quinta-feira, 18 de maio de 2017

PORTUGAL À SOMBRA DE AMBIGUIDADES AINDA NÃO ULTRAPASSADAS – VI


Martinho Júnior | Luanda 

Em saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos 43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra. 

11- A classe política portuguesa, uma parte substancial da qual fez uma transição pacífica do fascismo-colonialismo para a actual democracia representativa, (à notável excepção do Partido Comunista Português), trouxe via “ala liberal”, para os partidos do “arco de governação”, eminentemente social-democratas (actualmente PSD, CDS e franjas até agora decisivas do PS), muito do carácter do Estado Novo, garantindo com isso a sobrevivência da superestrutura ideológica nos termos do interesse do “Le Cercle”, da NATO e por tabela do USAFRICOM, neste caso com os salvados das “redes stay behind”, adaptadas à fluidez própria dos termos da hegemonia unipolar (“cristã ocidental”) imbuída da nuvem “soft power” ao sabor das capacidades de inteligência económica.

A ideologia da “civilização cristã ocidental”, que vem desde os tempos das cruzadas, mantém-se nas alas mais ultraconservadoras da social-democracia “representativa”, intimamente associada às classes mais privilegiadas, vassalas da hegemonia unipolar e o “milagre de Fátima”, que hoje perfaz 100 anos, contribui para a sua “sustentabilidade”, por que faz parte do ambiente sócio-politico de seu interesse por que é parte do húmus com que se sustenta.

A articulação “Fátima, fado e futebol” continua em vigor, estimulada entre outros pela “media” de Francisco Pinto Balsemão, ao serviço do Bilderberg, um “cristão” com um trajecto esclarecedor: da “ala liberal” da União Nacional do Estado Novo, ao Partido Social Democrata e a representante do Bilderberg em Portugal…

Também não é por acaso que Francisco Pinto Balsemão deseja que Durão Barroso o substitua nos encargos ao nível do Bilderbergl

A ambiguidade à portuguesa tornou-se típica desde as guerras napoleónicas, o que implicava quase sempre modelos como autênticos “iceberg”: com a parte visível acima da linha de água de diminuta proporção em relação à parte escondida, uma condição indispensável para o exercício das promiscuidades, ambiguidades e ingerências.

Todas as articulações de vassalagem são “icebergs”, por vezes com os interesses portugueses a recolher migalhas do grande bolo capitalista onde se inseriram, enquanto “fiéis” vassalos, salvo raras excepções, perceptíveis com o PCP.

Desde que se iniciaram os passos no sentido de estabelecer o Exercício ALCORA, que a ponta visível do colonialismo português escondeu ciosamente a parte abaixo da linha de água que tinha (e ainda tem) que ver com a preponderância geoestratégica do “apartheid”, na sua fluência integrando as contradições das linhas elitistas de pensamento e acção em África, no seguimento das pistas de Cecil John Rhodes, Oppenheimer e, por arrasto, até do tandem Nelson Mandela e Thabo M´Beki!...

A presença bóer em Angola, um antecedente que se ligava a famílias importantes na África do Sul, fez parte da cultura de silêncio em relação à história e ao próprio Exercício ALCORA.

Por seu turno, o Exercício ALCORA foi mantido tão secreto quanto o possível enquanto durou o Estado Novo, mas em Portugal passou “por osmose para os encargos da social-democracia construída a partir do 25 de Novembro de 1975 nos seus vínculos mais profundos, permitindo enlaces das mais diversas entidades colectivas e individuais dos portugueses social-democratas com os vínculos construídos na base da preponderância geoestratégica do “apartheid”, o que se fez sentir nos relacionamentos ambíguos dos governos portugueses para com Angola e Moçambique muito em especial, até ao fim daquele regime na África do Sul e mesmo depois, até aos nossos dias (tanto no quadro do choque como no da terapia neoliberal), com uma “charneira excepcional” ao nível do Acordo de Bicesse.

VEM AÍ UMA GLOBALIZAÇÃO À CHINESA?


Pequim lança Nova Rota da Seda, megaprojeto de infraestrutura que terá enorme impacto na Ásia e chegará à Europa Ocidental. Presidente Xi afirma que não se trata de neocolonialismo disfarçado

Pepe Escobar | Outras Palavras

O presidente Xi Jinping invoca heróis da dinastia Ming, estratégias geopolíticas de desenvolvimento e analogias com os gansos selvagens asiáticos para retratar a iniciativa chinesa Novas Rotas da Seda como nave madrinha de uma nova ordem mundial focada no comércio.

O presidente Xi Jinping usou o Fórum Internacional Nova Rota da Seda, de dois dias, em Pequim, para fixar a China como a nave madrinha de nova ordem mundial benigna, focada no comércio. Esse é, disse Xi, um “novo modelo de ganha-ganha e cooperação” que prevalecerá sobre a diplomacia dos canhões.

No início da conferência, a rede estatal chinesa Xinhua cuidou de esclarecer que a iniciativa – oficialmente chamada, antes, de “Um Cinturão, Uma Estrada” [ing. One Belt, One Road (OBOR)] e chamada agora “Iniciativa Cinturão e Estrada” [ing. Belt and Road (BRI)] — nada tinha de “neocolonialismo disfarçado”.

“A China não carece de estados fantoches” – disse Xinhua, repetindo, na essência, o que Xi disse em seu discurso histórico.

“A China quer partilhar sua experiência de desenvolvimento com o resto do mundo” – disse Xi –, “mas não intervirá nos assuntos internos de outros países, não trabalhará para exportar nosso sistema social e nosso modelo de desenvolvimento, nem forçará outros países a aceitá-los.”

O Comunicado que o Fórum distribuiu – um resumo dos pontos principais do discurso de Xi – registrava que as nações representadas em Pequim comprometiam-se a promover “cooperação prática por estradas, ferrovias, portos, vias marítimas e internas de transporte por água, aviação, oleodutos e gasodutos de energia, eletricidade e telecomunicações “.

O Big Business também estava lá representado e, pelo que se diz, entusiasmadíssimo.

Jack Ma de Alibaba, tão comprometido com promover uma Plataforma eletrônica de Comércio Mundial, falou à mídia chinesa durante o Fórum e saudou o movimento da iniciativa BRI para “incluir jovens, mulheres, empresas pequenas e países em desenvolvimento.”

No último dia do Fórum, Pequim construiu até uma espécie de Nações Unidas da Nova Rota da Seda, no formato de uma Mesa Redonda de Líderes, com microfones igualmente abertos e acessíveis a todos. O evento foi ilustração elegante e cheia de estilo de como Xi deseja que o mundo veja a iniciativa chinesa.

“A intenção primária e mais alto objetivo da ‘Iniciativa Cinturão e Estrada'” é permitir que cada membro se associe ao processo de enfrentar os desafios econômicos globais, encontre novas oportunidades e motores de crescimento, alcance situação de ganha-ganha e continue a andar na direção de uma comunidade com destino coletivo” – disse Xi.

Xi elogiou o mestre da navegação da dinastia Ming, almirante Zheng He – como “emissário amistoso” – antes de oferecer uma metáfora da nova ordem comercial mundial que acabava de delinear.

“Os gansos-cisnes selvagens“, disse ele, de uma grande ave selvagem, rara, encontrada na Ásia, mas não na Europa” – voam muito longe e em plena segurança vencendo ventos e tempestades, porque voam em bandos e ajudam-se uns os outros, como equipe.”

Monte num cisne selvagem

Não há dúvidas de que as Novas Rotas da Seda encontrarão turbulência pela frente. No Fórum, a ministra de Economia e Energia da Alemanha, Brigitte Zypries, ameaçou não assinar o comunicado final, se não houvesse firmes garantias para livres concorrentes – sem favoritismos para empresas chinesas – relacionados a outros projetos futuros de OBOR/BRI.

Sim, mas… em termos de expansão/exploração/construção de ferrovias, quem poderia competir com a China?

Trens de carga partem já regularmente da China oriental e da China central, atravessando as estepes da Ásia Central e apontam pontualmente a milhares de quilômetros de distância em 17 dias, antes de chegar a Londres, Madrid, Duisburg ou Lyon. Partem lotados de produtos domésticos, roupas e peças de reposição de maquinário, e voltam com produtos químicos, vinhos e produtos para bebês.

É duas vezes mais rápido que o comércio por mar, ainda que um trem de carga carregue menos de 100 contêineres, comparados com os mais de 20 mil que viajam por navios cargueiros. Mas o que realmente interessa é que até aí é só a primeira perna de uma futura rede de ferrovias para trens de alta velocidade que ligarão o leste da China à Europa via a Ásia Central.

Estão previstas no plano de expansão também parcerias público-privadas. Por exemplo, o primeiro ramo da Ferrovia Rota da Seda, que liga Chongqing a Duisburg, foi promovida na verdade, há seis anos passado, não por políticas de Pequim, mas pela gigante Hewlett-Packard do Vale do Silício, para embarcar milhões de notebooks para a Europa, por trem.

Mas agora a política da China avança rapidamente por toda a Europa. No Fórum, a Europa Oriental estava pesadamente representada e a região está sendo ajudada por um fundo criado há três anos, para investir, inicialmente, US$10 bilhões de euros.

Ano passado, China Everbright comprou o aeroporto de Tirana, na Albânia. O China Exim Bank está financiando a construção de rodovias em Macedônia e Montenegro. Em 2014, China Road & Bridge Corporation construiu uma ponte sobre o rio Danúbio em Belgrado, a chamada “ponte da amizade sino-sérvia”, a maior parte da qual foi financiada pelo China Exim Bank.

E há a ferrovia de trens de alta velocidade entre Atenas e Budapeste, via Macedônia e Belgrado. O ramo crucial Budapeste-Belgrado – não liberado pela União Europeia – deve entrar em operação finalmente ainda esse ano.

Mais uma vez, a geoeconomia empurra a geopolítica. Ao investir num corredor do Mar Egeu até a Europa Central, Pequim estará estimulando ativamente o comércio a partir do famoso porto grego de Pireu, que na verdade já está sob controle chinês desde 2010.

E agora a batalha por soft power

Zhou Wenzhong, secretário-geral dos fóruns regionais de negócios de alto nível, o Boao Forum para Ásia, fala das Novas Rotas da Seda como “a resposta da China à globalização”. Mas é realmente mais que isso. É realmente a visão do novo mundo. Visão composta de tantas partes, todas em movimento constante, que até agora continua difícil de definir.

Xi usou o Fórum para tentar esclarecer o conceito, mas verdade é que só as condições e circunstâncias em campo definirão as diferentes estratégias no futuro. Incluirão, para cada projeto, coordenação política e de financiamento que tenham potência para empurrar a iniciativa além de um boom de infraestrutura.

O Fórum já deixou claro como atores muito significativos disputam posições. Já se observa surto de competição entre Hong Kong e Londres sobre quem será a fonte privilegiada de financiamento. Enquanto Hong Kong mantém-se como centro offshore número um do mundo para compensações em yuan, o chanceler britânico Philip Hammond já enfatiza que Londres continua a ser o principal centro financeiro do mundo, insuperável para prover as necessidades “de banking internacional” das Novas Rotas da Seda.

A revoada dos gansos-cisnes já começou. A próxima grande pergunta é com que ênfase as Novas Rotas da Seda reescreverão as regras do jogo do comércio global, sem agitar demais atores ultrassensíveis, como a Índia. Mas é bem aí que se insere o chip do soft power.

Agora, os gansos-cisnes de Pequim começam a trabalhar para seduzir o Sul Global e trazê-lo para uma parceria irresistível que transcende o mero comércio.

* Pepe Escobar - Jornalista brasileiro, correspondente internacional desde 1985, morou em Paris, Los Angeles, Milão, Singapura, Bangkok e Hong Kong. Escreve sobre Asia central e Oriente Médio para as revistas Asia Times Online, Al Jazeera, The Nation e The Huffington Post.

PR timorense deverá ser eleito líder de novo partido horas após terminar mandato


Díli, 18 mai (Lusa) - O Presidente timorense, Taur Matan Ruak, deverá ser eleito no sábado, horas depois de terminar o seu mandato, como presidente do Partido de Libertação Popular (PLP), que se candidatará às eleições parlamentares de 22 de julho.

"Deve ser eleito no sábado de manhã. Não tenho qualquer dúvida disso", disse à Lusa Adérito Soares, intelectual timorense e um dos fundadores do PLP que se apresenta como uma alternativa aos partidos históricos e mais consolidados, Fretilin e CNRT.

O congresso do PLP começou hoje em Díli, praticamente sem publicidade fora das estruturas do partido, com 1.363 delegados e "35 mil fundadores", como disse à Lusa Abel da Silva, da comissão organizadora do encontro.

Taur Matan Ruak foi, ao mesmo tempo, a ausência mais evidente e a presença mais marcante - pelo menos nas camisolas e nos discursos dos congressistas - no primeiro dia do Congresso do partido que se diz assentar num "princípio de justiça social".

Praticamente todos os discursos se referiram a Taur Matan Ruak, com alguns militantes a garantirem que, a partir de sábado, o chefe de Estado e ex-guerrilheiro comandará o partido, que nasce sob o lema "Hisik Kosar Ba Moris Diak", "Suar pelo desenvolvimento e bem-estar".

'Vivas' aos veteranos, ao PLP e a Taur Matan Ruak ouviram-se repetidamente durante o dia.

Inclusive no momento em que um ex-guerrilheiro, L4, chamou os veteranos do PLP, homens que lutaram contra a ocupação indonésia e que serviram, no mato, sob Taur Matan Ruak - o último comandante das Falintil, o braço armado da resistência.

O encontro, que decorre num salão de festas em Díli, arrancou sem que grande parte da imprensa tenha sido informada, sem a presença de dirigentes de outros partidos ou do corpo diplomático.

Taur Matan Ruak confirmou em novembro de 2015, um mês antes do registo oficial do PLP no Tribunal de Recurso, que não se recandidataria à presidência, deixando em aberto a aposta numa corrida ao executivo.

A dúvida passou a certeza quando, já durante a campanha para as presidenciais, Taur Matan Ruak aproveitou uma pergunta de uma observadora eleitoral da União Europeia sobre qual seria o seu futuro para confirmar o que todos em Timor-Leste já discutiam abertamente.

"O Presidente tem um plano para o futuro: o meu partido é o PLP. Quando eu ganhar eu vou ser chefe do Governo. Eu sei que não posso deixar de combater com o CNRT e a Fretilin", disse Taur Matan Ruak, no encontro em Baucau, em resposta à pergunta da observadora, a lituana Ruta Avulyte Jelage.

O PLP nasce ainda sem que sejam conhecidas as suas políticas e aparenta reunir, por um lado, alguns veteranos da luta e, por outro, um grupo de intelectuais timorenses de entre 30 e 45 anos, formados em grande parte no estrangeiro.

Entre os presentes na sala do congresso estavam, por exemplo, Hugo Fernandes, académico e um dos membros do Conselho de Imprensa e Fidelis Magalhães, ex-chefe da Casa Civil de Taur Matan Ruak, além de elementos da equipa de media do ainda chefe de Estado.

"É uma boa combinação entre veteranos e intelectuais. O programa do partido, a estratégica eleitoral foi um trabalho conjunto de todos, em que todos colaboram", frisou.

Para já, e entre outros aspetos logísticos, os delegados escolheram a mesa do Congresso. Mesmo antes dos resultados da votação serem conhecidos, já se sabia que a mesa do congresso seria liderada por Saka'Onar (Deométrio Amaral Carvalho) - o seu nome estava no topo das três listas apresentadas, tendo ganho a primeira com 698 votos.

Adérito Soares, que terminou hoje - com a eleição da mesa do Congresso - o seu cargo como presidente interino do partido, explicou à Lusa que o PLP teve um orçamento de pouco mais de 30 mil dólares, reunido com doações de alguns dos "intelectuais" e de "privados".

"Estamos otimistas de que seremos um poder forte no cenário político de Timor. Terão de contar connosco. Se o voto fosse já daqui a uma semana, conseguiríamos no mínimo 15 lugares", disse.

Obter 15 lugares no parlamento de 65 implica conseguir, aproximadamente, 126 mil votos.

ASP // FPA

Lu-Olo, o ex-guerrilheiro que vai ser Presidente da República


Díli, 18 mai (Lusa) - Francisco Guterres Lu-Olo, um dos últimos guerrilheiros a descer das montanhas de Timor-Leste, toma posse sábado como Presidente de República timorense, exatamente 15 anos depois de ele próprio ter proclamado a restauração da República Democrática de Timor-Leste.

Há 15 anos, no mesmo espaço em Tasi Tolu, nos arredores da capital timorense, Lu-Olo, então presidente do Parlamento Nacional teve a honra de declarar o nascimento da primeira Nação do novo milénio.

Presidiu à subida da bandeira do novo Estado e momentos depois, deu posse ao primeiro Presidente pós-restauração, Xanana Gusmão.

Esse foi, porventura, o fim do maior capítulo da vida de Lu-Olo, que nasceu a 07 de setembro de 1954 em Ossú, zona remota de Timor-Leste, no subdistrito de Viqueque, a sudeste de Díli.

Para um homem que passou grande parte da vida a combater soldados indonésios nas montanhas de Timor-Leste - fugiu para o mato pouco depois da invasão indonésia em 1975 e só entregou as armas em 2000 - esta semana parece ter-se fechado um ciclo.

Em primeiro lugar porque foi à terceira vez que conseguiu finalmente ser eleito para a Presidência - perdeu na primeira volta em 2007 e 2012 - mas também porque com a sua tomada de posse é o terceiro líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) a assumir o cargo.

Francisco Xavier do Amaral e Nicolau Lobato foram os primeiros presidentes depois da proclamação unilateral da independência, a 07 de dezembro de 1975, com o cargo a ficar vazio até que Lu-Olo deu posse a Xanana Gusmão, em 2002.

Presidente da Assembleia Constituinte entre 15 de setembro de 2001 e 20 de maio de 2002 - quando passa a presidente do Parlamento Nacional - Lu-Olo conclui em 2011 o curso de Direito na Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, que começou ainda quando liderava o parlamento.

Quando deixa o cargo de presidente do Parlamento, em junho de 2007, Lu-Olo fica alguns anos afastado de cargos públicos, dedicando-se mais ao partido, até fevereiro de 2014 quando é nomeado presidente da Comissão Preparatória da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa.

Lu-Olo começou os estudos no Colégio Sta. Teresinha de Ossú, onde completou a 4.ª classe em 1969, ano em que viaja para a capital, onde ingressa no Liceu de Díli, que frequentou até 1973, regressando depois para o Colégio St. Teresinha como monitor escolar, funções que ocupa até 1974 quando a vontade de continuar os estudos o trazem de volta à capital.

Em 1975 aderiu à Fretilin, tornando-se simpatizante deste partido político por ter gostado, diz, do seu programa político, onde se defendia a independência de Timor-Leste e mudanças na vida sociopolítica e económica da população, através de reformas estruturais à herança do sistema colonial português.

Quando se deu a invasão indonésia de Timor-Leste, a 07 dezembro de 1975, Lu-Olo foge para o mato com a população da sua zona, em especial com a juventude de quem desfrutava confiança e amizades profundas.

Une-se ao pelotão comandado por Lino Olkasa e inicia assim a sua vida como combatente pela Fretilin.

Em junho de 1976 é nomeado vice-secretário de Ossú, depois passa a secretário, substituindo outro conterrâneo capturado pelo inimigo durante uma incursão militar.

Após uma primeira reunião do Comité Central da Fretilin (CCF), foi destacado como vice-secretário da Região Leste, ficando mais próximo de Xanana Gusmão.

Um ano depois é nomeado vice-secretário do partido, e em 1978 delegado do Comissariado do Setor na Ponta Leste, entre muitos outros cargos dos quadros médios da Fretilin.

Em 1982 é nomeado adjunto e colocado na Região Centro Leste, onde integra o Comando da 3.ª Companhia da guerrilha, sendo ainda responsável político, um cargo para que é nomeado formalmente em 1984.

Foi em 1987, já com esta dupla função executiva, que Lu-Olo é transferido para a Região Cruzeiro (Same, Manatuto Oeste, Aileu e parte oriental de Dili).

Em 1997 assume a função de secretário da Comissão Diretiva da Fretilin, após a morte por acidente de Konis Santana, assim preenchendo o vazio político da Fretilin na resistência armada.

Como a criação do Conselho Nacional da Resistência Timorense, em 1998, Lu-Olo acumula os cargos de membro do CPN/CNRT, de secretário da Frente Política Interna, membro do Conselho Político Militar na resistência armada e ainda as funções que ocupava no Conselho Presidencial da Fretilin.

O fim da guerra, depois de um quarto de século, permite que Lu-Olo desça das montanhas com as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil) para a vila de Aileu, a sul de Díli.

A 26 de novembro de 2000 entrega a sua arma e munições ao Comando das Falintil, desce para Díli onde incentiva a criação da Conferência Nacional da Fretilin, e depois a reorganização das estruturas de base do partido a pensar no Congresso de julho de 2001 em que é eleito presidente.

Após as eleições de 30 de agosto de 2001, que culminou com a vitória da Fretilin, Lu-Olo toma posse como membro da Assembleia Constituinte de Timor-Leste, sendo eleito presidente do órgão.

No sábado passa a ser o sexto Presidente timorense desde a proclamação e o quarto desde a restauração da independência.

ASP // EL

Guerrilheiro com "boa caligrafia" recebe primeiro exemplar do livro do Presidente timorense


Díli, 18 mai (Lusa) - Bersama, "guerrilheiro dedicado, com boa caligrafia" recebeu hoje das mãos do Presidente timorense, o primeiro exemplar de um livro nascido de um relatório de dois anos da resistência, que o primeiro ajudou "a copiar a limpo".

"Em 1983 este rapaz saiu no levantamento de Kraras. Só tinha a segunda classe indonésia e não sabia nenhuma palavra de português. Mas aprendeu com os líderes da guerrilha a escrever português", lembrou Taur Matan Ruak, no lançamento do seu livro, em Díli.

"Ser livre é ser capaz de dizer de que não - Um relatório sobre o debate construtivo da nação", lançado no Arquivo e Museu da Resistência Timorense, em Díli, tem como elemento central o "2º Relatório do Estado-Maior das Falintil referente ao período de dois anos - Agosto 1994 a Dezembro de 1996".

Atualmente, major nas Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), Bersama (Mário Batista) juntou-se aos guerrilheiros que combatiam a ocupação indonésia e recebeu a complicada tarefa de escrever a limpo a "letra difícil" que Taur Matan Ruak admite que tinha.

Depois de três tentativas de copiar o relatório - essencial para perceber a dinâmica do debate interno sobre políticas, ajuste estruturais e eficácia da resistência - Bersama queria desistir: "Ainda tinha erros e ele disse-me: 'Comandante, eu gosto muito de si, mas quero ir combater'".

Finda a guerra, Bersama foi o primeiro aluno timorense da Academia Militar Australiana, esteve na China no Curso de Altos Comandos e ficou em terceiro lugar entre participantes de 43 países.

"Por isso acho que mereces tu esta primeira cópia", disse no lançamento Matan Ruak, dirigindo-se a Bersama.

A obra escrita pelo próprio chefe de Estado há vários anos e lançada, a menos de 48 horas do fim do mandato, recorda alguns dos momentos da ação dos guerrilheiros timorense na luta pela libertação de Timor-Leste contra a ocupação indonésia.

Taur Matan Ruak explicou que o livro pretende ser um contributo para o conhecimento da história da resistência, retratando um "debate incrível, mas sempre com muito respeito e civismo" travado na direção da luta armada.

"Espero que sirva para encorajar os jovens, para perceber que realmente ser livre é ser capaz de dizer não. Só os que têm alma é que têm convicções próprias. De outro modo a sociedade não evolui. Fica estagnada, fica parada", afirmou.

As referências a nomes de outros responsáveis da luta "não têm a intenção de provocar debates polémicos", mas antes de "provocar todos a que comecem a escrever e a contribuir um bocadinho" por "respeito para com os jovens das gerações futuras", disse.

Benjamim Corte-Real, responsável do Instituto Nacional de Linguística de Timor-Leste e a quem coube apresentar uma obra "sobre a história da resistência, contada por um dos seus protagonistas".

"Ainda falta muito a contar e a descobrir, muito mais sobre o tal mítico fenómeno da resistência timorense, para que melhor possamos contemplar a epopeia da luta do nosso povo e melhor consigamos desfrutar o fruto da libertação da pátria", disse.

Até que os historiadores olhem para o que ocorreu "com mais tempo, distância emocional, serenidade e objetividade de análise", este livro pode responder à curiosidade de quem quer saber a história com relatos como este, disse.

A obra foi apresentada na sede do Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT), espaço onde funcionou no tempo da ocupação indonésia a repartição dos serviços de educação e antes disso, no tempo português, o Tribunal Provincial.

Um espaço que serve hoje como "casa sagrada" para recordar os "extremos sacrifícios que os heróis chamaram a si em troca da liberdade coletiva" dos timorenses, disse.

Para Corte-Real, o título da obra remete para o que foi o "exercício democrático no contexto da guerra", uma "prática de diálogo, persuasão de análise" sobre a "possibilidade de ideias, divergências, em busca de convergências".

"A obra também nos revela o estado de alerta constante daqueles homens a todos os níveis. Homens classificados de bandidos, frustrados, isolados, atrasados. Que não só tinham que fazer a luta armada, mas assumir a acrescida tarefa de acompanhar, corresponder e contribuir para o sucesso das outras duas frentes da luta", afirmou.

Taur Matan Ruak termina o mandato como Presidente de Timor-Leste na noite de sexta-feira.

ASP // EJ

Moçambique | GOVERNO NYUSI ESCONDE BILIÕES FORA DO ORÇAMENTO DE ESTADO


Governo de Nyusi esconde fora do Orçamento de Estado biliões que dariam para aumentar 21% a todos funcionários públicos em Moçambique

O Governo de Filipe Jacinto Nyusi, que pagou apenas 50% do 13º vencimento em 2016 e este ano aumentou apenas 500 meticais nos salários dos funcionários públicos, mantém subsídios salariais que adicionam mais de 100% para alguns chefes e esconde fora do Orçamento de Estado biliões de meticais que usa sem a fiscalização do Tribunal Administrativo ou mesmo da Assembleia da República(AR).

Quando em Dezembro de 2016 o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, anunciou que os cofres do erário só tinham dinheiro suficiente para pagar metade do vencimento extraordinário, e que o mesmo não seria abrangente a todos os funcionários públicos, ocultou dos moçambicanos que tinha em saldo de Caixa, no início desse ano, 46,4 biliões de meticais que seriam mais do que suficientes para pagar o 13º a todos trabalhadores do Estado cuja massa salarial ronda os 3 biliões de meticais.

Este Caixa do Governo, que tem acumulado biliões de meticais pelo menos desde 2013, de acordo com um estudo do Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE), é deliberadamente mantido à margem do Orçamento do Estado(OE), em várias contas domiciliadas em bancos comerciais, por forma a poder ser usado sem a fiscalização obrigatória da Assembleia da Republica assim como do Tribunal Administrativo(TA).

Aliás o órgão que fiscaliza as Contas do Estado tem tentado apurar, sem sucesso, onde está e de que forma têm sido gasto estes biliões escondidos em Caixa pelo Governo.

No seu relatório sobre a Conta Geral do Estado de 2015 o TA apurou que Filipe Nyusi quando assumiu a presidência de Moçambique encontrou em Caixa 71,5 biliões de meticais, valores existentes em contas bancárias de várias instituições mas que não canalizados para a Conta Única do Tesouro(CUT), como determina a lei.

“A Direcção Nacional do Tesouro não detém o controlo das Outras Contas do Estado”, constatou o Tribunal Administrativo acrescentando no seu relatório que, “Parte significativa dos saldos de Caixa continua nas Outras Contas do Estado, Outras Contas do Tesouro e Recebedorias, em vez da CUT, preterindo-se o princípio da unidade de tesouraria, estabelecido na alínea a) do número 1 do artigo 54 da Lei n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro (pag. 5, parag, 2.º; pag.6, parag.1.º)”.

Entretanto, durante o seu primeiro ano de governação Nyusi utilizou 39,2 biliões de meticais em despesas que adicionais e paralelas às realizadas com os fundos do Orçamento de Estado aprovado pela AR.

Questionado pelo TA de que forma estes biliões foram gastos o Executivo de Filipe Nyusi afirmou que o valor tem sido usado por Instituições da Administração Indirecta do Estado (Institutos, Fundos, Autarquias, Empresas Públicas, Parcerias Público-Privadas e similares), “todavia, o Executivo não facultou quaisquer elementos comprovativos desta afirmação”, ressalva o Tribunal que fiscaliza o Estado no seu relatório.

Saldo em Caixa dava para aumentar a todos funcionários do Estado e ainda sobravam biliões

Os investigadores do IESE António Francisco e Ivan Semedo lendo o relatório do Tribunal Administrativo aperceberam-se de “um significativo processo de desorçamentação dos saldos transitados; ou seja, a sua transferência para fora do controle directo do OE, contrariando o estipulado no Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE)”.

António Francisco e Ivan Semedo, num artigo publicado no boletim IdeIAS, questionaram “para onde vão tais valores? Como, quem e porque foram utilizados? O relatório do TA não revela com precisão, alegadamente por falta de informação adequada fornecida pela a Direcção Nacional do Tesouro”.

O @Verdade questionou o Ministério da Economia e Finanças que admitiu a existência destes biliões em contas domiciliadas em bancos comerciais e tituladas por Instituições da Administração Indirecta do Estado (Institutos, Fundos, Autarquias, Empresas Públicas, Parcerias Público-Privadas e similares), como tentou explicar sem sucesso ao Tribunal de fiscaliza as Contas do Estado.

É que Tribunal Administrativo verificou as despesas dessas Instituições da Administração Indirecta do Estado, durante o ano de 2015, e concluiu que o total das mesmas foi de apenas 6,4 biliões de meticais, portanto existem 32,8 biliões que o Governo de Filipe Nyusi não conseguiu(ou não quer) apresentar os respectivos comprovativos.

Não sabendo como estão a ser gastos estas dezenas de biliões de meticais – todos os anos acumulados a partir de créditos e donativos externos, receitas de terceiros, receitas de capital, etc – é possível conjecturar que em vez de aumentar os funcionários públicos em somente 500 meticais o Governo de Nyusi, se quisesse, tem dinheiro para aumentar em 21% aos 332.155 funcionários e agentes do Estado e ainda sobravam biliões neste Caixa.

É que a massa salarial do Estado são 3 biliões de meticais, acrescidos de 21%, que seriam 630 milhões adicionais todos os meses, totalizaria durante um ano 43,5 biliões de meticais, comportáveis nos 46,4 biliões de meticais que existem na Caixa que o Governo esconde fora do Orçamento do Estado.

Adérito Caldeira | @Verdade


Moçambique | DHLAKAMA QUER QUE MEMBROS DA RENAMO PERDOEM A FRELIMO


Líder da Renamo entende que se deve esquecer as feridas da tensão político-militar

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, pediu aos membros do seu partido a esquecerem o luto e dor, causados durante as hostilidades militares, e olharem com optimismo para a nova fase que o país está a atravessar. Dhlakama falava, hoje, aos seus membros em Cabo Delgado numa teleconferência.

Na ocasião, Dhlakama apelou aos seus membros a seguirem o seu exemplo, tendo recordado que ele próprio escapou a morte durante as hostilidades, mas nem por isso, pensou em vingança. O líder da Renamo disse que o contacto frequente que tem mantido com o Presidente da República, Filipe Nyusi, com vista a estabilização do país, é o exemplo que deve ser seguido.

Estiveram na teleconferência de Afonso Dhlakama membros da Renamo oriundos dos 17 distritos de Cabo Delgado.

O País

FAPLA E POLÍCIA DE ANGOLA ESTÃO A COMETER GRAVES VIOLAÇÕES EM CABINDA


Os membros das forças de segurança do regime angolano que ocupa ilegalmente o território de Cabinda, estão a cometer graves violações dos direitos humanos. 

A situação dos direitos humanos em Cabinda é deveras preocupante! As perseguições, assassinatos, as intimidações e detenções arbitrarias com recurso a tortura atingem níveis dramáticos.

Os membros das forças de segurança do regime Comunista do MPLA que desgoverna Angola desde 1975, tem intimidado, todos os que em Cabinda ousam pensar de forma diferente das autoridades Coloniais de Angola.

A sua Excelência, o senhor Francisco Bilendo Junior, chefe da diplomacia do Governo de Cabinda no exílio, liderada pelo Comandante António Luis Lopes, alerta a Comunidade Internacional sobre a violação dos direitos humanos no Estado de Cabinda; e lança um apelo aos Cidadãos do Protectorado Português de Cabinda, para não se calarem, para que continuem a falar e a denunciar as injustiças no Território de Cabinda.

Cabinda é um território ilegalmente e ilegitimamente ocupado por Angola.

O Território de Cabinda não é, nunca foi, nunca será uma província de Angola, mesmo com a ditadura do MPLA, a cobardia dos portugueses, e a hipocrisia da Comunidade Internacional .

No âmbito da Constituicão portuguesa de 1933, São Nações distintas, e que , por isso, deve ser um país independente.

Viva  o Tratado de Simulambuco!

Viva  o Protectorado Português de Cabinda!

Viva  a Independência do Estado Livre de Cabinda!

Benelux, aos 06 de Maio de 2017

Fonte: Governo de Cabinda no Exílio da Frente de Libertação do Estado de Cabinda

Cabinda | FLEC APRISIONOU QUATRO POLÍCIAS ANGOLANOS


Os independentistas da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) anunciaram hoje que fizeram reféns quatro elementos da Polícia Nacional de Angola pedindo a mediação do Comité Internacional da Cruz Vermelha para a sua libertação.

A informação foi divulgada através de um “Comunicado de Guerra” assinado pelo tenente-general Alfonso Nzau, chefe da brigada de Maoimbe Sul das Forças Armadas Cabindesas.

De acordo com a mesma informação, uma patrulha mista de soldados das Forças Armadas Angolanas (FAA) e elementos da Polícia Nacional de Angola terá sofrido na madrugada de segunda-feira, 15 de Maio, uma “emboscada” das FAC na povoação de Nhuca, região de Buco Zau.

“Dois soldados das FAA foram mortos e quatro polícias do governo angolano foram capturados pelas FAC. Os quatro angolanos são nossos prisioneiros de guerra e como tal serão tratados”, lê-se no comunicado.

A FLEC-FAC acrescenta que pretende libertar estes prisioneiros, como “medida humanitária”, lançando um “apelo” ao Comité Internacional da Cruz Vermelha “para mediar a libertação dos angolanos feitos prisioneiros”.

Aquela organização recorda que a 1 de Fevereiro de 1885 foi assinado o Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave num “protectorado português”, o que está na base da luta pela independência do território.

O enclave de Cabinda, no ‘onshore’ e ‘offshore’, garante uma parte substancial da produção total de petróleo por Angola, actualmente superior a 1,6 milhões de barris por dia.

Desde 2016, quando retomou a luta armada, a FLEC-FAC já reivindicou dezenas de ataques mortais a militares das FAA.

O ministro do Interior de Angola afirmou em Outubro que a situação em Cabinda é estável, negando as informações das FAC, que só entre Agosto e Setembro tinham reivindicado a morte de mais de 50 militares angolanos em ataques naquele enclave.

“Em Cabinda, o clima de segurança é estável, é uma província normal, apesar de algumas especulações e notícias infundadas sobre pseudo-acções militares que se têm realizado”, disse o ministro Ângelo da Veiga Tavares.

O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas também desmentiu em agosto, em Luanda, a ocorrência dos sucessivos ataques reivindicados pela FLEC-FAC, com dezenas de mortos entre os soldados angolanos na província de Cabinda.

Geraldo Sachipengo Nunda disse então que a situação em Cabinda é de completa tranquilidade, negando qualquer acção da FLEC-FAC, afirmando que aqueles guerrilheiros “estão a sonhar”. Opinião diferente tem o secretário de Estado angolano para os Direitos Humanos do governo de Angola (Bento Bembe) que, no dia 1 de Fevereiro de 2017, admitiu a existência de acções militares em Cabinda.

Os cabindas continuam a reivindicar, e desde 1975 fazem-no com armas na mão, a independência do seu território. No intervalo dos tiros, e antes disso de uma forma pacífica, nomeadamente quando Portugal anunciou, em 1974, o direito à independência dos territórios que ocupava, a população de Cabinda reafirma que o seu caso nada tem a ver com Angola. E não tem.

Em termos históricos, que Portugal teima em esquecer, Cabinda estava sob a “protecção colonial”, à luz do Tratado de Simulambuco, pelo que o Direito Público Internacional lhe reconhece o direito à independência e, nunca, como aconteceu, à integração coerciva em Angola.

Relembre-se aos que não sabem, aos que sabem mas não querem saber e aos que são pagos para não saber, que Cabinda e Angola passaram para a esfera colonial portuguesa em circunstâncias muito diferentes, para além de serem mais as características (étnicas, sociais, culturais etc.) que afastam cabindas e angolanos do que as que os unem.

Acresce a separação física dos territórios e o facto de só em 1956, Portugal ter optado, por economia de meios, pela junção administrativa dos dois territórios.

Cabinda sempre foi entendida por Portugal como um assunto e um território distintos de Angola. A própria Constituição Portuguesa, de 1933, cita no nº 2 do Artigo 1 (Garantias Fundamentais), Cabinda de forma específica e distinta de Angola.

Partindo desta realidade constitucional, a ligação administrativa registada em 1956 nunca foi entendida como uma fusão com Angola. Nunca foi, não é nem poderá ser por muito que isso custe tanto ao MPLA como à UNITA, embora mais ao primeiro do que à segunda.

Nesta altura, com a conivência de Portugal, o governo do MPLA diz que Cabinda é Angola. É exactamente o mesmo que a Indonésia dizia em relação a Timor-Leste. É exactamente o mesmo que Portugal dizia em relação a Angola. E viu-se no que deu!

Folha 8 com Lusa

Brasil | LULA: "UM JULGAMENTO FEITO PELA E PARA A IMPRENSA"


A questão não é mais "o que esperar desta imprensa", mas como alertar os brasileiros que se informam apenas por ela sobre o que está acontecendo no país

Tatiana Carlotti | Carta Maior

Quem acompanhou a cobertura do depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, na última quarta-feira (10.05.2017), pode notar a ferocidade com a qual os veículos do oligopólio midiático apresentaram as declarações do ex-chefe de Estado.

Jornalistas, comentaristas, os ditos especialistas e quem mais se submetesse a vestir a toga de ocasião entraram em cena para achincalhar a fala do ex-presidente. Embora escandalosa, a manifestação de parcialidade não surpreende. Faz parte do modus operandi do golpe que vem tornando letra morta a Constituição de 1988.

A questão não é mais “o que esperar desta imprensa”, mas como alertar milhões de brasileiros que se informam apenas por ela sobre o que está acontecendo no país. Afinal, conforme se retira o pão -  estamos falando de direitos trabalhistas e sociais – mais se aprofunda o circo midiático.

A cobertura do depoimento de Lula foi emblemática. Anunciando o Fla X Flu, o ingresso foi estampado nos semanários da direita. A pergunta legítima “onde está o juiz”, questão óbvia frente às capas da ISTO É e VEJA, foi substituída pelo placar forjado na última semana.

É como agem, sem votos, os vencedores no tapetão. Lalo Leal Filho ensina: vivemos em um país das capitanias midiáticas. Nelas, o slogan prevalece sobre o argumento. A espetacularização do inquérito – antes, durante e depois – foi explícita na seleção dos trechos e das aspas incensadas desde quarta-feira.

No Jornal Nacional daquele dia, a edição foi primorosa. A cobertura da manifestação popular em Curitiba ganhou uma imagem panorâmica do final do ato, portanto, já esvaziado. O espaço curtíssimo dado à fala do advogado, foi sucedido pelo corolário de todas as ações e pedidos de investigação contra o ex-presidente.

Presunção da inocência? Evidente que não.

No dia seguinte, no mesmo JN, o juiz de Curitiba ganhou destaque com suas reprimendas e as perguntas o mesmo Jornal se esmerou em destacar a atuação de Sérgio Moro, enfatizando suas reprimendas e as perguntas não respondidas por Lula. Na sexta-feira, as delações de João Santana e Mônica Moura preencheram a lacuna da ausência de provas.

O timing foi preciso.

Nos onlines, os portais bateram na mesma tecla de demolição da imagem do ex-presidente, “Lula disse ´não sei´ 82 vezes a Moro durante depoimento”, estampava o UOL. Enquanto isso, os três principais jornais do país deram manchetes praticamente iguais:

No dia do julgamento, lia-se nas bancas: “Lula sofre reveses antes de depor a Sergio Moro” (Folha), “Lula ainda tenta adiar depoimento a Moro” (O Globo), “Juiz mantém depoimento de Lula a Moro hoje” (Estadão). No dia seguinte: “Lula nega posse de tríplex e atribui decisões a Marisa” (Folha), “Interesse no triplex era de Marisa, diz Lula a Moro” (Estadão); “Lula atribui a Marisa decisões sobre tríplex e confirma reunião com Duque” (O Globo).

Na sexta-feira, o veredicto ancorado na delação de Santana: “Lula dava aval para caixa dois, afirma marqueteiro” (Folha); “Lula tinha ´a palavra final, de chefe´, diz João Santana” (Estadão); “Lula dava ´palavra final´ sobre caixa 2, diz Santana” (O Globo)”.

Com os olhos cravados em 2018, além da presunção da inocência, esses veículos não mais se importam o pouco da credibilidade que lhes resta. Quem viu a capa de VEJA da última semana, com um retrato de dona Marisa Letícia, pode ter a dimensão do abismo em que estão dispostos a pular.

Em meio a tantos ataques, vale o alerta.

Pesquisadores do Monitor do debate político no meio digital divulgaram na quinta-feira (11.05.2017) um balanço sobre o compartilhamento das notícias no Facebook no dia do depoimento de Lula. Segundo eles, “o campo antipetista esteve muito mais ativo do que a esquerda”.

No total, afirma o balanço, “foram 4,7 milhões de compartilhamentos de links de notícias sobre Lula e outros 2,5 milhões de compartilhamentos de posts das 500 páginas políticas monitoradas”.

Segundo os dados, “entre as notícias compartilhadas, 48% vieram da grande imprensa e do jornalismo digital, 36% do jornalismo de direita, e apenas 18% do de esquerda. Entre os posts sem links, 73% vieram do campo antipetista e 16% da esquerda (os demais estavam fora dos dois grandes clusters polarizados)”.

E mais: “entre as 15 notícias mais compartilhadas e entre os 19 posts mais compartilhados, nenhum é do campo da esquerda”, apontam os dados. Eles também identificaram neste conteúdo compartilhado pela direita, a prevalência de “denúncias dos crimes de Lula, notícias sobre a impopularidade do presidente (por exemplo, que os hotéis se negaram a hospedá-lo) e a caracterização dos seus partidários como arruaceiros”. (Confira a íntegra do balanço)

Indignação

Frente ao circo armado em Curitiba, personalidades do meio jurídico se manifestaram. Em um desabafo postado no Facebook, um dos maiores processualistas do país, o professor Afrânio Silva Jardim (UERJ), até então apoiador da Operação Lava Jato, afirmou ter se sentido indignado com a condução do inquérito por Sérgio Moro.

Ele, inclusive, solicitou a retirada de um artigo de Moro nas próximas edições do livro “Tributo a Afrânio Silva Jardim”, escrito em sua homenagem. “Posso estar errado, mas o ex-presidente Lula não está tendo o direito a um processo penal justo (...) Confesso que continuo amargurado e termino dizendo que, se o ex-presidente Lula restou humilhado, de certa forma, também restou humilhado o provo brasileiro, que nele deposita tantas esperanças” (Leia a íntegra da declaração).

Ao desabafo de Silva Jardim, soma-se a manifestação de vários juristas do país. Quem acompanhou o mês de abril das nossas Jornadas de 2017, está inteirado sobre a escalada da judicialização da política e a politização do sistema de Justiça no Brasil.

Estão todos convidados a ouvir a íntegra das conferências de juristas, advogados e especialistas no tema como Rogério FavretoAlamiroVelludo Salvador NettoGilberto BercoviciPedro SerranoLuciana ZaffalonFrancisco Fonseca.

O fato é que apesar da cortina de fumaça perpetrada pela mídia oligárquica, diante do assalto a seus direitos -  sociais, trabalhistas e democráticos – a população vem se manifestando, vide o impacto da última Greve Geral e a presença de apoiadores de Lula, de várias regiões do país, em plena quarta-feira útil, marchando pelas ruas de Curitiba e exigindo um processo justo e o retorno do Estado Democrático de Direito.

Uma exigência que encontra espaço apenas na mídia alternativa, onde ainda é possível o contraditório frente à asfixia do pensamento único que fere gravemente a democracia brasileira. Milhares de notícias, denúncias, críticas e análises quem mantêm viva a nossa luta de cada dia.

Em meio à batalha, vale destacar do depoimento de Lula um trecho que, obviamente, não saiu nos noticiários:

LULA: Esse julgamento é feito pela e para a imprensa.

MORO: O julgamento será feito sobre as provas. A questão da imprensa está relacionada a liberdade de imprensa e não tem ligação com o julgamento.

LULA: Talvez o senhor tenha entrado nessa sem perceber, mas seu julgamento está sim ligado a imprensa e os vazamentos. Entrou nessa quando grampeou a conversa da presidente e vazou, conversas na minha casa e vazou, quando mandou um batalhão me buscar em casa, sem me convidar antes, e a imprensa sabia. Tem coisas nesse processo que a imprensa fica sabendo primeiro que os meus advogados. Como pode isso? E, prepare-se, porque estes que me atacam, se perceberem que não há mesmo provas contra mim e que eu não serei preso, irão atacar o senhor com muito mais força.

Confira aqui a íntegra do depoimento do ex-presidente Lula.

Créditos da foto: Reprodução

Registos áudio

EUA BUSCAM CRIAR NA AMÉRICA LATINA SITUAÇÃO MILITAR IGUAL À DO MÉDIO ORIENTE


Estados Unidos e seus aliados estão preparando o terreno na América Latina pra uma intervenção a longo prazo, disse à Sputnik o especialista em relações internacionais, Ghazi Nassendini, presidente do Centro de Análise e Estudos Global AZ.

"Os Estados Unidos estão preparando condições para os próximos anos, para criar uma situação muito semelhante à do Oriente Médio na América Latina que justifique sua intervenção direta nos assuntos de outros países", explicou o especialista.


Os EUA podem defender de forma mais "simples" sua intervenção militar e política, assim como "estabelecer regimes neocoloniais obedientes às políticas norte-americanas", caso declarem a existência de ameaça à sua segurança, indicou Nassendini.

Antes de avaliar se a América Latina poderia ser uma zona de trânsito para grupos terroristas como o Daesh - proibido na Rússia, o analista acredita ser preciso observar a proliferação da doutrina e da formação destes grupos.

"Agora nós temos que fixar e advertir a nível mundial de onde chega o pensamento salafista-wahhabita, porque é dali que vão surgindo estes grupos terroristas que se preparam para algo no futuro", explicou.

Segundo Nassendini, a criação destes grupos foi útil para que Washington pudesse derrubar os governos aliados da União Soviética na década de 80, como é o caso do Afeganistão e Paquistão.

"E como isso funcionou para os Estados Unidos e para seus aliados no Golfo Pérsico, eles optaram por esta política em vários lugares", comentou.

Atualmente, a existência do Daesh serviu para levar as tropas dos EUA para a Síria, apesar de não terem uma relação "muito amistosa" com o governo do presidente Bashar Assad, considerou o analista.


"De nenhuma forma, o governo sírio permitiria aos EUA que tivessem bases militares, aéreas, marítimas, de veículos blindados, em seu território, porém, aproveitando-se da situação dos terroristas - enviados, financiados e treinados pelo Ocidente, EUA concederam para si próprios o direito de intervir na Síria militarmente", afirmou.

Neste sentido, o analista adverte para todos os países da América Latina sobre a presença de escolas e fundações que difundem e formam cidadãos nas crenças do Daesh.

"Realmente os países devem prevenir isto e, para fazê-lo, devem contar com políticas estratégicas, realmente sujeitas ao direito internacional, aos direitos humanos, e ter uma supervisão muito aguda sobre o pensamento propagados nestes colégios, nestas escolas", indicou.

Embora Nassendini diga que não pode afirmar que não haja grupos jihadistas na Venezuela e em outros países da região, ele alertou sobre as condições para a propagação destas crenças.

"Não posso dizer que existam jihadistas que sejam elementos já formados, já treinados, com objetivos, com base, com plataforma; isso não posso dizer, mas existem condições que criam os jihadistas, e isso é muito pior", assinalou.


Em relação a isso, recordou que os Estados Unidos estão trabalhando a longo prazo e que os governos da região, "sejam de esquerda ou de direita", carecem de "maturidade política e governabilidade necessária" para prevenir esta situação, já que estas condições os convertem em uma presa fácil para uma intervenção estrangeira.

Alguns dias atrás, tanto o direto adjunto do Departamento de Novos Desafios e Ameaças do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Feoktistov, como o chefe do Comando do Sul dos EUA, almirante Kurt Tidd, fizeram referência à possibilidade de que, no futuro, integrantes do Daesh possam utilizar países da América Latina e do Caribe como territórios de trânsito.


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