À DW África, Sabino Santos, do
SINJOTECS, diz que houve progressos nas reuniões desta quinta-feira (09.08) com
o Executivo. O acordo entre ambos deverá ser assinado e depois desconvocada a
paralisação.
Os funcionários da rádio,
televisão e agência noticiosa da Guiné-Bissau iniciaram, na passada
segunda-feira (06.08), mais uma greve, desta feita de cinco dias. Já em julho,
esta classe levou a cabo uma
paralisação de três dias.
Em entrevista á DW África, Sabino
Santos, presidente da comissão negocial do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos
da Comunicação Social da Guiné-Bissau (SINJOTECS) explica que as reivindicações
destes profissionais são as mesmas de sempre, "não são novas”. E constam
de um acordo assinado há vários anos e que o Governo nunca cumpriu. Entre os 17
pontos deste documento estão o pagamento de subsídios e melhorias de condições
de trabalho.
No decorrer desta semana, os
sindicatos apontaram ainda o dedo ao Governo por este ter colocado polícias no
centro emissor de Nhacra, local onde se encontram, além de emissores da rádio e
televisão da Guiné-Bissau, os equipamentos da RDP, RTP e Rádio França
Internacional. E acusaram-no de estar a "amedrontar” os profissionais da
classe.
Esta quinta-feira (09.08), e
depois de três reuniões, sindicatos e Governo parecem te chegado a acordo com o
Executivo a ceder em relação a alguns aspetos, nomeadamente, "à melhoria
de condições de trabalho", com a "compra de viaturas" para os
diferentes órgãos, instalação "de uma linha de internet" na
agência noticiosa, e pagamento de subsídios. Sabino Santos mostrou-se
"esperançoso" na assinatura deste acordo até sexta-feira (10.08). A
informação que lhe foi passada, acrescenta, é que "o despacho do
Primeiro-Ministro é de carácter de urgência".
DW África: O SINJOTECS iniciou,
esta segunda-feira, uma greve de cinco dias, depois de, no mês
passado, ter também levado a cabo uma paralisação de três dias. Quais
as vossas reivindicações?
Sabino Santos (SS): Os
sindicatos estão praticamente a exigir o cumprimento dos acordos alcançados com
o patronato há dois, três, quatro anos. Neste acordo constam exigência de
pagamentos de alguns subsídios, criação de condições de trabalho e outras
reivindicações que não foram cumpridas até hoje.
DW África: Foram alcançados
avanços com o Governo desde a última paralisação?
SS: Penso que, a partir de
hoje, podemos dizer que se deu algum passo. Basta dizer que hoje
tivemos três encontros. Nas duas primeiras paralisações, houve apenas um
encontro [com o executivo] e não tivemos qualquer solução. Não posso dizer que
há solução em relação àquilo que os sindicatos estão a exigir, mas há luz
verde. Houve um engajamento por parte do Governo, do Ministério da Comunicação
Social, da Primatura e do Secretário de Estado do Orçamento. Ficaram as
promessas em como algumas reivindicações que estão por fazer serão atendidas a
curto prazo. Não podemos dizer que há entendimento porque ainda não assinámos,
mas posso dizer que houve, de facto, progressos à volta desta negociações.
DW África: Em que pontos houve
entendimento?
SS: Por exemplo, no que diz
respeito à criação de condições de trabalho, compra de viaturas para a agência
noticiosa da Guiné-Bissau e para o jornal estatal, [instalação de]
equipamento de agência, como uma linha de internet, a curto prazo, e pagamento
de alguns subsídios. Não posso garantir que seja ainda esta semana ou já
no início da próxima semana mas, na minha presença, o secretário de Estado do
Orçamento informou-nos que, em conjunto com o ministro da Comunicação Social,
reunirão para se tratar deste assunto o mais breve possível. Disseram mesmo que
o despacho do primeiro-ministro é de caráter de urgência.
DW África: Portanto, a greve
terminará amanhã?
SS: Vai depender do conteúdo
do acordo. Em princípio tudo aquilo que nós inventariámos aqui como ideias vai
ser transferido para o papel, que depois assinaremos. Vamos ver o que constará
na proposta deste acordo. Só vamos falar na desconvocação ou na
descontinuidade da greve a partir da assinatura do acordo, que pode acontecer
entre hoje e amanhã.
DW África: Num comunicado enviado
às redações, o Sindicato disse que o Executivo estaria a tentar
"amedrontar" os trabalhadores. Este foi também um dos pontos
discutidos com o Governo?
SS: Sim, relativamente a
este assunto as interpretações são [diferentes] de cada lado. Nós mantemos esta
visão de que retirar as pessoas dos gabinetes, colocar agentes de polícia nos
centros e fazer circular abaixo assinados para convocação de assembleia geral
[dos órgãos] são estratégias de amedrontar os sindicalistas. Sobre este assunto
não ficou nenhuma garantia, mas o Primeiro-ministro ao falar desse assunto
também mostrou o seu ponto de vista. [Disse] que o que é património do
Estado tem de ser preservado, isto relativamente à colocação dos agentes da
polícia no centro emissor. Sobre a retirada de gabinetes ao Sindicato não fez
qualquer comentário. A nossa interpretação é esta: o que aconteceu ao longo
desta greve foi uma estratégia de amedrontar os sindicatos, mas não vão
conseguir porque estamos habituados a viver com isso, vamos continuar a fazer
as nossas denúncias e a exigir ao patronato que cumpra com as suas obrigações.
DW África: O Sindicato está então
com esperança de que haverá avanços a partir de amanhã…
SS: Sim, para ser honesto
digo que sim. Estamos esperançosos que haverá um consenso capaz de fazer a
desconvocação ou suspensão da greve. Neste momento, quase toda a gente está
mobilizada para isso - fazer com que a greve não tenha lugar.
DW África: Entretanto, e ainda
antes destas negociações, o Sindicato deu conta de que iria entregar um
novo pré-aviso para uma greve de dez dias. Como sobrevive um país sem acesso a
informação durante todo este tempo?
SS: É uma questão que se
colocaria aos nossos governantes: como é que você é dirigente de um país e
deixa o país sem informação pública? Claro que os órgãos privados estão a
funcionar, mas estamos a falar da informação pública, que o governo devia dar a
qualquer cidadão e não está a dar. O que está a acontecer demonstra o quão está
desprezado o setor da comunicação social na Guiné-Bissau. Tudo aquilo que os
trabalhadores estão a reivindicar é o cumprimento dos compromissos assumidos,
não há nenhuma inovação nas reivindicações. Por isso, apelamos ao Governo para
que cumpra sob pena de correr o risco da sociedade ficar sem informação pública.
Raquel Loureiro | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário