Maria do Carmo Silveira pede
criação de mecanismo de consertação rápida para permitir respostas céleres da
organização sobre crises internas nos Estados-membros. "Não fica bem à CPLP
ter um silêncio tão longo", diz.
A secretária-executiva da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) defendeu este sábado (17.02)
a urgência da criação de um "mecanismo de concertação rápida" para
permitir posicionamentos céleres sobre conflitos internos nos Estados-membros,
lamentando o "silêncio assustador" sobre a crise política na
Guiné-Bissau.
"Não existe neste momento um
mecanismo de concertação rápida que nos permita, em pouco tempo, ter um
posicionamento da CPLP", argumentou Maria do Carmo Silveira em entrevista
à agência Lusa.
O secretariado-executivo da CPLP
informou que está a estudar a possibilidade de propor a criação deste mecanismo
nos órgãos decisórios da organização intergovernamental.
"O secretariado-executivo só
pode agir em função dos mandados que recebe. Não tendo um mandado dos órgãos
políticos da organização, a secretária-executiva não pode ter qualquer
intervenção em qualquer situação", criticou.
Na sexta-feira, o
primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, advertiu que os
países lusófonos "não estão a fazer um bom uso" da CPLP devido às
suas agendas internas. Por esse motivo, a organização pode "deixar de ter
interesse nos próximos anos", sublinhou. Também à agência Lusa, o
governante são-tomense defendeu que a CPLP podia "ser mais
interventiva" em relação às questões e conflitos internos dos
Estados-membros.
Crise na Guiné-Bissau
Maria do Carmo Silveira, também
são-tomense, admitiu estar incomodada com o "silêncio assustador" da
CPLP sobre crise política na Guiné-Bissau. Após a exoneração de Umaro Sissoco
Embaló, o Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeou um novo primeiro-ministro,
Artur Silva. A indicação, no entanto, já foi rejeitada pelo Partido Africano
para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o mais votado nas últimas
eleições legislativas.
"Confesso que enquanto
secretária-executiva, não me sinto confortável com esta situação da CPLP face à
Guiné-Bissau. A secretária-executiva é o rosto da CPLP aos olhos do cidadão
comum e a não-reação face a algumas situações, a mim incomoda-me bastante, mas
são as regras da organização", comentou.
Maria do Carmo Silveira comentou
a decisão recente da Comunidade Económica de Estados da Africa Ocidental
(CEDEAO) de impor
sanções a 19 personalidades guineenses, solicitando o apoio da CPLP.
"Fizemos circular esta
notificação e passou-se uma semana e não tenho posicionamento dos
Estados-membros, sem o qual não me posso pronunciar. Não fica bem a uma
organização como a CPLP ter um silêncio, sobretudo tão longo, sobre uma questão
tão importante, em que houve a decisão da CEDEAO de sancionar. A União Africana
já se reuniu e tem um posicionamento, as Nações Unidas também, e nós estamos
com um silêncio assustador", sustentou.
Como uma organização
intergovernamental, os posicionamentos da CPLP não são vinculativas para os
Estados-membros. Da mesma forma, a CPLP não possui mecanismos para agir, como a
imposição de sanções, ao contrário da CEDEAO, que possui instrumentos para
impor o cumprimento das decisões.
A Guiné-Bissau vive uma crise
política desde agosto de 2015, quando o Presidente José Mário Vaz demitiu o
Governo liderado por Domingos Simões Pereira, do PAIGC.
Por falta de consenso entre as
várias forças políticas, a CEDEAO elaborou o Acordo de Conacri, assinado em
outubro de 2016, que prevê a nomeação de um primeiro-ministro de consenso.
Entretanto, a organização africana considera que o novo nome indicado pelo
Presidente guineense ainda não corresponde a esta decisão.
Agência Lusa | em Deutsche Welle
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