DOMINAR
A PRODUÇÃO ENERGÉTICA NO MUNDO, UM OBJECTIVO JAMAIS ALCANÇADO PELA HEGEMONIA
UNIPOLAR
Martinho Júnior | Luanda
Em
resultado do colapso da URSS em 1992, a Rússia esteve em vias de perder o
sector energético a favor dos interesses da hegemonia unipolar correspondentes
aos interesses de domínio da aristocracia financeira mundial.
Com
a entrada do século XXI o governo de Putin respondeu às pressões intestinas de
carácter neoliberal, concentradas na petrolífera “Yukos”, no banco
Menatep, em Mikhail Khodorkovsky e na “Open Russia Foundation” e seus
derivados, (entre eles alguns partidos de tendência neoliberal), conforme
ilustrei em tempo no ACTUAL nº 376, de 20 de Dezembro de 2003.
Figuras
como George Soros manipulavam na sombra, num processo subversivo, corrosivo e tentacular,
explorando o êxito do tandem Gorbatchov – Ieltsin e resistindo depois de sua
saída do poder.
A
Rússia desmantelou no início do século XXI as pretensões neoliberais com o
presidente Putin à cabeça das respostas e esse tipo de expedientes é um aviso
para os grandes produtores globais de petróleo, até por que a energia é uma
questão fulcral no quadro das tensões entre a hegemonia unipolar e a emergência
multipolar (mais agora com a decisão da criação da nova Rota da Seda, ao longo
de toda a Eurásia).
Os
sangrentos conflitos em cadeia no Médio Oriente, onde o caos, o terrorismo e a
desagregação têm tido o maior espaço e deriva, a pressão dos Estados Unidos
sobre a Venezuela Bolivariana (por tabela sobre a América Latina) reeditando o
Condor e toda a geoestratégia global da hegemonia unipolar, reflectem o poder
instrumentalizado por via do “lobby” estado-unidense do petróleo e do
armamento, que por outro lado também opera por via financeira, tirando partido
do papel internacional do petrodólar.
Grande
parte dos cenários sócio-políticos dos estados que têm a produção de petróleo e
gás no eixo de sua economia, reflectem em “geometria variável” essas
pressões, que por vezes atingem as próprias empresas nacionais do ramo e
alimentam o ambiente sócio-político do país-alvo.
É
claro que, além do Médio Oriente, a Venezuela Bolivariana, que detém as maiores
reservas globais de petróleo, havia de ser um dos alvos mais apetecíveis...
Em
Angola, durante o choque e depois durante a terapia neoliberal (ainda em
curso), as tendências neoliberais têm vindo até há pouco tempo a ser de tal
modo enfáticas em relação à SONANGOL, que a levaram à beira da falência
técnica, precisamente no momento em que a crise de preços explodiu.
Essas
tendências neoliberais integraram uma parte das novas elites angolanas,
agenciadas e ávidas desse tipo de procedimentos, refinando o “cabritismo”,
pondo de lado o patriotismo e engrossando as fileiras dos mercenários em nome
de malparadas “parcerias”.
O
saneamento em curso, assim como a introdução de medidas correctivas e de rigor
no estado e a partir dele, tem reflexos sócio-políticos de algum vulto, pois
uma parte das novas elites angolanas, a parte oportunista e neoliberal,
alimentou a espectativa do camarada presidente José Eduardo dos Santos voltar a
candidatar-se, para realizar a deriva para uma oposição que tinha todas as
baterias montadas para esse embate, artificiosamente de feição.
A
clarividência patriótica do camarada presidente José Eduardo dos Santos soube
colocar-se face aos fenómenos mais impactantes da terapia neoliberal
desencadeada e tendo Angola como alvo.
Alguns
membros dessa malparada nova elite mercenária em projecto de cristalização, os
candidatos a “Khodorkovsky locais”, ausentaram-se sorrateiramente para
outras paragens no período eleitoral, agora estão de regresso e dispostos, em
mais uma prova de oportunismo, às práticas de exaltação, triunfalismo ou
aplauso, recursos barrocos e sem a substância de que tanto carecem o MPLA e o
estado angolano.
Outros
foram abandonando “pro tempore” as práticas “activistas” de
rua e “configuraram-se”, acotovelando-se numa “coligação mágica”,
sintomaticamente amarelada (ela é amarela noutras similares também em muitas
outras partes do mundo), deixando os “revús” pendurados entre os
jogos de cintura… à espera dos próximos “embates” e disponíveis a
responder à voz do dono, que é para isso que existem USAID, National Endowment
for Democracy, a Open Society e o enxame de afins…
O
puxão de tapete foi de tal ordem, que até os instrumentos de ingerência,
manipulação e“transmissão” que integram a “via aberta” da
inteligência económica portuguesa, que são o Bloco de Esquerda e certas franjas
do Partido Socialista Português (entre outros que cristãmente têm primado pelo
segredo do negócio, em discreto silêncio), até ver estão “mudos
e quedos que nem penedos”!…
Martinho
Júnior, Luanda,
30 de Setembro de 2017.
A
PETROLÍFERA “YUKOS” ENQUANTO UM FALÍVEL “CAVALO DE TRÓIA”
Em
simultâneo à jogada geoestratégica dos americanos do “lobby” do
petróleo, tirando partido da aristocracia financeira mundial de que faz parte
integrante, no Cáucaso, não passou despercebida a situação de “volte
face” do presidente russo Vladimir Putin em relação à quinta maior empresa
petrolífera do mundo, a “Yukos”, que levou à prisão, a 25 de Outubro de
2003, do seu director executivo Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações,
entre elas as de fraude e fuga ao fisco.
A
decisão, que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail Khodorkovsky
apoia partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases de apoio
externas do poder hegemónico e por dentro dos processos e interesses da
aristocracia financeira mundial no quadro da “globalização”, era um sinal
de que o presidente russo procura parar a fragilização dos interesses nacionais
num sector vital para o seu país, fragilização essa que havia influenciado
negativamente, segundo a visão geoestratégica do estado da Rússia, na crítica região
do Cáucaso.
De
facto, a 3 de Novembro de 2003, a “BBC” publicava o perfil de Mikhail
Khodorkovsky, um magnata russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil
milhões de USD, apoiante dos Partidos “Yabloco” e o “União das
Forças de Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro,
qualquer deles de tendência liberal, que participaram nas eleições russas de
princípios deste mês, não fazendo alguma vez segredo disso.
A “BBC” referia
também que o apoio financeiro fornecido àqueles partidos por parte da Empresa
petrolífera, feria o seu papel na sociedade.
Por
outro lado, Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão
multipolar do poder económico em contraste com as pretensões que a aristocracia
financeira mundial sustenta, ao concentrar seus interesses num poder hegemónico
unipolar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos” oligarcas
russos, cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço desses
interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se aproximava a
atmosfera das eleições.
A
CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à
decisão do presidente russo:
A
4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava
que “o governo russo sob as ordens de Vladimir Putin, estava-se
rapidamente a mover na direcção errada”, pois interpretava a prisão de
Khodorkovsky como uma amostra do que “aos olhos do Kremlin, havia o pior
dos crimes – o apoio à oposição política do presidente Putin e um centro de
poder alternativo que era interpretado como uma ameaça ao controlo político
supremo do Kremlin”.
O
Senador John McCain concluía: “é tempo de enviar um sinal ao governo do
presidente Putin, que uma atitude não democrática, excluirá a Rússia da
companhia das democracias ocidentais”.
O
Departamento de Estado, encetando contactos com os russos, obtiveram a
confirmação do ponto de vista russo:
“É
evidente que há um factor político aqui, que se tornou no factor crítico, de
acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei
efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo
menos por agora”.
Desse
modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito
abertas e agressivas”, incluindo apoios a partidos políticos e à direcção duma
fundação de apoio à democracia e à sociedade civil, representou “uma
ameaça à autoridade do estado”, apesar do estado russo pretender manter o
quadro dos seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos, continuando
a implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais
quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso .
As
acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se
extensivas para além da“Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a
bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme
acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10
de Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje,
implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas
ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício
de bancos como o “J. P. Morgan” Chase”, o“Banco de Nova York”, o “Citibank”,
o “Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o“Danier”,
o “Ruegg SG”, ou o “Helenic Bank”, entre outros.
A
28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação
de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com
base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir
de investigações levadas a cabo pela Polícia sobre delegações na Suiça do “Menatep SA”, “Menatep
Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.
Platon
Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano, sob a
acusação de sonegar interesses do estado durante a privatização levada a cabo
em 1994, duma empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de
Milhail Khodorkovsky.
Ao
estado russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail
Khodorkovsky era muito mais de que o dum director executivo duma empresa
estratégica com as dimensões da“Yukos”, até por que ele não procurou evitar o
choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal“Moskovskiye Novosti” que
colocou sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do presidente.
De
facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geoestratégia do
poder hegemónico , tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os
interesses estratégicos no sentido da multipolarização do poder económico “global” ficavam
em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava para
comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do presidente Vladimir Putin
e fragilizando a estratégia russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se
esclarecerem em rescaldo, os papeis e o sinal da aliança de James Baker com
George Soros, tendo como dinâmica os interesses do poder hegemónico em relação
ao petróleo no leste da Europa e no Cáucaso.
Desde
que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky (e, com isso se inviabilizou a
compra da“Yukos” pela “Exxon Mobil”), que as suas cotações na Bolsa
desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC, a 12 de Novembro de 2003 (imagine-se
quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos seus “negócios
de especulação” pela via dos seus expeditos processos de ingerência).
A
comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente alinhado
com os interesses da aristocracia financeira mundial, (que é determinante na
nova revolução capitalista, como o é do exercício do poder hegemónico norte
americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e inspiração de
George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas
jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum
dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open
Rússia Foundation” em 2001, “uma organização internacional ,
independente e de caridade, operando como doadora privada” e“apoiando
instituições académicas e as organizações não lucrativas”.
A “Open
Russia Foundation” é uma organização que está a captar a fina flor dos
cérebros russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com objectivos
filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se
alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos países
desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento, para
engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as
tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).
É
sintomático que, para além de Milhail Khodorkovsky, o “board of
trustees” da “Open Rússia Foundation” seja formado por
personalidades como Henry Kissinger, ou Lord Jacob Rothschild, este último o
decano da poderosa família que gravita acima de George Soros, entre outros.
Parece
não ter havido surpresa por parte das autoridades russas, quando George Soros,
precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de
Novembro de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de
2003), criticou a prisão de Mikhail Khodorkovsky:
“Está-se
agora a entrar numa fase de capitalismo de estado, em que todos os detentores
de capital terão de ficar dependentes do estado”…
…
E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e
o “The St. Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens
vestidos de camuflado invadiram os escritórios da Open Society do bilionário
George Soros, não deixando sair os seus funcionários e levando todo o
equipamento e documentos num camião fechado , de acordo com um advogado da
instituição” (Pavel Kuzman).
Os
referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da empresa
proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio
por causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em
relação ao regime de aluguer e de compra, acordados para o nº 8 Ozerkovskaya
Naberetzhnaya, em pleno centro de Moscovo.
Se
George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard
Chevardnadze pela via da“Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em
ascensão nas eleições da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia, em
oposição a Vladimir Putin, com “módulos” de actuação em tudo
similares, foram aparentemente muito importantes, mesmo que não sejam
apresentadas a público estimativas financeiras.
Link
do “Open Russia Foundation Board of Trustees” – http://archive.li/jjlgx#selection-349.0-509.215
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