O
Ruanda anunciou que vai acolher 30 mil migrantes. Há guineenses entre as
vítimas. A Liga Guineense dos Direitos Humanos pediu às autoridades que
"acionem mecanismos de repatriação".
As
denúncias sobre a existência de leilões de escravos na Líbia gerou reações no
continente africano contra as práticas desumanas que estão a vitimar jovens
subsaarianos que tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo.
O
Ruanda vai acolher 30 mil migrantes retidos na Líbia. As negociações sobre o
acolhimento estão a ser discutidas com a União Africana (UA).
A
porta-voz do Governo do Ruanda, Louise Mushikiwabo, afirmou que o país não pode
ficar em silêncio "quando seres humanos estão a ser maltratados e vendidos
como gado", e pediu que os ruandeses acolham os migrantes.
A
decisão do Ruanda, anunciada esta quinta-feira (23.11), é uma resposta ao
pedido do presidente em exercício da União Africana, Alpha Condé, para que os
estados-membros ofereçam apoio e ajudem as vítimas a regressar aos países de
origem.
"É
horrível o que que está a acontecer na Líbia. A União Africana condena estes
atos. Temos que fazer algo, porque essa crise é inaceitável. As coisas têm de
mudar", afirmou o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki.
Um
grupo de aproximadamente 250 emigrantes dos Camarões foi repatriado, mas
segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) pelo menos 1.700
camaroneses ainda estão "em perigo".
O
ministro do Interior da Líbia, Al-Aref al-Khoga, declarou que as autoridades
locais estão a agir. "Houve instruções para que seja formado um comité de
investigação para alcançar a verdade, capturar os criminosos e levá-los à
justiça", garantiu o ministro.
Guineenses
entre as vítimas
A
Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) fez uma vigília, esta quinta-feira
(23.22), junto à embaixada da Líbia em Bissau para exigir a abertura de um
inquérito internacional para condenar os responsáveis pela prática de escravatura
naquele país do norte de África.
Dezenas
de jovens guineenses estão entre as vítimas. Há registo de "vários casos
de detenções arbitrárias em que os familiares guineenses foram obrigados a
pagar resgates em valores que oscilam entre os 500 e os 700 mil francos cfa
(entre cerca de 760 e 1067 euros)", denunciou Augusto da Silva, presidente
da LGDH, perante cerca de duas dezenas de pessoas que participaram na vigília.
O
presidente daquela organização não-governamental pediu que as autoridades
guineenses "acionem mecanismos de repatriação" que assegurem o
regresso à Guiné-Bissau dos cidadãos que se encontram na Líbia.
Augusto
da Silva ainda instou a UA, as Nações Unidas e a Comunidade Económica dos
Estados da África Ocidental (CEDEAO) a formar uma força internacional com um
mandato para combater o tráfico de seres humanos na Líbia.
O
Governo da Guiné-Bissau manifestou "indignação" e "repúdio"
e pediu ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para identificar e localizar
guineenses que ainda se encontrem naquele país.
Tráfico
humano
A
pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se com caráter de
urgência, na quarta-feira (23.11).
"O
que foi revelado encaixa-se definitivamente na categoria de tráfico de seres
humanos e este é considerado um crime contra a humanidade. É uma das formas
mais lucrativas de tráfico que fomenta crimes graves, além de redes
terroristas", declarou o Presidente francês, Emmanuel Macron.
O
Níger exige que o Tribunal Penal Internacional se ocupe do comércio
esclavagista no Norte de África. O Burkina Faso convocou o embaixador do país
na Líbia. A Costa do Marfim resgatou 155 migrantes marfinenses que se encontravam
em estado deplorável de saúde.
O
secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar
"horrorizado" com as imagens do mercado de escravos reveladas pela
emissora norte-americana CNN e exigiu uma investigação urgente. O caso deve
fazer parte da agenda da próxima cimeira da União Africana, entre 29 e 30 de
novembro, na Costa do Marfim.
AP,
Reuters, Agência Lusa, Karina Gomes | Deutsche Welle
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