Membro da Associação para o
Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos em Cabinda dá conta de ameaças
constantes por parte do regime angolano e aponta o dedo ao Governo de João
Lourenço.
Em dezembro passado, 28 ativistas
pertencentes à Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos
Humanos (ADCDH) em Cabinda foram
detidos quando se preparavam para participar numa manifestação
pacífica contra a violação dos direitos humanos no enclave. Na altura, à
conversa com a DW África, o ativista Aarão Bula Tempo denunciou a violência da
polícia contra os manifestantes. E, num comunicado divulgado pela associação, a
polícia nacional foi acusada de torturar dois dos vários ativistas detidos – e
libertados horas depois.
Mais de um mês após o sucedido, a
situação está longe de estar resolvida. Ouvido pela DW África, Silvio
Sumbo, dá conta que muitos dos ativistas pertencentes a esta associação têm
estado a ser vigiados e ameaçados constantemente. Dois deles, afirma, foram
mesmo "obrigados a fugir para os países vizinhos”.
"Eu e a minha esposa temos
estado a ser constantemente ameaçados. Eles obrigaram a minha empresa a
despedir-me e, neste momento, estou desempregado. Pessoas telefonam-nos e dizem
que estão a acompanhar todos os nossos passos e que nos vamos arrepender. Dizem
que estamos armados em revolucionários e ativistas e que vamos sentir na
pele o que é opor-se contra eles. Tememos pelas nossas vidas”, conta o
ativista cabinda.
Sem expectativas para JLo
Para Silvio Sumbo, a chegada de
João Lourenço ao poder não traz qualquer esperança a Cabinda. Até pelo
contrário. No seu entender, o Governo do novo Presidente acaba até por ser mais
"perigoso” do que o de José Eduardo dos Santos. "A diferença que
existe entre o regime atual e o regime cessante é que o regime do ex-Presidente
dos Santos fazia mal à vista este faz no silêncio, como se nada se tivesse a
passar. É um regime altamente ditatorial”, acusa.
O mesmo ativista nota que se
quisesse mostrar uma governação diferente, João Lourenço, "que compactuou
muito tempo com a má governação do MPLA - Movimento Popular para a Libertação
de Angola -”, podia tê-lo feito aquando da repressão, quer desta manifestação
em dezembro, quer do recente protesto organizado por estudantes em Luanda
que foi também reprimido. "Tenho certeza absoluta que ele se apercebeu da
repressão forte que houve na manifestação em Cabinda”, afirmou o ativista,
acrescentando que se o novo Governo tivesse intenção de "optar por um novo paradigma
de governação” devia ter agido. E não o fez. Ainda por cima mandou mais
militares para intimidar a população”, constatou.
O mesmo se passa com as
exonerações. Se "há vontade de mudar”, afirma o ativista, então João
Lourenço devia "responsabilizar” os que exonerou pois são pessoas que
"cometeram atos de corrupção fora do normal” e que continuam "a
desfrutar do dinheiro”.
Silvio Sumbo aponta ainda o dedo
ao chefe de Estado no que toca ao caso Manuel Vicente: "Pôr em causa o
interesse de um país em detrimento de uma pessoa que, durante o tempo que
esteve no ativo como membro da administração pública cometeu erros graves a ponto
de desviar tanto dinheiro? Dá para ver que ele [João Lourenço] não é sério e
que vai seguir o mesmo pensamento de governação do seu antecessor”, dá conta.
"Temos que ficar calados?”
Fazendo notar que Cabinda
"nunca está nos planos do regime do MPLA para grandes melhorias”, o
ativista conclui afirmando que a solução para esta província angolana passa
também por não ficar em silêncio. "90% da população está desempregada, a
juventude vai perdendo a esperança e nós temos que ficar calados? Não pode. São
eles que nos incutem na cabeça de que Cabinda não é Angola porque eu estou em
crer de que se Cabinda fosse Angola, com os recursos que ostenta, pelo menos
seria uma referência grande em Angola, mas não é porque não lhes interessa
construir nada em Cabinda”.
São objetivos da Associação para
o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos chamar a atenção para várias
realidades de Cabinda. Entre as mais preocupantes estão a "presença
excessiva de militares nas ruas de Cabinda que "intimidam a população”,
assassinatos constantes de pessoas que se opõem ao regime angolano o elevado
desemprego e a degradação” da província. A ADCDH tem lutado ainda para que o
regime reconheça a associação.
Raquel Loureiro | Deutsche Welle
Imagem: Manifestação da
Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), a 16
de dezembro em Cabinda
1 comentário:
Lamentavelmente o regime de Luanda nao compactua com aqueles que os opoe. Mas isso nao nos vai retroceder. A luta continua porque a victoria e certa!
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