quarta-feira, 26 de abril de 2017

PORTUGAL À SOMBRA DE AMBIGUIDADES AINDA NÃO ULTRAPASSADAS – I



Em saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos 43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício ALCORA”.
1- O relacionamento de Portugal com África, sobretudo com Angola, pautou-se sempre, ao longo dos últimos 50 anos, pela ambiguidade, uma prática constante a que o 25 de Abril de 1974 não pôs fim e por que o 25 de Novembro de 1975 se tornou determinante para tal não acontecer.

De facto Portugal, ao se tornar um vassalo britânico num processo consentido com o rótulo da mais longa aliança em vigor de há mais de 600 anos, tornou-se um subproduto sócio-político e sócio-cultural da aliança anglo-lusa de 1373, depois de passar por sucessivos crivos históricos, dos quais realço as invasões napoleónicas na Península Ibérica (1807/1811) e a Conferência de Berlim (1884/1885) com o traumatizante episódio do “Mapa côr-de-rosa” (1890).

A Revolução Industrial, que potenciou a construção do império britânico no seguimento da derrota de Napoleão, avassalou Portugal que continuou como país rural, meio feudal, tecnologicamente atrasado e dependente durante todo o exercício fascista e colonialista do Estado Novo, algo que se haveria de tornar decisivo para em Angola e Moçambique o colonialismo português se vir a tornar vassalo (e subproduto não assumido, ou envergonhadamente assumido) do “apartheid”, em função duma pujante África do Sul que para manter a hegemonia era obrigada a irradiar influências capazes de defender o baluarte da internacional fascista na África Austral, numa “articulação radial”, conforme à geoestratégia delineada com o Exercício ALCORA.

A ambiguidade histórica e sócio-política da aliança anglo-lusa traduzida numa vassalagem de Portugal tornou possível, por via do Exercício ALCORA e por que na África do Sul a Revolução Industrial se impôs no abrigo do império britânico sob o génio de Cecil John Rhodes, assumir ainda a ambiguidade em relação aos contextos da África Austral, algo que não seria só apanágio do Estado Novo e teve continuidade por via de todos os governos que se sucederam ao 25 de Novembro de 1975 em Lisboa, pois a entrada na União Europeia e a manutenção de Portugal na NATO, continuou a debitar obrigações de vassalagem até aos nossos dias, fazendo aproveitamento das condições conjunturais antropológicas, históricas, económicas e financeiras que advêm do passado.

 No seu livro “ALCORA – O acordo secreto do colonialismo”, Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, elespróprios historiadores militares e capitães do Movimento das Forças Armadas, dão um contributo claro e inequívoco para se perceber essa ambiguidade em relação ao “apartheid”, faltando-lhes apenas as consultas aos arquivos das SADF e do “apartheid” para tornar ainda mais substantivas as suas conclusões.

Dizem eles com toda a propriedade no Capítulo Iº, “Portugal, África do Sul e Rodésia”, em “Uma aliança a três Governos” (pag. 23):

“Segundo a definição clássica nas escolas de Relações Internacionais anglo-saxónicas, uma aliança é um acordo formal entre dois ou mais actores – normalmente Estados – que colaboram untos em questões de segurança.

Ainda por definição, uma aliança deve conter alguns acordos sobre a forma de responder a acontecimentos particulares.

A natureza das alianças também é normalmente entendida pela dimensão dos Estados e das suas capacidades económicas e militares; assim, quanto maior e mais forte for um dos Estados de uma aliança, maiores serão as probabilidades de ele ocupar uma posição dominante na mesma (Evans & Newnham, The Penguin Dictionary of International Relations, Londres, Penguin, 1999, pag. 37).

À luz desta definção o Exercício ALCORA é uma verdadeira aliança embora, porventura por razões de secretismo mantidas até hoje, nunca tenha sido considerada como tal, mesmo pelos mais reputados institutos de estudos estratégicos e pelos trabalhos académicos de algumas das universidades mais prestigiadas e tradicionalmente ligadas aos assuntos de política na África.

Essa incapacidade de penetrar neste segredo prolonga-se até aos dias de hoje e vem desde o momento em que, após o 25 de Abril de 1974, Portugal abandonou a política ultramarina de manutenção da soberania sobre as suas colónias e deu por finda a guerra que nelas travava desde 1961”.


2- Desse extracto e dos seus múltiplos fundamentos há que retirar lições que me socorrem nas minhas frequentes denúncias em relação às contínuas ambiguidades dos Governos portugueses após o 25 de Novembro de 1975 em relação a Angola e a África, ambiguidades que ainda hoje não se puseram cobro, até por que nenhum Governo português publicou o que quer que fosse sobre o“acordo” secreto do Exercício ALCORA, ou sobre o seu grau, efectividade, ou caducidade, um procedimento similar aliás à relativa “imobilidade salazarenta” de então.


Os Governos portugueses não “desataram o nó” da aliança secreta do Exercício ALCORA, mantendo inclusive “por inércia” o carácter da ambiguidade ideológica e prática do Estado Novo, por que os vínculos antigos com a África do Sul (que socorrem também as “leituras” da NATO e do USAFRICOM em tempo neoliberal e sob domínio dos “lobbies” do petróleo e dos minérios), mantiveram-se correspondendo ao peso e influência económica e financeira dos vínculos e intervenientes sul-africanos (inclusive interesses do âmbito das “casas” Rockefeller e Rothschild) desde então, algo que tem sido aproveitado pela inteligência económica portuguesa e tem também funcionado de forma aberta ou velada no âmbito sócio-político e ideológico, em função também dos interesses da comunidade portuguesa residente naquele país, uma parte dela “retornada” de Angola e Moçambique.

A consultar de Martinho Júnior:
- Eleições na letargia duma colónia periférica – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/10/eleicoes-na-letargia-duma-colonia.html
- Neocolonialismo em brandos costumes e dois episódios – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/neocolonialismo-em-brandos-costumes-e.html

Imagens: Capa e contracapa do livro “ALCORA – o acordo secreto do colonialismo”; o General sul-africano Charles a, P. Fraser, promotor dos conceitos do exercício ALCORA; condecoração do Vice-Almirante Jacobus Everhardus Luouw, Adido Militar Adjunto da Embaixada da África do Sul em Lisboa em 1982 e sua outra foto-passe.

Portugal | PRESOS POLÍTICOS, HÁ 43 ANOS!


Sim, há 43 anos, a libertação incondicional dos presos políticos não foi tão pacífica como isso! Para melhor entendimento desta afirmação, teremos de remontar à origem do Movimento dos Capitães, surgido cerca de um ano antes, motivado por uma reivindicação de carácter corporativo, como resposta a um despacho da hierarquia do Exército e na qual convergiram oficiais dos quadros permanentes desse ramo com distintos interesses, ideologias e matizes.

Carlos Machado dos Santos | AbrilAbril | opinião

Um dos grupos mais assertivos na salvaguarda daquilo que considerava os seus direitos era constituído, talvez não por acaso, por oficiais que serviam, ou tinham servido com o General António de Spínola, chefe militar carismático que, em dada ocasião, optou por entrar em divergência com o Governo sobre assuntos relacionados com a administração colonial. Embora este episódio tivesse, na época, entrado no domínio público, não foi entendido do mesmo modo pela generalidade dos oficiais do Exército, nem, tampouco, pelo cidadão comum.

Spínola era por muitos considerado o modelo de chefe militar austero, justo, exigente e intransigente, tipicamente predestinado a liderar um movimento capaz de derrubar o governo ditatorial fascista, encetando um novo ciclo governativo sem perturbar o fundamental, ou seja, sem alterar a estrutura hierarquizada das Forças Armadas, nem da malha social do país.

Agora, todos sabemos que o Movimento se constituiu e foi solidificando com a adesão determinada de outros grupos de oficiais, que bem mais pretendiam do que isso e que acabaram por desenhar um projecto político e social para Portugal, estabelecendo como uma das prioridades, o acabar com guerra colonial.

De entre outras delas e, inerente ao derrube do estado fascista, encontravam-se a libertação total e incondicional dos presos por delito de opinião – uma vergonha para o País, internacionalmente – e a extinção da polícia política.

25 de Abril | CANÇÕES DE REVOLUÇÕES ECOARAM NUM TERREIRO DO PAÇO EMOCIONADO


O aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974 foi assinalado na noite de 24 num concerto que teve lugar num Terreiro do Paço, muito povoado e que contou com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o Coro Sinfónico Lisboa Cantat, António Zambujo, Vitorino, Lura, André Gago e outros.

Foi com Lura que teve início o desfiar de canções que nasceram em contexto de ditadura, de conflitos, que serão sempre símbolo de intervenção e de protesto.

Ouvimos “O que faz falta”, “Liberdade” e “Lembra-me um sonho”. Aplausos e ao Terreiro do Paço cada vez chegava mais gente.

Inserido no âmbito de Lisboa-Capital Ibero-Americana de Cultura, o espectáculo teve como objectivo trazer à memória dos presentes canções de outras lutas como o Chile, a Argentina, o Brasil, Cuba, México, Espanha.

E Vitorino cantou “Cancion com Todos” e “Razon de Vivir” mas Silvia Perez Cruz trouxe uma das canções mais bonitas da América Latina, “Gracias à la Vida” numa homenagem a Violeta Parra.

E à memória surgiam imagens enevoadas de países em luta como o Brasil, o Chile, a Argentina, luta essa imortalizada nas canções que ouvíamos.

MÚMIA CAVACO NÃO ESTEVE NAS COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL. AINDA BEM!


QUERIAM VER NOVAMENTE UM PIDE A FAZER DE CONTA QUE COMEMORAVA A LIBERTAÇÃO?

Nicolau Santos é diretor-addjunto do Expresso. É ele que nos serve a cafeína desta manhã. Um homem interessante. Quando era jovem na profissão ainda era mais. Ah! E até é comendador da Ordem do Infante desde de 2006! O seu a seu dono, que é como quem diz: a comenda a quem não é uma “encomenda” no jornalismo, nas artes e ofícios de comunicar e de saber fazer contas – porque ele é sabedor de economia e não diz, nem pensa, que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”. Ao contrário de Cavaco Silva, aquele a que chamam “múmia” e outros mimos – ainda Vasco Gonçalves o mimou na entrevista que encontrará aqui no PG e que é da lavra do Notícias ao Minuto…

Ora bolas, de Berlim. Esta abertura está muito apalavrada e cheia de palha. Vamos ao Curto de hoje, sobre a atualidade e mais uns pós. Esses pós trazem Ary dos Santos à baila, já que Nicolau trouxe Sophia. Um numa ponta e outra noutra, ou talvez não tanto assim.

25 de Abril, 43 anos depois. Então e como está a açorda? Má. As comemorações foram o que foram. Aceitáveis. Não daquelas em que o múmia Cavaco era PM ou PR. Claro que um ex-PIDE só tinha que ser como ele é. Principalmente ele, que ficou petrificado no salazarismo dos seus saudosismos. Ainda hão-de estudar profundamente como é que aquele trambolho da bufaria foi eleito por várias vezes. Foi PM, foi PR. Foi a maior trampa nacional que aconteceu a Portugal. Terá a haver com o analfabetismo semeado pelo salazarismo, pela iletracia e a estupidez natural administrada pelos caciques abundantes por este país à beira-mar plantado? Talvez. Há uma certeza: Cavaco, sem cantar - aquela vozinha soada de abundante cacofonia não dá para cantar - fez o que António Mourão cantou: “Oh Tempo Volta p’ra Trás”. E voltou, no que conseguiu. Felizmente existe uma Constituição e os apetrechos para a República ser protegida de avantesmas como aquele estafermo. Basta. Os vómitos estão quase a chegar ao goto. Ufa!

Avaliem o que ontem fez e disse Marcelo com o que fazia e dizia o estafermo, sinuoso e perigoso, nas comemorações do 25 de Abril. Principalmente nos últimos anos no cargo de PR. Cuidado com as cadeiras, senhor Cavaco Silva. Ao Salazar lixaram-no. Ufa! Fim da conversa. Isto hoje não dá para mais. Desculpem qualquer coisinha a cheirar a palha.

Final desta enfática abertura para acrescentar que a liberdade e a democracia de que falam os eleitos e outros nas suas ilhargas, é uma grande tanga. O que vimos antes e ainda se continua a ver (sentir) foi a antítese das práticas do lendário Robin dos Bosques: roubar aos pobres e remediados para dar aos ricos. Quanto às consequências prejudiciais recaem sobre os pobres e remediados. Claro! Os ricos upa-upa, que roubaram e roubam, que recorrem aos offshores e etc…. Esses continuam impunes ou no máximo indiciados pela Justiça que não é cega mas faz que não vê esses tais charlatães dos milhares de milhões…

Fim, agora é que é. Basta de "lana caprina". Viva o 25 de Abril, quando acontecer. É que o de 1974 já foi. Precisamos de outro. Segue-se o Expresso Curto do Nicolau, se continuar a ler. Vá nessa.

MM | PG

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