sábado, 28 de abril de 2018

Populismo? "Há um processo de desagregação e de difícil arranjo europeu”


Francisco Louçã enquadra discurso do Presidente da República, na parte a que Marcelo se referiu ao populismo, ao "processo de desagregação e de difícil arranjo europeu” que se vive nalguns países.

Apesar de já terem passado dois dias das comemorações do 25 de Abril, o discurso do Presidente da República ainda é assunto de análise nos espaços de comentário, sobretudo pela ‘troca’ de palavras que se sucederam entre um primeiro-ministro que não percebeu o discurso presidencial e um Presidente que disse que um banhista de 20 anos conseguiu a proeza que Costa não conseguiu: perceber o seu discurso preventivo.

Sobre o discurso de Marcelo, Louçã referiu que “haverá muitos intérpretes diferentes”. “Creio até que António Costa referiu-se com algum humor e com alguma simpatia”, disse o comentador, defendendo que “quem tem autoridade para reconhecer o valor das suas palavras é a própria pessoa que formula o discurso”. De todo o modo, “foi muito interessante que o PR no dia seguinte tenha usado a metáfora do jovem banhista, tudo isto tem muita graça”, assinalou. 

Louçã enquadra o discurso do Presidente sobre populismo no “processo de desagregação e de difícil arranjo europeu” que se vive, não tendo considerado as suas palavras um recado interno.

“Se olharmos para o que o PR fez nos dias anteriores podíamos perceber a lógica. O Presidente esteve, juntamente com o primeiro-ministro, com o presidente francês a comemorar os 100 anos de batalha de La Lys, uma das desgraças da história militar portuguesa, mas que evoca um período final da Primeira Guerra Mundial e a memória dos fracassos na conclusão da guerra lembra os erros que se acumularam até à Segunda Guerra, com populismo, nazismo, ditadura em vários países”, sustentou.

Como tal, no seu entendimento, “olhar para essa tragédia europeia é importante no momento em que há muita exasperação”. “Há países que têm governos muito próximos destas fronteiras da intolerância e da violência, no centro da Europa, há aqui um processo de desagregação e de difícil arranjo europeu”, analisou, considerando que, embora não seja um recado interno, Marcelo pode ter-se referido de forma mais genérica, porque se há uma vaga de desagregação europeia, ela tem consequências para Portugal.

Mas Marcelo, destacou o bloquista, foi muito explícito sobre duas questões portuguesas. A primeira, o sublinhado que fez em relação ao seu "receio de alguma desorganização dos espaços políticos e emergência de formas inorgânicas de demagogia e de repolarização política". Tal, "aplica-se particularmente no espaço da Direita, entre o PSD e o CDS", concluiu. 

Por outro lado, o Presidente "sublinhou muito o papel da estrutura militar".  "Não esqueçamos que ele tem sempre chamado a atenção que o mistério do roubo em Tancos não foi resolvido e não parece haver nenhuma outra hipótese que não que tenham sido militares", assinalou. 

Em suma, para Louçã, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa "é um sinal de alerta de que o Presidente terá entendido que era tempo de dizer e que o nadador percebeu [risos]". 

Melissa Lopes | Notícias ao Minuto | Foto: Blas Manuel/Notícias ao Minuto

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