Martinho Júnior | Luanda
4- É evidente que essa era a
visão o mais inocente possível que se poderia passar em defesa dum “Arco
de Governação” que, por via dos spinolistas sem Spínola souberam
aproveitar-se dos laços cultivados pela clandestina continuidade do Exercício
Alcora em África, desde o próprio Savimbi, aos inspectores da PIDE/DGS (que
entre muitas acções clandestinas transformaram os “Flechas”no Batalhão 31
das SADF, que integrou, por exemplo, a Operação Savanah – https://en.wikipedia.org/wiki/South_African_order_of_battle_during_Operation_Savannah)
e mesmo a alguns dos professores do então ICSPU (Instituto de Ciências Sociais
e Política Ultramarina) que, tendo sido “herdados” pelos executivos
sociais-democratas em Portugal, alinharam na manobra com os olhos postos em
alvos julgados inertes, como a República Popular de Angola (que chegaria ao fim
com a“antecâmara” de Bicesse) e Moçambique: São José Lopes, Óscar Piçarra
Cardoso, Fragoso Allas…
O capitalismo neoliberal
espevitado pela globalização matizada pelo império da hegemonia unipolar
aproveitava-se em Portugal, como em África, dessas correntes capazes de
vassalagem, como as que por exemplo foram “orientadas” pelo Le
Cercle, de que Jaime Nogueira Pinto é uma evidência conforme aos “Jogos
Africanos” (“esclareçamo-nos” um pouco com a visão “diplomática” de
Francisco Seixas da Costa na apresentação do livro – http://ou-quatro-coisas.blogspot.com/2008/11/jogos-africanos.html)
e à notícia sobre as reuniões do Le Cercle na própria África do Sul (https://wikispooks.com/wiki/Charles_Alan_%27Pop%27_Fraser).
Os Flechas da PIDE/DGS foram um
manancial que transitou do Exercício Alcora para o Batalhão 31 (http://www.wikiwand.com/en/31_Battalion_(SWATF))
das South Africa Defence Forces (SADF), como muitos outros “transitórios” (desde
os operacionais aos político-diplomáticos)!
A clandestinidade aproveitando os
enredos do Exercício Alcora foram assim manancial reciclado dos governos
do “Arco de Governação” (bem como de Frank Charles Carlucci ou de
Paul Manafort) e a sua esteira tem ainda aproveitamentos, apesar dos
aparentes “filtros” neoliberais, por via de alguns sectores “behind
the scenes” da actual “Geringonça”!...
Houve um depoimento do Inspector
da PIDE/DGS e Coronel das SADF, Óscar Cardoso, enquanto perito de inteligência
militar, que nos transporta para esse “labirinto” de reciclagens;
constate-se aqui – http://blog.lusofonias.net/?p=18715...
Por outro lado a própria NATO, de que
Portugal é fundador em tempo de fascismo e colonialismo, tem desde o final da
IIª Guerra Mundial, a cultura de aproveitar, reciclando ou não, o que
aparentemente foi deixado para trás: as redes “stay behind” (constate-se
por exemplo o artigo de Thierry Meyssan – http://www.voltairenet.org/article120005.html),
algo que interferiu na formulação do carácter e na “modelagem” dos
estados europeus, que se continua a repercutir neles e, por tabela, nas suas
acções de relacionamento em África, viabilizando quantas vezes a continuidade
de facto da internacional fascista na África Austral por dentro inclusive das
linhas com que se cosem as actuais “democracias”…
A testemunhar esse “modelo” de
acções inteligentes (que inspirariam seus sucedâneos em África) a 10 de Outubro
de 2012, por exemplo, o Comité Valmy (http://www.comite-valmy.org/spip.php?article1395),
em relação a França observava:
« S’il est un secret bien
gardé en France, c’est celui de la sanglante guerre que les services secrets
anglo-saxons ont conduit durant soixante ans à Paris pour maîtriser la vie
politique nationale.
En révélant les péripéties de cet
affrontement historique, l’historien suisse Danièle Ganser souligne le rôle du
gaullisme dans le projet national français : d’abord soutenu par la CIA
pour revenir au pouvoir, Charles De Gaulle parvient à un consensus politique
avec ses anciens camarades résistants communistes à propos de la
décolonisation, puis chasse l’OTAN.
Il s’ensuit un conflit interne
dans les structures secrètes de l’État ; conflit qui se poursuit
encore »…
… Quanto algumas das nervuras
cultivadas por via das redes « stay behind » em França
haveriam de ser úteis nos suportes externos em benefício da internacional
fascista na África Austral ?!... Basta recordar isso quando se pesquisa a
origem do armamento colocado pela França ao dispor do « apartheid » e
do colonialismo português (algo que também é detalhado no livro Exercício
Alcora, o Acordo Secreto do colonialismo, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos
Gomes!
Há aliás nessa direcção um
conjunto de livros cujas matérias se conjugam e merecem uma releitura dos
muitos aspectos que entre si se conjugam; longe de esgotar o acervo:
Portugal e o futuro, do general
António de Spínola;
Contos Proibidos, de Rui Mateus;
A guerra secreta de Salazar em
África, de José Duarte de Jesus;
Os Flechas, a tropa secreta da
PIDE/DGS na guerra de Angola, de Fernando Cavaleiro Ângelo, com prefácio de
Óscar Cardoso;
A PIDE no xadrez africano, de
Maria José Tíscar…
… A corrente começa a ser
interminável e reunir a dispersão de títulos elaborando uma radiografia em
jeito de síntese analítica, permite-nos avaliar o aproveitamento do Exercício
Alcora pelo “Arco de Governação” surgido após o 25 de Novembro de
1975 em Portugal…
Fixemo-nos contudo (e por causa
do submarino republicano agora ancorado numa prisão), nesta “janela” que
foi divulgada no âmbito do Relatório Fowler de 10 de Março de 2000 (https://www.globalpolicy.org/global-taxes/41606-final-report-of-the-un-panel-of-experts.html):
... “37. The Panel questioned a
number of arms supplying countries about these certificates. The Government of
Ukraine replied that in the summer of 1999 a meeting was held, as a result of
which the certificates were found to be not authentic and the broker firm
denied permission for further activities by the State Export Control Agency.
The Panel's own investigations revealed that the false certificates had been
presented to the Ukrainian authorities in 1996 by a company called East-West
Metals Ltd., and that the sale had been stopped by Ukraine. The Panel found
that the Russian Federation had also been suspicious of the certificates
presented on behalf of East-West Metals Ltd. seeking to procure IGLA surface to
air missiles. After conducting an investigation of their own, the Russian
authorities cancelled the order.
38. In response to the inquiry made by the Panel, the Government of Bulgaria responded in writing that the sale had been cancelled when the fraud was discovered, and identifying the importer as a United States company by the name of Milteks. The Panel's own investigations however, have raised doubts concerning the correctness of the response received from the Bulgarian authorities. Information provided to the Panel, but which the Panel has itself not been in a position independently to confirm, indicates that military ammunition was in fact delivered from Bulgaria to UNITA, through Milteks, using end-user certificates which the Bulgarian authorities had reason to believe were not genuine.
39. The source of
arms. UNITA acquired arms and military equipment from two sources - large
quantities were imported from suppliers in Eastern Europe, and substantial
quantities were captured by UNITA from Government forces in battle. There has
been considerable speculation as to the actual source of origin of the weapons
purchased by UNITA - the vast majority of which were of East European origin.
The Panel learned that as a result of the end of the Cold War and the
dissolution of the Warsaw Pact international arms markets were being filled
with surplus weaponry, much of it of East European origin offered at below
market prices. The arms reduction requirements imposed by the Conventional
Forces in Europe Treaty (CFE) have resulted in the need for some countries to
reduce and dispose of stockpiles. Likewise, the desire of a number of former
Warsaw Pact countries to join NATO may have resulted in those countries selling
off non-NATO standard equipment at a discount - with much of this equipment
going to Africa Arms sales bring in hard currency, and are a significant
economic factor in a number of former Warsaw Pact countries now facing economic
difficulties.
40. It is known that there are many Ukrainian nationals among the flight crews of aircraft bringing in arms and other military materiel for UNITA. A number of the air transport companies often mentioned in connection with illegal flights into Andulo appear to have Ukrainian ties. The presence of Ukrainian instructors in UNITA areas has also been widely reported. Also prevalent were Ukrainian arms brokers purporting to have good connections in Ukraine and Bulgaria. General Bandua stated that he thought that a BM-27 (Hurricane) Multiple Launch Rocket system had come from Ukraine, via Togo. However, the Government of Ukraine reported that there were no authorized arms sales from Ukraine to Togo during the relevant period. The Panel's investigation turned up no evidence that the Government of Ukraine sold arms or otherwise provided military assistance directly or indirectly to UNITA.
41. While not excluding the
possibility that some weapons may have reached UNITA from Ukrainian territory -
especially from unauthorized sources, the evidence collected as a result of the
Panel's own investigations overwhelmingly points towards Bulgaria as the source
of origin for the majority of the arms purchased by UNITA - at least since
1997. The Panel heard corroborated independent testimony from several sources
that aircraft carrying military equipment for UNITA arrived in Andulo from
Bulgaria. This information was confirmed by the ex-UNITA officer who was in
charge of the control tower at Andulo until its capture by Angolan Government
forces in October 1999. General Jacinto Bandua also confirmed that flights
carrying military equipment arrived in Andulo from Bulgaria. General Bandua had
the responsibility of cross-checking delivery quantities and weight against the
accompanying documentation, and he noted that in many cases Bulgaria appeared
in the documentation as the point of origin for the flights bringing in
military equipment. General Bandua recalled that in some cases the
documentation indicated that some of the equipment had transited through Togo.
The Bulgarian connection is also supported by evidence gained in 1999 from the
interrogation of a captured UNITA Colonel, who stated that boxes of ammunition
and other military materiel delivered to Andulo had Bulgarian markings. A
report on the Colonel's interrogation was shown to the Panel.
42. In light of what was learned
by the Panel regarding UNITA's pattern of procurement for arms and military
equipment, the Panel formally asked the Governments of Belarus, Bulgaria,
Ukraine and the Russian Federation to provide information on any arms sales
involving Togolese end-user certificates since 1997. The Government of Bulgaria
indicated that "since the beginning of 1997, 19 permits have been issued
to Bulgarian companies for arms export to the Republic of Togo In at least one
case, the importing party arranged for the transport of the arms on Air Cess -
a company that has long been widely reported as having been engaged in
sanctions busting for UNITA. As noted above, the Government of Ukraine informed
the Panel that there were no authorized sales by Ukraine to Togo since 1997”...
É evidente que, no caso do
submarino republicano Paul Manafort, muitas acções clandestinas que passaram
pela Bulgária e pela Ucrânia foram “cultivadas” como um manancial ao
dispor dos “presidenciáveis” dos Estados Unidos: foi assim que foram“fabricados” os
espelhos de degradação, terrorismo e caos que por via duma “coligação” hoje
começada a desnudar na Síria e no Iraque, têm actuado em direcção ao Médio
Oriente, a África e, ultimamente, em direcção à América Latina (a anunciada
integração da Colômbia na NATO tem este tipo de “fermentos”)!...
Continua
Martinho Júnior - Luanda, 16 de Junho de 2018
Imagens:
Paul Manafort e advogados a ele
associados, têm sido um manancial republicano por detrás dos cenários, enquanto
disponíveis “homens-de-mão” para todo o tipo de “lobbies”,
inclusive os que “cozinham” acções nos relacionamentos com alguns dos
países que compuseram o Pacto de Varsóvia e a URSSA (Ucrânia sobretudo);
Paul Manafort em Portugal
foi “providencial” como “armador” do quadro neoliberal, junto
de figuras destacadas do ambiente político do “Arco de Governação”;
Mário Soares e Savimbi, expoentes
do “trabalho” que utilizou o Exercício Alcora como uma rede “stay
behind” contra Angola, ao jeito das grandes operações secretas que “trabalharam” por
dentro todos os componentes da NATO;
Savimbi interpares, uma evidência
do Exercício Alcora enquanto uma megaoperação “stay behind” contra
Angola, na sequência do 25 de Novembro de 1975 que lançou o “Arco de
Governação”;
Símbolo das redes “stay
behind” da NATO.
Sem comentários:
Enviar um comentário