O
Governo de Angola, gerado com todas as manigâncias conhecidas, declarou hoje
que não reconhece a proclamação unilateral da independência da Catalunha,
defendendo a “preservação” de Espanha como um “Estado unitário”.
Aposição
surge num comunicado do Governo angolano distribuído hoje, em Luanda, no qual
apela ainda ao executivo espanhol, e à União Europeia, através das suas
instituições democráticas, para que encontrem, na base do diálogo, “as melhores
vias para a restauração da ordem constitucional e dos direitos de todos os
cidadãos espanhóis”.
Recorda
ainda que Angola e Espanha estabeleceram relações diplomáticas em 1976 e que
desde essa data que os dois Estados desenvolvem uma “cooperação dinâmica e
mutuamente vantajosa”, em vários domínios, que o Governo angolano afirma querer
“preservar”.
O
Parlamento Regional da Catalunha aprovou na sexta-feira a independência da
região, numa votação sem a presença da oposição, que abandonou a assembleia
regional e deixou bandeiras espanholas nos lugares que ocupava. Acresce que,
mesmo que a oposição tivesse votado, o resultado seria o mesmo.
O
executivo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (direita), apoiado pelo maior
partido da oposição, os socialistas do PSOE, anunciou no sábado a dissolução do
Parlamento Regional, a realização de eleições em 21 de Dezembro próximo e a
destituição de todo o Governo catalão, entre outras medidas.
Na
segunda-feira, o Ministério Público espanhol apresentou acusações contra os
principais membros do governo catalão por rebelião, sedição e fraude e contra a
presidente do Parlamento Regional e os membros da mesa que processaram a
declaração de independência.
Não
tenhamos medo de falar sobre Cabinda
Seja
qual for o ponto de vista da análise, é matéria de facto que Portugal honrou
desde 1885 até 1974 o compromisso assumido com os cabindas, razão pela qual em
matéria constitucional incluiu Cabinda na Nação portuguesa, fazendo-o de forma
autónoma e bem diferenciada de outras situações coloniais.
De
facto, e ao contrário das teses unilaterais dos descolonizadores que tomaram o
poder em Portugal em 1974, no artigo da Constituição Portuguesa referente à
Nação Portuguesa sempre constava, sempre constou e ainda lá está para quem
tiver dúvidas, que o território de Portugal era, na África Ocidental,
constituído pelos Arquipélagos de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, Forte de
S. João Baptista de Ajudá, Guiné, Cabinda e Angola.
Na
Lei Orgânica do Ultramar (designação que substituiu a referência às colónias),
de 1972 (portanto, dois anos antes da Revolução de 1974), diz-se de forma clara
que o território português se compunha das províncias com a extensão e limites
que constarem da lei e dos tratados (Simulambuco, obviamente) ou convenções
internacionais aplicáveis.
Apesar
de alguma amnésia colectiva, sempre apetecível quando toca a não assumir
responsabilidades, muitas das gerações que ainda hoje estão no activo da
política portuguesa, aprenderam a completa e inequívoca separação, tanto
jurídica como administrativa, que a Constituição reconhecia com força de lei
para o território de Cabinda.
Recorde-se,
sobretudo aos que – como o MPLA – teimam em que uma mentira dita muitas vezes
acaba, mais cedo ou mais tarde, por se tornar verdade, que até meados do século
passado, por exemplo, quem viajasse de avião ou navio e que passassem por
Cabinda a caminho de Luanda, ou ao contrário, passavam por uma alfândega, o que
só é entendível à luz de serem dois territórios distintos.
Aliás,
o Governador-Geral de Angola ou um Secretário Provincial sempre se deslocaram a
Cabinda na data do aniversário do Tratado para presidir, junto ao monumento de
Simulambuco, às cerimónias que reforçavam e validavam o que fora assinado pelas
autoridades portuguesas de então.
É
certo, igualmente, que em 1955, para facilitar a administração do território,
Cabinda foi considerada como um distrito de Angola. Apesar disso, e
reconhecendo que de facto se tratava de um mero expediente administrativo,
Portugal reafirmava que Cabinda não era Angola, citando a esse propósito que se
mantinha o articulado que constava da Constituição.
O
general Silvino Silvério Marques, que foi Governador-Geral de Angola, entre
1962 e 1965, afirma que o ministro Silva Cunha, (a propósito da preparação do
Estatuto Político-Administrativo da Província de Angola de 1963) por ordem do
chefe de Governo, António de Oliveira Salazar, indagou o Governador-Geral de
Angola no sentido de saber se concordava que Cabinda, administrada então como distrito
de Angola, passasse a ter um estatuto especial de autonomia.
Ouvido
o Conselho Económico-Social de Angola, Silva Cunha recebeu uma resposta
negativa, situação que assim se manteve durante os 13 anos da guerra colonial.
Ou
seja, ficou visível que a administração de Cabinda como um distrito de Angola
era uma situação meramente burocrático-administrativa, nunca tendo Portugal
alterado o espírito a e letra do Tratado de Simulambuco.
Em
tudo, aliás, a situação de Cabinda relativamente a Angola era na altura da
Revolução de 1974 similar, ou até coincidente, com a dos protectorados belgas
do Ruanda e do Burundi em relação ao Congo Belga. Estes tornaram-se
independentes.
Em
1961, altura em que se inicia a luta armada pela independência de Angola, em
Cabinda – ou melhor, tendo cabindas como protagonistas – existia apenas um
movimento independentista que, contudo, excluía a luta armada como meio para
atingir esse fim. O diálogo com Portugal era a sua única arma.
A
desilusão com Portugal, sobretudo a partir de 1974, pode ser resumida na
afirmação de Agostinho Chicaia, presidente da entretanto extinta Mpalabanda, Associação
Cívica de Cabinda: «Não vamos mais contar com Portugal. O Governo português tem
interesses muito fortes em Cabinda, particularmente em Angola, e vai ser
difícil pronunciar-se sobre uma eventual solução a favor do povo de Cabinda,
porque o lado económico sempre fala mais alto».
Folha
8 com Lusa
1 comentário:
Todo o processo do colonialismo português foi inquinado e, em relação a Cabinda duplamente inquinado:
- Quando a guerrilha do MPLA se fazia sentir em Cabinda, o colonialismo inventou os pseudo-terroristas, servindo-se do rótulo da FLEC, para tentar neutralizar o MPLA e a sua IIª Região Político-Militar; Alexandre Tati era o comandante desses grupos;
- Quando da independência de Angola, não foram os colonialistas que defenderam o território do ataque das Forças Armadas Zairenses e dos mercenários sob o rótulo da FLEC; foram as FAPLA e as FAR que o fizeram, foi o MPLA e seus aliados cubanos;
- Quando na ponta final do Exercício ALCORA, o colonialismo português estava a colocar meios das South Africa Defence Forces no norte do país e em Cabinda, pois na altura corria a informação de que a partir do Zaire estava-se a preparar uma invasão, o que não foi levado a cabo então contra o Zaire (Mobutu) por causa do 25 de Abril de 1974, acabou por redundar numa meio escondida aiança com o Zaire por via de Spínola resultando na inércia do argumento após derrota de Spínola no processo português, conforme o artigo (são os mesmos ingredientes humanos em todos os casos).
Aqueles que em Portugal atiçam as tensões sobre Cabinda apegam-se a que leis e a que interesses?
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