Díli,
18 mai (Lusa) - Francisco Guterres Lu-Olo, um dos últimos guerrilheiros a
descer das montanhas de Timor-Leste, toma posse sábado como Presidente de
República timorense, exatamente 15 anos depois de ele próprio ter proclamado a
restauração da República Democrática de Timor-Leste.
Há
15 anos, no mesmo espaço em Tasi Tolu, nos arredores da capital timorense,
Lu-Olo, então presidente do Parlamento Nacional teve a honra de declarar o
nascimento da primeira Nação do novo milénio.
Presidiu
à subida da bandeira do novo Estado e momentos depois, deu posse ao primeiro
Presidente pós-restauração, Xanana Gusmão.
Esse
foi, porventura, o fim do maior capítulo da vida de Lu-Olo, que nasceu a 07 de
setembro de 1954 em Ossú, zona remota de Timor-Leste, no subdistrito de
Viqueque, a sudeste de Díli.
Para
um homem que passou grande parte da vida a combater soldados indonésios nas
montanhas de Timor-Leste - fugiu para o mato pouco depois da invasão indonésia
em 1975 e só entregou as armas em 2000 - esta semana parece ter-se fechado um
ciclo.
Em
primeiro lugar porque foi à terceira vez que conseguiu finalmente ser eleito
para a Presidência - perdeu na primeira volta em 2007 e 2012 - mas também
porque com a sua tomada de posse é o terceiro líder da Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin) a assumir o cargo.
Francisco
Xavier do Amaral e Nicolau Lobato foram os primeiros presidentes depois da
proclamação unilateral da independência, a 07 de dezembro de 1975, com o cargo
a ficar vazio até que Lu-Olo deu posse a Xanana Gusmão, em 2002.
Presidente
da Assembleia Constituinte entre 15 de setembro de 2001 e 20 de maio de 2002 -
quando passa a presidente do Parlamento Nacional - Lu-Olo conclui em 2011 o
curso de Direito na Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, que começou ainda
quando liderava o parlamento.
Quando
deixa o cargo de presidente do Parlamento, em junho de 2007, Lu-Olo fica alguns
anos afastado de cargos públicos, dedicando-se mais ao partido, até fevereiro
de 2014 quando é nomeado presidente da Comissão Preparatória da Cimeira dos
Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa.
Lu-Olo
começou os estudos no Colégio Sta. Teresinha de Ossú, onde completou a 4.ª
classe em 1969, ano em que viaja para a capital, onde ingressa no Liceu de
Díli, que frequentou até 1973, regressando depois para o Colégio St. Teresinha
como monitor escolar, funções que ocupa até 1974 quando a vontade de continuar
os estudos o trazem de volta à capital.
Em
1975 aderiu à Fretilin, tornando-se simpatizante deste partido político por ter
gostado, diz, do seu programa político, onde se defendia a independência de
Timor-Leste e mudanças na vida sociopolítica e económica da população, através
de reformas estruturais à herança do sistema colonial português.
Quando
se deu a invasão indonésia de Timor-Leste, a 07 dezembro de 1975, Lu-Olo foge
para o mato com a população da sua zona, em especial com a juventude de quem
desfrutava confiança e amizades profundas.
Une-se
ao pelotão comandado por Lino Olkasa e inicia assim a sua vida como combatente
pela Fretilin.
Em
junho de 1976 é nomeado vice-secretário de Ossú, depois passa a secretário,
substituindo outro conterrâneo capturado pelo inimigo durante uma incursão
militar.
Após
uma primeira reunião do Comité Central da Fretilin (CCF), foi destacado como
vice-secretário da Região Leste, ficando mais próximo de Xanana Gusmão.
Um
ano depois é nomeado vice-secretário do partido, e em 1978 delegado do
Comissariado do Setor na Ponta Leste, entre muitos outros cargos dos quadros
médios da Fretilin.
Em
1982 é nomeado adjunto e colocado na Região Centro Leste, onde integra o
Comando da 3.ª Companhia da guerrilha, sendo ainda responsável político, um
cargo para que é nomeado formalmente em 1984.
Foi
em 1987, já com esta dupla função executiva, que Lu-Olo é transferido para a
Região Cruzeiro (Same, Manatuto Oeste, Aileu e parte oriental de Dili).
Em
1997 assume a função de secretário da Comissão Diretiva da Fretilin, após a
morte por acidente de Konis Santana, assim preenchendo o vazio político da
Fretilin na resistência armada.
Como
a criação do Conselho Nacional da Resistência Timorense, em 1998, Lu-Olo
acumula os cargos de membro do CPN/CNRT, de secretário da Frente Política Interna,
membro do Conselho Político Militar na resistência armada e ainda as funções
que ocupava no Conselho Presidencial da Fretilin.
O
fim da guerra, depois de um quarto de século, permite que Lu-Olo desça das
montanhas com as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste
(Falintil) para a vila de Aileu, a sul de Díli.
A
26 de novembro de 2000 entrega a sua arma e munições ao Comando das Falintil,
desce para Díli onde incentiva a criação da Conferência Nacional da Fretilin, e
depois a reorganização das estruturas de base do partido a pensar no Congresso
de julho de 2001 em que é eleito presidente.
Após
as eleições de 30 de agosto de 2001, que culminou com a vitória da Fretilin,
Lu-Olo toma posse como membro da Assembleia Constituinte de Timor-Leste, sendo
eleito presidente do órgão.
No
sábado passa a ser o sexto Presidente timorense desde a proclamação e o quarto
desde a restauração da independência.
ASP
// EL
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