Marinha chinesa exercita os
músculos no Mar do Sul da China
Pela primeira vez desde há três
anos, a marinha chinesa efetuou na quarta-feira exercícios com fogo real no
Estreito de Taiwan, descritos em Pequim como “um aviso” às forças separatistas
da ilha e aos Estados Unidos. Foram também as primeiras manobras navais desde
que a líder do Partido Democrático Progressista (pró-independência), Tsai
Ing-wen, foi eleita Presidente de Taiwan, em janeiro de 2016.
“Se Taiwan e os EUA encararem a
iniciativa do Exército Popular de Libertação apenas como um sinal de dissuasão,
estão a cometer um erro grave”, disse o “Global Times”, um tabloide
nacionalista do Partido Comunista Chinês, citando um perito militar local. “O
Exército Popular de Libertação está a preparar-se para uma grande operação
militar destinada a retomar Taiwan no futuro”, assegurou.
“Os comunistas chineses têm
estado a usar intimidação verbal e fanfarronadas, esperando afetar a moral ou
criar mal-estar social”, reagiu o porta-voz do Ministério da Defesa de Taiwan,
Chen Chung-chi, citado pelo “South China Morning Post”, publicado em Hong Kong.
“É uma manobra de guerra psicológica”, disse outro responsável militar da ilha.
No final da semana passada, a
marinha de Taiwan fez exercícios navais na mesma região. “Não têm significado”,
comentou um general chinês, Xu Guangyu. “Quando o continente decidir resolver
militarmente a questão de Taiwan, as suas tropas não terão possibilidade de
mudar o que quer que seja”.
Com uma superfície equivalente a
um terço de Portugal e cerca de 23,5 milhões de habitantes, Taiwan fica a menos
de 200 quilómetros da costa leste da China e, em alguns pontos, a distância é
de apenas 130 quilómetros. No plano económico, as relações são ainda mais
próximas. Apesar da tradicional rivalidade política, a China continental é o
maior mercado de Taiwan, absorvendo 28% das exportações da ilha. Os EUA surgem
em terceiro lugar, atrás de Hong Kong. Em contrapartida, o investimento de
empresas de Taiwan também é elevado sendo o exemplo mais conhecido a Foxconn
(Hon Hai, em chinês), que fabrica no continente os iPhones, entre outros.
Apenas vinte países, quase todos
pequenos estados da América Central e do Pacífico Sul, mantêm relações
diplomáticas com Taiwan. Pequim não se opõe a relações económicas e comerciais
com a ilha, mas condena quaisquer contactos de natureza oficial.
Em março, ignorando os protestos
de Pequim, o Presidente Trump autorizou o intercâmbio entre funcionários dos
EUA e de Taiwan, incluindo visitas de navios de guerra. Um conhecido professor
chinês de Relações Internacionais, Shi Yinghong, considerou o denominado Taiwan
Travel Act “um grave retrocesso” nas relações sino-norte-americanas. Segundo o
Governo chinês, a nova lei “viola seriamente o princípio de uma única China”.
As manobras de quarta-feira
decorreram menos de uma semana depois da “maior parada naval da história
chinesa”, com 48 navios, entre os quais o seu primeiro porta-aviões, “Liaoning”
e mais de dez mil soldados. A parada, presidida pelo novo “Grande Timoneiro” do
país, Xi Jinping, realizou-se no disputado Mar do Sul da China.
Construído na antiga URSS, o
“Liaoning” — ou “Variag”, como então se chamava — foi comprado há vinte anos à
Ucrânia por uma companhia chinesa. Os novos proprietários anunciaram que iriam
levá-lo para Macau e convertê-lo num casino flutuante, mas o porta-aviões
acabaria num estaleiro de Dalian, no nordeste da China. Em 2012, depois de
devidamente equipado, entrou ao serviço da marinha chinesa que, entretanto, já
construiu um segundo porta-aviões.
António Caeiro | Expresso | Foto:
Reuters - O porta-aviões “Liaoning” à frente da frota militar chinesa
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