Ascensão da AfD deu munição aos
críticos internos que acusam chanceler federal de ter deslocado CDU para a
esquerda. Para eles, é hora de uma guinada à direita. Merkel e seus aliados,
porém, rejeitam essa interpretação.
Uma acusação recorrente à
chanceler federal Angela Merkel, feita por correligionários, é que ela conduziu
o seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), para a esquerda do espectro
político alemão.
Os críticos internos apontam para
decisões polêmicas da chanceler, como o casamento homossexual, o programado fim
da energia nuclear e a abertura das fronteiras para os refugiados, para embasar
sua tese.
Outros argumentam que o
surgimento de um partido à direita da CDU, no caso a Alternativa para a
Alemanha (AfD), só pôde acontecer porque a CDU se moveu para a esquerda,
deixando espaço vago e eleitores insatisfeitos à direita.
Também as duas coalizões de
governo com o Partido Social-Democrata teriam ajudado a diluir o perfil
conservador da CDU. E há ainda aqueles que veem na própria Merkel uma
social-democrata disfarçada.
A consequência lógica dessa
análise é: a CDU deve dar uma guinada à direita para reforçar seu perfil
conservador, voltar a ser o que era e assim recuperar os eleitores perdidos
para a AfD.
Essa posição é defendida pela ala
direita do partido e – com ainda mais ênfase – pelo partido conservador da
Baviera, a União Social Cristã (CSU), que forma uma bancada parlamentar única
com a CDU.
Mas Merkel e seus aliados
internos rejeitam categoricamente essa interpretação. Eles colocam as
dificuldades eleitorais enfrentadas pelo partido na conta dos desafios externos
surgidos nos últimos anos, como a crise dos refugiados e a crise econômica e
financeira no sul da Europa. Merkel sempre defendeu que o lugar da CDU é no
centro do espectro político alemão.
O vice-presidente Armin Laschet
foi ainda mais longe e rejeitou reduzir o partido a um perfil conservador.
"O objetivo da CDU não pode ser reunir tudo aquilo que se encontra à
direita da esquerda política", declarou Laschet ao jornal Frankfurter
Allgemeine Sonntagszeitung.
Para não deixar dúvidas sobre o
que pretendia dizer, Laschet foi ainda mais claro: "A essência da União
Democrata Cristã não é o conservadorismo, mas colocar a concepção cristã de ser
humano acima de tudo".
O vice-presidente recorreu aos
primórdios do partido para reforçar seu argumento, afirmando que a concepção
cristã de ser humano sempre esteve em primeiro plano, e que o próprio Konrad
Adenauer, primeiro chanceler federal da Alemanha e da CDU, "sempre
rejeitou a ideia de que o partido fosse uma aliança de movimentos
conservadores." Laschet descartou categoricamente "deslocar o
eixo" do partido para a direita.
Uma posição também defendida pela
nova secretária-geral, Annegret Kramp-Karrenbauer, uma aliada de Merkel com um
perfil semelhante ao da chanceler, mas com elementos conservadores suficientes
para agradar também à ala direita do partido.
Kramp-Karrenbauer afirmou que a
CDU é um partido que reúne diferentes confissões e concepções de mundo.
"Se guinada à direita significa cortar essas raízes e passarmos a nos
definir apenas como um partido conservador, então sou totalmente contra",
disse. Para ela, o partido, na sua forma atual, continua fiel às suas raízes
conservadoras.
A coluna Zeitgeist oferece
informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade,
permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe
no dia a dia.
Alexandre Schossler ! Deutsche
Welle
Leia também: O
novo conservadorismo verde na Alemanha
Sem comentários:
Enviar um comentário