Pedro Ivo Carvalho | Jornal de
Notícias | opinião
Se há apenas três meses
cometêssemos a ousadia de partilhar com alguém que, no pico de julho, Portugal
ia enviar meios aéreos para acorrer a gigantescos incêndios florestais na
Suécia, o mais provável era sermos beliscados violentamente numa zona carnuda do
corpo. Ou aconselhados a tirar uns dias para recuperar do desvario. A verdade é
que referências que normalmente associávamos ao universo da ficção científica
já se apoderaram da realidade. Os fenómenos meteorológicos extremos, ligados
com maior ou menor incidência às alterações climáticas, obrigam-nos a repensar
as respostas. E tornam urgente a necessidade de os líderes políticos
concertarem estratégias que previnam ou mitiguem o impacto das catástrofes
naturais. Porque se há uma coisa que a deslocalizada onda de calor e a tragédia
grega nos vêm provar é que nenhum país da Europa (e já agora do Mundo) está
preparado para estas manifestações. Sejam elas espontâneas ou resultantes de
erros humanos acumulados durante décadas. É neste contexto que as nações têm de
reforçar a cooperação. No caso concreto da Europa, é imperioso tirar do papel o
- vamos chamar-lhe assim - "Governo Europeu da Protecção Civil",
consubstanciado num novo sistema de resposta a desgraças naturais. Com mais
meios e outras competências. E um orçamento à altura.
Salvar bancos foi certamente
importante para estancar a sangria económico-financeira da zona euro, mas
salvar as vidas sacudidas pelas catástrofes também tem de motivar reuniões
magnas entre chefes de Estado. A probabilidade de sermos confrontados com mais
golpes desta envergadura é grande. Há oito anos, a Grécia chorou uma história
parecida. Seria injusto concluir que não aprendeu nada com tantas mortes. Mas
não seria entendível que, perante o que lhes aconteceu a eles agora, nos
aconteceu a nós em Pedrógão em 2017 e está a acontecer ao planeta há tantos
anos, não nos sentíssemos impelidos a prevenir mais e a lamentar menos.
*Subdiretor
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