Milhares
saúdam na capital Harare o novo presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa. Mas
"o Crocodilo" não é melhor do que seu antecessor, e está longe de
significar mudança, opina o jornalista Ludger Schadomsky.
No
Zimbábue, os coloridos kitenges – vestimenta semelhante ao sarong, típica do
Centro e Oeste da África – sempre refletem um pouco a paisagem política do
país. Assim, nos últimos 37 anos, seus estampados geralmente traziam o retrato
do presidente Robert Mugabe.
Depois
de o idoso autocrata ter sido definitivamente varrido do cargo, porém, últimas
semanas de novembro já se vê, aqui e ali, o rosto do novo homem forte em
Harare: o ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, de 75 anos. No entanto, por
mais sedutor que seja o simbolismo, o novo rosto do Zimbábue está longe de ser
um emblema de liberação, e muito menos de reconciliação nacional.
Não
é acaso o apelido de Mnangagwa ser "o Crocodilo". Fiel a Mugabe, ele
sempre se encarregou do trabalho sujo para seu mestre; primeiro como seu
guarda-costas, nos anos 70, depois como chefe do serviço secreto, e por último
como brutal vice. O assassinato de milhares de oposicionistas e ativistas pesa
nas costas da suposta nova esperança zimbabuense – da mesma forma que o
massacre de fazendeiros brancos.
Não
menos importante é o fato de Mnangagwa ser visto como o mandante da sangrenta repressão
ao levante do grupo étnico dos ndebele contra Mugabe e seus seguidores shona,
matando milhares na década de 80. É difícil imaginar que os ndebele, no empobrecido
sul do país, venham a estender a mão conciliatória ao novo presidente.
Mnangagwa
é considerado menos ideologicamente armado do que Mugabe, e otimistas esperam
que, com ele, uma nova real-política adentre a State House, arrancando o
Zimbábue do isolamento e reposicionando-o na comunidade internacional. O novo
presidente acenou nessa direção após seu empossamento, na sexta-feira (24/11).
Até
esse ponto, é preciso reconhecer que, nestes agitados tempos de revolução,
Emmerson Mnangagwa seria o homem certo no lugar certo, pois conhece o
funcionamento do sistema como nenhum outro. No entanto quando, por estes dias,
se escutam os zimbabuenses bradarem "Chinja!" (mudança), eles não
podem estar se referindo ao líder setuagenário, com um currículo na política e
no serviço secreto tão intimamente ligado ao velho sistema de Mugabe.
O
crocodilo é venerado como totem em algumas regiões africanas, em outras é
temido. Da mesma forma, os zimbabuenses se veem divididos entre dois polos,
nestas horas e dias. O que é certo é que, o mais tardar na eleição de 2018, o
caçador de tocaia Mnangagwa deve abdicar, para dar lugar à verdadeira mudança.
Ludger
Schadomsky (av) | Deutsche Welle | opinião
Sem comentários:
Enviar um comentário