sábado, 30 de junho de 2018

Força de defesa europeia: cópia da OTAN destinada ao fracasso?


Nesta semana, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês, Emmanuel Macron, discutiram a criação de uma força de defesa conjunta europeia, alcançando, segundo a ministra da Defesa francesa Florence Parly, um avanço no assunto. Especialista francês comentou à Sputnik os planos de defesa da União Europeia.

O cientista francês e professor da Universidade de Sorbonne, Christophe Réveillard, acredita que por enquanto não há razões para ver o projeto com otimismo.

Segundo ele, a concepção de defesa europeia não é original, copiando os documentos da OTAN. Ainda por cima, os poucos projetos que já foram realizados dificilmente podem ser denominados europeus, pois envolvem apenas três a quatro países.

"Aquilo a que chamam de projetos europeus são na verdade projetos realizados por três ou quatro países, pois apenas três ou quatro países da União Europeia possuem uma indústria de defesa com nível suficiente", opinou Réveillard.

O analista sublinha que a estratégia desenvolvida pela UE é muito duvidosa, sendo uma cópia da OTAN.

"A União Europeia é incapaz de elaborar uma estratégia. Se vocês analisarem a estratégia proposta por [chefe da diplomacia europeia] Federica Mogherini […] verão que ela é na verdade um copy-paste da OTAN. Se alguém cria uma força de defesa, é preciso antes de tudo elaborar uma estratégia. Uma estratégia que não temos", disse o especialista à Sputnik França.

As medidas que já foram tomadas no âmbito da iniciativa de uma defesa europeia comum não passam, para Réveillard, de um "logro". O analista lembra que "a única proposta valiosa" já feita, ou seja, uma força de ataque com 50 mil efetivos, rapidamente perdeu força e apoio e acabou sendo realizada pela OTAN.

Não são apenas os analistas que acham o projeto de uma defesa conjunta da UE pouco provável. Os próprios militares, segundo o professor francês, duvidam da necessidade de tal estrutura, pois a maioria das possíveis operações fora da Europa serão realizadas junto com as forças da Aliança.

"Quando você fala com militares franceses sobre uma força de defesa europeia, eles riem na cara, perguntando para quê criar uma defesa europeia, se nossa estrutura dentro da OTAN funciona e para quê fazer isso se resultará pior, junto com a UE e exércitos que não estão coordenados entre si a nível europeu?", conclui o autor.

Em setembro, o presidente da França, Emmanuel Macron, propôs um plano para criar uma força de defesa conjunta europeia que protegeria a Europa agindo em pontos críticos em todo o mundo. Segundo Macron, a força de defesa conjunta deveria complementar a OTAN em vez de substituir a Aliança. Originalmente, Berlim estava cética em relação à ideia, mas no início de junho a chanceler alemã, Angela Merkel, expressou seu apoio à iniciativa.

Sputnik | Foto:  AFP 2018 / Anne-Christine Poujoulat

UE | A Estónia celebra um criminoso nazi


Uma placa comemorativa dedicada ao Coronel Alfons Rebane foi inaugurada a 22 de Junho na Estónia.

Alfons Rebane foi um colaborador do IIIº Reich com o posto de Standartenführer nas SS. Ele cometeu diversos crimes de guerra na União Soviética.

O governo estónio dissociou-se desta manifestação, mas recusou-se a condená-la.

Após a Segunda Guerra Mundial, Alfons Rebane foi para o Reino Unido no quadro da operação stay-behind (Gládio). Ele participou, nomeadamente, na «Operação Selva», visando infiltrar antigos oficiais nazistas na Polónia e nos países Bálticos para aí prosseguir a luta anti-comunista. Ele chegou mesmo a dar cursos na escola do MI6 («Inteligência Britânica»-ndT).

A Estónia é membro da União Europeia; uma organização que é suposta lutar pela paz na Europa e contra o ressurgimento do racismo nazista.

Voltaire.net | Tradução  Alva

UE | A Alemanha e os consensos


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Depois de se ter dedicado ao desenvolvimento de exercícios de superioridade e subsequente humilhação, a mesma Alemanha liderada por Angela Merkel pede agora consensos entre os vários Estados-membros da UE, designadamente sobre imigração e moeda única.

Depois de se ter dedicado a esses referidos exercícios, Merkel muda o disco e pede que entre Estados-membros, alguns dos quais com uma orientação política fascista e xenófoba, cheguem a entendimentos, depois da própria Alemanha, orientada por Merkel e pelo seu inefável ministro das Finanças Shau ble, ter dado o maior contributo na História da UE para esfrangalhar a UE.

De resto, importa não separar essa postura alemã, que resultou num claro enfraquecimento do projecto europeu, da deriva extremista que está a tomar conta de alguns países europeus. A forma como se lidou com a questão grega foi o prenúncio da divisão. Vir agora pedir união cheira a lata desmesurada.

Ana Alexandra Gonçalves* | Triunfo da Razão | Foto AFP

Morreu José Manuel Tengarrinha, antifascista fundador do MDP/CDE


Fundador do MDP/CDE tinha 86 anos

José Manuel Tengarrinha, fundador do MDP/CDE, morreu esta sexta-feira aos 86 anos, confirmou à agência Lusa o dirigente do Livre Rui Tavares.

José Manuel Tengarrinha, que foi deputado na Assembleia Constituinte, era atualmente militante do partido Livre.

Historiador e professor, o fundador do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE) foi preso pela PIDE e esteve na Cadeia do Aljube.

Primeiro-ministro destaca "um exemplo"

O primeiro-ministro, António Costa, considerou que José Manuel Tengarrinha se distinguiu em Portugal como um "lutador antifascista", tendo sido um "exemplo de cidadão civicamente ativo" e um "historiador ilustre".

"Manifesto à família de José Manuel Tengarrinha sentido pesar pelo seu falecimento. Lutador antifascista, deputado constituinte, militante político, foi um exemplo de cidadão civicamente ativo, a par de historiador ilustre que investigou e lecionou com paixão", refere o primeiro-ministro na mensagem que enviou à agência Lusa.

TSF com Lusa

Petróleo em Portugal | Equívocos e ocultações do Ministro do "Ambiente"


O Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, foi ao parlamento afirmar que "o Governo assume a hipótese de explorar petróleo ao largo do Algarve".

Eduardo Paes Mamede | Ladrões de Bicicletas

Esta é a primeira vez que o governo assume explicitamente a defesa da exploração de petróleo em Portugal. Até aqui, vários membros do executivo têm-se escudado na ideia de que o país tem de conhecer os seus recursos naturais, como forma de justificar o contrato com o consórcio ENI/GALP para exploração de petróleo ao largo de Aljezur. Na verdade, nunca foi um argumento convincente: o contrato inclui todas as fases do processo, desde a prospecção à exploração. Agora, o Ministro do Ambiente não só admite a possibilidade, como assume o desejo de que Portugal se torne um país produtor de petróleo. Porém, insiste em justificar a decisão alimentando equívocos e deixando por esclarecer questões-chave.

Primeiro, é falsa a ideia de que Portugal poderá tornar-se independente em termos energéticos com base nestes contratos. Caso encontre petróleo, o consórcio ENI/GALP não está obrigado a vendê-lo em Portugal a preços mais favoráveis. Vendê-lo-á nos mercados internacionais, a quem pagar mais. Os lucros ficarão para si e as contrapartidas para o Estado português serão mínimas. O Ministro do Ambiente continua a não falar desta questão. Pelo contrário, insiste em alimentar a fábula do enriquecimento fácil do país com base em contratos muito pouco favoráveis (e cujo processo de aprovação é questionável a vários níveis).

Segundo, a promessa de que a exploração não avançará sem um estudo prévio de impacte ambiental é pouco tranquilizadora. É sabido que o risco de desastre ambiental é mínimo, desde que sejam tomadas todas as precauções. Por isso, e porque ninguém se atreverá a parar o processo depois de terem sido gastas centenas de milhões de euros na fase de prospecção, nenhum estudo de impacte ambiental irá fazer parar este processo. Se houver petróleo haverá exploração. Mas os acidentes, por pouco prováveis que sejam, acontecem - como se tem visto em várias partes do mundo. E quando acontecem os efeitos são desastrosos. O contrato com a ENI/GALP não protege o país dessa eventualidade: em caso de acidente, será o Estado português e as populações afectadas a assumir o grosso dos custos ambientais, sociais e económicos. O Ministro do Ambiente continua a não falar desta questão. Neste caso, prefere mesmo fingir que não é nada com ele.

Finalmente, o Ministro do Ambiente continua a não conseguir explicar como é que o apoio, agora finalmente assumido, à exploração de petróleo em Portugal é compatível com os compromissos assumidos pelo Estado português no Acordo de Paris. Existe hoje o reconhecimento internacional de que o combate às alterações climáticas se faz não apenas pela redução do consumo de hidrocarbonetos, mas também pela redução da sua produção. É verdade que os tempos mudaram: Obama saiu da presidência dos EUA e deixou no seu lugar alguém que fez letra morta daquele Acordo (e de outros). Isto reduz drasticamente a probabilidade de vermos diminuir a produção de hidrocarbonetos à escala mundial nas próximas décadas. O que o Ministro do Ambiente parece estar a dizer-nos é que não cabe a Portugal preocupar-se com isso. É verdadeiramente caricato que seja o responsável pela pasta do Ambiente a assumi-lo.

*Eduardo Paes Mamede, compositor (ver em Wikipédia)

Mundial2018 | Rumo aos 'quartos': Que Sóchi volte a fazer sorrir CR7 e Portugal


Portugal é uma das quatro seleções hoje envolvidas no arranque dos 'oitavos' do Mundial de futebol, sendo que todas as outras três são antigos campeões, desejosos de na Rússia ocupar o 'trono' já deixado vago pela Alemanha.

Os oitavos de final, que se prolongam até terça-feira, começam com a Argentina - de Lionel Messi - contra a França, da parte da tarde (15:00), para depois ter, ao início da noite (19:00), o jogo entre os 'patrioskas' - do outro 'extraterrestre', Cristiano Ronaldo - e o Uruguai.

Portugal regressa a Sochi, cidade onde iniciou este Mundial com o épico empate 3-3 com Espanha e o 'hat-trick' de Cristiano Ronaldo, agora para defrontar uma seleção que fez o pleno na fase de grupos, incluindo um concludente 3-0 sobre a anfitriã Rússia.

A única dúvida a limitar as escolhas de Fernando Santos, será William Carvalho, o '6' da seleção, titular na fase de grupos e que teve de alterar os treinos por causa de mialgia de esforço. Sexta-feira, só fez corrida, mas o selecionador ainda não descartou aquele que é um dos seus jogadores de maior confiança.

Certo é que, quaisquer que sejam as opções finais do 'mister', Cristiano Ronaldo será o homem mais avançado no terreno, à procura de ser determinante no resultado e atingir mais alguns recordes pessoais - como o de golos lusos em Mundiais, já que está a dois de Eusébio.

A nível pessoal, 'CR7' luta com o inglês Harry Kane e o belga Romelu Lukaku pela distinção de melhor marcador do torneio, precisando de marcar para empatar de novo com o britânico, que já tem cinco golos.

Outra 'corrida' que certamente passa pelas prestações individuais é a da 'Bola de Ouro' para o melhor jogador do ano, com o madeirense e Messi mais uma vez em grande rivalidade, com percursos impressionantes na Liga dos Campeões (Cristiano Ronaldo) e Liga espanhola (Messi).

A Argentina deu uma pálida imagem na prova, até agora, e só continua em campo graças a um golo 'milagroso' de Rojo contra a Nigéria, a quatro minutos do fim. Mas tem Messi, capaz de a qualquer momento fazer a diferença e 'carregar' uma seleção que consensualmente é apontada como das mais fracas das últimas décadas.

O adversário em Kazan é a França, vice-campeã da Europa, vencedora do seu grupo sem deslumbrar, com triunfos sobre Austrália e Peru e estratégico 'nulo' com a Dinamarca.

Os dois vencedores de hoje jogarão de novo a 06 de julho, em Nijni Novgorod, palco do primeiro jogo dos quartos de final.

Notícias ao Minuto com Lusa | Foto Reuters

Fernando Rosas alerta para perigo do conhecimento sem cultura


O historiador Fernando Rosas alerta para a "desculturalização do conhecimento", promovida pelas novas tecnologias, e considera que "a substituição do Homem pela máquina só se resolve no quadro de uma sociedade socialista".

Fernando Rosas, autor, entre outras obras, de 'Portugal Século XX: Pensamento e Ação Política' (2004), faz estas declarações a encerrar o novo volume, a si dedicado, da série 'Fio da Memória', de autoria de José Jorge Letria, editada pela Guerra e Paz.

Esta série publica entrevistas a personalidades da cultura, contando com títulos dedicados à escritora Lídia Jorge, ao maestro Álvaro Cassuto, ao cineasta António-Pedro Vasconcelos, ao catedrático de filosofia Manuel Maria Carrilho, ou o ensaísta Eduardo Lourenço.

No último capítulo do novo volume, intitulado 'Nas Minhas Velhas Convicções de Militante Socialista', o historiador comenta que quando alguém quer saber quem foi Vladimir Lenine (1870-1924), político que liderou os sucessivos Governos russos desde o derrube da monarquia, em 1917, até 1924, resolve o problema de "telemóvel em punho".

Rosas afirma que "há uma 'desculturalização' do conhecimento" e, noutro capítulo da obra, numa resposta a Letria, argumenta que "nada substitui o livro e o papel", referindo que, no atual contexto, "há é uma desistência da leitura, da reflexão crítica e da controvérsia".

O historiador Fernando Rosas, de 72 anos, é apontado pelo escritor José Jorge Letria como um exemplo de como o combate político se tornou "numa intensa e apaixonada carreira académica" na historiografia.

Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, Rosas "constitui um exemplo de como o combate político, que implicou detenções nas prisões da ditadura, mas também a experiência da clandestinidade, acabou por se converter numa intensa e apaixonada carreira académica que lhe permite falar da História como uma paixão e do pensamento político como uma porta aberta para o que há de vir e que ninguém sabe ao certo o que será e como irá ser".

Nesta conversa, colocada em letra de forma, Fernando Rosas dá conta de como o seu avô materno, Filipe Mendes, um republicano, o influenciou, tendo-se tornado militante do Partido Comunista Português (PCP) aos 15 anos e, mais tarde, depois da Revolução de Abril, militante do MRPP e diretor do seu órgão oficial, o jornal Luta Popular, "num tempo turbulento e violento", escreve Letria.

Sobre si, afirma Fernando Rosas: "Nasci com a política à mesa". E recorda os brindes de Natal, em que o avô finalizava com "Viva a República, viva a liberdade", ou como a casa da sua tia Cândida Ventura, funcionava como apoio aos militantes clandestinos do PCP.

No texto sobre as suas "velhas convicções de militante socialista", o autor regressa às teorias de Karl Marx, filósofo sobre qual nota assistir-se "uma pujança editorial" de trabalhos sobre o pensador.

Considerando "muito importante", no contexto social atual, "a substituição do Homem pela máquina", Rosa afirma que esta questão "só se resolve no quadro duma sociedade socialista, ou seja, só se resolve "no quadro da coletivização dos meios de produção", e quando se puder "planear os meios de produção para que o inevitável e necessário progresso da máquina traga ao Homem mais tempo de lazer e de bem-estar e não o desemprego e a miséria".

Uma questão, argumenta, que "tem tudo a ver com o capitalismo e com a superação do capitalismo".

"A coletivização tem de ter poder sobre os meios de produção, para que possa programar em seu proveito o progresso da técnica", defende.

Notícias ao Minuto com Lusa

Rock in Rio: Todos cantámos para Zé Pedro, dos Xutos - The Killers também lá estiveram


O Rock in Rio em Lisboa até amanhã, domingo. Todos os dias têm sido grandes, assim como todas as noites. Ontem, sexta-feira, foi um dia muito especial para muitos portugueses que acompanharam e são fãs dos Xutos & Pontapés e de Zé Pedro, daquela banda. Zé Pedro faleceu há pouco tempo e a homenagem, mais uma, não se fez esperar no palco maior do RiR. Todos cantámos em sua homenagem, até os políticos presentes - Marcelo, Costa, Ferro Rodrigues, Fernando Medina e outros. Cantámos para Zé Pedro "a nossa casinha, com muitas saudades" e do céu caiu chuva, talvez lágrimas comovidas e de agradecimento, de amizade, do Zé Pedro por todos nós. (PG)

Marcelo 'não foi o único' a cantar 'as saudades' que já temos de Zé Pedro

Numa homenagem a Zé Pedro dos Xutos & Pontapés, várias foram as personalidades que juntaram a sua voz a Tim, o vocalista da banda, no palco mundo do Rock in Rio. Hoje, 'nesta casinha' coube um país inteiro a cantar para Zé Pedro.

Naquele que foi o momento mais aguardado do terceiro dia da edição de 2018 de Rock in Rio, Marcelo Rebelo de Sousa subiu ao palco e, numa homenagem de emocionar as pedras da calçada, juntou a voz à de Tim, o vocalista dos Xutos & Pontapés, para cantar 'A Casinha' em homenagem a Zé Pedro. 

Mas o Presidente da República não foi o único. Várias outras personalidades de diferentes quadrantes, da economia ao desporto, passando pela política nacional, subiram ao palco, tais como António Costa, Fernando Medina, Eduardo Ferro Rodrigues, Catarina Martins, Júlia Pinheiro, Raquel Tavares, Sá Pinto, Pauleta, Maria Rueff e Roberta Medina. 

A minha alegre casinha', a icónica música da banda portuguesa, era a última do alinhamento deste concerto. Assim que se ouviram os primeiros acordes, Marcelo dirigiu-se ao palco mundo, assim como todas as outras personalidades. E em uníssono cantaram a uma só voz para Zé Pedro.

A emoção terá, certamente, falado mais alto nos corações de muitas gerações de fãs de Xutos & Pontapés. Esta sexta-feira, no Parque da Bela Vista, a chuva não levou a melhor; sentiram-se e cantaram-se 'as saudades que já temos' de Zé Pedro. Hoje, 'nesta casinha' coube um país inteiro a cantar para Zé Pedro. 

Questionado pelos jornalistas sobre se se sentia uma 'estrela', por causa do entusiasmo demonstrado pelo público presente, o chefe de Estado respondeu que "aquele entusiasmo todo" era para fazer "uma homenagem merecida a Zé Pedro".

Entre as várias interpelações às quais sempre respondeu, nem que fosse com um sorriso ou um aceno, Marcelo ouviu os "parabéns pelo que disse ao senhor americano".

Veja, na galeria, o vídeo de homenagem a Zé Pedro. E não perca igualmente a oportunidade de ver o entusiasmo de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa durante o concerto: em Notícias ao Minuto.

Filipa Matias Pereira com Natacha Costa e Lusa | Notícias ao Minuto | Foto da SIC


Rock in Rio: Os maiores sucessos dos The Killers no terceiro dia

Os norte-americanos The Killers puseram na sexta-feira milhares de pessoas no Rock in Rio Lisboa a cantar alguns dos maiores sucessos de uma carreira com cerca de 16 anos, num momento em que a chuva deu tréguas.

Cinco anos depois do último concerto em Portugal, a banda de Las Vegas, que entrou em palco pelas 21:15, apostou num alinhamento carregado de êxitos antigos, apesar de ter editado um álbum novo no ano passado.

"Conhecem esta? Provem-no", desafiou o expressivo vocalista Brandon Flowers, levando os presentes a entoar 'Runaway' a plenos pulmões.

O mesmo aconteceu com músicas como 'Somebody told me', 'Spaceman', 'Smile like you mean it', 'Read my mind' e 'When we were young' que arrancaram manifestações mais efusivas do público.

A dada altura, Brandon Flowers disse ao baterista Rooney Vannucci que "as pessoas estiveram à chuva e ainda estão aqui", como que lembrando que aquele público merecia que dessem tudo em palco.

Isto porque, na parte final do concerto da banda que os antecedeu no Palco Mundo, os Xutos & Pontapés, choveu copiosamente na 'cidade do rock', no Parque da Bela Vista.

Como em qualquer concerto de um cabeça de cartaz num festival, houve 'encore'. A banda saiu de palco momentaneamente, o público pediu que voltasse, mas não muito porque as luzes não se apagaram.

A questão 'Are we human?' [Somos humanos?, em português] deu o mote para a reentrada em palco e para um final de concerto com dois dos temas mais marcantes da banda: 'Human' e 'Mr. Brightside'.

Esta última começou com uma versão mais lenta, como uma espécie de ensaio, para a versão original, bem mais ritmada.

No final, o agradecimento de Brandon Flowers, que durante várias músicas tocou num teclado que estava colocado atrás de uma espécie de 'néon' do símbolo do masculino.

Já com o vocalista fora de palco, foi a vez do baterista se chegar à frente e agradecer ao público, que decidiu presentear com um "bouquet de madeira", constituído por três baquetas.

Apesar de serem os cabeça de cartaz de hoje, os The Killer não foram os últimos a atuar no Palco Mundo.

Pelas 23:20 entrou em cena a dupla britânica de música eletrónica The Chemical Brothers, também velha conhecida do público português. Pelas 00:45 de hoje, mantinham-se em frente ao Palco Mundo milhares de pessoas.

Aliás, na sexta-feira, o dia no Palco Mundo foi preenchido por bandas que já passaram várias vezes por Portugal e pelos Xutos.

Ao final do dia passaram por lá os britânicos James, velhos conhecidos do público português, que fizeram questão de tocar sucessos antigos como "Sometimes", "Born of frustration" e "Laid".

Embora prejudicados por alguns problemas de som, deixaram o público rendido, com Tim Booth a descer várias vezes do palco para a plateia.

Na sexta-feira atuaram no Rock in Rio Lisboa, noutros palcos, artistas e bandas como Manel Cruz, Capitão Fausto, Nástio Mosquito. O dia ficou também marcado pelo evento revivalista "Revenge of the 90's", que ao início da noite ocupou o Music Valley com música da década de 1990, numa festa que durou até cerca das 02:00 de hoje.

Até às 00:45 de hoje, a organização não tinha divulgado o número de pessoas que estiveram no Parque da Bela Vista. Nos dois primeiros dias desta edição, no sábado e no domingo passados, registaram-se 71 mil e 85 mil espectadores, respetivamente.

Notícias ao Minuto com Lusa

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Mundial2018 | É hoje o Portugal x Uruguai... Depois é uma questão de fazer contas


No Mundial2018, na Rússia, Portugal defronta hoje o Uruguai. O encontro está marcado para as 19 horas em Lisboa, as diferenças horárias serão ditadas geograficamente pelos fusos horários. É uma questão de fazerem contas… como diria António Guterres.

A propósito da seleção portuguesa e da disputa de hoje com o Uruguai falou Fernando Santos, o selecionador português. É o que trazemos ao PG num artigo publicado no Observador da autoria de Bruno Roseiro.

Acreditamos que Portugal vai vencer o Uruguai. Depois é uma questão de fazer contas, como diria o outro. (PG)

Fernando Santos perdeu um café e riu-se de Trump sobre Ronaldo: “Agora ou se ganha ou não se ganha e eu quero ganhar”

Fernando Santos vê um Portugal mais consistente, elogia qualidade do Uruguai mas acredita na passagem aos quartos, numa conferência que lhe custou um café mas ainda valeu uma forte gargalhada.

E à quinta pergunta, um café por pagar. Depois de ter falado Adrien, Fernando Santos analisara também o encontro deste sábado com o Uruguai, num dos duelos mais aguardados dos oitavos de final e num dia que vai arrancar com um França-Argentina. Até aí, tinha deixado uma visão mais geral, falara de William Carvalho e comentara a série de 17 jogos sem perder em fases finais de grandes provas, contando com Campeonato da Europa, Taça das Confederações e Mundial. Depois, a questão da praxe: Portugal está dependente do que conseguirá fazer Cristiano Ronaldo em mais este jogo, desta vez a eliminar?

“Já tenho de pagar mais um café”, atirou para o assessor da Federação, Onofre Costa. “Nós tínhamos falado antes e ele tinha dito que me fariam essa pergunta, eu disse que desta vez não. Lá vou ter de pagar mais um café”, explicou entre sorrisos antes de repetir a resposta que tem dado sempre: “Percebo a pergunta, respeito mas todas as equipas estão sempre dependentes dos melhores jogadores e connosco é assim porque temos aquele que considero ser o melhor do mundo. Também se pode perguntar a mesma coisa ao treinador do Uruguai, que tem Suárez ou Cavani. Os melhores são sempre influentes”.

Mais à frente, com o tema a ser abordado de outra forma (“Tratando-se de um jogo a eliminar, o Cristiano vai estar mais empolgado?”, a resposta acabou por prolongar a mesma linha de raciocínio. “Se o Cristiano jogar sozinho, Portugal vai perder. Temos de ser tão fortes como a fortíssima equipa do Uruguai porque mesmo quando ele marca três golos num jogo tem de haver uma equipa como suporte. Se olharmos para os jogadores que têm jogado no nosso adversário, temos dois do Atl. Madrid, um do Inter, um da Juventus, na frente um do PSG e outro do Barcelona, ou seja, três que foram campeões nos seus países… São duas grandes equipas, mas também é verdade que, quando se anulam, as diferenças são feitas pelas individualidades, mas apenas porque existe esse suporte da equipa”, destacou, já depois de ter olhado para o Uruguai também como um todo.

“A maior virtude do Uruguai é a própria equipa do Uruguai.Tem uma equipa comandada pelo mesmo treinador há 12 anos, que é muito experiente, uma equipa fortíssima, com jogadores que conhecemos e reconhecemos. É certo que em 2018 não sofreu nenhum golo mas é muito forte nos vários setores. É complicado encontrar fraquezas porque é muito homogénea nos cinco momentos do jogo e procurámos estudar bem o adversário porque dentro dessa fortaleza há sempre alguma coisa que tentaremos explorar. Preparámos bem o jogo, o adversário e aquilo que temos de fazer”, frisou Fernando Santos, o engenheiro para quem é igual a formação em termos académicos: “Influência no futebol? Acabei o curso com 22 anos, aos 15 ou 16 já jogava futebol…”.

Deixando ainda a dúvida em relação à utilização de William Carvalho (“Teremos de ver mais umas horas, nisto umas horas são importantes”), e passando por cima de uma pergunta (que também teve logo uma espécie de aviso prévio para não levar a questão muito a sério) sobre o comentário de Trump para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre se achava possível Cristiano Ronaldo candidatar-se ao seu cargo — “Só vi o nosso Presidente quando cá esteve connosco, depois disso não tive oportunidade de falar com ele… Desculpe, sobre isso não vou falar”, atirou depois de ter soltado uma gargalhada em uníssono com o resto da sala —, o selecionador nacional relativizou ainda o atual registo de jogos sem perder da Seleção mas mostrou confiança em avançar na prova apesar do poderio dos sul-americanos.

“Acreditamos que podemos passar, assim como eles também acham que chegou a hora deles. Pela história, nós fomos campeões da Europa, eles já foram duas vezes campeões do mundo… São números que valem o que valem, o que interessa é o que se vai passar no jogo, tenha quanto tempo tiver. É preciso lutar e trabalhar muito, colocando em campo as nossas capacidades e qualidades. Mas estamos com grande confiança, tendo sempre, obviamente, grande respeito pelo adversário. Portugal quer muito, os jogadores querem muito chegar aos quartos e é em campo que tentaremos fazer a diferença num jogo diferente da fase de grupos porque, amanhã, não vale pontos — agora ou se ganha ou não se ganha e eu quero ganhar”, referiu.

“O que mudou depois de ter chegado? Termos ganho! Portugal sempre teve grandes seleções e jogadores, já tinha ido a uma final do Europeu, esteve em duas meias-finais do Mundial, não logrou vencer mas o futebol tem isso. O que foi importante foi ganhar. Há sempre alguma coisa que muda, mas é reflexo dos jogadores e do que conseguiram fazer em campo. Aqui, penso que Portugal tem crescido, tenho essa confiança que sim. Os jogadores encontram-se durante o ano dois ou três dias e acrescentando mais jogos e treinos é normal que a equipa vá ficando melhor em termos coletivos. Isto depois de termos calhado no grupo talvez mais difícil, que foi muito apertado e que um dos principais favoritos também sentiu isso mesmo”, concluiu, numa conferência onde pediu ainda para todos os portugueses cantarem o hino de mãos dadas para criar uma corrente para os quartos.

Bruno Roseiro | Observador - Enviado especial do Observador à Rússia (em Sochi) | Foto Paulo Novais/Lusa

UE | Acordo para as migrações? "Não é um acordo, é uma declaração de coisas vagas"


António Costa diz que Vitorino será importante para gestão humana do problema das Migrações.

O primeiro-ministro, António Costa, defendeu esta sexta-feira que a nomeação de António Vitorino para diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM) será "seguramente importante para uma gestão humana" desta matéria.

"Para já, termos podido contar com ele para este lugar é muito importante para o país e será seguramente importante para uma gestão humana de acordo com o direito internacional e muito ativa em matéria de migrações. Eu, por mim, estou muito satisfeito que desta vez possamos ter contado com o António Vitorino para estas funções", disse o primeiro-ministro à chegada ao aeroporto de Lisboa, questionado sobre se esperava para futuro poder contar com António Vitorino para cargos nacionais.

À chegada à Lisboa, depois de ter participado em Bruxelas numa cimeira de chefes de Estado da União Europeia, da qual resultou um acordo relativo a migrações, alcançado ao fim de uma longa maratona negocial, António Costa considerou "um enorme orgulho e responsabilidade" para Portugal ter o socialista e antigo comissário europeu a liderar a OIM, dando ao país "uma posição relevante e central nesta grande questão global" e na qual é preciso "conseguir trabalhar em diversas dimensões".

Garantir a paz e o desenvolvimento nos países de origem dos migrantes, gestão de fronteiras, integração dos migrantes e refugiados são algumas das dimensões enumeradas pelo primeiro-ministro, nas quais a OIM "tem uma função essencial".

Sobre o acordo desta madrugada, alcançado às cinco da manhã depois de dez horas de negociações, António Costa insistiu nas críticas que já tinha deixado à saída da cimeira.

E defendeu que a proposta do alto comissário das Nações Unidas para a criação de plataformas regionais de desembarque de migrantes, que o conselho europeu ainda não aprovou, tendo apenas conferido mandato à comissão para "explorar esta ideia", mas que "podia ter sido agarrada com mais intensidade e, desde já, desenhada com garantias de que são dadas todas as garantias para proteção dos direitos que são devidos aos refugiados, para que não haja qualquer tipo de dúvidas de qual é a função destas plataformas".

António Costa reafirmou também que o problema da Europa relativamente às migrações é a "profunda divisão que hoje existe" e a qual "não vale a pena estar a tentar esconder ou a tentar disfarçar".

"Aquela declaração é uma declaração essencialmente vazia e mesmo assim foram dez horas para às cinco da manhã se conseguir aquilo. E desta vez o que estivemos a discutir não foram questões técnicas, o que estivemos a discutir foi a essência do projeto europeu como um projeto partilhado pelo conjunto dos Estados membros e hoje há Estados membros que não querem partilhar o conjunto", criticou o primeiro-ministro.

Ainda sobre a nomeação de António Vitorino para diretor-geral da OIM, António Costa entende que esta se deve a "um currículo absolutamente excecional" e que se trata de uma eleição "bastante difícil" num contexto de cada vez maior número de portugueses em cargos internacionais destacados.

António Vitorino, 61 anos, ex-ministro português (1995-1997) e ex-comissário europeu (1999-2004), foi hoje eleito diretor-geral da OIM, cargo ocupado pelos Estados Unidos desde a criação da organização, em 1951, com uma única exceção, em 1960.

Vitorino, que concorria ao cargo juntamente com o norte-americano Ken Isaacs e a costa-riquenha Laura Thompson, a atual vice-diretora-geral da organização, foi eleito à quarta volta por aclamação.

TSF | Lusa | Foto EPA

Férias sim mas... aqui nos encontraremos todos os dias


Contrariamente ao que aqui foi anunciado - a paragem de publicações diárias devido a um período de férias por cerca de 15 dias - o Página Global vai manter ininterruptamente as publicações com normalidade por acordo de disponibilidade de colaboração de outros elementos do coletivo. 

Aos que vão de férias desejamos bom tempo lazer e descontração. Que regressem  agradavelmente prontos para mais um etapa da tarefa a que no PG nos dispusemos. Manteremos o nosso lema: aqui nos encontraremos todos os dias.

Agradecidos pela sua visita.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

São Tomé | Um Diálogo entre Bêbados que Poderia Assassinar o Primeiro-ministro


Adelino Cardoso Cassandra | Téla Nón | opinião

Quem olha, com criticismo desejável e tentativa de compreensão dos fenómenos políticos e sociais que se sucedem, uns aos outros, na nossa terra, nos últimos tempos, só pode ficar com a sensação que, cada dia que passa, as coisas pioram e ganham contornos de irreversibilidade. O autoritarismo aumentou e com ele, as perseguições políticas, a censura, a falsidade, a bufaria e outros males que têm contribuído para sufocar a nossa embrionária democracia.

Vivemos, neste momento, num país onde impera o terror e a manigância. As pessoas estão, neste momento: mais desconfiadas; evitam aproximar-se das outras; têm receio de partilhar ideias ou projetos; fogem de um simples ato de socialização banal; arranjam mecanismos ou códigos de conduta que repelem tentativas de aproximação; olham para todos os lados, com um detalhe microscópico, antes de responderem a uma abordagem simpática alheia; etc. Ainda ontem, estive a falar com um grande amigo meu, que esteve no país, recentemente, e confirmou todos estes receios e comportamentos.

A pergunta que se pode fazer, neste momento, é a seguinte: o que é que mudou, recentemente, no país, ao ponto de estar a condicionar o comportamento das pessoas neste e outros âmbitos?

Enquanto a democracia é o contexto ideal para a estabilidade das relações sociais e políticas entre os cidadãos porque, atempadamente, todos conhecem as regras de jogo que a conformam; um contexto de emergência de um projeto político que permite o controlo autoritário sobre a vida pública e privada dos cidadãos, como aquele que estamos a viver, momentaneamente, no país, pelo contrário, suscita o medo, a indisponibilidade para reflexão e socialização com os outros, a desconfiança e, até, a preocupação excessiva com aquilo que se escreve ou diz num círculo de amigos.

É isto que está a mudar o comportamento das pessoas, momentaneamente, em S.Tomé e Príncipe, sobretudo daquelas que dependem, direta ou indiretamente, do poder instalado, decorrente do propósito de reconfiguração da arquitetura do nosso Estado, em que o presidente da república já nada vale, a Assembleia Nacional passou a ser, para além de um centro de representação com competências para produção legislativa e de fiscalização, um autêntico Tribunal Especial que julga e decidi casos como o da cervejeira Rosema, a mando do primeiro-ministro, e o ministério público passou a ser o braço armado do governo.

A nossa segurança, como entidade comunitária está, neste momento, muito doente. Estamos a atravessar um momento de (des) democratização acelerada, como eu tenho vindo a denunciar em múltiplos artigos anteriores, que está a abalar os pilares do regime, trazendo consigo a manifestação de atos de criminalidade incomuns na nossa terra, tendo como consequência a lesão de bens jurídicos individuais, mas, sobretudo, de bens jurídicos coletivos.

Neste contexto, quem garante o respeito pelas liberdades individuais dos cidadãos se os próprios juízes do Supremo Tribunal de Justiça são severamente castigados, por motivos relacionados com o cumprimento das suas funções?

É neste clima de terror instalado no país que o senhor primeiro-ministro aparece-nos na televisão dele, em comício, sem qualquer contraditório, como seria de esperar, num registo usual de vitimização, a informar-nos que ele foi o principal alvo de um processo, aparentemente abortado, de assassinato, cujo objetivo era a subversão da ordem constitucional vigente para que a oposição pudesse ganhar as próximas eleições.

Neste seu registo vitimizador, o senhor primeiro-ministro declarou, ainda, que ele estava na posse de meios de provas bastante fortes, relacionados com a referida intentona, e que na mesma participariam algumas pessoas, incluindo estrangeiros, bem identificadas.

No mesmo dia que o senhor primeiro-ministro fez o seu comício e perante a dúvida e incredulidade geral, tendo em conta a cascata de acontecimentos, de caráter autoritário, que se vive no país, promovidos pelo próprio poder instalado, que o senhor primeiro-ministro é o máximo representante, apareceu nas redes sociais um registo áudio, cujos promotores da sua difusão prometiam-nos, que, no conteúdo do mesmo, existiria, inequivocamente, toda a prova sobre os factos que o senhor primeiro-ministro nos declarara no seu comício na TVS.

Deixei tudo o que tinha para fazer e fui ouvir, com toda a atenção desejável, o tal registo áudio que, nos diziam, continha toda a prova do suposto assassinato premeditado contra a pessoa do senhor primeiro-ministro, Patrice Trovoada, com objetivo de subversão do regime constitucional vigente.

Ouvi o tal registo áudio uma vez e juro que não descortinei, no conteúdo do mesmo, de forma perentória, nenhum elemento de prova, compaginável com as fortes declarações prestadas pelo senhor primeiro-ministro, na sua TVS, que denunciassem, inequivocamente, a existência e veracidade do facto relatado.

Pensei, com toda a sinceridade, que estava a utilizar um registo áudio, diferente daquele que me aconselharam a ouvir, onde não estava o conteúdo da referida prova. Telefonei a um amigo e colega que, prontamente, me informou que o registo era mesmo aquele que eu ouvira anteriormente e, no entanto, por precaução, enviou-me um outro exemplar do referido registo áudio. Fui ouvir, de novo, com toda a atenção o tal registo áudio.

Para espanto meu, tratava-se, efetivamente, do mesmo registo áudio que eu já tinha ouvido anteriormente. Aquilo, perdoem-me as pessoas que estavam envolvidas naquele processo, simbolicamente, mas parecia um diálogo entre bêbados, típico das nossas tascas, onde um deles, mais bêbado do que o outro, monopolizou este mesmo diálogo, e tentava convencer o outro, menos bêbado, a beber mais uns copos de vinho. Todo o diálogo, estabelecido no referido registo áudio, e até algumas interjeições, reiteradamente expressas por um dos intervenientes, passou-se, neste registo simbólico referenciado que pode ser comparado a um diálogo entre bêbados.

Um plano de ação para assassinar um primeiro-ministro, tendo, ainda, um contexto temporal curto e pré-determinado, para a sua realização, não se faz daquela forma, típica de taberna: com suposições; com um linguajar de convencimento de eventuais parceiros, sobre o método a seguir, pouco ou nada assertivo ou, até, especulativo; sem identificação clara de meios e responsáveis por todas as atividades que, eventualmente, permitiriam a sua materialização; sob monopólio discursivo vindo sobretudo de um dos intervenientes que, por sinal, não é aquele que é catalogado como o seu cérebro ou principal responsável, estando este, aparentemente, a ser impingido da bondade ou importância da iniciativa em causa e, consequentemente, a ser, objectiva ou subjectivamente, induzido a participar no referido diálogo.

Além de tudo isso, um plano de assassinato do primeiro-ministro não se faz, sem um substrato organizativo pré-elaborado, tendo em conta o contexto temporal curto para a sua materialização (o primeiro-ministro seria assassinado aonde, quando, quem o faria, onde é que os executores do plano se posicionavam para cumprirem a sua função, qual o papel de agentes estrangeiros nesta trama, etc).

Tendo em conta, o clima de terror que se instalou no país, decorrente do processo de (des) democratização acelerada que estamos a viver, onde sobressai perseguições políticas, a censura, o ódio, a falsidade, a bufaria, a incentivação de comportamento denunciante e outros tiques pidescos, bem como o conteúdo insólito do referido registo áudio, apresentado como prova do hipotético crime, de que fiz referência anteriormente e, sobretudo, a disponibilidade e prontidão do senhor primeiro-ministro para aparecer na sua TVS e fazer logo um comício sobre o facto em causa, num registo exemplar de vitimização, sem sequer esperar pela intervenção do poder judicial para explicação pública do caso em concreto, não posso excluir, também, neste contexto analítico, a hipótese de se tratar de uma trama, urdida pelo próprio poder instalado, para perseguir e prender os opositores políticos.

Tendo em conta tudo aquilo que tem acontecido, hoje em dia, em S.Tomé e Príncipe, onde até os juízes do Supremo Tribunal de Justiça são perseguidos, humilhados e exonerados compulsivamente, é perfeitamente normal que, com recursos a “agentes provocadores”, sob tutela governamental, os opositores políticos sejam estimulados ou induzidos a cometerem ou participarem num crime, verbalizando, ou não, a sua disposição para o referido efeito, estando, contudo, sob controlo de uma ou mais fontes de provas, como é o caso deste registo áudio, que servirão como eventual garantia ou prova, exibida publicamente, como troféu político, para uma campanha de vitimização que já começou. Em qualquer livro sobre o populismo esta receita está lá explícita e, até, dá resultados, algumas vezes. Só isso pode explicar a ida do senhor primeiro-ministro ao comício na TVS, quando o caso ainda estava, aparentemente, sob inquérito judicial.

Quem faz o que o atual poder já fez, atropelando tudo e todos, em prol do controlo autoritário sobre a vida pública e privada dos cidadãos, desprezando os princípios basilares de um Estado de Direito Democrático, não obstante as observações de instituições internacionais como a União dos Advogados de Língua Portuguesa, a União Internacional dos Juízes de Língua Portuguesa, do pai da nossa Constituição, professor Jorge Miranda e demais instituições, nacionais e internacionais, está em condições de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para a materialização do seu objetivo maior, criando, com tal, condições para a destruição dos seus principais adversários políticos.

Não posso excluir a hipótese de que, Gaudêncio Costa poderá estar a ser, neste momento, mais uma vítima, como foram os juízes do S.T.J, do que um potencial criminoso, tendo em conta todos os pressupostos referenciados anteriormente. E mantenho esta posição até que o senhor primeiro-ministro me demonstre, na sua TVS, como já fez anteriormente, através de outros meios ou elementos de prova, de que a referida intentona, de facto, existiu, e foi planeada, de forma voluntária, pelos protagonistas referenciados.

Da mesma forma que o senhor primeiro-ministro apareceu, de forma voluntária na TVS, a acusar um adversário político de ter planos de o querer assassinar, fazendo toda a radiografia do referido crime, é ele, e não o Tribunal, neste caso, que tem o ónus da prova, ou seja, que tem a obrigação de provar tal facto, também num comício na TVS, com novos elementos de provas, porque os que ele apresentou, até hoje, são escassos e não me convenceram.

É que tudo, neste processo e noutros, direta ou indirectamente relacionados, os acontecimentos e procedimentos denunciam muitas estranhezas e levantam muitas preocupações e interrogações.

Pode, por exemplo, a investigação criminal, neste âmbito, estar sob alçada das forças de defesa e segurança e, posteriormente, ser transferida para a polícia judiciária já com os elementos de prova produzidos e identificados?

Em que condições foram produzidos os elementos de prova que constam do referido processo, designadamente o referido registo áudio?

Em que categoria e enquadramento organizativo, no nosso ordenamento jurídico, podemos incluir o agente que produziu a referida prova?

Que meios, utilizou o referido agente, para a produção dos elementos da referida prova que, eventualmente, não tenha colocado em causa direitos, liberdades e garantias dos cidadãos envolvidos?

Se, de facto, houve a intervenção, neste processo, de um “agente provocador” que induziu o senhor Gaudêncio Costa a cogitar, em associação com outros envolvidos, cometer o referido crime, não estaremos em presença de um crime, ainda maior, cometido por outrem, que colocou em causa a liberdade de vontade e de decisão do referido cidadão?
Estaremos todos em liberdade e segurança se, de facto, a investigação criminal passou a ser feita, neste momento periclitante da nossa vida coletiva, por entidades que desconhecemos, sem enquadramento legal neste âmbito, como sejam as forças de defesa e segurança?

Por que razão não é o ministério público, como órgão que deve dirigir qualquer investigação criminal, a nos explicar, através de comunicados ou outros meios alternativos, os contornos da referida investigação mas sim, o primeiro-ministro, em comício, através da TVS?

Por que razão, perante acusações anteriores graves, produzidas por um cidadão nacional, relacionadas com a materialização de um crime idêntico no nosso país, cujo nome do primeiro-ministro aparecia como protagonista, o ministério público, aparentemente, recusou agir e, agora, aparece num processo similar querendo recorrer da decisão do juíz que decidiu mandar em liberdade, sob termo de identidade e residência o cidadão Gaudêncio Costa?

A resposta a estas e outras questões é que deveriam servir de referência e motivação para uma eventual reforma da justiça na nossa terra porque, de facto, configuram reais preocupações do contexto comunitário com o rumo que o país está a tomar e, sobretudo, preocupações quotidianas das pessoas que procuram a referida Justiça para a resolução dos seus problemas. A reforma de Justiça não pode servir, consciente ou inconscientemente, para ajudar na subversão do regime e no controlo autoritário, do poder vigente, sobre a vida pública e privada dos cidadãos.

*Adelino Cardoso Cassandra, na foto.

Principal partido da oposição são-tomense "condena e distancia-se" de atos contra Estado de direito


Reações em São Tomé sobre uma alegada tentativa de assassinar Patrice Trovoada: Tristeza, repúdio, condenação e distanciamento de atos contra o Estado de direito.

Os suspeitos de uma alegada "tentativa de subversão da ordem constitucional, através do assassinato premeditado" do primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada,Gaudêncio Costa, deputado e membro da direção do MLSTP/PSD e o sargento Ajax Managem foram ouvidos na sexta-feira (22.06) em tribunal. Entretanto, os dois detidos já foram libertados e sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência. Ontem tinham sido acusados pelo ministro da Defesa e Administração Interna, Arlindo Ramos, da autoria do plano de golpe de Estado. Ramos mencionou ainda a existência e cúmplices estrangeiros, sem, no entanto, avançar pormenores.

MLSTP condena

O principal partido da oposição são-tomense emitiu um comunicado no qual "condena e distancia-se de atos que põem em causa o Estado de direito democrático, subversão da ordem constitucional e de atentado à vida".

O coordenador do principal partido da oposição, Américo Barros, recordou que os governos do MLSTP/PSD foram vítimas de vários atentados, com dois golpes de Estado consumados, e afirmou: "O MLSTP/PSD manifesta estranheza e total desconhecimento dos factos de que é acusado Gaudêncio Costa, razão pela qual exorta às autoridades a respeitar o princípio de presunção de inocência e evitar julgamentos na praça pública, e exige a exibição de provas que sustentam a acusação no referido caso".

A ocasião foi aproveitada para criticar a atuação do Ministério Público.

"O MLSTP/PSD lamenta profundamente o tratamento desigual e discriminatório da Procuradoria-Geral da República em relação a casos que dizem respeito a militantes e dirigentes do ADI", o partido Acção Democrática no poder.

ADI manifesta "tristeza e repúdio"

Por seu turno, o secretário-geral do ADI, Levy Nazaré, manifestou "tristeza e repúdio" pelo alegado "plano para assassinar o primeiro-ministro" Patrice Trovoada. Já ontem, em declarações aos jornalistas, Levy Nazaré salientou que o MLSTP-PSD nada tinha a ver com alegada tentativa de assassinar Patrice Trovoada.

"É bom que se diga que não é o partido político, o MLSTP, que é uma instituição, um adversário que nós respeitamos", frisando tratar-se de "algumas pessoas" dentro desse partido que podem estar envolvidas na alegada conspiração.

Levy Nazaré disse esperar que a Justiça "apure toda a verdade e que se responsabilize todas essas pessoas", apelando ao povo, particularmente os militantes do seu partido, para estarem "tranquilos, calmos, sereno e vigilantes, mas não deixando de fazer a sua vida normal".

Dúvidas

A notícia da tentativa de golpe de Estado divulgada pelo Governo foi recebida com ceticismo por analistas e observadores, tendo em conta o contexto atual: o Governo enfrenta várias dificuldades e a popularidade de Patrice Trovoada caiu consideravelmente.

Deodato Capela, responsável do Centro de Integridade Pública (CIP) disse em entrevista à DW que "ao ler o texto, fiquei em dúvida. Ontem foi dia 21 e o comunicado tinha data de 20, pareceu-me uma confusão. O Centro de Integridade Pública, por ser uma instituição da sociedade civil, tentou ver primeiro se a detenção do político tinha razão de ser. Uma vez que estamos a dois meses das eleições, pode-se dizer que isto é um bocado dúbio".

Ao referir-se às últimas medidas tomadas pelo executivo, Capela destacou que o Governo está com muitos problemas: "Nestes dois últimos dias houve aumento do preço de combustível. O custo de vida está alto..."

Além disso no passado dia 21 de junho caducou o prazo que um grupo de militares tinha dado ao primeiro-ministro para resolver determinados problemas nos quartéis. O responsável do CIP salienta que "tudo isso a acontecer na mesma altura. Qualquer cidadão mais ou menos atento pode perceber que há aí indícios de criar bodes expiatórios, para escamotear o verdadeiro problema ou desviar o foco de atenção para outra situação".

Enquanto isso os cidadãos continuam a fazer a sua vida normal. Não se viu qualquer reforço de segurança em edifícios públicos ou estratégicos, como por exemplo, o gabinete do chefe do Governo, o palácio presidencial ou as sedes dos órgãos de comunicação social estatais.

Juvenal Rodrigues (São Tomé) | Deutsche Welle

Na foto: Patrice Trovoada, atual PM

DA ANEXAÇÃO À LIBERTAÇÃO DE CABINDA


Portanto, não nasci em Cabinda. E talvez por isso esteja numa posição de imparcialidade, digamos, para falar sobre o território por não ter relação de pertença geográfica, mas também sei que por não a ter me é igualmente cara abordar a questão.

Sedrick de Carvalho | Folha 8 | opinião

Para exemplificar a minha posição com uma situação semelhante, actual e próxima de onde estamos, imaginemos um jovem madrileno a defender publicamente um estatuto diferente para Catalunha. Podemos antever o tratamento que receberia, por exemplo, do governo de Mariano Rajoy quando comparamos ao que deu às pessoas que foram votar no referendo.

Espero que o novo governo espanhol, cujo primeiro-ministro representa uma geração mais nova e próxima da minha, tenha outra postura.

E aquela repressão não é comparável à repressão angolana.

E por falar em geração…

Pepetela, no seu célebre «Geração da Utopia», fala, desapontado, que o rumo que o país levava não era o que a sua geração havia combinado durante a luta pela independência. É uma obra ficcional, sei, mas tem sido mais fácil encontrar a verdade nessas obras.

E há muito tempo que me tenho questionado o seguinte: Mas o que afinal foi combinado? Qual foi o acordo? E onde está esse acordo?

Saber o que foi combinado de facto é importante para percebermos o que motivava os lutadores pela nossa independência, pois só assim saberemos se realmente estavam dispostos a construir um país. E para fazer um país é preciso ter um projecto de construção do país, escrito, flexível na estratégia mas inflexível no objectivo, como dizia Nelson Mandela.

Dentre os três movimentos de libertação nacional, apenas a UNITA aponta ao seu “Projecto de Mwangai” para afirmar que sempre teve um projecto para Angola, projecto que, entretanto, nunca vi, mesmo pedindo.

Falo sobre o projecto de construção do país porque, ao existir, saberíamos o que os lutadores pela independência pensaram em específico para Cabinda. Mas se não há, pelo menos sabemos que Cabindas fizeram parte dos três movimentos e, por essa via, talvez se pensasse estar definido um projecto para Cabinda.

Talvez estivesse combinado verbalmente. Maybe! Mas para construção de um país é indispensável ter o combinado por escrito, apesar de nem os escritos serem respeitados, como todos sabemos.

Se existisse um projecto de construção do país, onde, se calhar, começaria pela definição do nome, então necessariamente Cabinda deveria ter um estatuto diferente. Mas não só Cabinda.

Na véspera da Conferência de Berlim deu-se a Corrida aos Tratados para se assegurar os territórios na mesa de retalho do continente africano. Para além dos três tratados celebrados por personalidades Cabindas com Portugal – nomeadamente tratado de Chinfuma, Chicamba e o Simulambuco -, a Lunda também realizou um tratado de protectorado em 1885, e pouco depois o Moxico também.

Friso esses tratados para destacar o que num projecto de construção de país deveria constar: o modelo de Estado – se o unitário ou o federado.

Entretanto o país continua a somar, e passados 43 anos desde a independência temos Cabinda em três fases, as mesmas que Angola.

1.ª Independência Nacional – Agostinho Neto

Iniciada em 1975, a primeira fase é o início da problemática Cabinda, com o Acordo de Alvor a não respeitar o tratado de Simulambuco e tão-pouco a própria Constituição portuguesa à altura que dizia claramente, no n.º 2 do artigo 1.º, que Cabinda, à igualdade de Moçambique e Angola, só para citar, era território português.

O importante era a descolonização, compreendo, mas em seguida não se fez nenhuma reflexão – pelo menos não publicamente – sobre esse erro descolonizador, nem sobre tantos outros. Imediatamente Agostinho Neto mergulha em vários conflitos para afirmação do poder do MPLA perante os outros partidos e dele mesmo internamente, com purgas sangrentas até hoje por se explicar e que penso termos nesta sala algumas vítimas directas.

Todo o sangue que corria não dava espaço sequer para se falar colectivamente sobre Cabinda.

2.ª Guerra Civil e Pós-Guerra Civil – José Eduardo dos Santos

A morte de Agostinho Neto abre a segunda fase para Cabinda, desta vez tendo José Eduardo dos Santos como o interlocutor imediato. Mas rapidamente o espaço é preenchido com a violência típica duma guerra civil.

Com o fim da guerra em 2002, ficou incontornavelmente clara a necessidade de resolver-se a questão Cabinda. Porém, o regime angolano optou por agir como lhe é característico – com o monopólio da violência de Estado -, ao perseguir a verdadeira sociedade civil Cabinda, da qual fazem parte as três personalidades que nos honram com a sua participação aqui, e a FLEC-FAC, substituídos por um Fórum Cabindês para o Diálogo chefiado pelo hoje militante do MPLA Bento Bembe. Em 2006 é celebrado entre o Executivo e o Fórum o denominado Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação na Província de Cabinda, que estabelece um Estatuto Especial para o enclave. Entretanto, nem esse acordo está a ser respeitado, e o Fórum não reivindica o seu cumprimento. E assim chegamos à terceira fase.

3.ª Pós-José Eduardo dos Santos – João Lourenço

Encontramo-nos nesta fase. É uma etapa completamente diferente das anteriores, pois João Lourenço – e, claro, o sempre MPLA – não tem guerra para justificar o silenciamento de Cabinda. E mais ainda porque temos perdido, enquanto Estado, várias oportunidades para idealizar o destino do país em vários aspectos, como, neste caso, o modelo de organização territorial.

É aqui onde entra a minha posição sobre o que penso ser conveniente para Cabinda e Angola. Mas primeiro digo o seguinte: Não nasci em Cabinda, como frisei, pelo que a minha opinião é só mesmo isso, mas acresce o facto de que os Cabindas têm voz principal sobre o seu destino.

Dito isto… Penso que o ideal para Cabinda é torná-la uma região autónoma, à igualdade dos Açores e Madeira, preservando o Estado unitário plasmado na actual Constituição de Angola. Essa é uma resolução a médio prazo, em que as autarquias poderão servir também para apaziguar o ímpeto separatista das regiões Lunda e Moxico.

A longo prazo, antevejo uma necessária criação de um Estado federal.

Porquê Estado federal? Porque não?

Nota: Texto apresentado na mesa-redonda organizada pelo CEI-IUL, Plataforma de Reflexão Angola e Núcleo de Estudantes Africano, no ISCTE, no dia 21 de Junho, em Lisboa, subordinada ao tema «Cabinda nas suas diversas perspectivas».

Guiné-Bissau | "Apoios às legislativas guineenses garantidos se a data for mantida", diz ONU


O novo representante da ONU em Bissau afirmou que a comunidade internacional pode aumentar os apoios financeiros para a realização das legislativas se a data do escrutínio for mantida a 18 de novembro.

O novo representante do secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, o brasileiro José Viegas Filho, anunciou este sábado (23.06) a mobilização internacional para apoiar financeiramente as eleições legislativas, previstas para 18 de novembro, caso seja mantida a data da votação.

"Quando ganharmos suficiente demonstração de firmeza por parte dos partidos políticos, por parte das instituições deste país, o dinheiro certamente chegará para que nós tenhamos as eleições realizadas", defendeu Viegas Filho, que disse sentir "uma conjuntura favorável” em relação ao país.

José Viegas Filho observou que "o problema do momento" são os equipamentos de registo de eleitores para os quais, disse, já existem contribuições da ONU, de países e de instituições internacionais. O diplomata afirmou ter confiança de que se for necessário os apoios serão aumentados nesse sentido.

O representante sublinhou igualmente ser "urgente encaminhar" o processo eleitoral e ainda uma demonstração de determinação das autoridades guineenses, da própria ONU e da comunidade internacional na vontade de realização de eleições legislativas na data prevista.

Condições

Com as eleições realizadas em novembro e com a estabilidade política recuperada, Viegas Filho acredita que estarão criadas todas as condições para que a Guiné-Bissau volte a receber, da comunidade internacional, uma nova ajuda financeira, "talvez tão intensa" como aquela anunciada, mas ainda não disponibilizada, no âmbito do programa Terra Ranka, disse.

Numa mesa redonda em março de 2015, realizada na Bélgica, a comunidade internacional prometeu 1,5 mil milhões dólares para financiar o programa de desenvolvimento da Guiné-Bissau, Terra Ranka.

Viegas Filho avisou que as esperanças atuais em relação às eleições legislativas, previstas para 18 de novembro, não podem ser defraudadas. "Se estas esperanças não se confirmarem, em novembro, será extremamente difícil para mim, provocar um apoio da comunidade internacional em favor deste país", declarou o diplomata da ONU.

"Ambiente favorável para o combate às drogas"

Além de falar sobre as eleições guineenses, José Viegas Filho também defendeu que na Guiné-Bissau há condições favoráveis para o combate ao tráfico de droga e salientou que este crime "é um problema mundial, extremamente difícil" de combater, mas que no caso guineense talvez haja esperança.

"Eu acredito que o facto de a Guiné-Bissau ser um país relativamente pequeno, uma população relativamente pequena e ser um país de trânsito, muito mais do que um país do consumo, possam existir mais condições favoráveis para um efetivo combate ao tráfico", considerou Viegas Filho, que ainda não se reuniu com o representante da agência da ONU para a Droga e o Crime Organizado (ONUDC) para o país.

Mas, das descrições telefónicas que tem recebido do encarregado da ONUDC para Guiné-Bissau, mas residente no Senegal, há esforços a serem feitos, notou Viegas Filho.

Lusa | Deutsche Welle

Guiné-Bissau | A Avenida João Bernardo Vieira (Nino) e os quinhentos milhões “voaram”?

O nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV se autodenunciou ao evocar a questão do cheque de 500'000'000,00 (quinhentos milhões) de F CFA’s na sua entrevista do balanço dos seus 4 anos do exercício do poder presidencial

Abdulai Keita* | opinião

Muitos cidadãos bissau-guineenses e além viram o ato no dia 02 de Junho de 2016. O nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV, a entregar publicamente um cheque, na Presidência da República, segundo as infos então transmitidas pelos órgãos da comunicação social com pompas e tambores, no valor de 500’000’000,00 (quinhentos milhões) de F CFA’s (=763’358,78 EUR à 655,00 F CFA/EUR) a então seu recém-nomeado Premiê Baciro Djá. Nomeado, antes, no dia 26 de Maio deste mesmo ano. Afirmando na ocasião, sempre segundo as mesmas fontes, de tratar-se de uma doação da Agência de Cooperação Guiné-Bissau/Senegal, que, pelas suas diretivas próprias ia ser destinada à construção, em Bissau, da “Avenida João Bernardo Vieira (Nino) ”. A Avenida que ia ligar a Praça dos Heróis Nacionais no centro da cidade à zona industrial de Bolola. Este então seu novo So Premiê Baciro tendo-o seguido para logo acrescentar, de que, esse elenco que ia liderar e que ia ser investido naquele dia mesmo, ia evidentemente “começar a trabalhar a partir dessa obra” (a dita “Avenida”).  

O ato todavia naquele preciso momento, no meu olhar, estava manchado de um “pequeno” vício. Em tudo, não se tinha dignado a esclarecer aos cidadãos bissauenses e além, visto o tal modo de norma procedimental adotado naquela transação, sobre a questão de, a quem é que a tal doação se destinava direta e originalmente; a nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV, pessoalmente, ou ao Estado da República da Guiné-Bissau.
        
Foi o porquê deste ato ter-me levado logo a colocar-me uma série de questões que, para mim, ainda continuam atuais, agora acrescida de mais outra, após este ates aludido ato de entrevista, a saber:

(1) Pode o Gerente de uma Agencia Mista do Estado da Guiné-Bissau e um outro, neste caso o do Senegal, portanto uma Instituição estatal, proceder à doação de tanta soma de dinheiro “cash” (em cheque), assim, tão simplesmente, a alguém; a nosso Estado, ou a nosso S. Exa. So Presi, ou via este, a uma ou outra entidade estatal?

(2) Como é que se gere os fundos e se costuma levantar as importantes somas de dinheiro naquela Agencia Mista?

(3) Será este gesto, neste quadro, um gesto legal ou um a considerar como a tentativa de uma camuflada sedução (tráfico de influências; aliciamento; corrupção) ao encontro do nosso S. Exa. So Presi? E no fundo, no fundo, partindo de quem?

(4) E para já, quanto é que o Gerente levantou de facto, em relação a esta operação nos cofres daquela Agencia, apenas esta soma doada a So Presi (ou a outra entidade)?

(5) Porque é que o nosso So Presi não o mandou ir depositar a tal soma de tanto dinheiro (em cheque) no tesouro, logo imediatamente, como isso se deve pelos imperativos procedimentais segundo ele mesmo (“o dinheiro do Estado no Cofre do Estado”)?

(6) E de outro lado, porque é que o nosso S. Exa. So Presi, por sua vez, também decidiu entregar assim, “cash” (em cheque), esta mesma soma e toda, a So Premiê Baciro, sem a diretiva deste mandar deposita-la imediatamente no tesouro como se deve, mesmo pensando no objetivo então anunciado da sua utilização posterior para a construção da tal dita Avenida?

(7) E, após tudo isso, ia o So Premiê, pela iniciativa própria, mandar depositar este dinheiro (cheque) no tesouro (“cofre de Estado”) ou não, na sua totalidade?

(8) Mas ainda, com efeito, e à partida de tudo, a construção desta "Avenida João Bernardo Vieira – Nino”, encontrava-se já prevista no Orçamento Geral de Estado do Executivo do So Premiê Baciro? Previsto para que montante?

(9) E, como tanto o Programa deste Governo e assim como seu Orçamento Geral de Estado, a que tudo indicava, iam ser difícil a serem aprovados devidamente pela ANP, e se isso não viesse acontecer, em que pé é que tudo iria ficar? Etc. etc.

E agora, até a presente data (23.06.2018), não se viu nada da construção desta "Avenida João Bernardo Vieira - Nino"… Nada mesmo! Puto!

(1) O que é que se fez com esta importante soma de dinheiro então, entretanto?

(2) Com efeito e para já, este cheque com esta importante soma de dinheiro, após ter sido entregue a So Premiê Baciro, porque é que este, por iniciativa própria, não o mandou depositar no tesouro?

(3) E ainda, não sendo assim, foi logo então, ou não foi depositado numa conta bancaria e de quem, no qual banco? Etc.

Eis diferentes aspetos deste assunto colocados, segundo a mim, desde à partida deste affaire e atualmente, ainda devendo ser esclarecidos em todo o primeiro lugar. E que podem e devem ser esclarecidos.

Ora, em vez disso, primeiro veio So Ex Premiê Baciro três meses atrás e agora segue também aí o nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV, nesta antes citada sua entrevista gravada no dia 13 de Junho de 2018 e publicada mais tarde, sobre o balanço dos seus 4 anos do exercício do poder presidencial; os dois a fazer-nos o Pingue-pongue de “entreguei-lhe/não me devolveu” o cheque de 500’000’000,00 (quinhentos milhões) de F CFA’s. Deixando assim o mundo todo sem saber em que pé é que se está agora nisso.

Que a leitora/o leitor me desculpe, mas ora bolas pa, o que é isso?! Que banalização da gestão da coisa pública e das instituições do Estado?! E que descrédito de alguém, no posto do Presidente da República, tendo feito dos géneros da matéria aqui em pauta, a sua; a palavra de ordem, a diretiva para a governação dos fundos do Estado (do povo), ou seja, o seu grande slogan; essa fórmula grande de, “DINHEIRO DO ESTADO NO COFRE DO ESTADO”.

Eis, é por tudo isso é que, na realidade, e bem visto, o que fez e disse o nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV nesta tal referida sua entrevista do balanço dos seus 4 anos do exercício do poder presidencial, referindo-se a este assunto é pura e simplesmente um ato de autodenuncia. Uma autodenuncia, para já e sobretudo se tudo vir ficar assim, de terem os dois, ele e Baciro, desviado esta soma em cumplicidade conjunta. E nesse conluio, sendo o Gerente, o ator aliciante (corruptor) de partida; aliciante dos dois e o cúmplice instigador de toda a operação, caso que tenha agido fora das normas procedimentais da sua instituição e além. Em todo o caso, em tudo, coisa claríssima de A a Z para a justiça.

Brincadeira pa. Falou-se tanto e fala-se ainda sempre tanto do “DINHEIRO DO ESTADO NO COFRE DO ESTADO” e depois isso. Sem vergonha. Grande troça do Estado bissau-guineense e pura falta de respeito para com todos os cidadãos bissau-guineenses (Mulheres e Homens). Mas acima de tudo, uma irresponsabilidade política gritante sem igual no mais alto nível dos escalões do nosso Estado. Será que estes três implicados diretamente nesse affaire não vêm e nem sentem isso tudo. Se interroga!

Bom, por enquanto é assim. Mas que todavia se saiba e que saibam bem! O povo bissau-guineense não é burro e muito menos lixo. Um modo de liderança assente no rigor, na disciplina e no respeito irrestrito das normas e Leis da República há de voltar neste país, a Guiné-Bissau. Isso será, sem falta, tal como foi no passado, no “tempo de Cabral”, como costuma dizer o povo.

Obrigado.
Pela honestidade intelectual.
Por uma Guiné-Bissau de Homem Novo (Mulheres e Homens), íntegro, idóneo e, pensador com a sua própria cabeça. Incorruptível!
Que reine o bom senso.  
Amizade.
A. Keita*

*Pesquisador Independente e Sociólogo (DEA/ED) | E-mail: abikeita@yahoo.fr

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