segunda-feira, 27 de novembro de 2017

ESCRAVOS É NEGÓCIO NA LÍBIA | África reage ao comércio ilegal de migrantes na Líbia


Há Guineenses a serem vendidos como escravos

O Ruanda anunciou que vai acolher 30 mil migrantes. Há guineenses entre as vítimas. A Liga Guineense dos Direitos Humanos pediu às autoridades que "acionem mecanismos de repatriação".

As denúncias sobre a existência de leilões de escravos na Líbia gerou reações no continente africano contra as práticas desumanas que estão a vitimar jovens subsaarianos que tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo.

O Ruanda vai acolher 30 mil migrantes retidos na Líbia. As negociações sobre o acolhimento estão a ser discutidas com a União Africana (UA).

A porta-voz do Governo do Ruanda, Louise Mushikiwabo, afirmou que o país não pode ficar em silêncio "quando seres humanos estão a ser maltratados e vendidos como gado", e pediu que os ruandeses acolham os migrantes.

A decisão do Ruanda, anunciada esta quinta-feira (23.11), é uma resposta ao pedido do presidente em exercício da União Africana, Alpha Condé, para que os estados-membros ofereçam apoio e ajudem as vítimas a regressar aos países de origem.

"É horrível o que que está a acontecer na Líbia. A União Africana condena estes atos. Temos que fazer algo, porque essa crise é inaceitável. As coisas têm de mudar", afirmou o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki.

Um grupo de aproximadamente 250 emigrantes dos Camarões foi repatriado, mas segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) pelo menos 1.700 camaroneses ainda estão "em perigo".

O ministro do Interior da Líbia, Al-Aref al-Khoga, declarou que as autoridades locais estão a agir. "Houve instruções para que seja formado um comité de investigação para alcançar a verdade, capturar os criminosos e levá-los à justiça", garantiu o ministro.

Guineenses entre as vítimas

A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) fez uma vigília, esta quinta-feira (23.22), junto à embaixada da Líbia em Bissau para exigir a abertura de um inquérito internacional para condenar os responsáveis pela prática de escravatura naquele país do norte de África.

Dezenas de jovens guineenses estão entre as vítimas. Há registo de "vários casos de detenções arbitrárias em que os familiares guineenses foram obrigados a pagar resgates em valores que oscilam entre os 500 e os 700 mil francos cfa (entre cerca de 760 e 1067 euros)", denunciou Augusto da Silva, presidente da LGDH, perante cerca de duas dezenas de pessoas que participaram na vigília.

O presidente daquela organização não-governamental pediu que as autoridades guineenses "acionem mecanismos de repatriação" que assegurem o regresso à Guiné-Bissau dos cidadãos que se encontram na Líbia.

Augusto da Silva ainda instou a UA, as Nações Unidas e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) a formar uma força internacional com um mandato para combater o tráfico de seres humanos na Líbia.

O Governo da Guiné-Bissau manifestou "indignação" e "repúdio" e pediu ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para identificar e localizar guineenses que ainda se encontrem naquele país.

Tráfico humano

A pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se com caráter de urgência, na quarta-feira (23.11).

"O que foi revelado encaixa-se definitivamente na categoria de tráfico de seres humanos e este é considerado um crime contra a humanidade. É uma das formas mais lucrativas de tráfico que fomenta crimes graves, além de redes terroristas", declarou o Presidente francês, Emmanuel Macron.

O Níger exige que o Tribunal Penal Internacional se ocupe do comércio esclavagista no Norte de África. O Burkina Faso convocou o embaixador do país na Líbia. A Costa do Marfim resgatou 155 migrantes marfinenses que se encontravam em estado deplorável de saúde.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar "horrorizado" com as imagens do mercado de escravos reveladas pela emissora norte-americana CNN e exigiu uma investigação urgente. O caso deve fazer parte da agenda da próxima cimeira da União Africana, entre 29 e 30 de novembro, na Costa do Marfim.

AP, Reuters, Agência Lusa, Karina Gomes | Deutsche Welle

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