Especialistas alertam para
aumento do extremismo no continente, onde já haverá mais de 10 mil combatentes
jihadistas. O terrorismo ganha novos contornos no Sahel, tema que ofuscou até a
última cimeira da União Africana.
Na semana passada, o ministro dos
Negócios Estrangeiros de Marrocos, Nasser Bourita, fez soar o alarme quando
afirmou que havia cerca de 10 mil combatentes jihadistas no continente africano.
"A Al-Qaeda tem mais de
6.600 combatentes em toda a África. O Daesh, ou Estado Islâmico, tem mais de
3.500 combatentes nas suas fileiras. Muitos são ex-combatentes do Estado
Islâmico na Síria e no Iraque que regressaram à região. É por isso que falo num
total de 10.000 combatentes em toda a África. E não estou a contar com aqueles
que se juntaram à Al-Shabab ou ao Boko Haram", explicou o político em
entrevista à DW.
Para o ministro Nasser
Bourita, é essencial estabelecer-se uma estratégia decisiva contra o terrorismo
islâmico que continua a fazer milhares de mortos todos os anos em
várias regiões de África. Somália, Mali, Nigéria,
Quénia ou República Democrática do Congo (RDC) estão entre os países mais
afetados.
Soluções estratégicas
"Existem soluções
estratégicas em África, há consciência do problema e há cooperação no combate
ao terrorismo. Marrocos desenvolveu uma estratégia contra o terrorismo com
vários vizinhos africanos", destaca Nasser Bourita.
O chefe da diplomacia marroquina
lembra ainda que existem diferentes abordagens: "soluções militares,
também existem soluções propagandísticas e tentamos reconstruir as áreas
destruídas pelo Estado Islâmico. Estas iniciativas deverão ser alargadas a
outros países africanos e a cooperação com, por exemplo, o grupo G5 do Sahel
deveria ser reforçada."
O G5 foi fundado em 2014
por alguns
países da região do Sahel - Mauritânia, Mali, Níger, Burkina Faso e
Chade - e pretende ser uma resposta à crescente insegurança e ameaça do
terrorismo.
Terrorismo ganha novas fronteiras
Mas voltando aos 10 mil
combatentes terroristas: será este número certo? O jornalista e escritor Marc
Engelhardt tem dúvidas. "Não há registo profissional dos terroristas.
Segundo as minhas pesquisas, o núcleo duro dos combatentes é de apenas algumas
centenas de pessoas", diz.
"É verdadeiramente
assustador que um núcleo tão pequeno de pessoas seja capaz de ameaçar um país
gigante como o Mali. Eu diria menos de 10.000, embora o seu número de
apoiantes, num sentido amplo, seja provavelmente maior do que isso",
explica o jornalista.
Marc Engelhardt frisa que o
terrorismo está a ganhar novas fronteiras e alerta para o facto da Guerra Santa
já não ser uma "expressão estrangeira" em países até agora poupados
desse perigo, como Moçambique,
Burkina Faso ou Costa do Marfim.
Enquanto isso, a violência
islâmica continua a aumentar na região do Sahel, ofuscando até mesmo a última
cimeira da União Africana (UA) que terminou na segunda-feira (02.07), na
capital mauritana. No Mali, quatro pessoas morreram e 20 ficaram feridas, incluindo
quatro soldados franceses, num ataque suicida.
Embora a UA tenha prometido
eliminar o terrorismo islâmico no continente até 2020, o objetivo parece cada
vez mais uma miragem, comenta Pierre Bouyoya, representante da União Africana
no Mali. "Encontrar a paz é uma tarefa gigantesca e não pode ser cumprida
num dia, num ano ou numa década. África é um continente jovem e ainda está à
procura de estabilidade", conclui.
António Cascais | Deutsche Welle
Na foto: Ataque de extremistas em
Gao, no Mali
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