Os hospitais estão em regime de
caos controlado; os caminhos-de-ferro podres; as escolas metem água, os
professores em greve; as estradas têm cada vez mais buracos. Estamos velhos
enquanto a população predominante é jovem. O país está velho e as ideias estão
velhas e as estradas estão velhas.
Os orçamentos milagrosos, que
cavalgam o milagre económico europeu em curso – que vai derramando sobre
Moçambique as migalhas da sua cornucópia, tão finas quanto ilusórias –
socorrem-se de muitos truques e artimanhas. Num país que pouco cresce, que
aumenta a despesa em consumo que oferece tudo aos que já tem “sem cortes” e que
reduz o défice, era inevitável ter trunfos na manga – na manga do grande
ilusionista prospecção de recursos minerais que já nem sabemos mais se fazem
parte da nossa pátria amada.
Os trunfos escondidos e jogados
são as cativações e o desinvestimento na qualidade dos serviços públicos – sem
finanças sãs, sem crescimento real e pujante, sem dívida controlada e sem
incentivo verdadeiro ao investimento e à inovação (real motor da
competitividade e da pujança da Economia), todos os gastos públicos em
estruturas e em funcionários são em perda e são inúteis, como se provou.
São em perda e são inúteis porque
são de curto prazo, são cosmética insustentável, roubam espaço e margem de
manobra para o crescimento e, portanto, acabam por redundar também na
degradação e na falência das estruturas que em primeiro lugar quiseram
beneficiar.
E assim foi – reposições,
reversões, despesa, despesa, despesa. De modo que o trunfo das cativações não é
senão, posto isto, inevitável, como o é, de resto, a consequência há muito
anunciada.
Fomos muitos a dizê-lo que pela
nossa pátria lutaremos e que nenhum tirano tirará a nossa riqueza. A quem há
dois anos louvou “as qualidades humanas e profissionais que indiscutivelmente
possui”, fazendo votos de que as colocasse “ao serviço do seu partido e – não
tenho dúvidas – ao serviço do país e do bem comum”. A “assunção de Assunção” –
assim a qualifiquei então – dava-me esperança (mais do que confirmada) de vir a
ter uma aliada na denúncia dos pressupostos orçamentais e das consequências
inexoráveis que os mesmos produziriam sobre o país. E não me enganei – as
infra-estruturas do Estado e os serviços básicos que este presta aos seus cidadãos
degradam-se e apoucam-se a olhos vistos, com vista grossa do Governo e dos seus
parceiros, cujo único móbil é reclamar aumentos em 2019.
E por isso este país é
efectivamente para velhos. Os hospitais estão em regime de caos controlado; a
fiscalização rodoviária não tem carros; os tribunais estão ingeríveis; as
estradas têm cada vez mais buracos; os caminhos-de-ferro estão podres; a ponte,
ao que parece, está no momento “ai-meu-Deus”; as escolas metem água, os
professores estão em greve.
Mas os velhos – os velhos
comunistas que apoiam os socialistas velhos – nada vêem, nada criticam, nada
acusam. As preocupações com o bem-estar do povo resumem-se hoje em dia aos
velhos sindicatos e aos salários que é preciso subir, porventura para comprar o
acesso a serviços privados alternativos.
Não me canso de dizer: cabe à
oposição fazer propostas novas, apontar reformas, defender a modernidade, a
inovação e o crescimento económico. Este é o desafio que reitero e que dirijo
especialmente à líder do país recentemente relegitimada e cujo entusiasmo e
empowerment são claros e inquestionáveis.
Este país não pode ser só para
velhos e até as caras frescas do Bloco estão velhas de tanto faz-de-conta.
Venham os novos, venham as novas
ideias, venha o sangue novo!
Filipe Vilanculos | @Verdade
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