segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Consumo na mira | GOVERNO MOÇAMBICANO VAI AUMENTAR IMPOSTOS



Jornal de Notícias | Editorial

O Governo decidiu, esta semana, avançar com uma proposta legislativa que preconiza um conjunto de medidas económicas destinadas a proteger o mercado, estimular novos investimentos, incentivar o consumo de matéria-prima local, alargar a base tributária e criar mais emprego para os cidadãos.

A nossa percepção é que se trata de uma decisão que está alinhada ao objectivo de promover a transformação dos recursos naturais em bens e serviços capazes de fazer diferença na vida das comunidades, e influenciar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Na essência, a proposta convida à actualização das taxas de Imposto sobre Consumos Específicos (ICE), que tributa de forma selectiva, com taxas que variam de 15 a 75 por cento, o consumo de determinados bens produzidos no território nacional ou importados, alguns dos quais considerados de luxo, supérfluos ou nocivos à saúde, a exemplo do álcool, tabaco e viaturas.

Além deste nível de tributação, a proposta elimina a isenção de impostos na importação do peixe carapau congelado, sobre o qual passa a incidir uma taxa geral de 20 por cento. A leitura que se pode fazer desta decisão, em particular, é que precisamos de apostar mais nos recursos que temos, sendo verdade que o país possui uma longa costa com mais de 2700 quilómetros de extensão, e abundantes águas interiores capazes de fornecer peixe de variada espécie para consumo interno, e até para exportação.

Agravando a sobretaxa na importação de cimento Portland, de 10,5 para 20 por cento, o Governo tem em vista proteger a indústria cimenteira nacional que, embora já tenha dado mostras de incapacidade quando o assunto é satisfazer a demanda interna em momentos de grande procura, precisa adaptar-se às circunstâncias para merecer confiança do mercado.

Na verdade, julgamos ser razoável que o Governo use dos meios ao seu alcance para proteger a indústria nacional, objectivo que está também reflectido na proposta de introduzir sobretaxas na importação de condutores eléctricos, considerando que o país tem a funcionar unidades industriais vocacionadas.

É natural que este pacote de medidas não tenha encontrado acolhimento em todas sensibilidades da nossa sociedade. Ouvimos, por isso, vozes contestando, por exemplo, o fim da isenção de impostos na importação do carapau, mas também ouvimos vozes discordantes em relação ao desencorajamento da importação de viaturas com mais de sete anos de uso, e tributação daquelas com até mil centímetros cúbicos de cilindrada, que até então estavam isentas de impostos.

Entendemos como natural que decisões desta natureza não colham o consenso de todos, apesar do enorme potencial que têm de solucionar problemas com que as comunidades se debatem, e para os quais nunca foram adoptadas soluções efectivas e sustentáveis.

Importante, nesta fase, seria reconhecer-se que faltou eficácia na comunicação à volta deste assunto, o que quanto a nós pode explicar as disparidades a que assistimos na interpretação da medida.

Há-de convir que ao pretender desencorajar a importação de viaturas com mais de sete anos o Governo não visa senão a protecção do cidadão que, vezes sem conta, investe suas economias ou até recorre à banca para financiar a aquisição de uma viatura que não chega a resolver os problemas de mobilidade que determinaram a sua compra.

Todos sabemos da precariedade do sistema de transporte público no nosso país, mas a solução para este problema certamente que não está em todos e cada um ter a sua viatura particular, mesmo porque nem todos cidadãos têm esta capacidade de compra.

O Governo tem razões de fundo para decidir pela alteração do Imposto de Consumos Específicos e desencadear todo este conjunto de medidas que, certamente, vão mexer com a vida do cidadão e exigir dele uma postura diferente. Exige-se que os cidadãos adoptem hábitos e estilos de vida mais consentâneos com os seus rendimentos.

Não haverá, acreditamos, qualquer interesse do Governo de prejudicar a população, em particular os cidadãos de baixa renda. Há, pensamos, um convite ao trabalho abnegado, à valorização dos nossos recursos e à protecção do cidadão. São decisões cuja implementação vai exigir o esforço de todos, com maior ou com menor dificuldade, mas que seguramente há-de valer a pena.

Título PG

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