terça-feira, 3 de abril de 2018

TEATRO À MÍNGUA | Nunca se fez um ataque tão grande ao teatro em Portugal


De acordo com os números avançados pelo Ministério da Cultura, o Programa de Apoio Sustentado da Direção Geral das Artes (DGArtes), na área do teatro, vai ter um reforço de 900 mil euros por ano, de 2018 a 2021. O diretor do Teatro Experimental de Cascais (TEC) considera que nunca como agora se fez um ataque tão grande ao teatro em Portugal.


Mas os resultados provisórios conhecidos do programa mostram que companhias como o Teatro Experimental do Porto e a Seiva Trupe, assim como o Teatro Experimental de Cascais ficaram sem financiamento, à semelhança das únicas estruturas profissionais de Évora (Centro Dramático de Évora) e de Coimbra (Escola da Noite e O Teatrão), além de projetos como Cão Solteiro, Bienal de Cerveira e Chapitô.

Neste contexto, em entrevista à agência Lusa, o diretor do Teatro Experimental de Cascais, Carlos Avilez, disse estar "perplexo" com o facto de o TEC estar excluído dos subsídios plurianuais ao teatro, de acordo com os resultados provisórios dos concursos da Direção-Geral das Artes (DGArtes).

"Este palco faz 52 anos, por ele passaram grandes nomes do teatro mundial, inclusive, grandes espetáculos. Temos um elenco de gente jovem da maior qualidade, está o Ruy de Carvalho (...) e, de repente, acaba-se com o TEC? É uma coisa absurda. Uma coisa que em 52 anos nunca ninguém se atreveu a fazer", sublinhou Carlos Avilez.

Para o diretor do TEC, é "impensável" que a companhia que dirige possa não ser subsidiada nos próximos quatro anos, numa altura em que já está projetada uma sala nova para a companhia.

"Então vamos ter uma sala nova e acabam connosco?", questiona Carlos Avilez, sublinhando que o TEC "não é um museu".

"Estamos vivos e bem vivos e temos obra feita", observou, acrescentando estar convicto de que se resolva o problema das companhias não subsidiadas.

"Não acredito que o senhor primeiro-ministro não reaja a uma coisa destas, porque toda a gente está a reagir", disse. E mostrou-se solidário com todas as companhias, sejam ou não subsidiadas.

"Isto não é uma divisão de classe. Isto é uma falta de respeito pela classe, que é uma coisa completamente diferente", frisou Carlos Avilez.

O diretor do TEC acrescentou que, antes do 25 de Abril de 1974, passou por muitas situações difíceis, teve espetáculos proibidos pela censura, mas nunca se viu confrontado com a hipótese de a companhia poder acabar.

"E nunca pensei que isto acontecesse com este Governo", pelo que vai estar presente, na sexta-feira, na concentração em frente ao Teatro Nacional D. Maria II, que já dirigiu.

"Na sexta-feira vou estar por baixo da janela do Nacional D. Maria, que dirigi durante sete anos", frisou. "E não esperava estar sujeito a isto, mas isto não é uma questão pessoal, mas de classe".

Para Carlos Avilez, a situação gerada pela DGArtes teve um ponto positivo: "Conseguiu reunir a classe". Um "imperativo" de há muito, porque não é só o presente do teatro que está em causa, mas também o futuro", referiu.

Carlos Avilez sublinhou ainda o trabalho importante que o TEC tem desenvolvido na vila de Cascais, onde o teatro esgota salas.

"Foi um percurso de 52 anos, de 25 anos de escola de teatro e não há direito que se acabe assim com ele", afirmou.

Na quarta-feira, o Teatro Mirita Casimiro abre portas à população de Cascais para que possa assitir à peça que tem em cartaz -- "As you like it -- Como vos aprouver", sobre o clássico de William Shakespeare, com interpretações de Ruy de Carvalho, Bárbara Branco e José Condessa, entre outros atores.

Será uma récita gratuita para a população que apenas terá de levantar os ingressos com antecedência, concluiu.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Na foto Carlos Avilez / Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana