Na noite passada, o ministro
Banhos negou o pedido da defesa de Lula para que emissoras de TV cumpram o seu
papel social de informar e cubram os atos de campanha do PT.
Apesar de o candidato do PT à
Presidência da República, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permaneça
preso em Curitiba e proibido, mais uma vez, de conceder entrevistas e
comparecer aos compromissos de campanha, por ordem do ministro Sérgio Banhos, do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os manifestantes que iniciaram há 26 dias
uma greve de fome pela liberdade do líder petista, encerraram neste sábado o
protesto.
Na noite passada, o ministro
Banhos negou o pedido da defesa de Lula para que emissoras de TV cumpram o seu
papel social de informar e cubram os atos de campanha do PT.
“No caso em exame, ao menos em
juízo de cognição sumária, não se extraem dos autos elementos suficientes para
configuração da transgressão ao dever de conceder tratamento isonômico aos
candidatos a cargo de presidente da República, ante a ausência de quaisquer
provas sobre o alegado”, afirmou o ministro.
Fim da greve
Ainda assim, sem atingir qualquer
de seus objetivos, os manifestantes optaram por poupar as próprias vidas. E o
fizeram após receber uma carta de Lula, de próprio punho, liberando-os do
compromisso de morrer em nome de uma causa.
Ao longo do período em que se
postaram em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), o grupo foi recebido por
dois ministros do STF, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. Os sete militantes de
movimentos sociais que se manifestavam pela liberdade de Lula anunciaram nesta
manhã o fim do protesto.
Após 26 dias sem ingerir qualquer
alimento, os sinais da abstinência já se faziam evidentes em alguns deles. Uma
das grevistas precisou ser hospitalizada. Eles também foram recebidos nos
gabinetes dos ministros Luís Roberto Barroso e de Gilmar Mendes.
Os grevistas, que na sexta-feira
receberam uma carta de agradecimento de Lula, acreditam que seus objetivos
foram cumpridos: denunciar o golpe de Estado, em curso, e a prisão do
ex-presidente, que dizem ter ocorrido sem provas.
Leia, adiante, o manifesto em que
anunciam o fim da greve:
“Manifesto da greve de fome por
justiça no STF à militância popular e ao povo brasileiro
No dia 31 de julho, iniciamos a
Greve de Fome por Justiça no STF –Supremo Tribunal Federal, com um manifesto à
sociedade que foi protocolado no próprio STF, num ato político que resultou em
repressão absurda e descabida aos militantes grevistas. Mas não conseguiram
calar as nossas vozes: resistimos e ainda mais fortes e indignados, deflagramos
o processo da greve de fome.
Nosso objetivo com a greve é
contribuir na luta pelo enfrentamento ao golpe que sob o contexto de crise
profunda do capital, amplia os processos de exploração do trabalho e dos nossos
bens naturais, causando aumento da desigualdade, da fome, da miséria, do
desemprego e da violência social.
A greve de fome luta por
soberania popular, pelo controle de nossos bens estratégicos do petróleo e da
energia, pelo direito do povo de participar do poder e decidir os rumos do
país. Por isso lutamos pela libertação do presidente Lula, que está encarcerado
desde o dia 7 de abril, sem crime e sem prova. Portanto Lula é inocente e sua
prisão tem caráter político.
Greve de fome
Denunciamos com a greve de fome a
ditadura do judiciário, principalmente do STF que de forma arbitrária tomou o
lugar do povo, rasgando a Constituição brasileira e fragilizando ainda mais a
democracia, construída na dura disputa da luta de classes.
Sabemos que a greve de fome é um
ato extremo, mas o praticamos de forma consciente, inspirados na revolucionária
resistência ativa, historicamente forjada pelos povos que não baixaram a cabeça
diante das elites dominantes.
E após 26 dias de greve de fome,
decidimos por sua suspensão, por entender que ela cumpriu com seu sentido
provocador dos objetivos que propusemos desde o início desta ação politica.
Mídia burguesa
Nos sentimos vitoriosos, pois
assim se sentem os povos que lutam e tivemos acúmulos importantes para o
conjunto da luta popular.
Conhecemos melhor quem são os
chamados operadores do direito, ministros e asseclas do poder judiciário. Vimos
como se movem por um teatro fantasioso, guiados pela mídia burguesa, com pouca
sensibilidade pelo povo, e nenhum respeito pela constituição. Como opera o
governo dos golpistas, seus interesses explícitos de estar a serviço do capital
estrangeiro, das empresas transnacionais, dos bancos e do seu próprio bolso.
Conhecemos melhor como funciona a
mídia burguesa, mentirosa, que se pauta apenas pelos interesses de seus patrões
e da manutenção do poder aos privilegiados. Como age o poder legislativo, peça
fundamental do golpe e seu total distanciamento dos problemas reais do povo.
Projeto popular
Nestes 26 dias de greve, ocupamos
o STF com nossos atos políticos e inter-religiosos, através de audiências com
diversos ministros, pautando a necessidade de votar as ADCs – Ações
Declaratórias de Constitucionalidade, assegurando a presunção de inocência.
Denunciamos o não cumprimento da
Resolução da Comissão de Direitos Humanos da ONU pelo Brasil, que determina o
direito de Lula ser candidato nas eleições de 2018.
Seguimos firmes na luta e
dispostos a contribuir com as tarefas históricas e os desafios que estão
colocados para os movimentos e organizações do campo popular. Lutaremos de
forma incansável pelo respeito à justiça, garantindo Lula Livre e pelo seu
direito de disputar as eleições. Pela construção soberana de um Projeto Popular
para o Brasil.
Nossas principais tarefas
políticas são trabalho de base, formação política e retomada das lutas da
massa. Precisamos ouvir o povo, estar inserido na sua luta cotidiana de
resistência e provocar processos de lutas contundentes. As formas de trabalho
de base são variadas, e devem envolver as visitas nas casas, as reuniões de
pequenos grupos, assembleias populares, a construção dos Congressos do Povo e
da Frente Brasil Popular.
Luta do povo
Devemos travar a batalha das
ideias na disputa da comunicação popular, enfrentando o poder ideológico da
grande mídia.
Teremos ainda muitas batalhas
coletivas pela frente, mas temos a certeza que “se calarmos, as pedras
gritarão!” Nosso desafio é que a luta atual, se transforme em força social
capaz de virar o mundo e destruir privilégios. Não pagaremos a conta do
fracasso desse modelo de sociedade. Por isso a luta vale a pena e a vida vale a
luta! Essa luta é nossa! Essa luta é do povo!!
Brasília, 25 de agosto de 2018.
Jaime Amorim, Zonalia Santos,
Rafaela Alves, Frei Sergio Gorgen, Luiz Gonzaga Silva – Gegê, Vilmar Pacífico e
Leonardo Nunes Soares.”
Correio do Brasil, 25 de agosto de 2018
Na foto: Os manifestantes passaram
26 dias sem comer, em greve de fome, na frente ao STF
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