quarta-feira, 9 de maio de 2018

Moçambicanos em Berlim apelam à paz após morte de Dhlakama


Por um lado, falam do desejo de que negociações de paz continuem no bom caminho. Por outro, divergem sobre o novo presidente interino da RENAMO. Cerimónias fúnebres de Afonso Dhlakama começam esta quarta-feira na Beira.

Ivan Tembe, membro da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e secretário da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) em Berlim, diz que soube da morte de Afonso Dhlakama pelas redes sociais. De imediato, ficou com várias dúvidas.

"Como será negociada agora a paz? Quem são as pessoas da RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana] que estarão à frente dessa negociação? São questões normais que qualquer um poderia se questionar", afirma.

Para o jovem de 33 anos, no entanto, o processo de negociação da paz efetiva em Moçambique, que vinha sendo liderado pessoalmente pelo líder histórico da RENAMO e pelo Presidente Filipe Nyusi, estava "plenamente avançado". Espera agora que as conversações prossigam.

"Não só era objetivo ou desejo do presidente do partido RENAMO, Afonso Dhlakama, alcançar essa paz efetiva, mas também dos outros moçambicanos, assim como dos outros membros da RENAMO", diz.

"Então, eu acredito que vai continuar o processo, como estava a continuar. Será com diferentes pessoas agora, mas vai continuar", afirma o moçambicano.

Momento de incertezas

Francisco Quive reside na Alemanha há 31 anos. Diz que nunca deixou de acompanhar os desenvolvimentos em Moçambique. O simpatizante da FRELIMO, de 54 anos, afirma que seu país passa por um momento de incerteza.

"As negociações de paz em Moçambique eram feitas só entre duas pessoas. Ele [Dhlakama] foi com o segredo dele na cabeça e a outra parte que ficou ainda mantém a outra parte do segredo. Agora, ninguém vai conseguir tirar os segredos com que ele foi com ele na cabeça. É por isso que digo, já que ele [Dhlakama] foi com os segredos dele na cabeça, agora a nossa paz está ameaçada", considera.

nomeação de Ossufo Momadepara líder interino do maior partido da oposição, divide opiniões entre os moçambicanos residentes em Berlim. Momade não convenceu Francisco Quive.

"Não sabemos se essa pessoa vai conseguir aquilo que o Afonso conseguia: manter calmas aquelas pessoas que o Afonso conseguia manter calmas. Porque houve-se que há alguns comandos que querem tudo à força lá em Moçambique. Eles que continuam lá nas selvas", explica.

"Agora, [há] essa incerteza sobre se o senhor Ossufo vai conseguir manter calmos os tais rebeldes. Eu não sei, porque o Dhlakama disse que só ele os conseguia manter calmos", avalia Francisco Quive.

Já o engenheiro Constâncio Maulana, de 53 anos, simpatizante da RENAMO e que vive há mais de 20 anos na Alemanha, vê em Momade uma boa opção do seu partido.

"Eu penso que é uma pessoa muito indicada, que vai conseguir fazer face tanto à parte militar, quanto à parte política [da RENAMO]. Espero e peço que também ele esteja à altura de tentar corrigir as lacunas que estão neste acordo que foi feito entre o presidente Dhlakama e o Presidente da República, Filipe Nyusi", afirma o simpatizante da RENAMO.

Impasse nas negociações

Uma questão que tem gerado impasse nas negociações é a descentralização.

Enquanto a RENAMO defende que os administradores distritais devem ser indicados pelos governadores provinciais, a FRELIMO é de opinião que a indicação seja feita pelo Ministério que superintende a área.

Constâncio Maulana acredita que o novo líder interino da RENAMO saberá superar este diferendo.

"É muito notório que o Governo vigente instalou, ou vai instalar, um Governo paralelo. Isso demonstra uma desconfiança em relação a uma parte dos moçambicanos, e o Governo quer continuar a controlar todas as coisas mais importantes - portanto, a riqueza", considera.

"O senhor Ossufo é a pessoa indicada para mandar corrigir isso, portanto, estou muito otimista em relação a isso", conclui.

Todos dizem torcer para que a paz seja alcançada o mais rápido possível. Francisco Quive deixa um apelo aos seus conterrâneos: "Que o povo moçambicano acabe com esses conflitos e rume ao desenvolvimento nacional para acabar com a pobreza absoluta em Moçambique", defende.

Cristiane Vieira Teixeira (Berlim) | Deutsche Welle

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