terça-feira, 3 de outubro de 2017

DOMINAR A PRODUÇÃO ENERGÉTICA NO MUNDO…


DOMINAR A PRODUÇÃO ENERGÉTICA NO MUNDO, UM OBJECTIVO JAMAIS ALCANÇADO PELA HEGEMONIA UNIPOLAR

Martinho Júnior | Luanda 

Em resultado do colapso da URSS em 1992, a Rússia esteve em vias de perder o sector energético a favor dos interesses da hegemonia unipolar correspondentes aos interesses de domínio da aristocracia financeira mundial.

Com a entrada do século XXI o governo de Putin respondeu às pressões intestinas de carácter neoliberal, concentradas na petrolífera “Yukos”, no banco Menatep, em Mikhail Khodorkovsky e na “Open Russia Foundation” e seus derivados, (entre eles alguns partidos de tendência neoliberal), conforme ilustrei em tempo no ACTUAL nº 376, de 20 de Dezembro de 2003.

Figuras como George Soros manipulavam na sombra, num processo subversivo, corrosivo e tentacular, explorando o êxito do tandem Gorbatchov – Ieltsin e resistindo depois de sua saída do poder. 

A Rússia desmantelou no início do século XXI as pretensões neoliberais com o presidente Putin à cabeça das respostas e esse tipo de expedientes é um aviso para os grandes produtores globais de petróleo, até por que a energia é uma questão fulcral no quadro das tensões entre a hegemonia unipolar e a emergência multipolar (mais agora com a decisão da criação da nova Rota da Seda, ao longo de toda a Eurásia).

Os sangrentos conflitos em cadeia no Médio Oriente, onde o caos, o terrorismo e a desagregação têm tido o maior espaço e deriva, a pressão dos Estados Unidos sobre a Venezuela Bolivariana (por tabela sobre a América Latina) reeditando o Condor e toda a geoestratégia global da hegemonia unipolar, reflectem o poder instrumentalizado por via do “lobby” estado-unidense do petróleo e do armamento, que por outro lado também opera por via financeira, tirando partido do papel internacional do petrodólar.

Grande parte dos cenários sócio-políticos dos estados que têm a produção de petróleo e gás no eixo de sua economia, reflectem em “geometria variável” essas pressões, que por vezes atingem as próprias empresas nacionais do ramo e alimentam o ambiente sócio-político do país-alvo.

É claro que, além do Médio Oriente, a Venezuela Bolivariana, que detém as maiores reservas globais de petróleo, havia de ser um dos alvos mais apetecíveis...

Em Angola, durante o choque e depois durante a terapia neoliberal (ainda em curso), as tendências neoliberais têm vindo até há pouco tempo a ser de tal modo enfáticas em relação à SONANGOL, que a levaram à beira da falência técnica, precisamente no momento em que a crise de preços explodiu.

Essas tendências neoliberais integraram uma parte das novas elites angolanas, agenciadas e ávidas desse tipo de procedimentos, refinando o “cabritismo”, pondo de lado o patriotismo e engrossando as fileiras dos mercenários em nome de malparadas “parcerias”.

O saneamento em curso, assim como a introdução de medidas correctivas e de rigor no estado e a partir dele, tem reflexos sócio-políticos de algum vulto, pois uma parte das novas elites angolanas, a parte oportunista e neoliberal, alimentou a espectativa do camarada presidente José Eduardo dos Santos voltar a candidatar-se, para realizar a deriva para uma oposição que tinha todas as baterias montadas para esse embate, artificiosamente de feição.

A clarividência patriótica do camarada presidente José Eduardo dos Santos soube colocar-se face aos fenómenos mais impactantes da terapia neoliberal desencadeada e tendo Angola como alvo.

Alguns membros dessa malparada nova elite mercenária em projecto de cristalização, os candidatos a “Khodorkovsky locais”, ausentaram-se sorrateiramente para outras paragens no período eleitoral, agora estão de regresso e dispostos, em mais uma prova de oportunismo, às práticas de exaltação, triunfalismo ou aplauso, recursos barrocos e sem a substância de que tanto carecem o MPLA e o estado angolano.

Outros foram abandonando “pro tempore” as práticas “activistas” de rua e “configuraram-se”, acotovelando-se numa “coligação mágica”, sintomaticamente amarelada (ela é amarela noutras similares também em muitas outras partes do mundo), deixando os “revús” pendurados entre os jogos de cintura… à espera dos próximos “embates” e disponíveis a responder à voz do dono, que é para isso que existem USAID, National Endowment for Democracy, a Open Society e o enxame de afins…

O puxão de tapete foi de tal ordem, que até os instrumentos de ingerência, manipulação e“transmissão” que integram a “via aberta” da inteligência económica portuguesa, que são o Bloco de Esquerda e certas franjas do Partido Socialista Português (entre outros que cristãmente têm primado pelo segredo do negócio, em  discreto silêncio), até ver estão “mudos e quedos que nem penedos”!…

Martinho Júnior, Luanda, 30 de Setembro de 2017.

A PETROLÍFERA “YUKOS” ENQUANTO UM FALÍVEL “CAVALO DE TRÓIA”

Em simultâneo à jogada geoestratégica dos americanos do “lobby” do petróleo, tirando partido da aristocracia financeira mundial de que faz parte integrante, no Cáucaso, não passou despercebida a situação de “volte face” do presidente russo Vladimir Putin em relação à quinta maior empresa petrolífera do mundo, a “Yukos”, que levou à prisão, a 25 de Outubro de 2003, do seu director executivo Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações, entre elas as de fraude e fuga ao fisco.

A decisão, que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail Khodorkovsky apoia partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases de apoio externas do poder hegemónico e por dentro dos processos e interesses da aristocracia financeira mundial no quadro da “globalização”, era um sinal de que o presidente russo procura parar a fragilização dos interesses nacionais num sector vital para o seu país, fragilização essa que havia influenciado negativamente, segundo a visão geoestratégica do estado da Rússia, na crítica região do Cáucaso.

De facto, a 3 de Novembro de 2003, a “BBC” publicava o perfil de Mikhail Khodorkovsky, um magnata russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil milhões de USD, apoiante dos Partidos “Yabloco” e o “União das Forças de Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro, qualquer deles de tendência liberal, que participaram nas eleições russas de princípios deste mês, não fazendo alguma vez segredo disso.

A “BBC” referia também que o apoio financeiro fornecido àqueles partidos por parte da Empresa petrolífera, feria o seu papel na sociedade.

Por outro lado, Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão multipolar do poder económico em contraste com as pretensões que a aristocracia financeira mundial sustenta, ao concentrar seus interesses num poder hegemónico unipolar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos” oligarcas russos, cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço desses interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se aproximava a atmosfera das eleições.

A CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à decisão do presidente russo:

A 4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava que “o governo russo sob as ordens de Vladimir Putin, estava-se rapidamente a mover na direcção errada”, pois interpretava a prisão de Khodorkovsky como uma amostra do que “aos olhos do Kremlin, havia o pior dos crimes – o apoio à oposição política do presidente Putin e um centro de poder alternativo que era interpretado como uma ameaça ao controlo político supremo do Kremlin”.

O Senador John McCain concluía: “é tempo de enviar um sinal ao governo do presidente Putin, que uma atitude não democrática, excluirá a Rússia da companhia das democracias ocidentais”.

O Departamento de Estado, encetando contactos com os russos, obtiveram a confirmação do ponto de vista russo:

“É evidente que há um factor político aqui, que se tornou no factor crítico, de acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo menos por agora”.

Desse modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito abertas e agressivas”, incluindo apoios a partidos políticos e à direcção duma fundação de apoio à democracia e à sociedade civil, representou “uma ameaça à autoridade do estado”, apesar do estado russo pretender manter o quadro dos seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos, continuando a implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso .

As acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se extensivas para além da“Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10 de Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje, implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício de bancos como o “J. P. Morgan” Chase”, o“Banco de Nova York”, o “Citibank”, o “Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o“Danier”, o “Ruegg SG”, ou o “Helenic Bank”, entre outros.

A 28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir de investigações levadas a cabo pela Polícia sobre delegações na Suiça do “Menatep  SA”, “Menatep Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.

Platon Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano, sob a acusação de sonegar interesses do estado durante a privatização levada a cabo em 1994, duma empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de Milhail Khodorkovsky.

Ao estado russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail Khodorkovsky era muito mais de que o dum director executivo duma empresa estratégica com as dimensões da“Yukos”, até por que ele não procurou evitar o choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal“Moskovskiye Novosti” que colocou sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do presidente.

De facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geoestratégia do poder hegemónico , tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os interesses estratégicos no sentido da multipolarização do poder económico “global” ficavam em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava para comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do presidente Vladimir Putin e fragilizando a estratégia russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se esclarecerem em rescaldo, os papeis e o sinal da aliança de James Baker com George Soros, tendo como dinâmica os interesses do poder hegemónico em relação ao petróleo no leste da Europa e no Cáucaso.

Desde que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky (e, com isso se inviabilizou a compra da“Yukos” pela “Exxon Mobil”), que as suas cotações na Bolsa desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC, a 12 de Novembro de 2003 (imagine-se quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos seus “negócios de especulação” pela via dos seus expeditos processos de ingerência).

A comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente alinhado com os interesses da aristocracia financeira mundial, (que é determinante na nova revolução capitalista, como o é do exercício do poder hegemónico norte americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e inspiração de George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open Rússia Foundation” em 2001, “uma organização internacional , independente e de caridade, operando como doadora privada” e“apoiando instituições académicas e as organizações não lucrativas”.

A “Open Russia Foundation” é uma organização que está a captar a fina flor dos cérebros russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com objectivos filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos países desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento, para engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).

É sintomático que, para além de Milhail Khodorkovsky, o “board of trustees” da “Open Rússia Foundation” seja formado por personalidades como Henry Kissinger, ou Lord Jacob Rothschild, este último o decano da poderosa família que gravita acima de George Soros, entre outros.

Parece não ter havido surpresa por parte das autoridades russas, quando George Soros, precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de Novembro de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de 2003), criticou a prisão de Mikhail Khodorkovsky:

“Está-se agora a entrar numa fase de capitalismo de estado, em que todos os detentores de capital terão de ficar dependentes do estado”…

… E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e o “The St. Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens vestidos de camuflado invadiram os escritórios da Open Society do bilionário George Soros, não deixando sair os seus funcionários e levando todo o equipamento e documentos num camião fechado , de acordo com um advogado da instituição” (Pavel Kuzman).

Os referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da empresa proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio por causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em relação ao regime de aluguer e de compra, acordados para o nº 8 Ozerkovskaya Naberetzhnaya, em pleno centro de Moscovo.

Se George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard Chevardnadze pela via da“Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em ascensão nas eleições da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia, em oposição a Vladimir Putin, com “módulos” de actuação em tudo similares, foram aparentemente muito importantes, mesmo que não sejam apresentadas a público estimativas financeiras.

Link do “Open Russia Foundation Board of Trustees” – http://archive.li/jjlgx#selection-349.0-509.215

Sem comentários:

Mais lidas da semana