Mais
de 50 doentes, alguns em processo de transplante de rins, podem ficar sem
assistência médica na Indonésia devido às dívidas acumuladas e que Timor-Leste
não consegue pagar, afirmou hoje o ministro da Saúde timorense.
"Infelizmente
é verdade. Não se trata de politizar esta questão. Mas este é um efeito real da
situação atual. Não temos dinheiro. E não há dinheiro no fundo de contingência.
Temos 33 mil disponíveis e dívidas de cerca de cinco milhões", disse à
Lusa Rui Araújo.
"Estamos
a tentar sair desta situação mas o facto de não termos capacidade de liquidar
as dívidas tem impacto na solução. É um efeito real da falta de orçamento para
pagar as transferências de doentes, agravado com esse atraso dos debates no
parlamento", explicou.
O
impasse político que se vive em Timor-Leste, com a oposição a tentar derrubar o
Governo, levou a um impasse nas contas públicas, com dívidas acumuladas em
várias áreas do Estado, incluindo no pagamento a hospitais no estrangeiro, onde
doentes timorenses são tratados, dadas as carências do sistema de saúde do
país.
"Neste
momento em Bali [Indonésia] estão cerca de 50 pacientes, alguns podem vir a ser
aceites por outros hospitais mas, claro, depende do processo de
pagamento", notou Rui Araújo.
O
Governo incluiu na proposta de Orçamento Retificativo (OR) o pagamento das
dívidas acumuladas a hospitais em Singapura, Malásia e Indonésia, que Rui
Araújo disse ascenderem a cerca de cinco milhões de dólares (4,2 milhões de
euros).
"Cumulativamente,
entre julho e agora temos faturas que não estão a ser pagas até quase quatro
milhões de dólares, faltando ainda dezembro. A estimativa é o montante de cerca
de cinco milhões, que estão previstas no OR", disse à Lusa.
"O
caso do hospital de Sanglah (em Bali), onde já temos uma dívida de cerca de um
milhão de dólares. Eles informaram que não pretendem continuar a receber os
nossos pacientes a partir de 01 de janeiro e há casos que estão a ser tratados
e planeados, incluindo transplantes, para fevereiro", explicou.
Um
dos doentes afetados, Jonas Guterres, que devia ser transplantado em fevereiro
e é um dos doentes afetados, denunciou a situação nas redes sociais.
"O
hospital Sanglah em Bali terminou a cooperação e decidiu não dar mais
tratamentos médicos a pacientes timorenses a partir do próximo ano. Isso
significa que não poderei ter o transplante de rim previsto para
fevereiro", escreveu.
"Não
sei para onde vou ser transferido agora. Isto é uma notícia devastadora para
nós, os pacientes. Ficamos num limbo agora, sem saber onde vamos ter acesso a
esse tratamento noutros hospitais", sublinhou.
Além
do hospital Sanglah, Timor-Leste tem ainda dívidas acumuladas com vários
hospitais em Singapura e na Malásia.
O
Parlamento Nacional timorense está há dois dias a debater questões regimentais
e de agenda, com intensa polémica, entre as bancadas do Governo, da oposição e
o presidente do Parlamento.
Nos
plenários desta semana devia ser debatido o Orçamento Retificativo (OR), que a
oposição maioritária contestou por ter sido introduzido sem que o executivo
voltasse a apresentar o programa de Governo, já alvo de uma moção de rejeição.
Estão
ainda por agendar uma moção de censura ao Governo e uma proposta de destituição
do presidente do Parlamento Nacional.
Lusa
| em Diário de Notícias
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