Apesar de o seu governo ter
aprovação de 6% e de o seu nome reunir 1% de apoiantes nas sondagens, o atual
chefe do Estado está disposto a defender o seu legado em outubro.
Depois de semanas de
especulações, Michel Temer assumiu-se como candidato à sua própria sucessão. O
presidente da República do Brasil quer "defender" o seu
"legado" nas eleições de outubro e considera "uma cobardia"
não o fazer. Temer, do Movimento da Democracia Brasileira (MDB), precisa, de
facto, de coragem: a aprovação à sua gestão nos últimos dois anos é de 6% e as
sondagens que incluíram o seu nome na lista de concorrentes não lhe deram mais
de 1%.
"Tenho 6% de
aprovação?", questionou Temer, quando confrontado por jornalistas com a
sua baixa popularidade. "Antes tinha 3%, sinal de que a aprovação cresceu
100%", concluiu. Para ele, "não há como abandonar tudo o que foi
feito por este governo". "Porque se chega alguém que vai destruir o
que fizemos, vai destruir necessidades do Brasil. Como vou abandonar tudo
isso?", perguntou-se novamente durante a inauguração em Xique-Xique,
pequena cidade no sertão da Bahia, de uma obra iniciada em 1999.
A inauguração em Xique-Xique já
fez parte de uma agenda positiva que Temer prepara para os próximos meses,
chamada pelos seus assessores de "pacote eleição". Temer vai anunciar
um aumento de 5% no Bolsa Família, que distribui verbas para famílias carentes,
e contratar 650 mil novas residências do Minha Casa, Minha Vida, programas
sociais iniciados durante o governo Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores
(PT). O presidente pretende ainda entregar a última estação do eixo norte da
transposição do rio São Francisco, um trecho que já estava concluído a 80%
quando assumiu o governo, visitar o Hospital Dom Tomás, construído no ano
passado em Petrolina, Pernambuco, e participar das inaugurações de parques
desportivos em Petrópolis, no Rio de Janeiro, Teresina, no Piauí, e Maceió, em
Alagoas. Em maio, quando se completarem dois anos da chegada do político do MDB
ao poder em substituição de Dilma Rousseff, do PT, fará uma cerimónia a lembrar
as suas realizações.
Mas por enquanto o anúncio de
Temer não mobilizou os partidos da sua base de apoio no Congresso Nacional.
Dois deles, o Partido Trabalhista Brasileiro e o Partido Social Democrático,
porque já declararam apoio a Geraldo Alckmin, atual governador do estado de São
Paulo e candidato do Partido da Social Democracia Brasileira, e outro, o
Partido da República, porque equaciona apoiar Lula, caso o antigo presidente
possa concorrer.
O Partido Social Cristão e o
Partido Republicano Brasileiro, por sua vez, apresentam candidaturas próprias,
respetivamente de Rabello de Castro e de Flávio Rocha. O mesmo motivo por que o
Democratas, do presidenciável Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos
Deputados, considerou "pouco atrativo" apoiar Temer. O Partido
Progressista e o Solidariedade, aliás, estão com Maia. Carlos Marun, ministro
de Temer e quadro do MDB, desdramatiza: "O jogo recomeçou quando o
presidente admitiu possibilidade de se candidatar. Os próximos 60 dias serão
eletrizantes."
Meirelles alternativa
Em paralelo, o ministro das
Finanças, Henrique Meirelles, também está disposto a concorrer. E pelo partido
de Temer, no qual se filiou nos últimos dias. Já anunciou que, como manda a
lei, vai abandonar o posto seis meses antes das eleições, ou seja, no dia 7, e
confia agora que o presidente reconsidere a candidatura própria e o apoie. Como
Temer, Meirelles também tem em torno de 1% nas intenções de voto das sondagens,
motivo pelo qual as próximas pesquisas de opinião serão essenciais para o MDB
perceber quem está mais bem posicionado. Não está colocada de parte uma
candidatura de Temer, que terá 78 anos na data das eleições, à presidência, e
de Meirelles, que terá 73, à vice-presidência.
Temer, eleito como
vice-presidente de Dilma em 2014, chegou ao poder em maio de 2016, com o
impeachment da colega de lista. Meirelles, que havia sido um elogiado
presidente do Banco Central no governo de Lula, aceitou o convite de Temer para
assumir o Ministério das Finanças e, regra geral, tem sido aplaudido pelos analistas
dada a melhoria dos indicadores económicos do país.
João Almeida Moreira | Diário de
Notícias
Na foto: Após semanas de
especulação, Michel Temer assumiu-se como candidato para defender tudo aquilo
que o seu governo fez|Reuters
Sem comentários:
Enviar um comentário