terça-feira, 30 de maio de 2017

A ÁFRICA DO CAOS É A ÁFRICA PRESA PELO NEOCOLONIALISMO DA HEGEMONIA UNIPOLAR


Martinho Júnior | Luanda  

1- As modernas nacionalidades africanas são as únicas à escala global, cujas fronteiras resultam da arquitectura e engenharia das potências coloniais em finais do século XIX e esse tem sido um dos factores que marca como um anátema a contínua desestabilização do continente até aos nossos dias, pelas terríveis sequelas que a partir daí têm sido formatadas e incrementadas, sobretudo desde a década de 90 do século XX, quando o capitalismo neoliberal saiu vitorioso da assim considerada “Guerra Fria”.

Como se isso não bastasse, o preço das matérias-primas é ditado pelo poder da aristocracia financeira mundial, em função do que foi criado por ela em termos de revolução industrial e nova revolução tecnológica nos chamados “países industrializados do ocidente”, onde foram implantadas as culturas de rapina da “civilização judaico-cristã ocidental”!

África tem um substancial contributo global para o fornecimento de matérias-primas e à medida que transferiram os interesses de domínio directo sobre os dispendiosos territórios colonizados (com custos enormes devido aos encargos de ocupação e administrativos), para as subtilezas do domínio indirecto, por via dos exercícios do poder económico e financeiro (“soft power”), mais África ficou avassalada, vendo sua economia, no quadro da globalização da hegemonia unipolar eminentemente capitalista neoliberal, ser atirada para uma ultraperiferia da qual muito poucos podem a curto prazo emergir, conforme testemunho anual dos Índices de Desenvolvimento Humano da ONU.

As subtilezas neocoloniais têm pois tido “curso livre” desde a década de 90 do século XX,“amarrando curto” o continente à geoestratégia da hegemonia unipolar: os custos e a vassalagem ficam com e para os africanos, para que os lucros se possam eternizar nas mãos dos tutores dos interesses da aristocracia financeira mundial e isso com o agenciamento duma parte cada vez mais importante dos dirigentes africanos emanados das vulneráveis e aculturadas burguesias“nacionais”, como acontece claramente na África Ocidental e na África Central.

A bacia do Níger (o rio tem uma extensão de 4.180 km e a sua bacia cobre uma área equivalente a 2.261.741 km2), é fulcral para esta região, no seu “hinterland” e é de todas as bacias hidrográficas africanas, a mais afectada pela desestabilização jihadista, intimamente associada, senão adstrita tacitamente, ao papel neocolonial da “FrançAfrique”.

A “Niger Basin Initiative” engloba nove países, grande parte deles compondo a “FrançAfrique”(Guiné Conacry, Mali, Níger, Benin, Costa do Marfim, Burkina Faso, Camarões, Chade e Nigéria, com a Nigéria a ser o mais decisivo deles todos e não fazendo parte da zona do Franco CFA, embora circundado por alguns dos países componentes dessa “União”.

PRÓ-TERRORISMO | DONALD TRUMP ANDA A VENDER LENHA PARA NOS QUEIMAREM


Como se combate o terrorismo quando se cometem erros crassos?

Ana Alexandra Gonçalves*

Depois de cada atentado multiplicam-se os votos de pesar, a promessas de união e os juramentos em torno de luta cerrada contra o terrorismo. Mas como combatê-lo quando se cometem erros crassos? E escusado será chamar à colação erros passados, como os que criaram vazios de poder no Iraque e na Líbia e até certo ponto na Síria, vazio esse ocupado por grupos terroristas como o Daesh. Esses são sobejamente conhecidos.

Donald Trump deslocou-se, na sua primeira viagem oficial, à Arábia Saudita, com o objectivo claro de vender armamento - aparentemente sem paralelo, no que diz respeito à quantidade. Trump deslocou-se ao berço ideológico do jihadismo para vendeu uma quantidade absurda de armas. O que é que isso faz pela luta contra o terrorismo? O Presidente americano faz negócios em nome do povo que será sempre a vítima da ideologia que esse país desenvolve e promove.

Insatisfeito, Trump decidiu reverter a aproximação que Obama havia encetado relativamente ao Irão. O novo Presidente americano prefere hostilizá-lo. Recorde-se que Daesh e Al-Qaeda, cujo filho de Osama Bin Laden, Hamza Bin Laden, procura recuperar, são sunitas, em oposição ao xiismo iraniano. Pensar-se numa guerra contra Daesh e Al-Qaeda sem o envolvimento do Irão é simplesmente absurdo - mas é no absurdo que Trump vive.

NO CONFORTO DAS ELITES INSTALADAS GERMINAM AS DITADURAS


Fui ver O Jovem Karl Marx. Não tinha grandes expectativas quanto ao filme, confesso, e, de facto, não ficará para a história do cinema. Apresenta algumas fragilidades que resultam, basicamente, dos objectivos traçados de fazer um filme que abordasse a História com algum rigor, sem deixar de ser popular.

Carlos Ademar | Tornado | opinião

Mistura difícil de obter, embora não impossível. O filme consegue dar uma perspectiva interessante no que respeita ao contexto histórico, no entanto, em determinados aspectos, o pé fugiu para a chinela e do popular rapidamente resvalou para o dispensável popularucho, designadamente uma fuga à polícia por parte dos jovens Marx e Engels, a fazer lembrar cenas do genial Charlot, mas que num filme destes soa quase a ridículo.

Quer isto significar que o filme não é recomendável? Não! É de grande utilidade em vários aspectos, mas apenas nos interessa aqui abordar um, que se pode traduzir no seguinte: quando as elites instaladas ignoram com insistência os graves problemas das massas populares, emergem forças que tendem a renovar essas elites.

Ascensão de Marx e Engels

A trama assenta num clima social fortemente marcado pela exploração desenfreada da classe operária nas primeiras décadas da Revolução Industrial. Os operários, homens, mulheres e crianças, trabalhavam catorze, dezasseis, ou mais horas por dia e, ainda assim, dificilmente conseguiam ganhar o suficiente para se alimentarem condignamente. Para não falar da total ausência de direitos: assistência na doença, seguro de acidentes, férias pagas, reforma, o direito ao descanso e ao lazer. Nas cabeças daqueles operários, contemporâneos de Marx, estas regalias soariam a ficção científica, se o conceito existisse.

O filme desenvolve-se com as diversas movimentações e os respectivos protagonistas a emergirem na confrontação pela liderança do processo histórico, que visava ultrapassar a situação de exploração insustentável e de miséria generalizada. Termina com a ascensão de Marx e Engels, a criação da Liga Comunista, a publicação do Manifesto Comunista e a Revolução de 1848. Esta estender-se-ia a diversos países europeus e representou, talvez, a primeira grande reacção internacional a uma questão candente que se vinha a intensificar, resposta baseada nas correntes que emergiram e que encontraram enorme acolhimento na classe operária, apenas porque combatiam o status quo, que parecia cimentado para a eternidade.

É nesta perspectiva que o filme se revela de grande utilidade porque traça um paralelo com a actualidade. Assim o quis entender o autor destas linhas. A Globalização desregrada de hoje, em parte, está para os trabalhadores das sociedades ocidentais como a Revolução Industrial esteve para os operários do tempo histórico que o filme abarca.

SAÍDA LIMPA | "A melhor solução para Portugal é a saída unilateral do Euro"


Octávio Teixeira [*]

1- Nestes mais de 18 anos de sujeição ao Euro, o custo para a economia portuguesa foi muito elevado, em termos de crescimento perdido, de défice e divida públicos, de desindustrialização do país, com consequências muito pesadas para o emprego, os salários e as PMEs. E custos também nas prestações sociais, na educação e na saúde.

Mas o Euro não é apenas uma instituição económica. É também um modo de governação, estabelecendo a superioridade dos princípios tecnocráticos em relação aos princípios democráticos, bem como a superioridade de instituições não eleitas em relação ao voto dos eleitores

E como o desmantelamento ordenado do Euro ou a substituição do Euro-moeda única por um Euro-moeda comum não dependem da nossa vontade nem se perspectivam, impõe-se a saída unilateral do Euro, desejavelmente tão negociada quanto possível, com a consequente recuperação da soberania monetária.

Sem soberania monetária não dispomos de instrumentos essenciais da política económica para prosseguir os interesses nacionais; por não termos um prestamista de última instância, não podemos controlar o sistema financeiro e sujeitamos as necessidades financeiras do Estado à dependência dos mercados financeiros; não temos efectiva autonomia nas decisões orçamentais e, em consequência, não temos verdadeira possibilidade de escolha de politicas alternativas decorrentes da vontade popular, o que significa não termos real soberania democrática.

A recuperação da soberania monetária apresenta-se, pois, como uma necessidade objectiva para travar a devastação a que Portugal e os portugueses têm estado sujeitos, e para permitir um futuro para o país.

2- A recuperação da soberania monetária é um meio, mas não um fim em si mesma. Tendo de ser complementada com outras políticas económicas e sociais, ela permite, no entanto, criar as condições necessárias ao desenvolvimento do país.

São múltiplas e significativas as vantagens da saída do Euro. Designada, mas não exaustivamente.

Com a desvalorização, reconstitui-se rapidamente a competitividade das empresas portuguesas, tanto na exportação como no mercado interno. É o impacto de competitividade de que a economia, e em particular a indústria, tem necessidade. Mas não só a indústria beneficiará como o seu efeito se fará sentir nos serviços, nos associados à indústria e nos mais sensíveis a alterações de preços, como o turismo, a hotelaria, a restauração, e também no sector agropecuário. E o aumento da competitividade na industria será um factor de atracção do investimento estrangeiro no sector.

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