quarta-feira, 9 de maio de 2018

EMBUSTEADO MOÇAMBIQUE


Os hospitais estão em regime de caos controlado; os caminhos-de-ferro podres; as escolas metem água, os professores em greve; as estradas têm cada vez mais buracos. Estamos velhos enquanto a população predominante é jovem. O país está velho e as ideias estão velhas e as estradas estão velhas.

Os orçamentos milagrosos, que cavalgam o milagre económico europeu em curso – que vai derramando sobre Moçambique as migalhas da sua cornucópia, tão finas quanto ilusórias – socorrem-se de muitos truques e artimanhas. Num país que pouco cresce, que aumenta a despesa em consumo que oferece tudo aos que já tem “sem cortes” e que reduz o défice, era inevitável ter trunfos na manga – na manga do grande ilusionista prospecção de recursos minerais que já nem sabemos mais se fazem parte da nossa pátria amada.

Os trunfos escondidos e jogados são as cativações e o desinvestimento na qualidade dos serviços públicos – sem finanças sãs, sem crescimento real e pujante, sem dívida controlada e sem incentivo verdadeiro ao investimento e à inovação (real motor da competitividade e da pujança da Economia), todos os gastos públicos em estruturas e em funcionários são em perda e são inúteis, como se provou.

São em perda e são inúteis porque são de curto prazo, são cosmética insustentável, roubam espaço e margem de manobra para o crescimento e, portanto, acabam por redundar também na degradação e na falência das estruturas que em primeiro lugar quiseram beneficiar.

E assim foi – reposições, reversões, despesa, despesa, despesa. De modo que o trunfo das cativações não é senão, posto isto, inevitável, como o é, de resto, a consequência há muito anunciada.

Fomos muitos a dizê-lo que pela nossa pátria lutaremos e que nenhum tirano tirará a nossa riqueza. A quem há dois anos louvou “as qualidades humanas e profissionais que indiscutivelmente possui”, fazendo votos de que as colocasse “ao serviço do seu partido e – não tenho dúvidas – ao serviço do país e do bem comum”. A “assunção de Assunção” – assim a qualifiquei então – dava-me esperança (mais do que confirmada) de vir a ter uma aliada na denúncia dos pressupostos orçamentais e das consequências inexoráveis que os mesmos produziriam sobre o país. E não me enganei – as infra-estruturas do Estado e os serviços básicos que este presta aos seus cidadãos degradam-se e apoucam-se a olhos vistos, com vista grossa do Governo e dos seus parceiros, cujo único móbil é reclamar aumentos em 2019.

E por isso este país é efectivamente para velhos. Os hospitais estão em regime de caos controlado; a fiscalização rodoviária não tem carros; os tribunais estão ingeríveis; as estradas têm cada vez mais buracos; os caminhos-de-ferro estão podres; a ponte, ao que parece, está no momento “ai-meu-Deus”; as escolas metem água, os professores estão em greve.

Mas os velhos – os velhos comunistas que apoiam os socialistas velhos – nada vêem, nada criticam, nada acusam. As preocupações com o bem-estar do povo resumem-se hoje em dia aos velhos sindicatos e aos salários que é preciso subir, porventura para comprar o acesso a serviços privados alternativos.

Não me canso de dizer: cabe à oposição fazer propostas novas, apontar reformas, defender a modernidade, a inovação e o crescimento económico. Este é o desafio que reitero e que dirijo especialmente à líder do país recentemente relegitimada e cujo entusiasmo e empowerment são claros e inquestionáveis.

Este país não pode ser só para velhos e até as caras frescas do Bloco estão velhas de tanto faz-de-conta.

Venham os novos, venham as novas ideias, venha o sangue novo!

Filipe Vilanculos | @Verdade

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