplicidades, apesar da ligação a várias figuras polémicas. Com Angola sempre
em fundo.
Ela
conhecerá bem todas as pessoas decisivas que gravitam em torno de José Eduardo
dos Santos, em especial António Maurício, “vice” executivo da fundação com o
nome do Chefe de Estado angolano, administrador da Construtora do Tâmega e,
supõe-se, acionista da Newshold.
A
advogada começou a notar-se no final dos anos noventa. Foi sócia da Amostra, a
empresa de estudos de mercado liderada por Paulo Portas e através da qual o
atual ministro de Estado terá recebido o célebre Jaguar. O gerente da empresa
era o maçon José Braga Gonçalves, condenado a sete anos e meio de prisão, no
Caso Moderna, figura com quem Ana Bruno ainda partilhou a estrutura acionista
na sociedade Construções do Leste, Lda.
A
empresária é hoje íntima das famílias Horta e Costa e Champalimaud, partilhando
a gestão de algumas empresas ligadas ao turismo e imobiliário com ilustres
membros dos respetivos clãs. Luís Horta e Costa é talvez o caso mais saliente:
ambos dividem a administração do resort de luxo Vale do Lobo, no Algarve,
presidido por Diogo Gaspar Ferreira, da direção de José Roquette no Sporting,
antigo diretor da TVI e parceiro dos dois noutros negócios.
Luís
Horta e Costa é ainda gestor da ESCOM, empresa do Grupo Espírito Santo (GES) e
um dos maiores investidores privados em território angolano. Foi recentemente
absolvido no Caso Portucale, onde vieram à baila financiamentos partidários e
tráfico de influências. O gestor e o GES foram ainda citados em documentos do
Ministério Público alemão relacionados com o caso das comissões ilegais na
compra de submarinos para o Estado português.
O
mesmo aconteceu com outro amigo e sócio de Ana Bruno em empreendimentos
imobiliários: Hélder Bataglia, presidente da ESCOM, administrador do BES/Angola
e “número dois” da sociedade angolana LUO, ligada à extração de diamantes.
Junte-se
ainda ao rol de amigos José Jacinto Iglésias, natural de Luanda e administrador
da Fundação Millennium BCP, com quem a empresária também geriu uma empresa, e
José Marquitos, ex–administrador da RTP e da SONAE, agora integrado no universo
Newshold.
Ana
Bruno tem também relações amistosas com Álvaro Sobrinho, arguido no caso de
desvio de fundos do Banco Nacional de Angola através do BES de Luanda, em que
se apuram suspeitas de associação criminosa e branqueamento de capitais.
Nesta
fase, a advogada portuguesa já saberá que será ouvida como arguida num processo
lateral ao do BES/Angola que visa averiguar eventuais “lavagens” de quase 10
milhões de euros, no empreendimento de luxo Estoril-Sol Residence.
Ana
chamou ainda a atenção do Ministério Público quando, em março deste ano, foi
noticiada a venda da histórica Quinta da Foz, no Douro, propriedade da família
Calém, por 4 milhões de euros.
A
compradora foi a sociedade Vinango, da qual ela é única administradora.
Agora,
a gestora despachada, divertida e incansável aparecerá ligada à rede milionária
e fraudulenta de Michel Canals, com quem partilha a estrutura acionista da
sociedade que vai gerir a unidade hoteleira do futuro aeroporto de Berlim.
Ele,
pelo menos, é duvidoso que o faça. Detido preventivamente desde a passada
semana, espera-o um longo e atribulado processo. Os telefones da Akoya
silenciaram-se.
O
site, no qual eram referidos as atividades legais de gestão de fortunas e os
parceiros de negócios como o Espírito Santo Bankers, do Dubai, foi, entretanto,
desativado. Monica Reist Kodder, outra das acionistas da empresa, não teve
intervenção direta em Portugal, mas desapareceu do mapa. No segundo andar de um
prédio no centro de Genebra, um repórter do Tribune de Genève encontrou, na
última segunda-feira, a porta fechada. Os escritórios tinham a caixa de correio
cheia, com faturas e um velho exemplar do Le Temps a deitar por fora. Há vários
dias que os dentistas que se cruzavam nos corredores com os colaboradores da
sociedade de Michel Canals não vislumbram vivalma. O único sinal de
vida é dado por um buquê de flores destinado à Akoya Asset Management, colocado
nessa mesma segunda-feira na porta, como num túmulo. Resta saber quem acompanha
o cortejo fúnebre.
Lista
de empresas
1
– SOCIEDADES SEDIADAS NA TORRE 3, 9.º, DAS AMOREIRAS
Ana
Oliveira Bruno & Associados
Sociedade
de advogados
Newshold,
SGPS, SA
(Atividades
das SGPS não financeiras)
Presidente
do CA
Propriedade
da Pineview Overseas, SA (91,2%), do Panamá
Newshold
Consulting, Unipessoal, Lda
Edição
de publicações
Administradora
One
Advice, Lda (temporariamente inativa)
(Consultoria)
Sócia-gerente
Astington
Services, SA
(Compra
e venda de propriedades)
Administradora
única
Expanding
Dreams, Unipessoal, Lda
(Consultoria)
Administradora
única em nome de Brink International, Ltd, nas Ilhas Virgens Britânicas
Terraço
nas Escolas – Imobiliária, SA
Administradora
única
NWinebar
Pessoal, Lda
(Restauração)
Administradora
única em nome da Newshold, SGPS, SA
Novo
Conteúdo, SA
Agências
de publicidade
Presidência
do CA
NWrite,
SA
(Marketing,
Comunicação e Estratégia)
Administradora
única
Ruby
Lake, Unipessoal, Lda
(Consultoria)
Administradora
única em nome de Ruby Lake Holdings, Ltd, nas Ilhas Virgens Britânicas
Greenvestra
Lisboa Invest, Unipessoal, Lda
(Consultoria)
Administradora
única em nome de Vestra Invest Ltd, nas Ilhas Virgens Britânicas
For
Arts Sake, Unipessoal, Lda
(Artigos
em segunda-mão)
Administradora
única (empresa mãe não identificada, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas)
Greyhall
Investimentos Unipessoal, Lda
Administradora
única em nome de Cillbridge, Lda, nas Ilhas Virgens Britânicas.
Investattitude,
SA
(Consultoria)
Administradora
única
Investholding,
SGPS, SA
(Atividades
das SGPS não financeiras)
Administradora
única
Imoguadiana
– Empreendimentos Imobiliários, SA
Presidente
da AG
Turpart
SGPS, SA
(Atividades
das SGPS não financeiras)
Administradora
Merbeka,
Unipessoal, Lda
(Compra
e venda de imóveis)
Administradora
única em nome de Rebbeck Holding, SA, no Panamá
PCMS
– Private Consulting and Management Services, SA
Administradora
única
Vinango
– Investimentos e Participações, SA
(Viticultura)
Administradora
única
Grunberg
Portugal, Unipessoal, Lda
(Compra
e venda de imóveis)
Administradora
única em nome de Grunberg Investments, Ltd, nas Ilhas Virgens Britânicas
Horizonte
Estratégico, SA
(Compra
e venda de imóveis)
Administradora
única
Lesseps
Investments, SA
Compra
e venda de imóveis
Administradora
única
Paredes
Meias – Gestão, Urbanização e Promoção Imobiliária, Lda
Procuradora
(Miguel Nuno Horta e Costa é o sócio-gerente e a Breysse Capital Corporation a
principal acionista)
Seapart
– Investimentos e Participações Sociais, SA
Administradora
única
Totalmente
imóvel – Administração imobiliária, SA
Administradora
única
Ocean
Latitude, SA
(Comércio
por grosso de máquinas, equipamento industrial, embarcações e aeronaves)
Administradora
única
Searchouse,
Imobiliária, Unipessoal, Lda
Gerente
em nome de Bordel Investment Holdings Ltd (origem não identificada)
Redcliff
– Sociedade Imobiliária, SA
Administradora
única
Semperfield
Investments, Unipessoal, Lda
(Compra
e venda de propriedades)
Gerente
em nome de Semperfield Overseas Pte. Ltd, com sede em Singapura
Super
Limite, Unipessoal, Lda
(Compra
e venda de imóveis)
Administradora
(Hélder José Bataglia, da ESCOM, detém a totalidade do capital).
Telhados
do Tejo, Imobiliária, SA
Administradora
única em nome da Keahey Holdings, Ltd (origem não identificada)
2
– OUTRAS EMPRESAS
O
Sol é Essencial, SA
Edição
de jornais
Presidente
do CA
O
Sol é Essencial II – Publicações Unipessoal, Lda
Edição
de Jornais
Administradora
única
Acron
Berlin Brandenburg International Airport
Presidente
da CA (Michel Canals é administrador)
Lxtejo
– Investimentos Imobiliários, SA
Presidente
do CA
Vale
do Lobo – Resort Turístico de Luxo, SA
Administradora
Administradora
Printer
Portuguesa – Indústria Gráfica, SA
Presidente
do CA (Bertelsmann Portuguesa, SGPS, Lda é a detentora do capital)
RHC
Consulting – Advisory Services
Sócia
Invesfox
– Gestão de Imóveis e Representações, SA
Vogal
da AG
Domuslisboa
– Sociedade Imobiliária, SA
Administradora
3
– EMPRESAS DISSOLVIDAS OU EM INSOLVÊNCIA
Amostra
– Estudos de mercado, Lda
Gestora
(José Braga Gonçalves, condenado no caso Moderna, era o gerente)
Alcantara
Media – Comunicação, SA
Presidente
da AG
Bigas
Bello – Sociedade Imobiliária, Unipessoal, Lda
Administradora
única
Build
a Music, Lda
(Produção
de obras musicais, espetáculos, eventos)
Gerente
Castilho
63, Sociedade de Gestão de Imóveis, Lda
Gerente
em nome da Southern Cross Business Inc e da New Ventures Corp (subsidiária da
Enron), com sede em Delaware
Chez
Toi – SGPS, SA
(Atividades
de crédito)
Administradora
única
José
M. Vaz Pereira, SA
(Produtos
químicos)
Presidente
da AG
Nova
Comunicação Essencial, Lda
(Edição
de jornais)
Administradora
em nome da Newshold, SGPS
Paço
da Realeza – Sociedade de Consultoria e Gestão de Imóveis, SA
Presidente
do CA (A empresa é propriedade da Pinkcast, Ltd, de Londres)
Quinta
dos Inglesinhos, Sociedade Imobiliária, Lda
Sócia
em representação de Shenda Invest Corp, nas Ilhas Virgens Britânicas
Isaytalt
– Sociedade de Consultoria e gestão de imóveis, SA Administradora única
Audifirb,
Contabilidade, Auditoria e Fiscalidade, Lda
Administradora
CL
– Construções do Leste, Lda
Sócia,
com José Braga Gonçalves
Handsteps,
SA
(Indústria
de calçado de senhora)
Presidente
do CA
Lisbon
Properties, LPGI – Sociedade de Gestão de Imóveis
Administradora
única em nome de Foxcroft Trading Limited, nas Ilhas Virgens Britânicas
Lunenburg
Investments, SA
(Compra
e venda de imóveis)
Administradora
(O presidente do CA era José Jacinto Iglésias, atual administrador da Fundação
Millennium BCP)
Telhados
do Mundo, Unipessoal, Lda
(Construção)
Administradora
única em nome de Pongrett International Limited, nas Ilhas Virgens Britânicas
4
– EMPRESAS FUSIONADAS
Gullwing,
SA
(Consultoria)
Administradora
A
Céu Aberto, Campismo e Caravanismo em Parques, Lda
Administradora
única em nome de Foxcroft Trading Ltd, nas Ilhas Virgens Britânicas
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