quarta-feira, 25 de julho de 2018

Salvar bancos. Salvar vidas


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

Se há apenas três meses cometêssemos a ousadia de partilhar com alguém que, no pico de julho, Portugal ia enviar meios aéreos para acorrer a gigantescos incêndios florestais na Suécia, o mais provável era sermos beliscados violentamente numa zona carnuda do corpo. Ou aconselhados a tirar uns dias para recuperar do desvario. A verdade é que referências que normalmente associávamos ao universo da ficção científica já se apoderaram da realidade. Os fenómenos meteorológicos extremos, ligados com maior ou menor incidência às alterações climáticas, obrigam-nos a repensar as respostas. E tornam urgente a necessidade de os líderes políticos concertarem estratégias que previnam ou mitiguem o impacto das catástrofes naturais. Porque se há uma coisa que a deslocalizada onda de calor e a tragédia grega nos vêm provar é que nenhum país da Europa (e já agora do Mundo) está preparado para estas manifestações. Sejam elas espontâneas ou resultantes de erros humanos acumulados durante décadas. É neste contexto que as nações têm de reforçar a cooperação. No caso concreto da Europa, é imperioso tirar do papel o - vamos chamar-lhe assim - "Governo Europeu da Protecção Civil", consubstanciado num novo sistema de resposta a desgraças naturais. Com mais meios e outras competências. E um orçamento à altura.

Salvar bancos foi certamente importante para estancar a sangria económico-financeira da zona euro, mas salvar as vidas sacudidas pelas catástrofes também tem de motivar reuniões magnas entre chefes de Estado. A probabilidade de sermos confrontados com mais golpes desta envergadura é grande. Há oito anos, a Grécia chorou uma história parecida. Seria injusto concluir que não aprendeu nada com tantas mortes. Mas não seria entendível que, perante o que lhes aconteceu a eles agora, nos aconteceu a nós em Pedrógão em 2017 e está a acontecer ao planeta há tantos anos, não nos sentíssemos impelidos a prevenir mais e a lamentar menos.

*Subdiretor

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